Foram anunciados nessa segunda-feira (29/11), em cerimônia virtual, os vencedores da 4ª edição do Prêmio 99 de Jornalismo, cujo tema este ano foi Tecnologia para Todos.
A matéria mostra como provedores locais levam internet a pequenas comunidades e povoados que não são atendidos pelos grandes provedores, com entrevistas e dados que evidenciam este abismo no direito de acesso à internet e na infraestrutura de um grande centro urbano e de pequenas comunidades.
Já a categoria Jovens Jornalistas premiou trabalhos de participantes do Lab 99+Folha SP, feito em parceria com a Folha de S.Paulo, para estudantes do último ano da graduação ou recém-formados em cursos de Comunicação Social. O primeiro lugar ficou com o podcast Play Nosso de Cada Dia, que trata sobre a dificuldade de muitos artistas de conseguirem remuneração justa com suas músicas via plataformas de streaming. A narração é de Henrique Votto e Luísa Carvalho, produção de Gabriel Araújo e Pedro Vinícius, e edição de som de Giovana Christ.
A repórter Veruska Donato é a nova contratada da Record TV em Mato Grosso do Sul, sua terra natal. Ela deixou a Rede Globo no início do mês, após 21 anos de casa.
“Achei que ficaria um tempo sem trabalhar depois que deixei a televisão”, contou Veruska. “Essa era a intenção, descansar um pouco e pensar na vida. Cuidar da minha mãe, curtir o ‘namorido’. Mas eu recebi uma proposta de trabalho muito bacana e resolvi aceitar”.
Ela iniciou a carreira no jornalismo em 1992, após receber oportunidade da família que é hoje responsável pela Record TV em Mato Grosso do Sul. Começou como estagiária na Globo em 2000. Foi apresentadora do bloco paulista do Jornal das Dez até se fixar como repórter. De 2012 a 2016 comandou o bloco Sala de Emprego, do Jornal Hoje. Na emissora, atuou por mais de duas décadas na reportagem.
Segundo ela, o ódio que recebeu após postar uma foto com o padre Julio Lancellotti influenciou na decisão de deixar a Globo. Em entrevista para o Notícias da TV (UOL), disse que estava “cansada e doente, com depressão e ansiedade, por causa das coberturas da pandemia e da fome no País”.
A Globo dispensou nesta segunda-feira (29/11) Renato Machado e Francisco José, ambos há mais de 40 anos na emissora, que estavam atuando nos últimos tempos no Globo Repórter. Segundo informações do Notícias da TV, do UOL, Ali Kamel, diretor de Jornalismo da Globo, enviou um e-mail para se despedir dos colegas, elogiando o profissionalismo deles, e informando que os dois ainda têm trabalhos a serem exibidos.
Renato Machado (esq.) e Francisco José
Renato Machado, de 78 anos, estreou na Globo em 1982. Uma de suas primeiras aparições foi na cobertura da Guerra das Malvinas. Um ano depois, foi para Londres, onde cobriu acontecimentos marcantes como atentados terroristas em Paris e o acidente nuclear de Chernobyl, ambos em 1986.
Em 1995, retornou ao Brasil, e passou a ser editor-chefe e apresentador do Bom Dia Brasil, função que ocupou até 2010. De 2011 a 2016, ficou mais uma temporada em Londres, até voltar ao Brasil. Ultimamente, produzia reportagens especiais para o Globo Repórter.
Francisco José estava há 46 anos na Globo. Nordestino, foi um dos primeiros jornalistas com sotaque de fora do eixo Rio-São Paulo a aparecer no Jornal Nacional. Na emissora, cobriu a Guerra das Malvinas, quatro Copas do Mundo, e a ECO-92, conferência sobre o clima realizada no Rio de Janeiro.
Um dos episódios mais marcantes de Francisco ocorreu em 1987, na cobertura de um assalto a um banco em Recife. Ele se propôs a ficar de refém no lugar de uma mulher grávida que estava sendo ameaçada com um revólver. Desde que estreou na Globo, produzia reportagens para o Globo Repórter.
O Grupo de Comunicação Empresarial (Gecom) realiza nesta quinta-feira (2/12), das 11h às 13h30, a entrega do Prêmio Jatobá PR, que valoriza os melhores cases de PR do Brasil e América Latina. O evento será online, com transmissão pelo canal do Prêmio Jatobá JR no YouTube. Neste ano, a premiação teve 225 inscrições, com 112 chegando à final.
Estão em disputa 20 categorias técnicas, distribuídas por quatro verticais, e uma categoria internacional, disputada por todo o mercado. O Jatobá PR concederá também nove premiações especiais: quatro para Organizações do Ano, outras quatro para Cases do Ano, e uma para Organização Destaque do Ano.
As Organizações Públicas concorrem com quatro cases competindo em duas categorias. Já as Organizações Empresariais concorrerão em cinco categorias, com um total de 21 cases.
Em relação às Grandes Agências e Agências-Butique, elas entram na disputa, respectivamente, com 41 e 46 cases, concorrendo em dez categorias, com premiações específicas para ambas. Na categoria Internacional, concorrem organizações dos quatro segmentos.
O evento de premiação terá a presença de Eduardo Ribeiro e Marco Rossi, diretores do Gecom, que conversarão ao vivo com os profissionais responsáveis pelos cases vitoriosos.
Greta Beccaglia, repórter da Toscana TV, da Itália, foi assediada ao vivo no sábado (27/11) após o jogo entre Empoli e Fiorentina pelo Campeonato Italiano de futebol. Ela tentava ouvir torcedores da Fiorentina após a derrota por 2×1 para o Empoli, quando um homem passou a mão em suas nádegas. A polícia conseguiu identificar o indivíduo.
“Aquilo que aconteceu comigo é inaceitável e não pode se repetir. Foi transmitido ao vivo porque eu estava trabalhando, mas, infelizmente, tais assédios ocorrem com outras mulheres sem que ninguém saiba”, disse a jornalista.
Imediatamente após o ocorrido, o apresentador Giorgio Micheletti pediu para Greta “não ficar brava”. Internautas repudiaram o assédio e a postura de Micheletti, acusado de não demonstrar solidariedade à repórter.
A Ordem dos Jornalistas da Toscana classificou o ocorrido como um “episódio gravíssimo de assédio”, lembrando que o caso aconteceu dias depois do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado em 25 de novembro. A entidade também criticou a fala de Micheletti, afirmando que “não houve nenhuma palavra de solidariedade”.
Em entrevista ao FQMagazine, o apresentador posicionou-se sobre as acusações: “O meu ‘não fique brava’ foi dito apenas para não entrar em pânico. Não para menosprezar o fato. Pode parecer depreciativo, mas não foi. Eu estava preocupado principalmente com o bem-estar psicológico de Greta. Pouco depois, exatamente dois minutos após o crime, disse o que pensei sobre o ocorrido e sobre o protagonista”.
Vinte e seis organizações jornalísticas promovem, pelo segundo ano, a partir desta sexta-feira (26/11) até 4 de dezembro, a campanha #DiadeDoar, que tem o objetivo de arrecadar doações para fortalecer o financiamento do jornalismo digital de qualidade no Brasil.
O projeto, articulado pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor), utiliza como slogan a frase “Doe para o jornalismo que: te inspira; te informa; te representa; te escuta”. As ações promovidas pelo projeto serão postadas nas redes sociais das organizações participantes, sempre acompanhadas da hashtag #diadedoar. A ideia é motivar as pessoas que consomem o conteúdo dessas organizações a contribuírem financeiramente com elas para que continuem e ampliem seus trabalhos e projetos.
Integram a iniciativa Agência Envolverde, Agência Mural, Agência Pública, Alma Preta, Amazônia Real, Aos Fatos, AzMina, data_labe, Eco Nordeste, Énois Laboratório de Jornalismo, Fauna News, Gênero e Número, O Joio e O Trigo, Jornal Metamorfose, Manual do Usuário, Marco Zero Conteúdo, Matinal Jornalismo, Nonada Jornalismo, Nós, mulheres da periferia, ((o))eco, Periferia em Movimento, Portal Catarinas, Ponte Jornalismo, Quatro Cinco Um, Saiba Mais e Sul21.
Em nota de divulgação da campanha, Maia Gonçalves Fortes, secretária executiva da Ajor, destacou que “essas instituições têm o foco na fiscalização do poder público, pluralidade editorial e trabalham para defender a democracia − que está sendo tão ameaçada por uma enxurrada de desinformação. O apoio financeiro a esse trabalho é um posicionamento em defesa do jornalismo, um dos pilares da democracia”.
A Rede Globo desligou José Hamilton Ribeiro, de 86 anos, mais de 40 deles na emissora, com passagens por Fantástico, Globo Repórter e Globo Rural; e Eduardo Faustini, o “repórter secreto” do Fantástico. Segundo apurou o Splash (UOL), os desligamentos foram amigáveis e de comum acordo, causando comoção na emissora.
O primeiro trabalho de José Hamilton na Globo foi como freelance, em 1981, em reportagem para o Globo Rural, no primeiro ano de existência do programa. Um ano depois, passou a integrar a equipe fixa da atração.
Em mais de 60 anos de jornalismo, foi responsável por reportagens marcantes, como Trilha da Onça, Um passeio pelo Vietnã, O ciclo do tropeirismo, O trabalho dos índios bakairis e uma investigação científica no Rio Paraguai. Em 1960, perdeu a perna esquerda após pisar em uma mina terrestre durante a Guerra do Vietnã.
José Hamilton costuma dizer que aprendeu três coisas ao longo da carreira: “Primeiro, azeitona preta é tingida; segundo, nos banheiros, em geral, a torneira quente é a da esquerda; terceiro, de ovo de cobra não sai canarinho. O resto eu aprendo todo o dia”.
Em 2006, recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia, na categoria Outstanding on Latin America, que homenageia profissionais comprometidos com a liberdade de imprensa.
Vale lembrar que José Hamilton tem uma importância enorme na existência deste Portal dos Jornalistas e da newsletter Jornalistas&Cia. Ele teve a ideia de criar, em 1991, a coluna Moagem no jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, sobre o vaivém profissional, escalando para a tarefa o então colega Eduardo Ribeiro, diretor deste Portal dos Jornalistas. A coluna permaneceu ativa por 21 anos e tornou-se o FaxMOAGEM, que posteriormente acabou virando o Jornalistas&Cia.
“A família cresceu, com o Portal, os prêmios, o MediaTalks, entre outras iniciativas, mas a origem nunca será por nós esquecida”, disse Eduardo Ribeiro. “Zé Hamilton, por muitos anos o mais premiado jornalista brasileiro e hors concours no Ranking dos Mais Premiados Jornalistas do País, organizado pelo J&Cia e Portal dos Jornalistas, foi a razão da nossa existência e seremos a ele sempre gratos. Não só nós, mas o próprio mercado, já que é para este que trabalhamos. A propósito, o último prêmio concedido a Zé Hamilton, na Globo, foi nosso: o Troféu Hors Concours de Mais Admirado Jornalista da Imprensa do Agronegócio. Bem, quem quiser contratar o maior repórter da história do jornalismo brasileiro, agora pode. Ele está com o passe livre”.
Já Eduardo Faustini, o “repórter secreto” do Fantástico, estava na Globo desde 1996. Ele nunca exibiu seu rosto nas câmeras para preservar sua integridade física por causa das denúncias e reportagens investigativas que fazia.
Suas reportagens resultaram na prisão de Hildebrando Pascoal, ex-coronel da PM, acusado de comandar grupos de extermínio. Também denunciou corrupção explícita por parte de fornecedores da Prefeitura de São Gonçalo (RJ), e casos de corrupção em Rondônia.
No especial Diário de uma guerra suja, mostrou a luta entre policiais e traficantes do Rio de Janeiro. Em 2014, estreou a série de reportagens Cadê o dinheiro que estava aqui?, no Fantástico, na qual investigava denúncias de desvios de impostos.
O Portal Imprensa anunciou as vencedoras da 15ª edição do TroféuMulher Imprensa. A cerimônia de premiação será em 10 de dezembro, às 10h, em evento híbrido, transmitido no canal do YouTube e no site do Troféu Mulher Imprensa.
Na semana passada, o prêmio anunciou os projetos vencedores das categorias Melhor projeto: canal, programa, reportagem especial ou série sobre a temática feminina e Melhor projeto: canal, programa, reportagem especial ou série sobre a temática diversidade. A série de reportagens Caso K, da Agência Pública, foi a primeira colocada na temática feminina, e na categoria Diversidade a TV Cultura venceu com o programa Estação Livre.
Confira a lista completa das vencedoras:
Âncora, apresentadora ou comentarista de Telejornal
Maria Julia Coutinho (TV Globo)
Âncora, apresentadora ou comentarista de Rádio
Carla Bigatto (BandNews FM São Paulo)
Repórter de Telejornal
Bianka Carvalho (TV Globo Nordeste)
Repórter de Rádio
Marilu Cabañas (Rádio Brasil Atual)
Repórter de Jornal ou Revista
Juliana Dal Piva (UOL)
Fotojornalista
Gabriela Biló (O Estado de S. Paulo)
Colunista ou articulista
Flávia Oliveira (O Globo)
Jornalista revelação
Cinthia Toledo (TV Globo)
Liderança, diretora de redação ou fundadora de projetos jornalísticos
Ana Dubeux (Correio Braziliense)
Assessora de Comunicação − Agência
Márcia Cirino (Weber Shandwick)
Assessora de Comunicação Corporativa
Rita de Cassia Vasconcelos (Fiocruz Pernambuco)
Comunicação Pública
Vanessa Pessoa
Jornalista na editoria diversidade (inclui gênero, LGBTQIA+, étnico-racial, pessoas com deficiência, entre outras)
Nathália Braga (The Intercept Brasil)
Melhor projeto: canal, programa, reportagem especial ou série sobre a temática feminina
Caso K (Agência Pública)
Melhor projeto: canal, programa, reportagem especial ou série com temática sobre Diversidade
Associados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) elegeram a diretoria que comandará a entidade no biênio 2022-2023. Ao todo, dos 177 membros aptos a votar, 118 registraram seus votos, sendo que 115 manifestaram-se a favor da chapa única, encabeçada por Natalia Mazotte.
Natalia é jornalista e consultora especializada em dados e tecnologia, e coordenadora do Programa de Jornalismo e do Master em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling no Insper. Foi diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, cofundadora da Gênero e Número e da Escola de Dados.
Katia Brembatti, vice-presidente, é ex-repórter da Gazeta do Povo e desde 2013 professora de Jornalismo na Universidade Positivo, de Curitiba. Com a série Diários Secretos, venceu o Grande Prêmio Esso, o Tim Lopes de Jornalismo Investigativo/Embratel, o Prêmio Ipys de Reportagem Investigativa da América Latina e o Global Shining Light Award; Integram ainda a diretoria Amanda Rossi (UOL), Cecilia Olliveira (EL País Brasil), Gabi Coelho (Estadão Verifica), Luiz Fernando Toledo (ex-Estadão, TV Globo e CNN Brasil), Patricia Campos Mello (Folha de S.Paulo), Sérgio Spagnuolo (Volt Data Lab), Thays Lavor (O Povo), Tiago Mali (Poder360) e Tiago Rogero (ex-O Globo, Estadão e BandNews FM).
O conselho fiscal é formado por Gabriela Moreira (Grupo Globo), Guilherme Amado (Metrópoles) e Juan Torres (Correio).
Ele chegou espantado à redação do Estadão: “Coisa de louco! Vi um bando de moleques tocando berimbau, sanfona, bumbo, cuíca, ali na Barão de Itapetininga. Parecia a banda de ‘píncaros’ de Caruaru! Perfeição!”. Mug, não seria a banda de “pífanos” de Caruaru? “Sei lá… Mas sei que quando eles começaram a tocar, o relógio do Mosteiro de São Bento batia 13 badaladas”. Tá bom. Isso já dá uma boa matéria, mas só quando o relógio bater 12 badaladas de novo…
Sala de embarque do aeroporto de Congonhas: Mug e o fotógrafo Benedito Salgado, prontos para voar até Assunção, na primeira viagem internacional deles. Salgado caprichava na limpeza das máquinas, lentes etc. Tudo para declarar que o equipamento era do jornal e não contrabando. Mug, dentro de seu paletó de tweed, falava com todo mundo. Calou-se quando a atendente do balcão da LAP pediu sua carteira de identidade. “Vixe! Acho que ficou em casa! Mas não importa, eu sei o número do meu RG de cor…”. Foi buscar em casa, na divisa de São Paulo com Osasco, no táxi mais veloz do que o jamais visto. Sorte, trânsito livre, sábado modorrento de feriado prolongado…
“Tá doendo tudo até agora, ‘chefe’”, disse, quando chegou ao jornal mancando e de rastos, amparado no ombro do filho Maurinho (figuraça!). “Louco! Você é louco de pedra! Não tem juízo!”, esbravejei. Toda a parafernália comprada para fazer a matéria estava em frangalhos. Eu só sugeri que planejasse uma ‘ida’ ao pé da Serra do Mar, seguindo os trilhos da velha Sorocabana. E ele gemia: “Chefe, contei um por um os 33 túneis; onde não tinha corrimão eu me segurava nos trilhos e o Maurinho atrás, segurando eu…”.
“General? Aqui é Mug, periodista do Estadão, de São Paulo, ‘Brassil’. Óia, aqui tão dizendo que o señor caió. És verdá? Non!? Entonces, o señor tá firme no cargo? Estimo, muchas grazias!”. E assim, o carniceiro Pinochet, mal empossado, desmentiu a primeira fake news da imprensa contra seu tenebroso mandato… (Naquele tempo, Mug ainda era rádio-escuta, da equipe do falecido Amadeu Nadeo, Mirandinha, Roberto… )
Logo de manhã cedinho, o radialista Hélio Ribeiro, então diretor artístico da Rádio Bandeirantes, pediu ao Mug que descontasse um cheque para ele, quando fosse até a cidade. Meio da tarde, nem cheque nem Mug. Quando o ‘gordinho’ chegou, esquivou-se das broncas e explicou: “Por que o senhor não me disse logo que seu nome é Zé Magnoli e não Hélio Ribeiro?”.
“Moacyr!!! Quem o Mug estava esmurrando nessa foto do ‘Bacalhau’, hoje cedo?”. O então editor-chefe e ex-ministro Miguel Jorge tremia com os contatos nas mãos. Mug já tinha saído. Mandei um carro até a casa dele, lá na mesma divisa São Paulo-Osasco. E chega o gordinho: “É um feirante ladrão, Miguel. Ele me disse que não ia falar com O Estadão, ‘jornal de rico’, e passou a xingar nóis de fresco. Aí eu mostrei pra ele quem é fresco”. Mas quem disse para você que o feirante é ladrão?, Miguel quis saber. “Foi o fiscal…”.
Na lotada e agitadíssima sala de espera do pronto-socorro do Hospital das Clínicas, armamos uma blitz para provar ao governador Salim Maluf que aquilo era a antessala do inferno. Mug entra amparando um velhinho, com os olhos do coitado nas mãos. Na triagem, o atendente teve a coragem de dizer que “aquilo” não era caso de emergência. Não fosse o fotógrafo Rolando de Freitas, o atendente teria o mesmo destino do feirante ladrão.
Na mesma antessala, mas à tarde, o mesmo atendente encaminhou o Mug para uma consulta com o ginecologista de plantão. A prova deve estar no bolso do paletó do Maluf até hoje.
Um pouco antes do almoço, Miguel Jorge chegou perto de mim e mandou: “Chame o Mug, a Celina (Vidigal Monteiro de Barros) e o Benedito Salgado. Em seguida, disse-me bem baixinho: “Eles ganharam o Prêmio Esso de Informação Científica, com a reportagem sobre a péssima qualidade do leite vendido em São Paulo. Mas é você quem deve dar a notícia para eles (ética do Miguelão, sabe como é?).
Recebida a denúncia, Mug vai a uma das unidades da Febem, onde, diziam, os meninos eram forçados a pintar faixas para a campanha eleitoral de candidatos a prefeito, vereador… Os de sempre. Foi escorraçado a mando de um candidato que estava ali para levar seu material. No dia seguinte, o jornal estampou: “A estranha história das faixas na Febem”. Ou algo parecido.
Jornal quase fechado, entra na redação um tal de Vanderlei, dizendo-se ex-funcionário da Eletronorte. Sentou-se junto à mesa do chefe de Reportagem e despejou: “Nenhum jornal quer publicar minha história. Então, amanhã cedo, vou a uma agência do Bradesco na Avenida Paulista, e ameaço todo mundo com uma bomba! É o jeito de chamar a atenção sobre meu caso”. O chefe de Reportagem pediu que ele não contasse nada a ninguém e voltasse ao jornal bem cedo. Dito e feito. Quando o Mug chegou, foi apresentado ao assaltante; e o grande fotógrafo Reginaldo Manente completou a equipe. Maluf, governador, com o Estadão atravessado em sua garganta, foi aconselhado pelo delegado Romeu Tuma a deixar o caso com a Polícia Federal, que na época cuidava dos assaltos a banco.
Por toda a imprensa, o Mug foi tratado como meliante. Era um tal de “O repórter Mauro Carvalho da Silva, o Mug, pra cá; o repórter Mauro Carvalho da Silva, o Mug, pra lá”. Só faltaram dizer que Mug era “alcunha” e não seu apelido, dada a imensa semelhança com o autêntico boneco trazido ao Brasil por Wilson Simonal e apresentado num dos musicais da TV Record.
Com um repórter como o Mug em sua equipe, o Estadão tinha de ser, mesmo, “o segundo jornal do mundo”, como foi considerado pela Unesco em pesquisa que sondava a opinião dos leitores, assinantes, anunciantes. Unanimidade. A redação, verificaram, era a melhor para se trabalhar, considerando o respeito ao jornalismo, aos jornalistas e à cordialidade entre seus repórteres e os leitores. Era impossível não gostar do Mug.
Moacyr Castro
Recebemos de Moacyr Castro, colaborador bissexto deste espaço e que por muitos anos chefiou a Reportagem do Estadão, uma bela coletânea de episódios protagonizados pelo repórter Mauro Mug, também conhecido como Mauro Carvalho da Silva, cujo falecimento noticiamos em J&Cia 1.334. Moacyr trabalhou em O Estado até 1991, quando se mudou para Ribeirão Preto, e diz que nunca mais viu um repórter como Mug.
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