“Descontrolado, perturbado, louco”. Estes foram alguns dos adjetivos que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) utilizou para classificar o presidente Jair Bolsonaro. As duras críticas foram publicadas nesta segunda-feira (21/6) na nota oficial Renuncie, Presidente, assinada por Paulo Jeronimo, presidente da ABI, em resposta ao ataque do presidente à repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

Bolsonaro participava de um cerimônia de formatura na Escola de Especialistas da Aeronáutica, em Guaratinguetá, quando foi perguntado pela jornalista sobre a multa que ele recebeu durante manifestação com motociclistas, realizada há alguns dias em São Paulo, e sobre a não utilização de máscara na chegada ao evento.

Como resposta, Bolsonaro mandou a repórter “calar a boca” e xingou o trabalho feito pela emissora: “Essa Globo é uma merda de imprensa! Vocês são uma merda de imprensa! Cala a boca! Vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha. Vocês não prestam, a Rede Globo não presta. Você tinha que ter vergonha na cara de prestar um serviço porco desse que você faz na Rede Globo”.

Durante as ofensas, Bolsonaro chegou a tirar novamente a máscara, colocando em risco os profissionais que atuavam na cobertura do evento, e ainda afirmou: “Eu chego como eu quiser, onde eu quiser”. Vale lembrar que em São Paulo, por força do Decreto 64.959, o uso de máscara é obrigatório.

Presidente Jair Bolsonaro chegou a retirar a máscara durante ofensa à jornalista da TV Vanguarda
Presidente Jair Bolsonaro chegou a retirar a máscara durante ofensa à jornalista da TV Vanguarda

Resposta à altura?

Notas de repúdio contra os ataques e arroubos autoritários de Bolsonaro tornaram-se tão constantes ao longo de seu mandato que chegaram a virar motivo de piadas nas redes sociais pelo baixo impacto que causam no modo de agir do presidente, ou nos demais poderes que deveriam fiscalizar a atuação dele.

Desta vez, porém, o tom da resposta também foi agressivo, a exemplo do que ele usa. Além das críticas da ABI, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, em nota conjunta, classificaram a atitude do presidente como “brutal e misógina”.

“O fato é que o presidente, responsável direto por meio milhão de mortes, decorrentes da falta de medidas de enfrentamento à pandemia, desde o início, bem como pela fome decorrente da falta de auxílio digno à população atingida pela catástrofe em curso, mostra um descontrole total diante das manifestações de protesto por ‘Fora Bolsonaro’ que agruparam centenas de milhares de brasileiros em 19 de junho”, destacou a nota do Sindicato/Fenaj. “Além disso, o tratamento humilhante contra mulheres é uma característica da dinâmica patriarcal, que determina uma realidade de assédio físico, psicológico, moral, sexual e patrimonial, num país que é o quinto do mundo em número de feminicídios. Esse tipo de situação não pode, nem deve se repetir. É ofensivo e anacrônico”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lembrou que, no ano passado, o presidente já havia mandado repórteres calarem a boca e em outro momento disse que sua vontade era encher a boca de um jornalista de porrada. Segundo levantamento da entidade, Jair Bolsonaro bloqueou ao menos 66 jornalistas e veículos no Twitter, além de ser o campeão de discursos estigmatizantes contra a imprensa, com 46 alertas somente em 2021.

Em sua nota, a Abraji também condenou as atitudes do prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSC), e da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que também seguiram o presidente e retiraram a máscara durante o ataque.

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