Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

A complexa relação entre jornalistas e assessores de imprensa, marcada por visões nem sempre alinhadas sobre o que é uma boa pauta e qual o melhor horário para oferecê-la, está ganhando novas áreas de atenção.

Um estudo da plataforma de releases Cision revelou que a avaliação sobre o que é sugerido pelas assessorias leva cada vez mais em conta o potencial de cliques, compartilhamentos e curtidas da matéria resultante da sugestão.

A empresa entrevistou mais de 3,8 mil jornalistas de 2.160 veículos em 17 mercados (o Brasil não é um deles).

A pesquisa constatou que o declínio das receitas de publicidade e da circulação está levando muitos editores a acompanharem os dados de audiência mais de perto. E 59% dos entrevistados concordam que o acesso a métricas de audiência faz repensar a forma como avaliam as pautas.

Apenas 4% não estão ligando para as métricas, aves raras nos novos tempos de mídia digital.

O estudo mostrou também que as dores atuais vão além do incômodo com redução salarial ou enxugamento.

Manter a credibilidade diante do avanço das fake news é a principal preocupação para 32% dos jornalistas entrevistados. Em seguida aparecem a diminuição de recursos e a queda de circulação e faturamento, empatadas com 16%. E logo depois, com 14%, as redes sociais e influenciadores, ocupando o lugar da mídia tradicional.

Mesmo em um cenário de ameaças crescentes à liberdade de imprensa até em países democráticos, essa é uma preocupação para apenas 8% dos respondentes. Antes dela figura o limite pouco claro entre conteúdo editorial e publicitário, com 10%.

As impressões sobre o risco das fake news para a credibilidade no jornalismo variam de acordo com as regiões. Nos EUA pós-Trump 61% dos jornalistas ouvidos pela Cision acham que o público perdeu a confiança na imprensa. Na Europa a taxa cai para 55%. Na região Ásia-Pacífico é de 32%. Lá, 14% acham até que a situação melhorou.

Com base nas respostas, a Cision enumera sete “gafes”, nas palavras da empresa, capazes de fazer os jornalistas pensarem duas vezes antes de interagirem com um assessor ou até  bloqueá-lo para sempre.

A primeira dica é “não oferecer maçãs a um repórter que cobre laranjas”. Isso é motivo de bloqueio para 73% dos profissionais de redação.

Em seguida aparece o abominado follow up. Segundo o estudo, profissionais de RP que insistem com várias tentativas são os piores.

O medo de ser enganado vem em seguida. Mais da metade dos entrevistados considera uma “ofensa imperdoável” receber informações imprecisas ou sem fontes indicadas.

Conteúdo percebido como sendo “parecido com um folheto de marketing” pode ter um efeito maior do que ser desprezado pelo jornalista que o recebe. Segundo o estudo da Cision, a metade dos profissionais afirmou que essas pautas podem fechar as portas para aquele assessor.

Não desaparecer é mais um conselho. Esquivar-se de perguntas ou não ser transparente é outro motivo para portas se fecharem no futuro, assim como não levar em conta os prazos apertados.

Por último, a Cision lembra que os jornalistas precisam de um parceiro de RP com quem possam contar. Cancelar uma entrevista no último minuto ou quebrar um acordo de exclusividade é razão para um a cada quatro profissionais de redação dizerem “até nunca mais”.

Há também dicas para que as sugestões tenham mais chances de serem aceitas. A principal é a inclusão de conteúdo multimídia, apreciado por um em cada cinco jornalistas. Mais da metade dos entrevistados pela Cision disseram estar mais propensos a cobrir uma pauta enriquecida com fotos (81%), vídeos (47%) e infográficos (41%). E tudo de alta qualidade.

Diante de tantas exigências, pode parecer quase impossível agradar. Não é o que mostra a pesquisa. Para 65% dos entrevistados pela Cision, a qualidade da relação com os assessores não mudou em um ano. Para 14% piorou, e para 18% melhorou, mostrando que tem mais gente acertando do que errando pelo mundo.

O estudo completo pode ser visto aqui.

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