Orivaldo Perin, ex-JB, Folha de S.Paulo, O Dia, Valor Econômico e O Globo, e a filha, Marina Perin

Orivaldo Perin, pai:

Quando o JB acabou pra mim, lá no ano 2000, tive que escolher entre dois rumos: trabalhar com conteúdo de internet, então bombando, ou insistir na mídia impressa. Fui feliz na escolha: repórter da sucursal Rio do Valor Econômico, então em vias de nascer.

Eu não era mais o Perin do JB, o Perin da Folha, o Perin do Dia… E nem o Perin do Valor. Virei o pai da Marina, sobrenome que continuou mesmo depois que fui para o aquário do Globo. Marina brilhava no jornalismo econômico, na sucursal da Gazeta Mercantil, com desenvoltura de repórter cascudo e uma facilidade incrível de se relacionar. Fora a segurança profissional, que tinha alicerces construídos no centenário Jornal do Commercio, onde começou como estagiária.

Um dia, Gazeta e Valor foram pras bancas com matérias assinadas na primeira página por filha e pai, respectivamente. Por mais de uma vez nos esbarramos em coletivas como colegas. Imagina meu ego de pai. O JB, a Gazeta e o Jornal do Comércio morreram e passamos todos do mundo da informação a viver na realidade digital. Como é essa realidade, 22 anos depois?

O imediatismo imposto pela internet deixou no passado as redações dos impressos que insistem em sobreviver. Elas são alimentadoras das versões digitais dos grandes títulos. Versões que carregam a credibilidade construída pelo papel.

Mudou o perfil de quem consome notícia, mudou o perfil de quem produz notícia. Só não mudou a notícia. E ficou mais difícil ser jornalista, até porque a profissão é agora de alto risco. A internet transformou todos em jornalistas. E todos acham que suas verdades são sempre as verdadeiras.

Marina, como a maior parte das últimas gerações formadas no impresso, foi para o outro lado do balcão. Hoje, as empresas de assessoria de comunicação são os grandes empregadores do jornalismo brasileiro. E já viraram importante mercado de trabalho para os entrantes da profissão. Aí, uma preocupação: faltam nessas empresas profissionais com alta quilometragem, capacitados na orientação dos novos. Faltam porque as redações, escolas que os formavam, são escassas. E nas que sobraram, alta quilometragem é artigo raro.

Nas redações digitais e impressas é grande a energia consumida (ou desperdiçada) para combate às fake news, à mentira. Sem tempo para correr atrás de noticias de verdade, o jornalista hoje se alimenta de notas, produzidas por seus colegas de assessoria. E notas de assessoria, todos sabemos, só tem um lado da notícia. Não era esse o mundo que eu queria para a jornalista Marina Perin. Mas fomos, somos e seremos felizes para sempre.

Marina Perin (*), filha:

Eu, Marina, sou feliz por ser a filha do Perin do JB. Sou feliz por ter desobedecido o Perin, a quem carinhosamente chamo de papai. Ele e Verônica, minha mãe, insistiram que eu fizesse Direito. Mas queria mesmo era o jornalismo. Mergulhei no mundo do Orivaldo Perin e não me arrependi, mesmo sabendo que em alguns momentos seria identificada apenas como a filha do Perin. Tinha (e sempre terei) orgulho de carregar o sobrenome dele.

Aprendi o jornalismo com o meu pai. Acompanhamos juntos as mudanças do papel para o digital. Da árdua busca de personagens na rua até a pauta redondinha (com personagem e tudo) que vendemos para alguns veículos de imprensa. E ainda assim somos felizes. O jornalismo mudou. Eu mudei, ele também, mas continuamos pai e filha. Continuamos apaixonados pela profissão e conversando quase todos os dias sobre o nosso mercado. Orivaldo Perin é o meu grande exemplo e referência como pai, jornalista e – preciso mencionar aqui – avô!

(*) Coordenadora de Conteúdo na ALTER − Conteúdo Relevante

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