Por Eraldo Leite

Histórias do Jornalismo Esportivo: Cambio de prisioneiros (por Eraldo Leite)
Eraldo Leite

Copa de 1986, México. A seleção brasileira jogava as partidas da primeira fase em Guadalajara. População supersimpática com os brasileiros, mantendo viva na memória a passagem anterior do futebol brasileiro pelo México, na conquista da Taça Jules Rimet, em 1970, o time de Pelé e companhia.

A concentração da seleção ficava a uns 30 minutos de viagem do centro de Guadalajara e do Estádio Jalisco. Eu e mais algumas dezenas de jornalistas brasileiros fazíamos plantão na frente da concentração à cata de notícias, uma entrevista, e ali permanecíamos até a saída do ônibus para o estádio. Então acontecia uma imensa carreata de jornalistas e torcedores disputando espaço ao lado do ônibus com os carros de polícia, que se empenhavam para impedir a proximidade. Eu ali no meio daquela “disputa”, dirigindo meu carro alugado, até que, numa dividida, dois carros descaracterizados, de polícia ou de reportagem, bateram forte: Pow! Fiz uma manobra arrojada para escapar da batida e acelerei para chegar logo ao Jalisco.

Ao entrar na área de estacionamento, um homem “muito gentil” me orientou onde estacionar, mas não me permitiu sair do carro. Aos poucos fui percebendo que estava detido, e só poderia ser por causa do acidente. Quinze minutos depois chega o homem que dirigia um dos carros que me fecharam e bateram. Era simplesmente o chefe de polícia de Guadalajara. Por mais que eu me identificasse como jornalista brasileiro e que precisava entrar no estádio para transmitir o jogo, o cara queria me levar pra delegacia. Minha sorte foi que meu chefe de equipe – Pedro Costa – estava ali pela entrada de imprensa, entrevistando torcedores, viu o imbróglio e veio negociar com o policial mexicano. Então fez uma incrível proposta: o cambio de prisioneiros. Ele ficaria preso em meu lugar e a autoridade me liberaria para trabalhar. Assim foi feito.

Com sua habilidade pra negociar, Pedro convenceu o policial a nos visitar no dia seguinte em nossa rádio (uma FM alugada pelo Sistema Globo de Rádio para transmitir os jogos para o público brasileiro naquela região) e ganhar vários presentinhos. E eu fui me juntar a José Carlos Araújo e o restante da equipe para transmitir o jogo.


Eraldo Leite é comentarista da Rádio Globo/CBN e presidente da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj), fundador e atual diretor financeiro da Associação de Cronistas Esportivos do Brasil (Aceb)

O Portal dos Jornalistas traz neste espaço histórias de colegas da imprensa esportiva em preparação ao Prêmio Os +Admirados da Imprensa Esportiva, que será realizado em parceria com 2 Toques e Live Sports, no segundo semestre.

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