Paralelamente ao estudo do Perfil Racial da Imprensa Brasileira, foi realizado em 27/10 o terceiro debate com profissionais negros sobre temas sensíveis abrangendo a questão racial no desenvolvimento da carreira. Participaram das discussões, com foco no olhar criativo e nas oportunidades para novos talentos, Eduardo Ribeiro, diretor deste J&Cia e do Portal dos Jornalistas, idealizador do estudo; Gabriela Anastácia, criadora do Papo de Empreendedora; Luciano Machado, professor adjunto na Universidade Zumbi dos Palmares; e Ricardo Casco, mestre em psicologia escolar pelo Instituto de Psicologia da USP, com mediação de Vinicius Ribeiro, de Jornalistas&Cia, responsável pela divulgação do estudo.

A partir da esq., no alto: Gabriela, Vinicius, Ricardo, Luciano e Eduardo

Ricardo é pedagogo, mestre em Psicologia Escolar pela USP, doutor em Educação pela PUC-SP e pós-doutor em Psicologia Social pela USP; Gabriela, jornalista, CEO da agência Gamarc Comunicação, criou em 2016 o movimento de impacto social Papo de Empreendedora, para democratizar o acesso de mulheres à educação empreendedora; Luciano, licenciado em Letras e Filosofia, é especialista em formação de docentes para o ensino superior, psicopedagogia institucional, arte e educação, e linguística aplicada à educação, professor adjunto na Universidade Zumbi dos Palmares.

Reproduzimos a seguir algumas opiniões dos debatedores. A íntegra do painel pode ser acessada aqui.

Eduardo Ribeiro: “No jornalismo, a questão básica é a seguinte: ninguém aparece como talento se não tiver oportunidades. A primeira coisa é a entrada, ter mais profissionais negros e indígenas, e a segunda é o processo de ascensão. No jornalismo, você tem um problema crônico: diferentemente de outras áreas, é muito difícil uma ascensão natural dos profissionais”.

“Até alguns anos atrás, existia uma ascensão horizontal, ou seja, era necessário mudar de emprego, de empresa, para melhorar de vida, mas não existia uma ascensão vertical na mesma organização, com raras exceções. E isso vem piorando. Agora, imagine essa situação para os negros, que sempre tiveram uma dificuldade maior de entrada no mercado.”

“Então, quando propomos este estudo, o objetivo é devolver à sociedade uma informação para que ela possa absorver e refletir sobre ela, com a criação de políticas afirmativas sobre o tema.”

Gabriela Anastácia: “Existe uma manutenção de privilégios que se mantém há anos, e tal manutenção sempre tem sido feita pelas mesmas pessoas. Por isso é importante trazer diversidade para as redações, e diversidade não só racial. Existe uma tríade: não adianta falar de raças sem falar de gênero e classes, por exemplo”.

“O que precisamos enxergar é que, trazendo diversidade, a gente não só dá voz, mas também amplia vozes. A partir do momento que você se permite sair um pouco da bolha e trazer estudantes e profissionais que não pertençam a esta bolha, você está trazendo novos olhares e possibilitando que a organização cresça e que o profissional cresça junto.”

Luciano Machado: “Não só as cotas, mas as iniciativas empresariais, são muito importantes, pois no processo do trabalho as empresas já sabem como é o pensamento daquele aluno da faculdade X ou Y. E quando há a presença do jovem negro e periférico, você um outro olhar, uma outra visão sobre aquele determinado fato”.

“É uma troca, é uma oportunidade para o jovem negro periférico montar seu currículo, crescer profissionalmente, estabelecer contatos que provavelmente não teria se não fossem essas iniciativas, e a empresa ganha com isso. É importante ressaltar isto: é uma troca muito boa para todos, não é uma bondade, uma generosidade. Todos crescem.”

“É importante também saber separar a inclusão do negro, da inclusão, por exemplo, do LGBT, das pessoas com deficiência, entre outros. Porque, quando colocamos tudo no mesmo balaio, a gente acaba não dando a devida atenção às necessidades específicas de cada um, e acaba não havendo inclusão nenhuma.”

Ricardo Casco: “Nós temos problemas no que diz respeito ao racismo estrutural, que acaba gerando desigualdade em diferentes campos da sociedade brasileira, como moradia, educação, empregabilidade. As crianças e os jovens crescem em um país que impede diferentes acessos aos direitos mais básicos”.

“Então, pensar o espaço da mídia nesta luta é fundamental para que possamos criar condições para que os jovens negros e os responsáveis por estes setores possam olhar para essa inclusão com o devido cuidado e atenção.”

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