Por Assis Ângelo
A cegueira de três dias do caçador de cristãos Saulo sempre rendeu e ainda rende inspiração para textos literários e religiosos.
Não são poucos os fanáticos de rua, Bíblia em punho, a ressaltar as proezas divinas.
O nosso bruxo Machado, cuja obra continua viva entre nós, usou e abusou de personagens bíblicos nos seus contos e livros, como Esaú e Jacó (1904). Ali atrás, lembramos O Caminho de Damasco. Pérola.

Sem Olhos é um conto de Machado publicado originalmente em novembro de 1876, no Jornal das Famílias. Começa com um certo casal Vasconcelos recebendo em casa um grupo de amigos: Maria do Céu e o marido Bento Soares, o bacharel Antunes e o desembargador Cruz.
O encontro tinha por finalidade a lembrança de tempos idos.
Papo vai, papo vem, de repente histórias do outro mundo caem da boca pra fora ali naquele ambiente. Medo de fantasmas?
O além é terreno desconhecido por todos na casa dos Vasconcelos e alhures.
Um suspiro aqui, outro ali, Cruz é provocado a contar sobre o assunto. Tentou sair de fininho, mas não deu. E contou, então, um caso que se passara com ele nos seus tempos de estudante.
Enquanto Dr. Cruz falava, o jovem bacharel Antunes esticava os olhos nos olhos tímidos da mulher do Soares.
A história narrada pelo desembargador dava conta de que no passado conheceu um cara chamado Damasceno. Era meio aluado. Ora dizia coisa com coisa, ora sem coisa dizia.
Uma hora, Damasceno quis saber se Cruz sabia falar hebraico. Não sabia, mas quis saber a razão da pergunta. Ouviu de Damasceno explicação que remetia ao profeta Jonas, herói da Bíblia hebraica. Segundo o tal, discípulo preferido de Deus, havia uma cidade lá pras bandas do Oriente com 120 mil pessoas que não sabiam distinguir a mão direita da mão esquerda.
Era figura curiosa Damasceno.
Noutra ocasião, o mesmo Damasceno contou ao estudante que estava desenvolvendo uma tese sobre a Lua. Pra ele, a Lua nunca existiu. O que víamos era uma ilusão de ótica. Coisa da retina…
O mais estava por vir. Damasceno caiu de cama. Foi quando confessou um segredo que trazia consigo há anos.
Que segredo seria esse, hein?
Tal segredo tinha a ver com uma linda mulher de nome Lucinda, que teria se casado com um sujeito pra lá de ciumento. Ele suspeitava que a mulher o traíra e a vingança veio logo, a galope: o enciumado sujeito puniu a mulher arrancando-lhe os olhos.
E mais não digo, porém peço ao leitor que não esqueça do bacharel Antunes.
A obra de Machado de Assis é toda recheada de movimentos idílicos, paixões, amores proibidos e tragédias provocadas por adultérios.
Autores de sempre e do mundo todo, abordaram tal temática.
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