Por Assis Ângelo
Não foram duas nem três vezes, mas muito mais, em que o poeta inglês John Milton fez referência à perda da luz de seus olhos.
Num de seus belos escritos poéticos, no soneto 19 (Quando considero como minha luz é gasta) diz o mestre:
“Quando considero como minha luz é gasta,
Antes da metade dos meus dias neste mundo escuro e vasto,
E aquele talento que é a morte para esconder
Alojado comigo inútil, embora minha alma mais curvada
Para servir com ele meu Criador e apresentar
Minha verdadeira conta, para que Ele não repreenda ao retornar;
‘Deus exige trabalho diário, negando-lhe a luz?’
Peço com carinho. Mas paciência, para evitar
Aquele murmúrio logo responde: Deus não precisa
Seja a obra do homem ou seus próprios dons. Quem melhor
Suportam o seu jugo suave, eles o servem melhor.
Seu estado é real: milhares em Sua velocidade de comando,
E postar sobre a terra e o oceano sem descanso;
Também servem àqueles que apenas ficam parados e esperam.”
O poema aqui transcrito data da metade do século 17. E foi nele que o autor inglês menos metáforas usou ao abordar a temática cego/cegueira. Antes dele, Shakespeare fazia referência a algo como “o amor é cego”, que instantaneamente caiu na boca do povo. Cravou essa frase porque, segundo ele e nós, dizemos que o amor e a paixão cegam e deixam os amantes bobificados, incapazes de se aterem às tolices que dizem uns aos outros como se anestesiados estivessem.
Noutro momento, na obra Sonho de Uma Noite de Verão, o autor de Rei Lear escreveu: “O amor não vê com os olhos, vê com a mente; por isso é alado, é cego e tão potente”.
Pois bem, muitos outros autores usaram e abusaram de metáforas, no Brasil e em todo canto.
O norte-americano Stephen King adorava dizer e escrever coisas como “ódio cego” e “esperança cega”.
Na extensa obra de King se acham tipos os mais diversos, de crianças a adultos e tal.
No conto Vovó (Gramma), o famoso autor dá voz e forma a uma velha senhora temida pelos netos George e Buddy. Essa velha é descrita como grandona, pesadona, enfim, disforme. Além disso é cega. Fala aos berros, chamando a filha para que lhe leve os netos para abraçá-los. Mas eles tremem só ao ouvi-la gritar, pois têm medo da feiura dela, da boca sem dentes e dos cabelos brancos desgrenhados.

Um dia, a mãe pede para George ficar em casa para atender a eventuais pedidos ou desejos da velhota, por muitos considerada bruxa. Em suma: ela morre e apossa-se do corpo do neto.
A cegueira física pode ser real ou não.
A história conta que vítimas da Inquisição foram maltratadas e torturadas ao extremo em Portugal, na Espanha e noutras partes do mundo. Muita gente foi queimada viva e cegada sem dó nem piedade.
Os regimes ditatoriais praticam a cegueira nos seus inimigos até nos dias de hoje. Um exemplo?
Em 9 de maio de 1979 o mineiro Rubens Pinto Fiuza, nascido em 1940, foi preso e teve os olhos vazados pelos poderosos e violentos canalhas de plantão. Foi solto no mesmo dia, já cego e todo ensanguentado. Há registros na imprensa.
A desgraça com esse brasileiro ocorreu na capital de Mato Grosso, Cuiabá.
Em 1936, o escritor Aldous Huxley escreveu um interessantíssimo romance a que intitulou Sem Olhos em Gaza.

O título desse livro foi extraído de uma peça dramática de John Milton, intitulada Sansão Antagonista.
Essa obra reconta a tragédia de que foi vítima o sempre lembrado Sansão, hebreu traído pela mulher por quem havia se apaixonado: Dalila, que era filisteia.
Foi em Gaza, uma cidadezinha do Oriente Médio, que Sansão foi preso e acorrentado. Sob tortura, os canalhas daquele tempo lhe furaram os olhos.
Sansão era, segundo os escritos bíblicos, cidadão israelita e juiz durante anos do lugar hoje chamado Israel.
A violência física e moral, que ainda hoje grassa mundo afora, deixa pessoas de todo tipo vitimadas.
Até maio de 2025, ficou-se sabendo que pelo menos 1.500 pessoas haviam ficado cegas em Gaza em decorrência do último conflito entre o grupo terrorista Hamas e Israel, iniciado em outubro de 2023.
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