Levantamento feito por Mauricio Stycer e publicado em 21/9 em sua coluna no UOL, apontou que a Record TV dedicou 71 minutos de seus noticiários, durante oito dias seguidos, em reportagens contra a TV Globo.
Os ataques começaram exatamente um dia depois da edição de 12/9 do Jornal Nacional, que divulgou, em uma reportagem de oito minutos, detalhes de uma acusação do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Edir Macedo, dono da Record, é fundador e principal líder.
Segundo a denúncia, a igreja tem sido utilizada como instrumento para lavagem de dinheiro pela administração municipal do Rio de Janeiro. Vale lembrar que o prefeito carioca Marcelo Crivella é bispo licenciado da Iurd.
“De segunda (14) a sábado (19), o ataque se deu no Jornal da Record, que apresentou uma série de reportagens intitulada O lado oculto do império“, escreveu Stycer. “Outros dois torpedos foram disparados nas edições do Domingo Espetacular dos dias 13 e 20: Os 71 minutos gastos com as oito reportagens − uma média de quase 9 minutos por dia − superam, de longe, qualquer outro assunto tratado pelo Jornalismo da Record nesse período”.
As reportagens da Record trataram de acusações de sonegação fiscal, suposto envolvimento com corrupção no futebol, um possível pacto com o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral para transmissão dos Jogos Olímpicos de 2016. Denúncias de importação de cavalos de competição, imóveis de luxo que estariam em situação irregular e negócios com doleiros também foram citadas.
Procurada, a TV Globo não teria respondido à reportagem da Record.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) lançou em 21/9 uma campanha nacional para arrecadar fundos e ajudar a garantir a sobrevivência da instituição centenária, sempre comprometida com as lutas em defesa dos direitos democráticos e das liberdades de expressão e imprensa. Sob o mote ABI precisa da sua ajuda, foi idealizada e desenvolvida por Lula Vieira, sem custo, para veiculação em emissoras de TV, rádios, jornais e nas redes sociais.
A ABI criou um site específico para receber doações e fornecer informações detalhadas sobre como fazer o cadastramento e efetuar as contribuições.
Entidade sem fins lucrativos, com 112 anos de história, a ABI enfrenta grave situação financeira. A campanha visa a superar a atual dificuldade. A entidade precisa dessa contribuição para manter funcionando a Casa do Jornalista e possibilitar a regularização dos salários, dos compromissos tributários, além de viabilizar a manutenção e atualização dos auditórios, da biblioteca, dos elevadores e dos sistemas elétrico e de proteção contra incêndios.
A campanha convida a sociedade a ser uma espécie de sócio-torcedor da ABI, com contribuições mensais a partir de R$ 40, durante um período definido pelo assinante. Este apoio será fundamental para a manutenção e o fortalecimento da instituição. Já conta com apoio de artistas – entre músicos, cantores, compositores, atores –, intelectuais, advogados e de profissionais renomados de outras categorias, que deixaram suas mensagens gravadas em vídeo, que podem ser assistidas no site da ABI.
Redação da Folha de S. Paulo. ( Foto: Lalo de Almeida/ Folhapress )
Redação da Folha de S. Paulo. (Foto: Lalo de Almeida/ Folhapress)
Pesquisa feita por Camilla Quesada Tavares, da Universidade Federal do Maranhão, e Cintia Xavier e Felipe Simão Pontes, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), analisou a situação do jornalismo brasileiro nos últimos anos. Os resultados indicaram redações mais jovens, muitos trabalhadores deixaram a profissão, as mulheres foram mais impactadas pelas mudanças e cortes em cargos mais altos, de maiores salários.
O estudo avaliou a situação dos jornalistas no Brasil de 2012 a 2017, para entender as características de seu trabalho e identificar como a crise atingiu a profissão nos últimos anos. Segundo os pesquisadores, “é possível demonstrar aproximações entre a literatura sobre crise e os movimentos realizados pelos jornalistas, no decorrer dos cinco anos”. Confira o resultado na íntegra.
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) e a UNI Global Union anunciaram em 18/9 uma iniciativa para pressionar os governos de todo o mundo a ajudarem o setor de impressos do jornalismo praticado em seus países. A campanha pede a adoção de pacotes de resgate de emergência e a introdução de impostos sobre os serviços digitais de empresas de tecnologia como Amazon, Google e Facebook.
O principal objetivo da iniciativa é garantir que os governos nacionais intervenham para proteger os empregos no setor impresso e na imprensa como um todo.
A questão da publicidade foi agravada com a pandemia de coronavírus. As receitas caíram 20% em 2020. E as big techs apropriaram-se de boa parte desse dinheiro. Para efeito de comparação, em 2018 o Google ganhou US$ 4,7 bilhões publicando notícias, lucro que não compartilhou com os jornalistas que as produziram.
Anthony Bellanger, secretário geral da IFJ, afirmou que “a atual crise de saúde global está agravando consideravelmente as grandes dificuldades enfrentadas pela indústria da mídia impressa. Os governos devem reagir com urgência. O setor é um bem público e constitui um pilar fundamental de nossas democracias. Os governos estão cientes disso. Na verdade, durante a crise da Covid identificaram o setor como essencial. Agora não podem contemplar com impassibilidade”.
Trabalhadores da EBC, sindicatos e Fenaj denunciaram em live na segunda-feira (21/9) censura no trabalho jornalístico da empresa pública por parte do governo Bolsonaro. Eles apresentaram um segundo dossiê com o levantamento de casos em todos os veículos da EBC. De acordo com o relatório, a censura e o uso de propaganda do governo vêm ocorrendo desde 2016, mas o problema foi agravado na gestão de Bolsonaro.
Esta segunda edição do Dossiê Censura EBC traz como subtítulo Inciso VIII, que se refere ao artigo 2° da Lei nº 11.652, de criação da EBC, que descreve os princípios a serem seguidos pela empresa pública: “VIII – autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção, programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”. O documento destaca casos em que houve cerceamento à liberdade de imprensa na empresa, gerando entraves ao cumprimento do princípio básico da instituição, que é produzir conteúdos de comunicação pública para o interesse da sociedade e que “contribuam para o desenvolvimento da consciência crítica das pessoas”, como consta na própria missão da EBC.
O levantamento, feito por um grupo de trabalho composto por representantes da Comissão de Empregados da EBC e dos sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas de Brasília, SP e RJ, teve como base trabalhos realizados entre janeiro de 2019 e julho de 2020. Ao todo, foram feitas 138 denúncias, o que representa cerca de dois casos de censura ou governismo por semana no período analisado. Esses casos são apenas os que chegaram a ser denunciados. Segundo do documento, as editorias mais censuradas foram Política e Direitos Humanos, com supressão de coberturas, como as repercussões do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes e violação dos direitos indígenas; interdição de fontes para matérias, como Anistia Internacional e Human Rights Watch; e proteção excessiva a ministros e ao próprio presidente da República, com edição de falas para minimizar a gravidade de declarações oficiais.
O SBT informou nesta segunda-feira (21/9) que não vai renovar o contrato de Roberto Cabrini, apresentador e editor-chefe do Conexão Repórter. O motivo seria o baixo faturamento do programa, que Cabrini comanda há dez anos
Segundo Maurício Stycer (UOL), ainda há esperança de que o destino do apresentador dentro da emissora seja revertido, pois há um prazo entre a notificação de que o contrato não será renovado e a efetiva saída.
O SBT tem pelo menos três episódios do Conexão Repórter gravados. Procurada pelo colunista do UOL, a emissora declarou que não vai comentar o caso. Roberto Cabrini não respondeu aos contatos.
Ainda por lá, cerca de 500 funcionários devem ser demitidos até o final do ano. A crise econômica provocada pela pandemia e o alto investimento na compra de direitos de transmissão de campeonatos esportivos seriam os motivos para o corte. Segundo Daniel Castro (Notícias da TV), o Grupo Silvio Santos tem uma política de enxugar a folha de pagamentos com demissões, para fechar o balanço anual com saldo positivo.
A 15ª edição do Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, realizado pela primeira vez em formato online por causa da pandemia de coronavírus, bateu recorde de público com cerca de 10 mil inscrições. O número deve crescer, pois ainda há a possibilidade de inscrição para acesso ao conteúdo, que ficará disponível até 12/10.
O evento contou com 105 painelistas, 17 deles internacionais, vindos de Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido, Argentina, Colômbia, Venezuela e Bolívia. Entre os temas discutidos, destacam-se os impactos da pandemia ao jornalismo, fake news, crise econômica, saúde mental e ataques a mulheres.
O 15º Congresso da Abraji contou com apoio deste Portal dos Jornalistas e do Jornalistas&Cia.
Mais de 400 jornalistas, de 110 veículos de comunicação, em 88 países, participaram de uma investigação internacional que revelou que cinco bancos multinacionais movimentaram US$ 2 trilhões em operações suspeitas. A apuração é proveniente do vazamento de documentos secretos do governo dos Estados Unidos, batizados de FinCEN Files.
Os documentos revelam suspeita de lavagem de dinheiro e recursos cuja natureza é de atividades criminosas. Mais de 2.100 relatórios foram analisados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Do Brasil, participaram da apuração Poder360, Época e piauí.
O ICIJ foi responsável em anos anteriores por outros modelos similares de apuração que resultaram em reportagens especiais, como Panama Papers e Luanda Leaks.
A Band anunciou o Melhor Agora, novo programa de entrevistas comandado por Mariana Godoy, que estreia nesta segunda-feira (21/9), às 22h45.
A atração terá o formato de talk show, semelhante ao que Mariana apresentava na RedeTV, e será gravado antecipadamente. Na estreia, os convidados serão Catia Fonseca e Ronnie Von.
Imagino a despedida do meu amigo Ari Borges como a cena de abertura do filme O homem que amava as mulheres, de Truffaut: um enterro em que só há figuras femininas presentes, em profusão, todas elas chorando em coro a mesma dor da saudade.
Uma bobagem, evidentemente, uma mitificação, posto que o dom dele da conquista não se limitava apenas a elas. Nós, homens, também lhe devotamos um amor que poucos caras são capazes de despertar.
A genialidade, cultura, humor, leveza, irreverência e loucura, combinados na medida certa, eram admiráveis. Mas talvez por eu invejar, mais do que tudo, a sua capacidade de encantar as fêmeas, me vem essa idealização. Ele era amado tanto por suas companheiras, como pelas ex – algo raro –, e também por sogras, colegas de redação, funcionárias da manutenção, faxineiras, garçonetes, telefonistas… e quantas mais se possa supor. Até as cadelas vira-latas lhe abanavam o rabo na rua. Juro, sem exagero.
Além de ter sido um personagem irresistível e engraçado, Ari Borges foi um dos melhores repórteres e editores com quem já trabalhei. Na reportagem, chegamos a ser concorrentes, quando ele estava no Estadão, e eu na Folha (depois no Diário Popular). Era mestre em fazer matérias memoráveis quando não havia qualquer notícia relevante. Certa vez, ao escrever sobre um jogo ruim, discorreu sobre a lua cheia que embelezava a noite e inspirava um clima romântico no estádio – só na última linha registrou que a partida terminara sem gol. Uma ousadia para poucos. Como também, salvo engano, coube a ele revelar a obsessão de Telê Santana no combate às terríveis paquinhas, espécie de grilo que danificava os gramados dos campos do CT da Barra Funda e do Morumbi, em uma matéria saborosa e original.
Na década de 1990, o então presidente corintiano Alberto Dualib voltou de uma viagem ao Japão, onde pretensamente iria fechar uma parceria financeira para o clube. Por meio da assessoria de imprensa, eu e o Ari fomos avisados de que teríamos primazia para entrevistá-lo, na véspera da coletiva para o restante da imprensa. Fomos atendidos juntos pelo cartola, que havia disposto sobre a mesa, meticulosamente, dezenas de cartões de visitas que colhera em sua peregrinação pelo Oriente. O intuito era demonstrar o quanto sua viagem havia sido frutífera, com a exposição dos potenciais patrocinadores, e oferecer uma boa imagem para foto. Mas o bom e velho Ari desmontou a estratégia assim que lançou o olhar sobre a escrivaninha: “Presidente, estou vendo aqui o cartão da Andrea Fornes (então correspondente da Folha em Tóquio). Ela pode ser a futura patrocinadora do Corinthians?”, disparou. Dualib gaguejou muito mais do que o Ari, que era levemente gago, e limitou-se a ficar vermelho. A partir daí, uma verificação mais apurada dos símbolos e desenhos contidos em outros cartões, permitiu-nos detectar que o dirigente passara por farmácias, tinturarias, bancas de frutas… sei mais lá o quê.
Em 1995, já trabalhávamos juntos na ESPN/Brasil e pude constatar sua criatividade e múltiplos talentos. Como editor do programa 30 Minutos, juntamente com Roberto Salim, outro gênio, o Ari me ligou logo de manhã na segunda-feira. “Acorda, mortão!”, brincou, usando o termo como costumava referir-se a todos os amigos. “Vem pra cá agora gravar uma nova passagem para a matéria do clássico!”, convocou. Na véspera, eu havia feito a reportagem do jogo entre Palmeiras e São Paulo, no Pacaembu, em que Rivaldo e Júnior Baiano trocaram socos e acabaram expulsos. A ideia do Ari era tirar a passagem tradicional que eu fizera, ainda no gramado, e gravar outra no estúdio, na qual eu vestiria roupa de gala e emularia o estilo de Tony Auad, tradicional apresentador de lutas de boxe. O problema é que não havia gravatas-borboleta no guarda-roupas da emissora. Ele mandara a produção comprar, mas já se aproximava o horário em que o programa iria ao ar, e nada. De repente, o Ari pegou uma lata de lixo da redação, despejou tudo que estava dentro e usou o saco plástico preto que forrava a lixeira para confeccionar uma gravata-borboleta. Ficou perfeita. No vídeo, ninguém poderia perceber a improvisação. Quando queria algo, sempre dava um jeitinho.
Nos últimos tempos, morávamos perto e vínhamos nos encontrando com frequência, até mesmo por acaso, quando ele saía para passear com o cachorro. Às vezes, íamos a um barzinho descolado do bairro que toca som variado: blues, rock, soul, bossa-nova, choro, samba… desde que tenha qualidade. Incrível como o Ari sempre tinha uma história interessante pra contar sobre a música, a gravação, o cantor, o compositor, o escambau.
Assim que foi internado para tratamento do câncer no estômago, lhe telefonei no hospital e perguntei sobre o resultado dos exames. Debilitado, com a voz fraquinha, mal tinha forças pra falar, mas não perdeu o humor: “A porra desse câncer parece meu pau, quando eu tinha 20 anos: é grande e agressivo!”, foi o seu boletim médico.
Chegou a sair e ir para a casa do Tupac, seu filho. Em nossa última conversa, no seu aniversário, que coincidiu com o Dia dos Pais, estava falante e animado. Conversamos longamente e demos muita risada. Ari acabara de receber Travessia, meu mais recente livro com o Casagrande, em que há uma passagem na qual ele aparece. “É a melhor parte do livro, mortão! Mas você vai fazer eu passar para a história como o cara que endemoniou o Casão! Kkkkkkk”, divertiu-se, por ter dado de presente ao amigo um livro de arte alemão com a reprodução de pinturas em que demônios são retratados. Em 2007, no auge dos surtos psicóticos, e julgando que as visões demoníacas saíam daquelas páginas, Casagrande enterrou a publicação em um terreno baldio.
Combinamos que eu iria quebrar a quarentena para visitá-lo na casa do Tupac naquela semana. Prometi levar um pão de nozes, com fermentação natural, da padaria Santiago. Não deu tempo. Ao fazer exames de rotina, descobriu que estava com Covid e foi hospitalizado novamente. Passou dias de sofrimento e tinha ímpetos de fugir da internação. Felizmente, acabou recebendo alta e teve a chance de passar momentos preciosos com a família na casa de praia, em São Sebastião, onde sempre sonhou terminar os seus dias.
Valeu, Ari, você partiu em boa hora. Esse mundo dominado pela ignorância, pela violência, com essa gente brega e tacanha no poder, não combina mesmo com você e sua elegância. Au revoir, irmão!
Gilvan Ribeiro
A história desta semana é de Gilvan Ribeiro, que trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, Folha da Tarde, Diário Popular, Diário de S.Paulo, ESPN/Brasil e Agora, como repórter, editor e colunista. É autor dos livros Casagrande e seus demônios, Sócrates e Casagrande, uma história de amor e Travessia, em parceria com Walter Casagrande Júnior.
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