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quarta-feira, dezembro 17, 2025

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Caso Rubens Valente põe em risco a liberdade de imprensa, mostra reportagem da Pública

Rubens Valente foi obrigado a indenizar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes por danos morais pela publicação do livro Operação Banqueiro, sobre o banqueiro Daniel Dantas, preso em 2008 pela Operação Satiagraha da Polícia Federal. A sentença foi reformada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo STF em fevereiro deste ano, e já está em execução.

A Agência Pública fez uma reportagem sobre o assunto e conversou com Valente, que considera a decisão como “um atentado à liberdade de expressão e de informação”. Na obra, o jornalista traça os perfis dos personagens envolvidos no caso. Um deles foi Gilmar Mendes, por causa de duas decisões do magistrado que garantiram a liberdade de Daniel Dantas.

No final de fevereiro, Valente teve que pagar R$ 143 mil a Mendes. E se a execução da sentença não for alterada por decisão do juiz de execução, o jornalista terá de desembolsar mais R$ 175 mil, corrigidos em valores atuais como devedor solidário, caso a Geração Editorial, que publicou o livro, não arque com a parte dele.

Os dois tribunais determinaram também que, em uma eventual reedição do livro, Valente inclua, como direito de resposta, a sentença condenatória e a transcrição integral da petição inicial interposta por Mendes, algo em torno de 200 páginas.

A reportagem da Pública destaca que, em um primeiro momento, em 2015, O juiz Valter André de Lima Bueno Araújo, da 15ª Vara Cível de Brasília, que analisou o mérito do processo, não encontrou “informação falsa ou o intuito difamatório”, e absolveu Valente e a Geração Editorial.

“Mendes então apelou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que reformou a sentença, condenando o jornalista e estipulando indenização inicial de R$ 30 mil. A paulada viria dos tribunais superiores”, explica a Pública. “A 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não só deu ganho de causa a Mendes e aumentou o valor da indenização, como mandou que os réus incluíssem na eventual reedição de Operação Banqueiro a petição inicial de Mendes e a sentença condenatória”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) ingressou com uma petição na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para que o órgão avalie o caso. A Abraji considera o caso de Valente “um precedente perigoso para o regime legal e constitucional da liberdade de expressão no Brasil, porque impõe um dever de indenização muito grave para o exercício da liberdade de imprensa, sobretudo quando não se verifica nenhum abuso por parte do profissional. Sem mencionar os efeitos da autocensura não só sobre Rubens Valente, como também sobre outros jornalistas que desejem cobrir fatos de interesse público contra magistrados”.

Octávio Costa, recém-eleito presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), declarou que “é incrível que se permita que membros do STJ e STF proponham e julguem ações sobre colegas de tribunal. Sem dúvida afeta a liberdade de imprensa; o jornalista fica intimidado pelo assédio judicial. Ninguém é contra o pedido de resposta, mas não pode ser abusivo, com conflito de interesses”.

Leia a reportagem da Pública na íntegra.

Chicas Poderosas realiza formação de líderes em diversidade e inclusão

Chicas Poderosas realiza formação de líderes em diversidade e inclusão

A Chicas Poderosas, organização internacional voltada para promover equidade de gênero na mídia, está com inscrições abertas até 10/5 para a segunda edição da Incubadora de Lideranças, formação com foco em preparar líderes para promover diversidade e inclusão em suas equipes.

O programa, que tem apoio da Google News Initiative, selecionará até 150 pessoas de 50 meios de comunicação ou organizações sem fins lucrativos de países da América Latina e do Caribe, Espanha e Portugal. 

Podem inscrever-se grupos de no mínimo duas e no máximo três pessoas por veículo de comunicação ou organização. Os participantes devem ocupar cargos de liderança em seus trabalhos, sejam eles em redação, criação de conteúdo ou outras áreas da comunicação. 

A formação acontecerá durante cinco semanas, entre maio e junho de 2022, totalmente remota por Zoom ou Google Meet. A maior parte da programação será em espanhol, com workshops e palestras sobre liderança, colaboração, diversidade e inovação, entre outras atividades. 

Leia mais: Curso gratuito auxilia em diversidade, equidade e inclusão nas redações

Metrópoles e Record vencem categoria de Jornalismo do X Prêmio República

Metrópoles e Record vencem categoria de Jornalismo do X Prêmio República

A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) divulgou em 4/5), em solenidade realizada em Brasília, os vencedores do X Prêmio República. Na categoria Jornalismo, que premia trabalhos sobre a atuação do Ministério Público Federal (MPF), os vencedores foram o portal Metrópoles e a Record TV.

Na subcategoria jornalística Escrito, o Metrópoles venceu com a reportagem Um Quarto no Jacarezinho: Chacina deixou marcas nas crianças da favela, assinada por Leilane Menezes. O texto aborda os impactos da operação policial mais violenta do Rio de Janeiro sobre a população local. A reportagem entrevistou nove crianças moradoras da favela do Jacarezinho, que falaram sobre como é crescer em um contexto como aquele.

Outras duas reportagens do Metrópoles também ficaram nos segundo e terceiro lugares da categoria: O Brasil que passa fome (2º) e Maceió está afundando (3º).

Na subcategoria Audiovisual, a vencedora foram os documentários da série Escuridão na Floresta/Sertão Medieval, de Daniel Motta, da Record TV. As reportagens tratam sobre falta de energia elétrica e a triste realidade de comunidades isoladas em cidades da Amazônia e do sertão do Nordeste. O trabalho traz entrevistas com famílias que vivem no escuro e que sofrem acidentes por uso de combustível.

Na mesma categoria, o segundo lugar também foi da Record, com a reportagem Dossiê Carajás − Corrupção e Descaso.

Especial Jornalismo nas veias: A evolução da espécie

Especial Jornalismo nas veias: A evolução da espécie

Saulo Luiz da Silva, repórter cinematográfico na TV Globo Minas, e a filha, Tábata Poline Feliciano Silva

A televisão nas nossas vidas, da minha família, família Silva lá da periferia, é a evolução de Darwin. Meu pai foi o cinegrafista mais antigo em atividade no Brasil, trabalhou até os 80 anos. Eu comecei a trabalhar na TV Bandeirantes menino − era a TV Vila Rica −, como office-boy. Era curioso, inquieto. Fui ajudar no estúdio em algumas produções. Aí descobri a câmera de estúdio. Fui fazer câmara de estúdio, virei contrarregra. Mais curioso ainda, gostava das investidas das equipes nas ruas e aprendi a ser cinegrafista na época − hoje é repórter cinematográfico.

O tempo passou… Tive a oportunidade de trabalhar na TV Educativa − TV Minas, do Estado − por dez anos, na TV Manchete por quatro anos e na TV Globo estou há 26 anos como repórter cinematográfico. Fiz graduação em Jornalismo, pós-graduei em Cinema.

Aí, é inevitável, né? A Tábata veio a reboque dessa história do meu pai e da minha história. Ela fez Jornalismo também, se formou, entrou como repórter na TV Globo, no G1 − uma carreira muito promissora e de muito rápida ascensão. Porque televisão é imagem, né? E a Tábata, por ser por ser filha e neta de dois profissionais de imagem, sempre observou muito os detalhes, a composição, o discurso que a imagem tem como peso numa reportagem.

Mais do que isso, ela é um ser humano excepcional. Nascida num bairro da periferia de São Paulo, desde cedo eu a preparei muito, ela fez inglês cedo, estudou muito cedo, é inquieta, já tem duas graduações, duas pós… É missionária na profissão, trabalha em função de fazer a diferença na vida das pessoas, principalmente nessas causas das minorias: negros, LGBT, injustiça social… está sempre ligada a essas causas. Criou com uma equipe o Rolê nas Gerais (Globoplay). Isso deu a ela uma ascensão, um espaço de visibilidade muito grande. E está agora caminhando bacana numa empreitada no Fantástico. A coisa está andando, graças a Deus.

Mas, se pudesse resumir, é a história de Darwin. Evolução da espécie. Primeiro foi o meu pai, que chegou até onde pôde como profissional; depois foi a minha hora, eu cheguei até aqui; agora é o espaço da Tábata, que abriu o espaço dela, o caminho dela como comunicadora de massa na TV Globo. É bem interessante a nossa história de vida na televisão. E ela pauta sempre em defesa das minorias, entende a profissão como missão, não só como meio de ganhar dinheiro e pagar as contas.

É bem isso. São três negros da periferia na comunicação social. São três gerações vocacionadas e tendo a profissão como missão, de ajudar as pessoas que não têm voz. Se um de nós mortais bater na porta do governador ele não vai atender. Mas uma matéria bem feita, mostrando qualquer mazela no espaço social, de clínica médica, hospital que não funciona e tal… a gente faz uma boa reportagem e as pessoas vão nos ouvir.

Então, isso virou missão nas nossas vidas. E a Tábata nada mais é do que uma mulher vocacionada às causas sociais. É bem por aí.

Morre Fernando Paiva, aos 65 anos, em SP

O adeus a Fernando Paiva

Morreu nesta quinta-feira (5/5) Fernando Paiva, aos 65 anos, em São Paulo. A causa da morte não foi divulgada. Segundo informações publicadas no Instagram, o velório será nesta sexta-feira (6/5), ao meio-dia, no cemitério Gethsêmani (Morumbi).

Fernando formou-se em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP em 1980. No ano seguinte, estudou Jornalismo na ECA-USP, mas não chegou a concluir o curso. Iniciou a carreira no Jornalismo em 1978, no suplemento Folhetim da Folha de S.Paulo. Posteriormente, foi para o suplemento Mulher, ainda na Folha.

Fernando Paiva (Crédito: LinkedIn)

Entre 1983 e 1985, foi repórter da Agência Folha, secretário-assistente de Redação e editor-assistente de Política. Foi ainda repórter e editor do caderno Turismo naquele jornal. Trabalhou como editor na revista Status, na Editora Três, em 1986.

Na Editora Abril, a partir de 1988 trabalhou em Veja SP, Playboy e integrou a equipe fundadora da revista Elle, no mesmo ano. Entre 1995 e 1996 foi redator-chefe de Capricho. Passou de 1996 a 1999 na revista CartaCapital, como editor de Cultura. Voltou à Abril em 2000, como redator-chefe de Quatro Rodas e gerente de conteúdo dos sites do Grupo Casa – Casa Claudia, Arquitetura & Contrução e Bons Fluidos.

Em 2001 assumiu o cargo de diretor de custom publishing da Trip Editora & Propaganda S/A. Entre 2001 e 2006 dirigiu as revistas Daslu, Homem Daslu, MIT Revista, GOL Linhas Aéreas, Private Brokers Coelho da Fonseca, Revista Expand, Trevisan Educação, Notícias da Gente (AmBev) e Revista do Chopp (AmBev).

É sócio-diretor da Custom Editora desde sua criação, em novembro de 2006. Como publisher, cuidou do editorial, do conteúdo, e das ligações com o comercial e com a venda de anúncios.

A Custom começou o ano de 2007 dando continuidade à MIT Revista, customizada da Mitsubishi Motors do Brasil. Em 2008 lançou a revista Living Alone, direcionada a quem mora sozinho. Entrou nas mídias digitais fornecendo conteúdo para o Portal Terra. Em 2010 estreou com a The President, revista de estilo de vida distribuída aos presidentes e CEOs das seis mil maiores empresas do Brasil em faturamento, além de ser enviada a um mailing de dois mil formadores de opinião. Em 2011, venceu a concorrência para a feitura dos catálogos da Jequiti Cosméticos, do Grupo Silvio Santos, e no ano seguinte, para a feitura da revista Telhanorte, do Grupo Saint-Gobain.

Ferramenta permite dar continuidade ao trabalho de jornalistas ameaçados

Ferramenta SafeBox possibilita dar continuidade ao trabalho de jornalistas ameaçados

O consórcio Forbidden Stories lançou em 3/5, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a plataforma SafeBox Network, que permite a jornalistas armazenarem seus trabalhos mais sensíveis em ambiente digital seguro, mantendo em uma rede internacional, de forma gratuita, os dados coletados.

A ideia é que as informações obtidas pelos jornalistas permaneçam seguras na plataforma. Caso os repórteres sejam ameaçados, presos, sequestrados ou até assassinados, o Forbidden Stories dará continuidade à reportagem, que será publicada em diversos países.

A organização destaca que o objetivo principal da SafeBox é dissuadir aqueles que veem a imprensa como inimiga e atacam os jornalistas: “Proteger, continuar e publicar. A SafeBox complementa a missão do Forbidden Stories de agir antes que as ameaças de jornalistas resultem em crimes. O que eles esperam silenciar poderá ser exposto mundialmente. Matar o mensageiro não matará a mensagem”, explica o Forbidden Stories.

Já fazem parte do diretório da SafeBox os brasileiros Jairo de Sousa Junior, da TV Mania, afiliada de Record em Belém (PA), e Kátia Brasil, editora executiva da Amazônia Real. Kátia disponibilizou na plataforma a reportagem Ouro do Sangue Yanomami.

Jornalistas em perigo em qualquer país podem fazer parte da SafeBox, mas devem primeiramente passar por uma avaliação da equipe do projeto. É preciso enviar para o e-mail [email protected] documentos, vídeos, fotos, entrevistas, transcrições e rascunhos de matérias, além de evidências de que o comunicador está sendo ameaçado e instruções sobre como prosseguir na investigação e publicação.

Vale ressaltar, porém, que a iniciativa não protege os jornalistas de ataques físicos. Em março deste ano, a SafeBox promoveu um workshop em São Paulo para ajudar jornalistas da América Latina a salvarem seus dados na plataforma. O curso foi acompanhado por Angelina Nunes, coordenadora do Programa Tim Lopes e ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). A entidade, inclusive, é parceira na difusão do projeto no Brasil.

Confira aqui um vídeo institucional da SafeBox, legendado em português.

Curso gratuito auxilia em diversidade, equidade e inclusão nas redações

A Énois abriu as inscrições para o programa Diversidade nas Redações. O objetivo é apoiar veículos locais a desenvolverem suas estratégias.
A Énois abriu as inscrições para o programa Diversidade nas Redações. O objetivo é apoiar veículos locais a desenvolverem suas estratégias.

O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas lançou o curso online e gratuito Como Impulsionar a Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no Jornalismo Latino-Americano. Com o apoio da Google News Initiative, a plataforma aberta e autodirecionada pode ser acessada a qualquer momento sem necessidade de uma conexão sincronizada.

O curso de formação conta com quatro módulos que buscam ensinar como os profissionais podem incorporar conhecimentos sobre diversidade nas redações ou de maneira independente, abordando de maneira correta pautas antirracistas, sobre pessoas com deficiência e perspectiva de gênero e diversidade sexual.

Com instrutores especializados, os módulos são divididos em: Diversidade no jornalismo latino-americano. Uma utopia?; Novas narrativas jornalísticas: cobertura antirracista e cobertura dos direitos das pessoas com deficiência; Falando sobre perspectiva de gênero e diversidade sexual; e, por último, Tornar as redações mais diversas e inclusivas.

Concurso premiará conteúdos sobre oceano e mudanças climáticas

Com objetivo de estimular a produção de conteúdos sobre oceano e mudanças climáticas, o projeto oferece bolsas de até R$ 8 mil cada.
Com objetivo de estimular a produção de conteúdos sobre oceano e mudanças climáticas, o projeto oferece bolsas de até R$ 8 mil cada.

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza recebe, até 15/5, em parceria com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da Unesco, inscrições para a segunda edição do edital Conexão Oceano de Comunicação Ambiental. Com o objetivo de estimular a produção de conteúdos sobre oceano e mudanças climáticas, o projeto oferece bolsas de até R$ 8 mil cada.

Dividido em duas categorias, Jornalista e Fotografia, selecionará até cinco projetos de reportagem para receber bolsas e distribuirá até R$ 30 mil em prêmios para as melhores fotografias.

No segmento de reportagem jornalística podem inscrever-se jornalistas formados ou profissionais que comprovem exercer a profissão regulamente há pelo menos dois anos, não sendo necessário ser especializado em meio ambiente. Com a opção de inscrições individuais ou em dupla, os inscritos devem enviar carta de anuência de um veículo de comunicação que garanta a publicação da reportagem ou série de reportagens apoiada pelo edital.

Dentre os critérios de avaliação dos projetos estão: criatividade e originalidade da pauta; relevância do tema para a sociedade; consistência do plano de apuração e de divulgação; o currículo e a qualidade das produções anteriores do candidato, além do alcance do veículo de comunicação.

Em Fotografia, os prêmios em dinheiro chegam até R$ 3 mil cada. Podem participar profissionais e amadores maiores de 18 anos, que vivam no Brasil. As fotografias inscritas devem ter sido feitas entre 2019 e 2022.

A liberdade de imprensa e os males da polarização

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi celebrado este ano durante uma crise combinando todos os elementos que fazem parte do rol de preocupações de jornalistas, veículos, organizações que defendem a liberdade de imprensa.

Na guerra entre a Rússia e a Ucrânia há ameaças físicas, com jornalistas emboscados, torturados e mortos. Há perseguição judicial, com uma lei draconiana que pune com 15 anos de cadeia quem veicular fake news sobre a guerra − ou chamá-la de guerra e não de “operação especial”.

Há ataques cibernéticos, com o uso de ferramentas de espionagem e disseminação de propaganda política em larga escala. E há sobretudo o que a organização Repórteres Sem Fronteiras destacou no World Press Freedom Index 2022 como o maior risco para a liberdade de imprensa: a polarização.

Na abertura do documento, que trouxe o Brasil em 110º lugar entre 180 nações, a RSF aponta um duplo efeito do que chama de “polarização amplificada pelo caos da informação”.

Um é a polarização da mídia alimentando divisões dentro dos países. O outro é a polarização entre países.

O conflito Rússia x Ucrânia é um exemplo perfeito (ou muito imperfeito) dessa preocupação. A mídia independente russa foi praticamente extinta. Restaram veículos estatais cujo conteúdo é assustador, tachando de inimigos os cidadãos que discordam da invasão ao país vizinho.

Essa mídia estatal ultrapassa as fronteiras russas, sobretudo por meio das redes controladas pelo governo, como a RT (Russia Today).

Ou por veículos internacionais, como a americana Fox News, que embora não apoie a invasão como linha editorial permite que comentaristas como Tucker Carlson defendam o indefensável, ao ponto de dizer que a mídia exagera na cobertura.

O alerta feito pela RSF é de que nas sociedades democráticas as divisões crescem como resultado da proliferação de veículos que seguem o mesmo padrão.

O fenômeno não ocorre somente nos EUA. A RSF destacou o crescimento da “mídia de opinião” especialmente na França.

Imagem Polarização (Crédito: Beatriz Crivelari)

Abrigar opiniões divergentes é essência do jornalismo A diferença para o jornalismo profissional que defende um partido político, como no caso do Reino Unido, e o modelo Fox News criticado pela RSF é o limite entre opinião e desinformação.

Ao criticar a cobertura da mídia sobre a guerra, Carlson ignora os fatos: número de mortes, ataques cruéis a civis e colegas de profissão emboscados mesmo identificados como jornalistas. E coloca a audiência contra quem informa com precisão.

Os riscos digitais

As entidades de liberdade de imprensa, a Federação Internacional de Jornalistas e organismos internacionais como ONU e Unesco também chamaram a atenção neste Dia Mundial da Liberdade de Imprensa para os riscos digitais, em dois níveis.

Um é a vigilância. A Federação cobrou ação para impedir o uso de spyware para espionar jornalistas, como vem acontecendo com frequência cada vez maior. O outro é o efeito das redes sociais na polarização e no fortalecimento do ódio contra o jornalismo, que tem impacto direto sobre a liberdade de imprensa na medida em que intimida os profissionais e em alguns casos resulta em ataques físicos e mortes.

Em uma conversa com a diretora de campanhas globais da RSF, Rebecca Vincent, durante um encontro com jornalistas na FPA (Foreign Press Association) esta semana, ela fez uma observação sobre as iniciativas regulatórias em curso no Reino Unido e na União Europeia.

Vincent, que atua na linha de frente acompanhando o caso de Julian Assange, acha que a regulamentação é necessária, pois “ficou para trás o tempo em havia esperança de que as plataformas resolveriam os problemas sozinhas”.

Mas defende que a liberdade de expressão deve ser assegurada, protegendo-se fontes e o trabalho dos jornalistas cidadãos. O difícil é achar o ponto de equilíbrio.

Datas como o Dia da Liberdade de Imprensa passam, e palavras se perdem no tempo. Mas o que statements e relatórios como o da RSF levantaram este ano é vital não apenas para jornalistas, mas para a sociedade. E não deveria ficar esquecido até 3 de maio de 2023.


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