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sábado, maio 4, 2024

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Memórias de uma guerra suja toca em feridas da ditadura

O recente lançamento de Memórias de uma guerra suja (Topbooks), obra de Marcelo Netto e Rogério Medeiros, causou um misto de choque e curiosidade. O livro traz o relato do ex-delegado capixaba Cláudio Guerra, de 71 anos, sobre sua participação e testemunho da repressão a militantes de esquerda durante a ditadura militar. Entre as partes mais polêmicas, está o episódio da incineração ? numa usina de açúcar pertencente à família do ex-governador fluminense Heli Ribeiro Gomes ? de dez corpos de torturados, citados nominalmente: Ana Rosa Kucinski Silva (ALN), David Capistrano (ex-integrante do PCB), Eduardo Collier Filho (APML), Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira (APML), João Batista Rita (M3G), João Massena Mello (PCB), Joaquim Pires Cerveira (FLN), José Roman (PCB), Luiz Ignácio Maranhão Filho (PCB) e Wilson Silva (ALN). Guerra, que diz ter sido agente do Dops, afirma que ele próprio executou guerrilheiros e fez parte do atentado do Riocentro em 1981, entre outras ações. Também é controversa a passagem na qual defende como queima de arquivo a morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury, figura mais conhecida da repressão, e não consequência de um acidente em alto-mar, conforme a versão oficial. Guerra ficou conhecido como personagem atuante no crime organizado do Espirito Santo há cerca de 20 anos. Foi apontado pela CPI do narcotráfico em 2000 como integrante da Scuderie Detetive Le Cocq, famoso grupo de extermínio dos anos 1980. Em 1989 chegou a ser preso pela Polícia Federal, acusado pelos assassinatos de um bicheiro, de sua primeira mulher e da cunhada, pelo que cumpriu sete anos de prisão. Apesar do histórico, era considerado coadjuvante no aparelho repressor da ditadura. ?Essa pessoa nunca apareceu nas listas de agentes da repressão?, disse à Folha de S.Paulo Vitória Garbois, presidente no Rio do grupo Tortura Nunca Mais. Percival de Souza, biógrafo de Fleury que teve acesso aos laudos de sua morte e acompanhou o enterro, disse a CartaCapital que a nova versão sobre a morte é ?ridícula? e que ?só agora estou ouvindo falar nesse Cláudio Guerra?. O ex-delegado teria decidido expor-se motivado por arrependimento, pois se tornou pastor evangélico. Ele se diz disposto a depor na Comissão da Verdade. Os autores de Memórias de uma guerra suja têm passagens por diversos veículos da imprensa nacional. Medeiros trabalhou nos jornais capixabas A Tribuna, O Diário e A Gazeta, onde chegou a editor-chefe, e depois no Jornal do Brasil e no Estadão. Participou do roteiro e da direção de oito documentários e é autor de vários livros. Netto foi preso pela ditadura quando ainda exercia a Medicina ? passou 12 meses na cadeia, nove deles em solitária. Depois, tornou-se repórter e editor de vários jornais do Espírito Santo, passando posteriormente por Correio Braziliense, Folha de S.Paulo e Veja. Foi diretor de O Globo e da TV Globo em Brasília e presidente da Radiobras.

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