Faleceu na última sexta-feira (8/5), aos 78 anos, vítima da Covid-19, o jornalista, escritor, cineasta e dramaturgo Jesus Chediak. Ele era diretor cultural da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e atuava como curador da superintendência de Artes da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. Chediak estava internado desde 4/5 no Assim Medical Center do Méier, Zona Norte do Rio. A Prefeitura de Duque de Caxias, cidade onde Chediak foi secretário de Cultura na gestão do ex-prefeito Alexandre Cardoso, decretou luto oficial de três dias pelo falecimento
“Artista multitalentoso, Chediak era associado da ABI há mais de 40 anos”, destacou o comunicado emitido pela entidade. “Jogou sinuca com Villa-Lobos nas lendárias mesas de bilhar do 11º andar da entidade. Participou de vários Conselhos da Casa do Jornalista. Dividiu cadeiras de conselheiro com Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony e tantos baluartes da cultura brasileira. Foi diretor de Cultura durante a gestão de Barbosa Lima Sobrinho e, mais recentemente, nas gestões Maurício Azedo, Domingos Meirelles e Paulo Jeronimo Sousa. Lançou na ABI o Cine Macunaíma, sendo um precursor do cinema novo. Montou, com parcos recursos, no teatro do 9º andar da entidade, uma peça sobre a morte de Vladimir Herzog, considerada pela revista Veja como a melhor daquele ano de 1976”.
Chediak foi também diretor da Casa França Brasil e professor da Universidade Federal da Bahia e autor de diversos livros, entre eles Brasil, país do presente: contribuições para a formulação de um socialismo cristão brasileiro. Entre os filmes que produziu, o mais recente foi sobre a vida de Pedro Aleixo.
“Era muito mais que um amigo; era um irmão. E o mais
devastador é que não podemos nem sequer nos despedir dele. Em tempos normais,
faríamos o velório na própria ABI, que era a sua casa. É muita tristeza”, lamentou
o presidente da ABI Paulo Jeronimo Souza.
“Manifesto, em meu nome, em nome da minha família e em nome de todos os seus
companheiros de militância e de convívio fraterno na ABI, o mais profundo pesar
por esta perda desoladora. Estamos solidários com a dor de sua mulher,
Glorinha, e de seus filhos. Que nosso querido Jesus Chediak descanse em paz”.
Ele deixa a esposa Glória
Chediak, também jornalista, e quatro filhos já adultos: Paloma, Tiago,
Julian e Neelash.
Orlando Brito, repórter fotográfico que foi agredido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante manifestação em frente ao Palácio da Alvorada em 3/5, contou os bastidores do “convite” para almoço que lhe teria sido feito pelo próprio presidente. O repórter negou ter recebido qualquer convite de Bolsonaro. A informação é de Chico Sant’anna.
Brito contou que foi chamado por Bolsonaro para uma
conversa na saída do Palácio do Planalto na terça-feira (5/5). Ao lado de
outras “10 ou 12 pessoas que o acompanhavam”, o presidente perguntou a ele se a
agressão de fato havia acontecido. Brito confirmou o ocorrido e narrou os
acontecimentos para Bolsonaro, incluindo o “safanão” que levou, os xingamentos
e o fato de que os manifestantes queriam quebrar suas câmeras. Segundo ele,
Bolsonaro não se desculpou, “mas disse ser ‘impossível controlar a ação das
pessoas em uma multidão’ e que não entendia como alguém podia atribuir a ele,
Bolsonaro, a autorização para agressões contra quem quer que fosse”.
O presidente também indagou sobre a agressão sofrida pelo
repórter fotográfico Dida Sampaio,
do Estadão. O grupo então dirigiu-se a uma sala contígua ao gabinete do
presidente, onde havia um bufê e os dois continuaram a conversa, “que não durou
mais do que 20 minutos”, contou Brito. Bolsonaro teria passado a atacar a
imprensa com falas como “querem me sacanear o tempo todo, deturpam o que digo, mídia
lixo, lixo, canalhas”. Os outros participantes tentavam introduzir outros
assuntos ao verem que o presidente começava a se exaltar.
Antes de deixar o Palácio do Planalto, o repórter sugeriu a
Bolsonaro que fosse ao Comitê de Imprensa para falar com os jornalistas
credenciados pelos jornais, em vez de dar “entrevistas tumultuadas sob a
mangueira do Palácio Alvorada”. O presidente disse que iria rever sua presença
naquelas entrevistas.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e Embaixada dos Estados Unidos no Brasil promovem na próxima terça-feira (12/5), das 10h às 18h, o seminário Liberdade de imprensa durante a pandemia, com convidados nacionais e internacionais. O evento virtual, que discutirá os desafios enfrentamos pelos profissionais de imprensa na cobertura do novo coronavírus, será dividido em três painéis temáticos.
O primeiro será Segurança dos profissionais da imprensa
em meio à pandemia de Covid-19, com mediação de Daniel Bramatti,
conselheiro da Abraji, e participação de Judith Matloff, especialista em
segurança de jornalistas e professora da Universidade de Columbia (EUA); e Angelina
Nunes, coordenadora do Programa Tim Lopes de proteção aos
jornalistas.
O segundo painel contará com a presença de Teresa
Frontado, editora executiva da KUT 90.5 (Texas, EUA); Sérgio Dávila,
diretor de Redação da Folha de S.Paulo; Ricardo Gandour,
diretor-executivo de Jornalismo da CBN; e Maria Fernanda Delmas, editora
executiva dos jornais O Globo, Extra e da revista Época, que discutirão O futuro
dos meios de comunicação após a pandemia. A mediação será de Guilherme
Amado, vice-presidente da Abraji.
O último painel, mediado por Marcelo Träsel,
presidente da Abraji, abordará O combate à desinformação durante a pandemia,
com participação de Cailin O’Connor, autora de A era da desinformação
(Yale University Press, 2019); Cristina Tardáguila, diretora adjunta da
Rede Internacional de Checagem de Notícias; e Sergio Lüdtke, editor do
projeto Comprova.
O evento, gratuito, terá tradução simultânea. Inscreva-se!
A pandemia de Covid-19 foi citada injustificadamente como motivo para negativa de atendimento a pelo menos 24 pedidos de informação feitos ao Executivo federal de 27/3 a 27/4 – depois, portanto, de o STF suspender liminarmente trechos da MP 928/2020, que possibilitava a interrupção do prazo para respostas via Lei de Acesso a Informação (LAI) por causa do estado de emergência decretado no País. Em 30/4, o plenário do STF confirmou a liminar e derrubou o texto da MP.
O levantamento foi feito pelo Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, coalizão de 22 organizações da sociedade civil e pesquisadores que monitora a implementação da LAI. Foram consideradas respostas contendo os termos “covid” e/ou “coronavírus” fornecidas no período, localizados via busca no banco de pedidos e respostas da Controladoria-Geral da União (CGU).
Em 37% dessas respostas, o Ministério da Saúde negou acesso a alguns dados e informações sobre a pandemia sob a alegação de que os materiais precisam “ser salvaguardados” por sua importância estratégica. Descumprindo a LAI, não apontou se as informações estão classificadas em algum grau de sigilo nem quem teria sido responsável por classificar o documento. Uma das solicitações buscava o procedimento adotado pelo poder público para decretar o estado de emergência. (Veja+)
Tive muitos ídolos na vida, nenhum do tamanho do Aldir Blanc. Aldir era grande porque era muitos: o ídolo, o inacreditável letrista, o Garrincha da MPB que nos fazia rir, chorar e chorar de rir com suas crônicas musicadas por João Bosco.
Aldir era a alma do subúrbio, o olhar único sobre a vida na Zona Norte,
o Proust de Vila Isabel.
Aldir era o homem que abandonou a medicina pra se dedicar à poesia da
vida, fosse lida, cantada, falada, escrita, conversada, versada e improvisada.
Aldir era o parceiro de bebida de todo bêbado, embora não bebesse há
muitos anos. Nunca fui a um botequim com ele, mas jamais deixei de brindar os
melhores sentimentos de um fã quando chega à segunda casa de um ídolo. Entrar
num botequim, na minha cabeça de adolescente, era sair de uma música ou crônica
de Aldir para a vida real.
O Aldir, aliás, quando nasceu foi surpreendido por um anjo meio torto
português que lhe disse “Bai Vlanc, ser Basco na Bida”. Era um
vascaíno intransigente e ranheta. Sabia tudo do time.
Aldir era de uma geração que ganhou o nome de MAU, Movimento Artístico
Universitário, uma galera que se reunia em torno da música na rua Jaceguai, na
Tijuca, todos os sábados, na casa da família Portocarrero; jovens cheios de
sonhos e sambas, muitos deles cantados por gente como Elis já naquela época.
Eram “nativos” daquele lugar, entre outros, Gonzaguinha e Ivan Lins.
Quando o conheci pessoalmente, levado à casa dele, na esquina da Muda
com a Usina, por João Máximo, para
entrevistá-lo para o JB, em meados dos anos 1980, não tive pudor em revelar
minha admiração.
– Tinha o sonho de conhecer pessoalmente duas pessoas: você e o
Samarone.
– Tu tá me sacaneando…
Essa resposta, lembrada por ele desde então quando nos encontrávamos ou
quando um portador levava um abraço meu pra ele e vice-versa, me faz pensar até
hoje.
Nunca soube e nem teria a coragem de perguntar se ele se sentiu
sacaneado por ser vascaíno, por ser comparado a um jogador de clube, ídolo, mas
muito distante da constelação do futebol brasileiro ou sei lá por que outro
motivo. Me pego rindo sempre que lembro dessa nossa primeira troca de palavras,
cara a cara. Já o havia entrevistado por telefone algumas vezes, mas estar
diante da figura do Aldir era um presente da vida.
Quando o conheci já havia lido todos os seus livros de crônicas, cada
uma mais engraçada do que a outra, editados pela Codecri, da turma do Pasquim,
onde desfilavam personagens reais: o tio Waldir Iapetec, o avô Aguiar, de longe
a grande figura da vida de Aldir, o pai Ceceu Rico e outras figuras
absolutamente humanas, movidas pela sem-vergonhice em seu sentido mais amplo:
não se ter a vergonha de ser o que se é. Sua obra tinha muito da sem-vergonhice
da vida, a emoção verdadeira, os sentimentos mais surpreendentes que o homem
pode expressar.
Sou grato por ter Aldir como ídolo, inspiração, por ler suas histórias,
algumas contadas por ele mesmo, ouvir suas músicas, por ter conhecido sua casa,
a mulher, as filhas e vivido alguns momentos com ele que guardo com todo o
cuidado no cantinho do afeto.
Vivi com o meu colega e amigo Cláudio Henrique uma noite inacreditável
em torno do Aldir. Início dos anos 1990, o samba andava em baixa e os
compositores se reuniam na casa do Moacir Luz, no primeiro andar do prédio onde
morava o Aldir. Como as gravadoras não queriam saber de samba, eles passavam a
noite mostrando uns para os outros o que estavam compondo. Naquela noite, que
virou reportagem da revista de Domingo do JB, estavam Betinho, Paulo César
Pinheiro, Fátima Guedes, o Magro do MPB-4, Sílvio da Silva Filho, Aldir, Mary,
Guinga e uma das filhas, Dudu Falcão e mais gente. O violão passava de mão em
mão e isso durou até de manhã. Betinho disse pra mim e para o Claudio:
“Essas reuniões aqui são os melhores momentos musicais da minha vida”.
Foi lá, numa dessas reuniões, que nasceu Saudades da
Guanabara, escrita a seis mãos por Aldir,
Paulo César Pinheiro e Moacir Luz. Eu era editor do Caderno Cidade do JB. Aldir
me ligou e contou:
– Nêgo, fiz uma música que é um passeio pela nossa saudade do Rio e um
lamento à desesperança desses tempos de degradação e violência. Vou te mandar
pra ouvir e acho que pode render uma matéria.
O Rio era uma de nossas paixões em comum. Ouvi a fita cassete e chorei e
ainda choro diante do refrão “Brasil, tira as flechas do peito do meu
padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro ainda pode se salvar”.
Aldir, na caricatura de Lan, estampa a capa da revista Domingo, do JB, ao fazer 50 anos, em setembro de 1996
Na mesma época convidei-o a escrever uma coluna no JB. Ele recebia um desenho do Lan, o grande caricaturista, e fazia o texto. Eram geniais. Aldir e o Lan se adoravam. Aldir brincava: “Sou letrista de caricatura”!
Que pena Aldir ter partido assim. Não merecia sofrer no final, nem
nunca. Foi-se um olhar único da vida, personagem de si mesmo. Imagino a dor de
tanta gente, tantos eram o Aldir. Ele era ligado demais à família, tinha um
amor incontrolável pela mulher, um ciúme de maluco das filhas e um tremendo
orgulho da terceira geração, da neta que deve estar fazendo residência médica.
Era preocupado com os parentes, com os amigos. Quando soube que eu estava com
hepatite lá pelos idos de 1980, ligava toda semana pra saber a quantas estavam
minhas transaminases e bilirrubinas. E dizia: fica tranquilo que daqui a um ano
a gente vai tomar uma cerveja”.
Aldir amava, sobretudo os livros. Um dia, Moacir Luz me contou de uma
viagem que fizeram para a casa de campo de um amigo num feriado. Aldir já
estava recluso, quase não saía do quarto. Todos ficaram muito felizes em ele
topar passar uns dias fora. E lá foram. Aldir levou três malas e todo mundo
estranhou. Chegou na casa do amigo na Serra, entrou no quarto e desfez a curiosidade.
Eram malas de livros. Se trancou, ficou lendo e só saiu do quarto na hora de ir
embora. Moacir Luz comentou:
– Como lia, aquele filho da puta!
Aldir era o olhar desconcertantemente lúcido da tragédia da vida no sentido grego da palavra. Não saberia hierarquizar os grandes de todos os tempos, mas no meu time ele joga com a 10. Sem sacanagem.
Bruno Thys
Quem estreia neste espaço é Bruno Thys, que foi editor no Jornal do Brasil, um dos fundadores e diretor de Redação do jornal Extra, editor executivo da Infoglobo e diretor-geral do Sistema Globo de Rádio. Dirige hoje sua editora Máquina de Livros.
Tem alguma
história de redação interessante para contar? Mande para [email protected].
O juiz federal Alessandro Diaferia, da 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo, rejeitou denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra seis pessoas acusadas de participar da morte e falsificação de laudo médico de Vladimir Herzog. Ele foi torturado e morto em 1975 na sede DOI-Codi em São Paulo, durante a ditadura militar.
O juiz rejeitou a denúncia do MPF afirmando não haver amparo legal para dar prosseguimento ao caso devido à “extinção da punibilidade em decorrência da concessão de anistia”.
A Procuradoria alegava que a lei da anistia não deveria incidir sobre os acusados por, entre outros motivos, terem sido praticados em contexto de ataque à população civil, com objetivo de assegurar a manutenção do poder usurpado por militares em 1964.
Os denunciados eram o comandante Audir Santos Maciel, os chefes de comando da 2ª seção do Estado-Maior do II Exército José Barros Paes e Altair Casadei, os médicos legistas Harry Shibata e Arildo de Toledo Viana e o representante do Ministério Público Militar responsável pelo caso, Durval Ayrton Moura de Araújo.
A denúncia deriva das determinações da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que em 2018 condenou o Estado brasileiro devido à falta de investigação, julgamento e punição dos envolvidos no assassinato do jornalista. (Veja+)
Em meio à pandemia do coronavírus, editorias como Política, Economia, Saúde, Ciência e Cidades cresceram exponencialmente no que se refere à audiência, número de cliques e visualizações. Nesse contexto, seguindo os mesmos padrões, os veículos noticiosos de internet também obtiveram um aumento grande de audiência. Mas será que isso se aplica à editoria de Esportes desses veículos que utilizam a internet e as redes sociais como principal meio de propagação de informações?
Gabriel Carneiro
Gabriel Carneiro, repórter esportivo do UOL, conversou com J&Cia sobre os impactos do coronavírus no site. Em relação ao conteúdo produzido, contou que, em reunião, a equipe de Esportes decidiu o que era relevante produzir neste momento, uma vez que os eventos e competições esportivas estão suspensos: “Nós definimos quatro pilares principais de conteúdo. sssO primeiro dele refere-se a entrevistas e perfis de jogadores, treinadores e todas as outras pessoas envolvidas com esporte, além de histórias pouco conhecidas. O segundo pilar é composto por matérias de números, dados e curiosidades, como, por exemplo, quantos gols determinado jogador fez naquele campeonato, quem é o maior pontuador desta liga, quem tem mais assistências, entre outros. O terceiro pilar são listas, enquetes, lembranças de acontecimentos, vídeos especiais, lances memoráveis, em resumo, conteúdo para ser consumido mais rapidamente. E, por fim, histórias relacionadas ao coronavírus, misturando hard news, impactos no mundo dos esportes, análises, mas também matérias especiais que trazem uma perspectiva mais humana sobre o assunto”.
O repórter do UOL também contou que a equipe de Esportes está trabalhando em um novo projeto chamado Futebol Moleque, que mistura futebol com humor. Serão vídeos engraçados e curtos, com conteúdo das redes sociais, dirigido a um público mais jovem, com o objetivo de atingir novos segmentos. A atração também terá a participação do humorista Rudy Landucci.
Sobre mudanças no dia a dia dos profissionais, Gabriel disse que toda a equipe do UOL está em home office: “Nas primeiras semanas de março, foi decretado home office, mas estamos conseguindo manter o ritmo, a qualidade e intensidade de trabalho mesmo em casa; as escalas seguem normais, o grupo da manhã, da tarde e da noite; fazemos reuniões semanais sobre conteúdo e audiência; enfim, tudo segue normal na medida do possível”.
Talyta Vespa
No UOL, a grande maioria da equipe de Esportes foi mantida. Apenas os repórteres Talyta Vespa e Arthur Sandes foram deslocados para Notícias, porém os dois foram consultados antes da mudança ocorrer. Talyta comentou esse processo de transição do trabalho presencial para o home office: “O UOL nos forneceu computadores e notebooks para trabalhar, além da possibilidade de levar o próprio desktop para casa. E para as reportagens de rua, temos acesso a máscaras, luvas e todos os equipamentos de segurança. Em relação à comunicação trabalhando de casa, creio que estamos bem organizados, utilizamos a plataforma Microsoft Teams para conversar e fazer reuniões”.
Em relação aos impactos econômicos causados pela pandemia no UOL, incluindo possíveis cortes de salário ou demissões, tanto Gabriel como Talyta disseram que, até onde sabem, não houve nada do tipo e ninguém foi afetado.
Embora outras editorias tenham ganhado audiência nesse período, Gabriel afirmou que o número de visualizações e cliques em Esportes não aumentou, mas também não teve uma queda drástica: “Pelo que eu vejo, a audiência varia bastante de acordo com o conteúdo de outras editorias no dia. Por exemplo, se em um determinado dia houver notícias relevantes e em grande quantidade em Política, Saúde e Economia, a audiência da parte esportiva cai, pois essas matérias serão destacadas na home, ficarão no topo. Na minha opinião, essa queda é normal e está ocorrendo em diversos veículos jornalísticos do País. Mas em alguns dias conseguimos manter a audiência no mesmo patamar, dentro do esperado; depende bastante do conteúdo produzido no dia”.
Talyta contou que os números de audiência nas outras editorias seguem aumentando: “Em abril, o UOL bateu um recorde histórico de audiência, com mais de um bilhão de acessos. Em março, chegamos perto dessa marca, com aproximadamente 950 milhões, então seguimos mantendo um índice interessante de audiência. Antes, o recorde de audiência tinha sido em 2018, durante as eleições”. Segundo ela, a cobertura do UOL sobre a pandemia do novo coronavírus e outras notícias, como as saídas de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e de Luiz Henrique Mandetta, do Ministério da Saúde, fizeram o site bater a marca de 200 milhões de acessos, estabelecida em 2018.
A organização Press Emblem Campaign (PEC) apurou o número de profissionais de imprensa que morreram infectados pelo novo coronavírus. A pesquisa detectou 64 mortes em 24 países ao redor do globo até a última terça-feira (5/5), mas esse número pode ser ainda maior.
A PEC lembra que, assim como a contagem de infectados e
mortos em cada país, o índice de profissionais de imprensa que morreram por
causa da doença também tem problemas no que se refere a números oficiais. Por
isso, enfatiza que é provável que o número de repórteres, fotógrafos,
cinegrafistas e outros profissionais mortos por decorrência da Covid-19 seja
maior.
“A segurança dos trabalhadores da mídia está
particularmente em risco nesta crise, porque eles devem continuar a fornecer
informações e testemunhos locais, visitando hospitais, entrevistando políticos,
economistas, cientistas, médicos e pacientes”, diz o relatório.
Federação Internacional dos Jornalistas identifica restrições e intimidação na cobertura da Covid-19
A Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) detectou dificuldades, obstruções, restrições e intimidações enfrentadas pelos profissionais de imprensa durante seu trabalho de cobertura do novo coronavírus.
De acordo com enquete realizada pela entidade – que levou em conta respostas de aproximadamente 1,3 mil jornalistas de 77 países, incluindo o Brasil –, três em cada quatro dos participantes afirmaram que já tiveram dificuldades enquanto cobriam o tema. O estudo, realizado de 26 a 28 de abril, indicou que dois terços dos jornalistas empregados e freelances sofreram cortes salariais, redução de renda, perda de empregos, cancelamento de empregos ou agravamento de suas condições de trabalho.
Anthony Bellanger, secretário-geral da FIJ, explicou que a pesquisa “revela uma tendência preocupante de deterioração da liberdade de mídia e cortes no jornalismo no momento em que o acesso a informações e jornalismo de qualidade é crucial. O jornalismo é um bem público e merece o apoio das autoridades e o fim das pressões e obstruções políticas”. No Brasil, pesquisa foi aplicada pela Fenaj, afiliada da FIJ.
Os resultados indicaram que quase todos os jornalistas freelances perderam renda ou oportunidades de emprego; mais da metade sofreu estresse e ansiedade; mais de um quarto não tem o equipamento necessário para trabalhar com segurança em casa; um em cada quatro não tem equipamento de proteção para trabalhar em campo; dezenas de jornalistas foram presos, denunciados ou agredidos; e mais de um terço dos profissionais tiveram que mudar seu foco jornalístico para abranger informações relacionadas à pandemia.
No que se refere à liberdade de imprensa, profissionais de Grécia, Indonésia, Portugal, Peru, Chade, entre outros, descreveram a situação de seus respectivos países com os termos “precária”, “problemática”, “terrível”, “pior”, “em declínio” ou “restrita”. No caso do Brasil, um jornalista disse que “o governo federal despreza jornalistas. Ataca a imprensa todos os dias pelas informações que publica, desacredita e humilha os profissionais da mídia”. Com informações da Fenaj.
E mais…
Nas ruas de São Paulo desde o início da pandemia, onde vem realizando um importante trabalho de cobertura do impacto do coronavírus na vida do cidadão comum, o repórter Yan Boechat deu um depoimento emocionante ao GGN sobre o que presenciou nestes quase dois meses. Confira.
Na comunicação
corporativa
Na crença de que é tempo de unir forças na comunicação, os membros da Rede de Afiliadas da Weber Shandwick, composta por agências de todo o País, criaram uma campanha para motivar seus clientes e empresas do mercado, além de ajudá-los a superar a crise provocada pelo novo coronavírus. Assim, um time, representado pelos CEOs e diretores das agências de comunicação e marketing, produziu um vídeo, destacando a importância da comunicação em tempos de pandemia. Segundo os profissionais, a comunicação será o grande diferencial das marcas para superar a crise que assola o mundo.
A Rede de Afiliadas é formada por 20 agências espalhadas em todo o território nacional e integra o Interpublic Group, no Brasil representado pela Weber Shandwick. O vídeo pode ser conferido aqui.
A Comunicação da Votorantim Cimentos acaba de lançar o podcast da empresa, disponível nas plataformas Spotify e Deezer. O primeiro programa já está no ar, com uma entrevista de Monyque Gerbelli, gerente de Medicina do Trabalho, falando de ações de combate ao coronavírus.
A Abracom promove na próxima quarta-feira (13/5), das 9h30 às 13h30, o curso online Como sugerir pautas e gerenciar crises em tempos de coronavírus?, com Verônica Mendes, jornalista com experiência em gestão de pessoas e gestão de crises na imprensa. Inscrições pelo [email protected]. Após confirmação, os inscritos receberão o link para acesso ao curso. Uma inscrição dá direito a cinco acessos ao curso. (Veja+)
Internacionais
Pesquisa revela
“cansaço” com notícias sobre o coronavírus em jornais americanos
Pesquisa do Pew Research Center indicou um “cansaço” por parte de leitores de jornais americanos em relação a notícias sobre o novo coronavírus. O estudo, realizado entre 20 e 26 de abril, revelou que sete em cada dez entrevistados (71%) dizem estar cansados do tema. Além disso, 41% dos participantes acreditam que tais notícias fazem com que se sintam pior emocionalmente.
O motivo para esse “cansaço” está relacionado principalmente às fake news sobre a pandemia. Quase dois terços dos participantes da pesquisa (64%) afirmaram que já viram informações e notícias sobre o assunto que pareciam completamente inventadas. E cerca de metade relevou que acha difícil classificar o conteúdo como verdadeiro ou falso.
Em contrapartida, o interesse pela doença segue sendo muito grande: nove em cada dez americanos (87%) afirmaram que estão acompanhando o tema de forma frequente. Outro dado relevante é que 56% dos entrevistados classificam os veículos de notícias como fontes confiáveis, percentual maior do que entidades de saúde (51%). Confira a pesquisa na íntegra.
INMA promove
encontro online sobre indústria jornalística
A International News Media Association (INMA) promove desde essa terça-feira (5/5) até 28/5 um evento virtual com a participação 46 palestrantes e moderadores, e cerca de 18 horas de programação, divididos em nove módulos. O projeto serve para substituir em parte o 90º Congresso Mundial de Mídia da INMA, que seria realizado em abril, mas foi cancelado por causa do coronavírus.
O evento virtual, que tenta seguir os moldes do congresso cancelado, visa a discutir os impactos da pandemia na indústria jornalística, levando em conta as principais tendências e estratégias de notícias no cenário atual. O conteúdo do encontro será gravado e estará disponível para os participantes. Para conferir a programação completa e inscrever-se, clique aqui.
Outras
Paulo Markun começou esta semana em seu canal no YouTube a série de entrevistas Conversa na crise – Depois do futuro, sempre às quartas e sextas-feiras, às 16h (horário de Brasília). A primeira, com Rubens Ricupero, foi nesta quarta (6/5); às próximas serão com Luiz Gonzaga Belluzzo (8/5), João Carlos Salles (13/5), Mozart Ramos (15/5), Sérgio Mamberti (20/5), Ciro Gomes (22/5) e Marina Silva (27/5).
O site do Itaú Cultural deu início em 24/4 a uma série chamada Olhares sobre a covid-19, marco zero, dedicada à publicação semanal de relatos e imagens de fotógrafos profissionais que residem em 12 países, entre estes alguns dos mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus, como EUA e Itália. O primeiro texto da série traz o ponto de vista do fotógrafo Zeng Jia, de Pequim, na China.
Ele fala sobre como chineses se reuniram na Praça da Paz Celestial (de máscara e mantendo distância entre si) em 4/4, dois meses após a quarentena decretada na cidade de Wuhan, e permaneceram em silêncio por três minutos por aqueles que foram mortos pelo vírus. A data marca o Qingming, feriado em que se reverencia os mortos e antepassados.
Praça da Paz Celestial. Crédito: Zeng Jia
O projeto é resultado da correspondência mantida com os fotógrafos desde março por Cassiano Viana, jornalista radicado no Rio de Janeiro. “Quase nunca conversávamos sobre técnica ou sobre o ato fotográfico, mas sobre como estava a semana, as dificuldades do isolamento, o medo do vírus”, disse Viana ao Nexo. “É uma troca. Todos perguntam como está a situação no Brasil e como eu estou”.
Os próximos contarão com depoimentos de fotógrafos de Alemanha, Áustria, Argentina, Brasil, EUA, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Portugal e Rússia. (Veja+)
Estreou nessa terça-feira (5/5) o projeto Corona Verificado, plataforma em língua portuguesa que compila todas as checagens sobre a pandemia de Covid-19 publicadas por verificadores de fatos em 18 países ibero-americanos. A base é fruto de uma parceria do Aos Fatos com Agência Lupa, Estadão Verifica e as iniciativas de fact-checking Observador e Polígrafo, de Portugal. Primeira plataforma que congrega conteúdo verificado sobre o novo coronavírus em português, o Corona Verificado já nasce com mais de duas mil checagens e informações sobre as medidas adotadas para conter o novo coronavírus pelos governos de 16 países da América Latina, incluindo o Brasil, e de Portugal e Espanha. A base de dados será atualizada diariamente enquanto durar a pandemia. (Veja+)
Diante da impossibilidade de cumprir o cronograma proposto no regulamento dos prêmios Empreendedor Social, Empreendedor Social de Futuro e Troféu Grão, a Folha de S.Paulo e a Fundação Schwab tomaram a decisão de suspender a premiação, que ainda está em fase de inscrições. O concurso ficará pausado e os empreendedores que já fizeram as inscrições estão automaticamente credenciados a participar da 16ª edição, assim que for retomada. Em virtude da pausa, a Folha promoverá uma premiação especial em 2020: Empreendedor do Ano no Combate ao Coronavírus, que reconhecerá liderança de destaque em meio à pandemia. Entre junho e julho de 2020, o jornal anunciará detalhes da premiação e divulgará o regulamento e o cronograma do concurso
A Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner – [email protected]) adotou temporariamente este mês novos horários de trabalho: segundas e terças-feiras, das 9h às 18h; quartas e quintas, das 9h às 17h; nas sextas não haverá expediente. A entidade continua realizando suas atividades a distância, já que sua sede em Brasília e o escritório de São Paulo estão fechados. Os contatos devem ser feitos preferencialmente por e-mail, pois as ligações telefônicas não foram transferidas para os celulares pessoais.
Com as férias da assessora da diretoria Raquel Fernandes, os contatos são Juliana Toscano (diretora executiva – [email protected] e 61-981-910-137) e Luiza Silveira (assessora financeira – [email protected] e 982-783-131).
O Laboratório de Jornalismo da Faculdade Armando Alvares Penteado (LabJor Faap), coordenado por Luciana Garbin, fez cobertura especial sobre a pandemia do novo coronavírus. Entre os destaques da edição, reportagens sobre as aventuras de brasileiros viajantes que estavam em trânsito quando a Covid-19 começou; o depoimento de um médico à filha sobre seu cotidiano de enfrentamento da doença em sua cidade; e uma entrevista com Colbert Soares Pinto Júnior, embaixador do Brasil na Zâmbia, sobre o impacto do novo coronavírus no país africano e a vulnerabilidade dos locais mais pobres no enfrentamento da pandemia. Os jovens profissionais também relataram a vida na pequena cidade de Itambaracá, que tem menos de sete mil habitantes; a rotina no Aeroporto de Congonhas desde o início da pandemia; e entrevistaram o poeta e pesquisador de etnopoesia Douglas Diegues, que cumpre o isolamento cuidando das plantas, convivendo com animais e escrevendo poesia em sua casa, em Campo Grande (MS). Confira!
Em resposta à emergência sanitária da Covid-19 e à crise econômica que atingiu redações e jornalistas, a diretoria da Abraji decidiu que o 15º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo será online, com duração de dois dias: 11 e 12/9, sexta-feira e sábado. A entidade está desenhando a programação e em breve divulgará mais detalhes.
Caio Coppolla
O comentarista da CNN Caio Coppolla testou positivo para Covid-19. Afastado da emissora desde março, por ter sintomas suspeitos, só agora teve a confirmação do diagnóstico. Ele mesmo comentou o resultado de seus exames no programa O grande debate.
De próprio punho
“Na luta
silenciosa contra o vírus, senti o medo de quem vê a peste crescer”
Por Aziz Filho
“Fiquei febril em um domingo. Era o 20º dia
de quarentena com a família, e me isolei no quarto. Não tive tosse, dor no
corpo, não perdi olfato, paladar ou apetite (isso seria gravíssimo). Tomava
dipirona à noite, quando a febre chegava a 37,8 graus, e pronto, ela caía. O
que ligou o alerta vermelho foi quando um enjoo permanente, chato, foi me
deixando prostrado ao ponto de olhar atravessado para as refeições e os livros.
Fiz o exame PCR no quinto dia, e o resultado, quatro dias depois, deu positivo,
exatamente quando a inspiração mais longa começou
a dar uma travada na garganta, provocando uma tosse curta, aparentemente
inofensiva.
Na primeira tomografia, a pneumonia estava
lá. A segunda bateria de exames, após três dias de antibióticos combinados,
indicou estabilidade na imagem, mas agravamento dos indicadores no sangue. A
saturação de oxigênio caiu de 97 para 93. Foi muito esquisito entrar em uma
ambulância para passar uma temporada na UTI. Durou uma semana, e
voltei ontem à noite para casa, vitorioso. Foram dias de quietude,
saudades e dedicação. Devo tudo aos profissionais da Rede D’Or – especialmente
ao dr. Arthur Vianna, pneumologista que me acompanhou com assertividade e
atenção – e aos amigos que mandaram energia boa e me envolveram em
oraçōes. A primeira noite em casa, de volta, foi inesquecível. Acordei
várias vezes só pra sentir o corpo livre de agulhas, eletrodos, medidores
de pressão e saturação. O melhor de tudo, um dos segundos mais felizes da vida,
foi acordar hoje com a voz de princesa da Júlia, minha filha de dois anos, batendo
na porta: ‘Papai, acorda, o café tá pronto’. Nunca darei conta de descrever a
intensidade de um momento tão prosaico.
Na luta silenciosa contra o
vírus, senti o medo de quem vê a peste crescer e sabe que não haverá vagas para
tratamento. Se eu puder deixar uma mensagem, é para que todos cuidem-se
com exagero, pelo menos até a vacina chegar. Como relatei, quando fiquei
febril, já vivíamos em quarentena radical há 20 dias. Ninguém ia à rua,
tomávamos sol pela janela. O vírus só pode ter entrado em sacolas e produtos de
mercado e farmácia. Lavem tudo, usem máscaras, não economizem em
cuidados. Outra coisa. Se você precisa sair de casa por qualquer motivo,
vá sozinho, preserve o outro, e vice-versa. O vírus nos obriga a rever
alguns conceitos. Amar não é querer adoecer junto, mas proteger-se ao máximo
para ter condições de cuidar do outro, se preciso for.
Também refleti sobre o erro dos que olham para a política como se todos fossem iguais, votam de qualquer jeito. O vírus tem ensinado ao mundo que não é bem assim. Muitas vidas têm sido salvas por governantes humanos, inteligentes e capazes de conduzir políticas públicas. E outras são jogadas fora, em proporções impensáveis. Isso sempre fará a diferença, especialmente nos momentos dramáticos para os povos, como este. Que Deus nos proteja, nos ajude a suportar os dias duros pela frente e nos dêsabedoria para aprender.”
Aziz Filho. Crédito: Renato Velasco
Aziz Filho é especialista em Políticas Públicas. Foi diretor de Redação dos jornais O Dia e Meia Hora, chefe da sucursal de IstoÉ no Rio, gerente de conteúdo da TV Brasil, repórter de O Globo (quando conquistou um Esso), da Folha de S.Paulo e do JB, e presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio. Dirige hoje sua Avenida Comunicação. Publicado originalmente no site de Lu Lacerda
Enquanto os meios jornalísticos e jurídicos britânicos acompanham os desdobramentos do processo movido por Megan Markle contra o Mail on Sunday por causa da publicação de uma carta por ela enviada ao pai, que pode estabelecer jurisprudência para casos semelhantes, outra controvérsia envolvendo práticas da imprensa movimentou o país semana passada. Só que desta vez o protagonista não foi um tabloide sensacionalista, e sim o Financial Times, que teve um repórter pego com a boca na botija ao infiltrar-se em uma conferência via Zoom reunindo equipe de funcionários do The Independent para tratar de cortes de pessoal.
O episódio coloca em pauta várias questões
importantes. Uma é o risco a que indivíduos e corporações estão submetidos ao
utilizar serviços de conferência online, tão necessários nesses tempos de
pandemia. Foi mais uma evidência de que não há segurança plena nesse tipo de
comunicação, sujeita ao chamado “Zoom bombing”.
Várias empresas e organizações jornalísticas já
trocaram o Zoom por ferramentas mais confiáveis. Ainda assim todo cuidado é
pouco com temas sigilosos, pois os riscos, ainda que reduzidos, existem.
Vale tudo pelo furo? – A história também faz refletir sobre a delicada fronteira entre atitudes
individuais de um profissional e a reputação da organização que representa. E
só reforça a necessidade de vigilância estreita sobre os padrões de conduta,
para que um deslize não estrague uma imagem bem construída.
E que imagem! O Financial Times dispensa
adjetivos. Sua excelência levou à conquista inédita do título máximo do British
Press Awards por dois anos consecutivos. É fora de questão imaginar que a
atitude do repórter tenha contado com apoio da direção, diferentemente do caso
clássico do News of The World há alguns anos.
Mark Di Stefano, australiano, fora contratado em janeiro, vindo
do Buzzfeed, para cobrir assuntos de mídia em Londres. A ânsia pelo furo,
tentando descobrir em primeira mão os planos da empresa que edita o Evening
Standard e o Independent, acabou custando-lhe o emprego.
Ele chegou ao extremo de publicar a notícia sobre
os cortes na equipe em sua conta no Twitter ao mesmo tempo em que a equipe do
jornal estava sendo informada. Mas a alegria durou pouco. Foi suspenso, e na
última sexta-feira (1º/5) apresentou a demissão.
Pela ingenuidade, até que foi merecido. Tendo
recebido o link de alguém do jornal,
entrou na conferência com sua própria identidade – que apareceu na tela – sem
ativar o vídeo. Depois de alguns minutos, talvez alertado por algum amigo,
desconectou-se e voltou a conectar com outro telefone, sem nome.
Mas esqueceu que estava lidando com uma plateia de
jornalistas tão – ou mais – espertos do que ele, que foram atrás e comprovaram
que aquele número também era dele. Para piorar, o número foi identificado como
o que também entrara em uma conferência do Evening Standard, editado pelo mesmo
grupo.
O Financial Times não pestanejou em assumir a
culpa. Pediu desculpas ao concorrente, que decidiu não tomar outras atitudes.
Mas não há dúvidas de que a situação deixa uma mancha em uma trajetória de
seriedade.
Que pode se agravar, caso se confirme uma notícia
publicada em 30/4 pelo Daily Telegraph, dando conta de que um editor do FT em
Nova York estaria respondendo a um processo disciplinar devido a acusações de
plágio. O jornal parece estar vivendo um inferno astral, ainda que venha
entregando uma elogiada cobertura sobre a pandemia, reconhecida pelo público
por meio de altos índices de acesso.
Mocinhos e bandidos à parte, o imbroglio veio em
má hora, pois o que a imprensa britânica menos precisa agora é de controvérsia
a respeito de suas práticas. As receitas publicitárias continuam em queda,
jornalistas estão sendo demitidos ou colocados em licença até mesmo nos grandes
jornais, e o cenário não apresenta sinais de melhora a curto prazo, com o país
tendendo a continuar por muitos meses mais em lockdown parcial. Desunião não ajuda nessa hora.