Em 2 de junho de 2002, o repórter investigativo da Globo Tim Lopes foi sequestrado, torturado e executado por traficantes no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, enquanto fazia uma reportagem local. Nesta quinta-feira (2/6), o caso completa 20 anos. Diversos eventos serão realizados por organizações defensoras do jornalismo em nome da memória e legado de Tim Lopes.
Às 10h, será realizada uma cerimônia religiosa em homenagem ao jornalista, no Santuário Cristo Redentor, situado na estrada para o Corcovado. A liturgia será lida pelo padre Omar, reitor do templo, e celebrada em conjunto com frei Davi.
Mais tarde, às 16h, ocorrerá um ato pela memória de Tim no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro (rua Araújo Porto Alegre, 71 – 9º andar), com participação de entidades como Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Ainda nesse 2 de junho, o quadro Conteúdo sem fronteiras, que faz parte do podcast Jornalismo sem trégua, do Programa Tim Lopes da Abraji, divulgará um episódio especial sobre o legado dele, com participação de Bruno Quintella, filho do jornalista, e Alexandre Medeiros.
Vale lembrar que o Programa Tim Lopes, criado em 2017, tem o objetivo de acompanhar casos de assassinatos de jornalistas brasileiros no exercício da profissão. A própria criação da Abraji, inclusive, foi influenciada pelo assassinato de Tim Lopes, em 2002.
Atualmente, o projeto acompanha quatro casos: Jefferson Pureza, morto com três tiros no rosto em janeiro de 2018 na varanda de sua casa, no interior de Goiás; Jairo de Souza, assassinado com dois tiros ao subir a escadaria que dá acesso à Rádio Pérola FM, em junho de 2018, em Bragança, a 220km de Belém; Lourenço (Léo) Veras, executado com 12 tiros em fevereiro de 2020, enquanto jantava com sua família, no município paraguaio de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade de Ponta Porã (MS); e Givanildo Oliveira, morto em fevereiro deste ano, em Fortaleza.
Para Marcelo Beraba, membro do Conselho Curador e primeiro presidente da Abraji, “Tim hoje estaria inconformado com a violência que atinge o jornalismo, os jornalistas e as instituições democráticas, e estaria na linha de frente da resistência. Ao mesmo tempo, sei que ele estaria orgulhoso das dezenas de iniciativas criadas ao longo destes 20 anos por jovens repórteres e comunicadores pobres das nossas favelas e periferias. Tim estaria engajado numa dessas iniciativas. (…) Que a lembrança dele nos remeta sempre para a força e o compromisso do seu jornalismo”.
O jornalismo científico resiste e mostra o seu valor
Se há uma coisa que não combina com ciência é o obscurantismo e se há no jornalismo científico um fator que, embora atrapalhe, só serve para motivar ainda mais quem nele atua é exatamente o descrédito propagado por autoridades contra a ciência, sobretudo quando repercutido, com pouco caso, por seguidores acéfalos ou mal-intencionados.
Não poderia, pois, haver para este Jornalistas&Cia momento mais oportuno do que o Dia da Imprensa para dedicar seu tradicional especial ao jornalismo científico, mostrando as façanhas e dificuldades enfrentadas por esse núcleo estratégico de nossa atividade, que, a despeito dos problemas financeiros e da crise da mídia – e, claro, dos contínuos ataques dos mandatários deste País –, segue seu caminho com dignidade, buscando levar para a sociedade informações confiáveis e inteligíveis da ciência.
A ideia nasceu num almoço que tivemos, na redação do J&Cia, com Luiz Roberto Serrano, que vinha de uma temporada como assessor de comunicação do reitor da poderosa USP, a nossa Universidade de São Paulo. Numa agradável viagem pelos acontecimentos da ciência, em que a USP está sempre presente, e de como o jornalismo científico foi desafiado na pandemia da Covid-19, surgiu a pergunta: e se fizéssemos um mergulho nessa atividade, para mostrar um pouco do que se está fazendo, do que se deixou de fazer com a crise, do que está por fazer para recuperar esse precioso tempo perdido? E se aproveitássemos para uma homenagem ao jornalismo científico, dedicando a ele o especial do Dia da Imprensa? E por que não o próprio Serrano, que vinha de um convívio muito próximo com o tema, na jornada como assessor de comunicação do reitor da USP?
Ao ver o brilho nos olhos dele, ouvir seu sim foi questão de fração de segundos.
E após dois meses de trabalho, em que ele se pôs a ouvir jornalistas especializados, assessores da área de ciência, pesquisadores, acadêmicos e fontes, aqui está o resultado que oferece aos leitores de Jornalistas&Cia e do Portal dos Jornalistas um amplo e detalhado panorama sobre a prática e os desafios do jornalismo científico no Brasil. Não deixa de ser um documento histórico sobre essa atividade, que teve como seu grande mentor o cientista e jornalista José Reis, sempre muito reverenciado e que até deu seu próprio nome a um prêmio superconcorrido de jornalismo científico.
Nossos agradecimentos a Luiz Roberto Serrano. E às organizações que gentilmente se dispuseram a apoiar a iniciativa.
É o nosso presente pelo Dia da Imprensa a todos os que acompanham Jornalistas&Cia.
Não é fácil navegar nas sensibilidades que envolvem a DEI (diversidade, equidade e inclusão), tema do Especial MediaTalks lançado nesta quarta-feira (1º/6). Corporações que não fazem nada ou erram ao tentarem fazer alguma coisa são castigadas na imprensa e nas redes sociais.
De tempos em tempos, empresas jornalísticas trocam de posição e entram elas próprias na linha de tiro. É o que está acontecendo mais uma vez com a BBC.
A nova crise envolvendo a corporação enquadra-se na categoria “errar ao tentar acertar” no uso de linguagem inclusiva. Foi revelada por uma reportagem no jornal The Times, mas acabou se transformando numa crise ainda maior.
Citando “senior journalists” da BBC − leia-se “jornalistas insatisfeitos com a situação que vazarem a história” −, o jornal publicou na terça-feira (31) a notícia de que a fala de um personagem entrevistado em uma matéria para o site em outubro de 2021 tinha sido alterada conforme o manual de regras que determina os pronomes para pessoas trans.
A matéria era sobre mulheres que estariam sendo pressionadas a fazer sexo com mulheres trans, com base em pessoas que participaram de uma pesquisa do grupo Get The L Out, “cujos membros acreditam que os direitos das lésbicas estão sendo ignorados por grande parte do movimento LGBT atual”, segundo a BBC.
Diversidade (Crédito: Gerd Altmann/Pixabay)
A entrevistada era uma mulher relatando um suposto estupro praticado por uma pessoa trans. Ela tratou a pessoa como “he/him” (ele), mas as fontes do The Times disseram que os editores do site foram obrigados pelo comitê de diversidade a mudar as “aspas” para “they/them (eles), após “debates acalorados”.
O caso foi noticiado pelo ângulo de interferência no noticiário por parte do grupo de diversidade da corporação, formado por 14 integrantes, colocando em questão a imparcialidade do jornalismo.
Segundo o The Times, alguns jornalistas achavam que a citação deveria permanecer intacta para refletir o que disse a mulher entrevistada, enquanto outros disseram que deveria usar os pronomes preferidos por mulheres trans.
As fontes da matéria do jornal (os tais “jornalistas seniores”) argumentaram que editar a fala foi um exemplo de como o guia de estilo da BBC conflita com o dever de precisão e imparcialidade.
Outra fonte, apresentada como “pessoa com conhecimento do assunto”, disse ter considerado a situação chocante, por não conseguir imaginar outra situação em que as palavras de uma suposta vítima de estupro tenham sido alteradas.
A BBC disse ser “rotina ter discussões editoriais sobre matérias”, e que a decisão sobre a linguagem teria a finalidade de “tornar as coisas o mais claras possível para o público”.
Se essa era a intenção, não deu certo. A matéria no site da BBC foi objeto de milhares de reclamações. E, comprovando a tese de que não há nada ruim que não possa ser piorado, a situação piorou, talvez por causa da revelação do The Times.
No dia seguinte à reportagem do jornal, a BBC divulgou um comunicado admitindo que a matéria inteira “não atendeu aos padrões de precisão da emissora” em três aspectos, e informou que a reportagem havia sido “atualizada”, forma bem inglesa de dizer “corrigida”.
Foto da Getty Images que ilustra a matéria da BBC
O motivo principal para a admissão de culpa, no entanto, não foi a troca de pronomes, e sim outro fundamento do jornalismo. Segundo a própria BBC; a repórter baseou a matéria em uma pesquisa “não científica” do Get the L Out, que afirmou que 56% dos entrevistados “relataram ter sido pressionados ou coagidos a aceitar uma mulher trans como parceira sexual”.
“Mas a unidade de reclamações da BBC concluiu que um questionário de autosseleção não era uma base suficiente para a sustentar a matéria”, disse o comunicado.
O que era uma matéria velha virou notícia nova, já que o caso repercutiu em vários jornais. E mostrou, mais uma vez, que DEI é coisa séria, exigindo cuidado e muita análise para que boas intenções não acabem no inferno.
O Especial MediaTalks Diversidade na Mídia pode ser lido aqui.
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O jornalismo está incorporando Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) em suas práticas na mesma velocidade cobrada das empresas e organizações públicas? Por que inclusão importa não apenas para jornalistas, mas também − ou principalmente − para quem consome notícias? Qual a situação da diversidade na mídia e as soluções para aumentar inclusão e alcançar equidade?
Esses são alguns dos temas abordados na edição especial do MediaTalks que já está em circulação. O relatório foi produzido a partir de Londres, por Luciana Gurgel e Aldo De Luca, com a participação de experientes e reconhecidas correspondentes brasileiras em cinco países.
Da Argentina, Márcia Carmo fala sobre como o movimento Ni Una Menos impactou a diversidade de gênero na mídia do país. Da França, Deborah Berlinck relata o “susto” que a grande imprensa tomou com os protestos dos subúrbios em 2005 − e o que mudou desde então. Da Itália, Fernanda Massarotto mostra como o país amigável com imigrantes também os aceita melhor do que outros nas redações.
De pontos opostos do planeta, Catarina Freire (Canadá) e Liz Lacerda (Austrália) contam como a imprensa local ainda não conseguiu incluir pessoas não brancas e os povos originários, segregados em canais próprios. E o que está sendo feito para reverter esse quadro.
A edição traz também entrevistas com jornalistas como Sylvia Zappi (Le Monde), Belén Spinetta (Associação Civil para Comunicação pela Igualdade/Argentina) e Leonard Berbieri (Corriere della Sera), e com especialistas em diversidade como Marita Caballo (socióloga argentina que presidiu a Associação Mundial de Pesquisa de Opinião Pública), Madeleina Kay (diretora do projeto europeu Get The Trolls Out), Cristiane Fontes, autora de um estudo sobre representação de povos indígenas na mídia, e Luis Albornoz, professor de jornalismo da Universidade Carlos III de Madri, autor do capítulo de mídia do mais recente relatório da Unesco sobre diversidade na indústria cultural.
O relatório mostra que o problema da diversidade varia de acordo com o país e afeta vários grupos sociais e profissionais − de mulheres cientistas relegadas como fontes a jornalistas esportivas desrespeitadas em seu trabalho. A boa notícia é que em todas as nações há iniciativas que podem inspirar a busca por mais inclusão e equidade.
Ao olhar a questão pelas lentes do mundo corporativo, Nelson Silveira, diretor de Estratégia de Comunicação da GM América do Sul, faz um alerta importante, válido para qualquer empresa, seja ela de mídia ou não: “Não basta só dizer; é preciso praticar o que se diz”.
Dora Kramer anunciou que pediu demissão da revista Veja, onde assinava uma coluna sobre Política, “amigavelmente e agradecendo ao editor Maurício Lima”, escreveu no Twitter. Ela estava na publicação desde fevereiro de 2017. Segue como comentarista de política na BandNews FM.
Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero, Dora começou a carreira aos 18 anos, no extinto Diário Popular (SP). Após passagem pela Agência Folha (SP), foi repórter de O Estado de S. Paulo na década de 1980. Nos anos 1990, foi trabalhar na sucursal brasiliense do jornal.
Em 1995, passou a escrever a coluna Coisas de Política, no Jornal do Brasil (RJ). No ano seguinte, assumiu a coluna de política do Estadão. Também teve passagem pela rádio JBFM (RJ). Em 2016, após 20 anos de casa, deixou o Estadão e assinou com a Veja.
Dora Kramer autora das obras Passando a limpo – a trajetória de um farsante e O Resumo da História. Em 2014, foi uma das vencedoras do Troféu Mulher Imprensa. No mesmo ano, e também em 2015, integrou os TOP50 +Admirados Jornalistas Brasileiros, votação realizada por Jornalistas&Cia.
Plataformas prometem divulgar conteúdo oficial sobre as eleições e identificar postagens de políticos, mas há dúvidas se conteúdos falsos sobre o processo de votação serão banidos
Texto publicado originalmente em 26 de maio de 2022 pela Agência Pública
Em 2018, informações nas redes sociais foram decisivas para uma parte do eleitorado brasileiro escolher em quem votar: segundo pesquisa do Instituto DataSenado, cerca de 45% dos entrevistados decidiram seu voto considerando o que viram em alguma rede. De acordo com o levantamento, 79% usaram o WhatsApp como uma de suas principais fontes de informação.
Agora, em 2022, acionados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aplicativos de vídeo e mensagem esboçam estratégias para lidar com a desinformação nas suas plataformas. Contudo, segundo levantamento da Agência Pública, o plano apresentado ao tribunal consiste basicamente em criar canais oficiais com informações sobre as eleições e identificar perfis e postagens de candidatos.
Algumas plataformas, como o Telegram, não deixaram claro se tomarão medidas como banimento ou bloqueio de contas e perfis que compartilhem conteúdos falsos ou enganosos sobre o processo eleitoral.
O que as plataformas fizeram até o momento
A principal ação anunciada pelo WhatsApp é o ChatBot, um assistente virtual criado em 2020 que troca mensagens com eleitores — segundo a plataforma, foram 20 milhões de mensagens com quase 1 milhão de usuários durante o período eleitoral de 2020. Para 2022, o WhatsApp prometeu atualizações que devem permitir que os eleitores interajam com o TSE para receber informações sobre o processo eleitoral.
WhatsApp prometeu divulgar canal do TSE na plataforma
A Pública questionou a plataforma sobre se tomará alguma medida específica sobre conteúdo que questiona o resultado das urnas e se mais ações estavam programadas, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Anteriormente, o aplicativo já havia respondido a críticas sobre desinformação na plataforma limitando o reencaminhamento de mensagens. Em 2019, o WhatsApp limitou o reencaminhamento de mensagens recebidas a até cinco contatos ao mesmo tempo, no máximo, além de identificar com um aviso mensagens encaminhadas com frequência . Em 2020, mensagens identificadas como altamente encaminhadas passaram a poder ser enviadas para apenas um contato por vez. Agora, em abril, a plataforma prometeu que mensagens já compartilhadas poderão ser reencaminhadas apenas para um contato ou grupo por vez.
Já o Telegram se comprometeu a apoiar e verificar um possível canal oficial do TSE, avisando os usuários (o canal foi lançado após a publicação da reportagem, no dia 26 de maio), além de disponibilizar a API da plataforma caso o tribunal queira criar um bot com interações avançadas. O Telegram afirmou que conduzirá investigações internas para saber se canais denunciados violaram suas políticas e termos de uso. O acordo, contudo, não diz se conteúdos falsos e que questionem as eleições serão banidos ou terão alcance reduzido sem determinações da Justiça.
Até o final de maio, o Telegram se comprometeu a criar um canal para comunicações extrajudiciais, para que o TSE denuncie conteúdos relacionados ao processo eleitoral que transmitam desinformações graves. O acordo só foi selado porque o Telegram aceitou fazer parte do programa do TSE em maio, após ter recusado o primeiro convite. Em março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o bloqueio da plataforma em todo o Brasil. A decisão ocorreu após um pedido da Polícia Federal (PF) e o descumprimento de ordens judiciais.
O Telegram ainda não possui um canal de contato com a imprensa brasileira. O representante legal da empresa, instituído após exigência do STF, do escritório Campos Thomaz Advogados, respondeu à Pública que “não comenta os casos envolvendo os seus clientes, incluindo o Telegram”.
As redes sociais da Meta — o Facebook e o Instagram — prometeram aplicar um rótulo eleitoral em conteúdos compartilhados sobre as eleições, que direcionará os usuários para informações oficiais. O Facebook prometeu disponibilizar para o TSE a ferramenta Megafone, uma parte do feed de notícias na qual o tribunal poderá divulgar notícias.
O Facebook encaminhou para a Pública as iniciativas das plataformas da Meta sobre anúncios com temas sociais, o que inclui propaganda eleitoral. O material mostra que em 2020 se tornou obrigatório que os anúncios sobre política e eleições no site passem por um processo de autorização e apliquem um rótulo “Pago por” ou “Propaganda Eleitoral”. Segundo a plataforma, a regra é válida para qualquer anunciante que veicule anúncios que façam referências a figuras políticas, partidos ou eleição.
Já o Twitter prometeu protocolos para esclarecer sobre as eleições, com informações e mensagens fornecidas pelo TSE. A plataforma anunciou que irá colocar etiquetas de identificação de candidatos e candidatas para mostrar a qual cargo cada um está concorrendo. Desde outubro do ano passado, se um usuário procura informações sobre a eleição no Twitter, o site ativa um aviso de buscas, que direciona para a página do TSE.
A Pública questionou o Twitter sobre qual ação irá tomar em relação a conteúdos que questionem o resultado das urnas. Em resposta, a plataforma disse que “com a Política de Integridade Cívica em vigor no Brasil durante o período eleitoral, o Twitter tomará medidas em relação a conteúdos com informações enganosas que possam prejudicar o andamento, incluindo conteúdos com afirmações falsas ou enganosas que prejudiquem a confiança no ato em si, como informações não verificadas sobre fraude eleitoral”. Segundo a plataforma, as consequências para violação da política dependem da gravidade e do tipo de violação, que incluiriam exclusão do tweet e bloqueio temporário da conta, modificações do perfil e bloqueio temporário, marcação (quando não excluem o tweet), bloqueio da conta e suspensão permanente.
Twitter prometeu protocolos para esclarecer sobre as eleições, com informações e mensagens fornecidas pelo TSE
Segundo reportagem do Aos Fatos, mais de um mês após o Twitter ter anunciado medidas contra a desinformação eleitoral, postagens com informações falsas sobre a votação permaneciam sem alertas ao usuário.
Em abril, o bilionário Elon Musk anunciou que estaria fechando um acordo de US$ 44 bilhões para a compra do Twitter e que tornaria a rede social em uma empresa de capital fechado. Recentemente, Musk disse que o acordo pode não andar, caso o Twitter não informe o número real de contas falsas na sua plataforma. Em evento do jornal Financial Times, o empresário declarou ser contrário ao banimento da conta do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, afirmando que reverteria a decisão que chamou de “moralmente ruim e tola ao extremo”.
Por sua vez, o Google prometeu ativar uma seleção editorial e dar destaque ao que chamou de “aplicativos com conteúdo cívico” na Google Play Store durante o período eleitoral — o que incluiria aplicativos do TSE. O Google afirmou que vai permitir que os usuários tenham acesso a fontes confiáveis acerca do processo eleitoral, citando as iniciativas do TSE como exemplo.
O YouTube, do grupo do Google, anunciou medidas contra vídeos ou canais que disseminam desinformação. A Pública entrou em contato com a plataforma, que disse que as Diretrizes de Comunidade da plataforma incluem recomendações claras e abertas ao público sobre conteúdo ligado a eleições — elas falam de conteúdo sensível, spam e práticas enganosas, conteúdo violento ou perigoso, produtos regulamentados e desinformação. O YouTube também afirmou que não serão permitidos conteúdos “que tenham o objetivo de enganar eleitores, veicular informações falsas sobre candidatos, ferir a integridade das eleições e incitar o público a impedir ou atrapalhar quem está tentando votar”.
O TikTok e o Kwai, aplicativos de mídia para criar e compartilhar vídeos curtos, usados principalmente por jovens, também divulgaram ações que prometem tomar nos próximos meses. Entre as principais, estão a criação de uma página de informações sobre as eleições de 2022, o apoio à transmissão ao vivo de eventos realizados pelo TSE, a realização de eventos que forneçam informações sobre as eleições e auxílio na divulgação de conteúdos de serviços ao eleitor.
Em comum, todas as plataformas se prontificaram a realizar treinamento para as equipes do TSE e dos Tribunais Regionais Federais (TRFs), cada uma focando nas suas ferramentas específicas.
Acordo do TSE com plataformas não prevê multa ou penalidade caso seja descumprido
Todos os acordos do TSE com as grandes plataformas de redes sociais são parte do Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação da Justiça Eleitoral, criado em 2019 pelo TSE, com foco inicial nas eleições de 2020. O programa tornou-se permanente em agosto de 2021. Os acordos foram firmados em fevereiro e vão até 31 de dezembro de 2022.
O memorando com as plataformas não implica compromissos financeiros ou transferências de recursos entre elas e o TSE. As empresas não serão responsabilizadas ou sofrerão sanções caso descumpram alguma das obrigações apresentadas.
Segundo Roberta Battisti, mestra em direito político e econômico e pesquisadora do Instituto Liberdade Digital (ILD), tornar o programa permanente, além de fazer a parceria com as plataformas digitais, foi um passo acertado do TSE. “O tribunal entendeu a importância de ter muitos estudos nesse sentido, de que a desinformação é um fenômeno global que não cabe em uma caixinha e não pode ser combatida por um único órgão, que precisava dessa abordagem mais multisetorial e multidisciplinar.”
Plataformas planejam medidas brandas sobre conteúdos que questionam o resultado das urnas (Antonio Augusto/ Ascom TSE)
Indagada sobre se a falta de responsabilização judicial poderia ser perigosa, a pesquisadora diz que o programa não tem força legal de convidar uma empresa privada a participar e aplicar multa caso ela não cumpra o acordo e que a evolução do relacionamento entre as partes cria um ecossistema de colaboração benéfica para ambas. “Eu particularmente acho delicado vincular alguma multa ou responsabilização pela não participação, mas dentro dos termos de acordos há coisas que eles combinam e não são vinculativas”, diz.
Um exemplo disso é o WhatsApp: o aplicativo, que teve um papel de destaque nas eleições de 2018, se prontificou a não fazer mudanças significativas em território brasileiro durante o período eleitoral. A plataforma anunciou as comunidades, função que iria aumentar o número de participantes por grupos, mas a novidade só está prevista para o Brasil depois de outubro. O presidente Jair Bolsonaro criticou a atitude, em abril deste ano, quando disse ser um absurdo o adiamento e fez ataques diretos ao TSE.
Para Samara Castro, advogada de direito eleitoral e coordenadora de comunicação da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), algumas organizações políticas do Brasil já possuem uma estrutura que simula as comunidades do WhatsApp, com milhares de grupos criados pela mesma organização transbordando mídias em diversas redes sociais. “Essa criação de grupos se dá quase como se fosse uma rede social fechada, as pessoas interagem e vão criando uma relação de confiança, o que faz com que todas as informações passadas ali sejam levadas mais em consideração do que as que são vistas em outros espaços”, explica.
A advogada diz que é um equívoco pensar que o disparo em massa é o maior problema da desinformação no Brasil, visto que são vários envios sobre um conteúdo só. Para Samara, a estrutura desses grupos e a forma pela qual eles ganham a confiança dos participantes é o mais perigoso, já que a constância de informações recebidas é o que muda a opinião das pessoas.
“Ainda que o WhatsApp proíba, a própria Justiça Eleitoral diz que você não pode ter disparo em massa se não tiver uma base consentida, ou seja, se você não tiver o consentimento das pessoas para estarem na sua base de dados. Se você tiver, pode fazer o disparo. Acaba criando uma circunstância de que não pode o disparo e, como consequência, aquelas pessoas que não têm essa estrutura formada não vão conseguir acessar os seus pares, e, para aqueles que possuem essa rede construída, isso não faz diferença nenhuma”, diz.
Sobre os acordos das redes com o TSE, Samara tem uma visão crítica. Para ela, as plataformas usam os acordos como uma relação pública e se descomprometem em vários pontos. Como exemplo, ela menciona o fato que o YouTube se comprometeu a não aceitar questionamentos sobre a integridade eleitoral e sobre as urnas, mas desde que esse questionamento seja sobre 2018, ignorando os outros anos eleitorais — sem citar 2022, por exemplo. “Isso significa que a gente tem uma limitação objetiva sobre o que eles vão se comprometer a fazer e a resolver. É uma situação muito delicada, tem pouca postura de resolução e muito mais postura de lavar as mãos.”
Acordo do TSE com as plataformas digitais pode não ser o bastante (Antonio Augusto/ Ascom TSE)
Redes sociais com pouco monitoramento geram migração de usuários
Recentemente, a plataforma canadense Rumble, criada em 2013, ganhou repercussão após o youtuber Monark divulgar que essa seria sua próxima estação de trabalho. O apresentador foi demitido do Flow Podcast, programa que comandava ao lado de Igor 3k no YouTube, após ter defendido que nazistas deveriam ter o direito de formar um partido no Brasil. Ao anunciar a mudança, Monark fez um comentário citando o Rumble como “uma plataforma que respeita a liberdade de expressão e não vai censurar ninguém”.
Para Roberta Battisti, existe um movimento de migração para plataformas menores com uma política de monitoração mais flexível, principalmente de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e da extrema direita brasileira. “Eu acho que são movimentos naturais, com a pauta da liberdade de expressão em alta: enquanto a direita diz que não pode moderar conteúdo, a esquerda já diz que precisamos ter mais controle desses espaços, e vira sempre esse cabo de guerra sobre o limite da liberdade de expressão”, completa.
Battisti cita a medida provisória (MP) assinada em 2021 pelo presidente Jair Bolsonaro como uma forma de tentar impedir que as plataformas façam moderação de conteúdo, visto que a medida altera o Marco Civil da Internet. Segundo a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), a MP reforça direitos e garantias dos usuários da rede e combate a “remoção arbitrária e imotivada de contas, perfis e conteúdos por provedores”.
A Trump Media and Technology Group (TMGT), empresa de mídia do ex-presidente americano Donald Trump, anunciou uma parceria com a Rumble no final de 2021 por “um amplo acordo de serviços de tecnologia e nuvem”. Como parte do acordo, a Rumble entregará vídeos e streaming para o Truth Social, o aplicativo de mídia social proposto por Trump.
A pesquisadora do ILD diz que o ambiente de plataformas com pouco monitoramento traz ao usuário a sensação de liberdade total. “As pessoas passaram a utilizar muito o Telegram, por exemplo, nessa percepção de que ‘eles não respondem à Justiça, então eu posso fazer o que eu quiser aqui’. Vimos uma migração muito grande também dos apoiadores do atual governo para o Telegram.”
A reportagem tentou contato com o TSE para saber como o tribunal está vendo o avanço de redes sociais com pouco monitoramento e com outras plataformas, mas não recebeu resposta até o momento da publicação.
A Google News Initiative (GNI) lançou o programa GNI Local Lab Brasil, que visa a apoiar o desenvolvimento de até 100 pequenos e médios veículos de comunicação locais no Brasil. O projeto é feito em parceria com Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e Associação Nacional de Jornais (ANJ). As inscrições vão até 26 de junho.
Os selecionados receberão treinamento e apoio técnico do Google para desenvolver infraestruturas, melhorar a audiência e desenvolver estratégias de negócios. Ao longo de dez meses, o programa capacitará os veículos para que se desenvolvam de forma sustentável e continuem produzindo conteúdos jornalísticos relevantes para as suas comunidades.
Podem participar veículos impressos, digitais, rádios e emissoras de televisão em operação há pelo menos 12 meses e que empreguem de 2 a 100 jornalistas em tempo integral em suas redações. O GNI Local Lab analisará os sites participantes do ponto de vista de desempenho e monetização, e compartilhará soluções por meio de relatórios, workshops e encontros.
As inscrições devem ser feitas preferencialmente em inglês, mas serão aceitas também em português. É preciso preencher este formulário com informações sobre o veículo. Na próxima terça-feira (7/6), a organização do projeto fará uma live de perguntas e respostas no YouTube.
O fotógrafo e videomaker Caio Castor vem recebendo ameaças por divulgar um vídeo que mostra uma dependente química sendo agredida por policiais da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo. O registro foi feito no bairro de Campos Elíseos, região central da cidade, área que ficou conhecida pejorativamente como “Cracolândia”, e mostra uma mulher sendo agredida com golpe de cassetete e, em seguida, recebendo spray de pimenta no rosto, sem apresentar nenhum tipo de resistência.
O caso ganhou rápida repercussão após ser exibido pelo telejornal SP2, da TV Globo, no último sábado (28/5). Instantes após a veiculação da reportagem, cerca de 15 moradores de prédios vizinhos do jornalista se reuniram em frente ao seu apartamento e começaram a ameaçá-lo. O motivo seria um possível abandono da região pela GCM após a denúncia, favorecendo assim a proliferação de usuários de drogas na região.
GCM agride mulher na "nova cracolândia, na rua Helvétia em São Paulo. 28/05/2022 pic.twitter.com/fUaJhHMpEF
“Por volta de 18h, olhei para baixo do meu prédio e tinha pelo menos umas 15 pessoas, incluindo um cara megarraivoso falando que ia entrar na minha casa. Eu estava com a minha esposa e minha filha, e nós ficamos desesperados”, contou Castor em entrevista a Ponte Jornalismo. Ainda segundo a reportagem, com o grupo à porta de seu prédio, o videorrepórter decidiu ligar para alguns amigos para pedir apoio, e no dia seguinte deixou o endereço com a família para se refugiar em um lugar seguro.
Em trechos de conversas extraídos pela Ponte em um grupo de moradores da região no Whatsapp também é possível encontrar várias ameaças ao jornalista: “Se a GCM sair daqui, esse morador vai ter problema sério”, afirmou uma moradora. Na sequência, outra concorda: “Nossa, vai ter mesmo”. Outro afirma torcer para que Castor seja “agredido ou esfaqueado nas ruas por esses noias”.
Caio, que atua como freelance para veículos de comunicação, é conhecido pela cobertura de temas que abordam violações de direitos humanos. Ao longo de sua carreira, contribuiu para El País Brasil, Agência Pública, CartaCapital, Viomundo, Le Monde Diplomatique Brasil e Ruptly. Também faz parte da Agência Pavio.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou com veemência a reação dos moradores: “É papel da GCM e das autoridades policiais proverem a segurança pública da região. O fato de um abuso ser denunciado não pode ser motivo para que se retire dali o policiamento, assim como é inadmissível que, para garantir esse policiamento, os moradores sejam coniventes com violência gratuita. A Abraji se solidariza com Caio Castor e sua família e cobra a Secretaria de Segurança Pública para que investigue o caso com rapidez e responsabilize os autores das ameaças ao jornalista, assim como o guarda civil metropolitano que agrediu a dependente química”.
O International Center for Journalists (ICFJ) abriu inscrições para o Programa Acelerando a Transformação Digital.
O International Center for Journalists (ICFJ), abriu, em parceria com o Meta Journalism Project, inscrições para o Programa Acelerando a Transformação Digital. Com mentoria e bolsa de US$ 15 mil, esta edição será focada em Educação Midiática e Combate à Desinformação e os projetos podem ser submetidos até 10 de junho.
Organizações, empresas e veículos de comunicação que participaram das fases de treinamento realizadas nos últimos meses, em parceria com a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e outras associações, podem aplicar seus projetos.
A iniciativa busca acelerar propostas que atuam na luta contra a desinformação, como combate a fake news, verificação de fatos e alfabetização sobre mídia digital, por exemplo, em especial as que envolvem a manutenção ou o desenvolvimento de audiências jovens.
Para participar, os interessados devem atender a alguns requisitos, como terem participado de 75% da Fase de Treinamento em qualquer uma das edições; fazerem uma descrição clara do que consiste o projeto e de como serão usados os recursos; e estarem alinhados aos Termos e Condições do programa.
A Revista Flap, especializada em aviação, que completa 60 anos em 2022, anunciou Gianfranco Beting como seu novo publisher. Publicitário, fotógrafo, escritor e consultor aeronáutico internacional, Panda, como é mais conhecido profissionalmente, é filho de Joelmir Beting (1936-2012), irmão do também jornalista Mauro Beting, e foi um dos cofundadores da Azul Linhas Aéreas.
Segundo comunicado, ele chega com o objetivo de dar continuidade ao trabalho de Carlos Spagat, falecido em dezembro passado, que criou e dirigiu a publicação desde sua fundação, em 1962. Dentre seus desafios, estará a implantação de uma nova plataforma de conteúdo multimídia para a marca. De acordo com o novo publisher, a equipe de produção da revista será mantida e a publicação deverá ser financiada por um grupo de investidores.
Gianfranco Beting (divulgação)
“Spagat conhecia a todos no mercado de aviação brasileiro e mundial”, relembra o executivo. “Passava a mão no telefone e ligava para presidentes e CEOs de empresas a qualquer hora. Dono de um temperamento único, é uma grande alegria poder dar continuidade ao seu legado e, ao mesmo tempo, um enorme desafio manter a reputação e a qualidade da publicação”.
Carlos Spagat (Foto: Gianfranco Beting)
Carlos Spagat – Na década de 1960, o jovem apaixonado por aviação Carlos Spagat, com apenas 16 anos, decidiu criar uma publicação sobre o setor. Não imaginaria a repercussão que a revista teria no meio. Em paralelo, atuou à frente de diversas revistas de bordo no Brasil, começando pela Viaje Bem, da Vasp, cujo título era slogan de jingle da companhia. Posteriormente, fez parcerias com as companhias aéreas Transbrasil, Varig, Pantanal, entre outras.