Por Álvaro Bufarah (*)
Como um velho conhecido que retorna todo ano com promessas de revolução, o NAB Show 2025, em Las Vegas (EUA), mais uma vez abriu suas portas ao futuro da radiodifusão. E se há um lugar onde o rádio se reinventa em meio a fios, nuvens, algoritmos e bits, é ali. Entre lançamentos de peso e vitrines tecnológicas, o tradicional prêmio Best of Show da Radio World voltou a marcar presença, servindo como uma espécie de bússola para quem tenta decifrar os próximos passos da mídia sonora global.
Embora a inscrição no prêmio demande investimento – o que levanta discussões sobre sua neutralidade –, os produtos selecionados pelos editores da Radio World costumam, de fato, captar o espírito da inovação no ar. São soluções que mesclam eficiência energética, automação inteligente, monitoramento remoto, integração IP e inteligência artificial. O rádio, definitivamente, não é mais apenas uma caixa com antena.

Entre os destaques está o EmPower, da American Amplifier Technologies, um transmissor FM compacto voltado para eficiência energética e manutenção remota – tema cada vez mais sensível em um setor que busca sustentabilidade sem comprometer a potência do sinal. Já o Broadcast.Radio Archive, da Broadcast Radio Ltd., aposta no armazenamento em nuvem como recurso estratégico para rádios que desejam gravar e reaproveitar seus conteúdos – tendência reforçada pela multiplicação de podcasts e replays multiplataforma (BROADCAST RADIO, 2025).
Na linha da automação total, a DJB Zone, da canadense DJB Radio Software, propõe o controle remoto de múltiplas estações de rádio simultaneamente. Um passo adiante em direção à centralização das redes e à padronização editorial, realidade cada vez mais presente em conglomerados de mídia como a iHeartMedia e a Audacy (IHEARTMEDIA, 2024).
Mas o burburinho maior ficou mesmo em torno da inteligência artificial. O aiTrack, da ENCO, elevou a IA ao papel de “locutor fantasma”, gerando falas automatizadas com base em metadados musicais e roteiros predefinidos. O avanço é impressionante, mas também traz à tona debates éticos sobre emprego, identidade vocal e personalização da comunicação (NPR, 2025).
O INOmini 645, da Inovonics, e o RMT 416, da MaxxKonnect, mostram que o monitoramento remoto chegou para ficar. As soluções permitem acompanhar transmissões em tempo real, de qualquer lugar do planeta, garantindo que o som que sai da torre corresponda ao que foi planejado no estúdio – ou no notebook de um programador em outro fuso horário.
Em um cenário cada vez mais híbrido entre rádio e digital, produtos como o Marketron NXT, que integra vendas de mídia tradicional e digital, ou o ZettaCloud, da RCS, que garante backup e redundância de transmissão na nuvem, não são apenas soluções técnicas. São respostas diretas às novas demandas comerciais e operacionais de um setor que, mais do que nunca, precisa ser ágil e previsível.

Entre as promessas para o “rádio visual”, a parceria entre a Nautel e a Quu merece menção. A proposta de sincronizar áudio e metadados em tempo real abre espaço para rádios que queiram competir com a experiência visual de plataformas como YouTube Music ou Spotify Canvas, onde imagem e som caminham juntos (QUU INC., 2025).
Soluções de voz sobre IP, como o VX Duo, da Telos Alliance, e plataformas completas de automação como o NextKast onAir, ampliam a capacidade das emissoras de operar talk shows e produções híbridas com confiabilidade. Enquanto isso, o Neuron, da Wheatstone, e o novo Optimod 5950 HD, da Orban, seguem refinando a engenharia do som, oferecendo ferramentas de compressão e equalização capazes de transformar qualquer trilha comum em uma experiência sensorial digna de FM premium.
Entre os brasileiros, embora a lista da Radio World mantenha foco em fabricantes tradicionais dos Estados Unidos, Europa e Canadá, o mercado nacional também começa a se aproximar dessas tecnologias. Empresas como a Playlist Software e a BRLogic, por exemplo, têm oferecido soluções similares em automação, transmissão em nuvem e streaming sob demanda, o que demonstra um movimento de alinhamento global, ainda que em ritmo mais cauteloso.
Ao final da mostra, o sentimento era claro: o rádio já não é mais apenas som. É dado, visual, algoritmo e interface. A tecnologia não está apenas otimizando a operação; está redesenhando a própria definição do que é “estar no ar”. E os vencedores do NAB Show 2025 deixam uma mensagem simples, porém poderosa: o futuro da mídia sonora será cada vez mais invisível, remoto e inteligente – mas seguirá pulsando no ritmo da voz humana, seja ela real ou gerada por IA.
Fontes consultadas:
RADIO WORLD. Best of Show NAB 2025 Awards. Disponível em: https://www.radioworld.com
BROADCAST RADIO. Cloud Archive System, 2025. Acesso: https://broadcast.radio
IHEARTMEDIA INC. Annual Report 2024. Disponível em: https://investors.iheartmedia.com/
NPR. The Rise of AI Voices in Radio, abril de 2025. Disponível em: https://www.npr.org
QUU INC. Visual Radio Integration, 2025. Acesso em: https://www.quuinteractive.com/
ENCO SYSTEMS. aiTrack Product Overview, 2025. https://www.enco.com/
TELLOS ALLIANCE. Broadcast Products Catalog, 2025. https://www.telosalliance.com/

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.
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