Os repórteres Daniel Camargos e Fernando Martinho, da Repórter Brasil, foram até a sede da mineradora inglesa Brazil Iron, em Piatã (BA), e aguardavam resposta a um pedido de entrevista quando foram abordados por dois policiais, um deles armado, acionados pela própria mineradora. Segundo relato da própria Repórter Brasil, a empresa acusou os jornalistas de invasão da mineradora e acionou a Polícia, solicitando também as gravações da reportagem. Os repórteres Daniel Camargos e Fernando Martinho prontamente explicaram que utilizaram um drone para imagens aéreas dias antes, mas não invadiram propriedade, como estava sendo alegado. Sem acordo, a reportagem foi encaminhada para a delegacia e liberada horas depois.

Em texto publicado sobre o caso, a Repórter Brasil explica que, até a chegada dos policiais, o clima era amigável. O gerente de logística da mineradora, Roberto Mann, convidou os repórteres a uma sala de reuniões onde estavam dois executivos ingleses da empresa. Os jornalistas explicaram a reportagem e os esclarecimentos que gostariam da mineradora. Depois disso, o gerente pediu que aguardassem, e até serviu café para os repórteres.

Depois de uma hora, eles foram surpreendidos por dois policiais, um deles armado com um fuzil. Os militares disseram que estavam ali a pedido da empresa, pois receberam a denúncia de que os repórteres teriam invadido a mineradora nos dias anteriores. Segundo os policiais, a empresa havia solicitado também a apreensão das gravações dos jornalistas.

Daniel e Fernando explicaram que apenas chegaram à portaria e utilizaram um drone para fazer imagens aéreas alguns dias antes, mas não houve invasão. Por orientação da direção da Repórter Brasil, não entregaram a gravações e foram encaminhados para a delegacia. Com a ajuda de um advogado local, eles deixaram a delegacia horas depois.

Para Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brasil, o episódio “é uma clara tentativa de intimidação ao trabalho jornalístico, de cerceamento da liberdade de imprensa, que não pode ser aceita”.

Em contato com a reportagem, a assessoria da Brazil Iron enviou uma nota oficial rebatendo as acusações:

NOTA OFICIAL

A respeito das alegações dos jornalistas da Repórter Brasil e da reportagem reproduzida pelo Jornalistas&Cia, a Brazil Iron tem os seguintes esclarecimentos a prestar:

1) Não procede a informação de que a Polícia foi acionada por uma suposta invasão ou para intimidar os profissionais de imprensa. A empresa o fez ao tomar conhecimento de que a reportagem sobrevoou a área de operação da Mina Mocó com um drone.

2) A Brazil Iron não poderia ter outra atitude, pois ela é OBRIGADA pelo Ministério da Defesa a reportar fatos desta natureza, uma vez que possui no referido espaço armazenamento de combustíveis e explosivos.

3) Ainda que sem ter o conhecimento da gravidade deste ato, os profissionais de imprensa colocaram em risco suas próprias vidas e a dos colaboradores que trabalhavam no local. Operar aparelhos de radiofrequência em locais como o citado, sem os devidos cuidados, pode gerar acidentes de proporções catastróficas.

4) Além do perigo que correu e infligiu a terceiros, a reportagem não respeitou as determinações do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Tais entidades oferecem regulamentações claras ao informar que: a) operações de aerolevantamento devem possuir autorização do Ministério da Defesa; b) é proibido sobrevoar áreas de infraestrutura crítica; c) a utilização de drones para recreação devem ser feitas em espaço de aeromodelismo (basta checar no site https://www.decea.mil.br/drone/)

5) Não bastassem as infrações acima citadas, os profissionais do Repórter Brasil realizaram gravações da área sem o consentimento da empresa, desrespeitando o respeito à propriedade privada. A empresa acredita que nenhum desses jornalistas e nem aqueles que estiverem lendo esse comunicado gostariam que alguém fosse filmar dentro de suas casas sem aviso prévio.

6) A Brazil Iron não solicitou a apreensão dos equipamentos, apenas pediu que fossem apresentadas as imagens, a fim de garantir que não mostrassem zonas críticas e de segurança. A região da Mina Mocó é conhecida por furtos de combustíveis e explosivos. Tornar público os locais de armazenamento destes materiais pode gerar prejuízo a companhia e perigo à população da região e a toda sociedade.

7) Em momento algum a empresa ou qualquer de seus colaboradores sequer ensaiou cercear o direito de apuração ou intimidar os jornalistas. Muito pelo contrário. Em que pese as infrações e a gravação sem aviso prévio, a Brazil Iron deixou claro, por diversas vezes, que estava à disposição da reportagem para ajudá-los em todas as informações de que precisassem. O próprio repórter disse que entraria em contato com o departamento de comunicação da companhia, o que ainda não aconteceu.

8) A Brazil Iron fica agradecida pelo espaço cedido pelo Jornalistas&Cia para o seu pronunciamento, algo que não foi feito por Repórter Brasil. O site publicou um texto relatando apenas o seu lado da história, cerceando o direito ao “Outro Lado”, como preza o manual do bom jornalismo.

9) A Brazil Iron é entusiasta do trabalho jornalístico e sempre defenderá o direito à livre imprensa. Esperamos apenas que o fato de não sermos uma empresa brasileira ou que razões inconfessáveis de cunho político e eleitoreiro não venham a prejudicar injustamente uma companhia que já investiu mais de R$ 1,2 bi no Estado da Bahia, que é a maior responsável pela vida econômica das cidades do entorno de sua operação e que deve aportar mais de R$ 3,2 bi de investimentos e gerar mais de 25 mil empregos nos próximos anos.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments