Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Em meio aos eventos para marcar os 20 anos dos atentados de 11 de setembro em Nova York, poucos lembraram de um outro aniversário este mês: os dez anos do movimento Occupy Wall Street.

A ocupação de uma praça no centro financeiro americano por manifestantes protestando contra a desigualdade econômica espalhou-se por outras cidades dos Estados Unidos e chegou à Europa, América do Sul e Ásia.

A festa da democracia com doses de anarquia acabou dois meses depois, quando o então prefeito Michael Bloomberg mandou desocupar a praça (uma área privada), despachando para casa os que ainda resistiam ao frio e à chuva.

Mas o modelo inspirou outros grupos.

O mais notório é o Extinction Rebellion (XR), movimento ambientalista britânico que de tempos em tempos causa confusão em locais centrais de Londres e em outras cidades britânicas.

O objetivo é responsabilizar os “culpados pela sexta extinção em massa da espécie”.

Eles acampam em ruas e praças, interrompem o tráfego, acorrentam-se a grades e colam as mãos a monumentos ou a fachadas de prédios que simbolizam os problemas ambientais.

Já atacaram gráficas de jornais, bloqueando a saída de caminhões com os exemplares − o que não impediu os leitores de acessarem suas edições online, mas atraiu a antipatia da mídia.

O último ato aconteceu há duas semanas, e chegou a paralisar a Tower Bridge, uma via importante do centro da cidade.

Sobrou até para a respeitada WWF. Ativistas invadiram a sede da ONG ambiental, alegando que sua ação “perpetua métodos coloniais de conservação que expulsam os indígenas de suas casas”.

A causa do Extinction Rebellion é nobre, mas nem todos concordam com essa forma de protesto disruptivo, como se pode observar pelas redes sociais.

A reação negativa deixa uma pergunta: qual o futuro do ativismo? Será que manifestações que incomodam tanto para chamar a atenção podem acabar afastando aqueles que seriam simpáticos à causa mas discordam dos métodos?

A pergunta tem sido feita exaustivamente aos membros do XR, e a resposta é sempre a mesma: sim, os fins justificam os meios.

Para eles, o problema do clima é gigante, e somente com muito tumulto as autoridades e empresas vão fazer algo concreto para solucionar a crise climática.

Uma questão geracional

Há muitos jovens engajados no XR, mas ele foi criado e é comandado por gente madura, na faixa dos 50/60 anos, talvez mais influenciada pelas passeatas “clássicas” e pelo modelo OWS do que pelo universo digital.

O grupo utiliza bem as redes para mobilizar seguidores e multiplicar o alcance de seus atos, mas restringe sua ação ao mundo real.

E não tem obtido resultados concretos, já que seus  pedidos em relação ao clima são tão difíceis de serem atendidos quanto a bandeira do OWJ era há dez anos.

Eles queriam que o presidente Barack Obama “ordenasse uma comissão presidencial encarregada de acabar com a influência que o dinheiro tem sobre nossos representantes em Washington”. O XR tem como lema “exija o impossível”.

“Hacktivismo”

De forma mais pragmática, um protesto do outro lado do Atlântico demonstrou que o chamado “hacktivismo” ganha espaço como alternativa para o barulho nas ruas.

Uma turma de meninas usou o TikTok na semana passada para compartilhar vídeos curtos ensinando como sabotar o site Texas Right To Life, criado pelo maior grupo antiaborto do estado para receber denúncias anônimas de violação à lei promulgada há um mês.

O site foi inundado com conteúdo falso, e teria chegado a sair do ar.

Adolescentes atacam site antiaborto

A mesma fórmula havia sido empregada durante as eleições presidenciais americanas. Adolescentes usuários do TikTok e fãs da música pop coreana inscreveram-se em massa para participar de um comício do ex-presidente Donald Trump mas não apareceram, deixando o candidato diante de uma plateia vazia.

Para marcas e instituições, essa forma de protesto pode ser ainda mais ameaçadora do que manifestantes acorrentados diante de suas sedes. E despertar mais simpatia do público do que ações disruptivas. É bom se preparar para ela.


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