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sexta-feira, março 29, 2024

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Denúncias de racismo e islamofobia põem autorregulação da imprensa britânica sob suspeita

Especial Reino Unido

Luciana Gurgel

Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia

A cobertura da imprensa sobre assuntos que envolvem minorias étnicas e a comunidade islâmica está provocando um acalorado debate sobre limites da liberdade de expressão aqui no Reino Unido. Esta semana um grupo de 26 parlamentares divulgou uma carta aberta, respaldada por mais de 20 organizações de direitos humanos, acusando um dos dois órgãos reguladores da mídia impressa, o Ipso (Independent Press Standards Organisation), de complacência com racismo e islamofobia na imprensa.

Segundo o grupo, o Ipso estaria sendo leniente com reclamações sobre excessos a ele levadas. Esse órgão, assim com o “concorrente” Impress, tem como atribuição garantir que padrões éticos sejam respeitados, com autoridade para punir no caso de desrespeito ao código de conduta endossado pelos associados. E até de promover arbitragens quando há pedido de reparação.

Duas entidades para controle da imprensa – Esse sistema de controle da mídia impressa, bem diferente do que temos no Brasil, surgiu a partir do escândalo de escutas telefônicas feitas pelo jornal News of The World, em 2011, que levou ao seu fechamento. O caso resultou em uma investigação sobre ética na imprensa, liderada pelo juiz Lord Leveson, dando origem ao Leveson Inquiry.

Entre as medidas recomendadas estava a criação de um órgão regulador independente e de adesão voluntária, supervisionado pelo PRP (Press Recognition Panel), dedicado a fiscalizar a independência e adesão aos princípios do Relatório Leveson. Mas acabaram sendo cridos dois órgãos. Um é o Ipso, o maior, que reúne os principais veículos. O outro é o Impress, com menos adesões, limitado a veículos locais.

Alguns jornais importantes, como The Guardian e Financial Times, praticam a autorregulação, por discordarem do sistema. O Impress clama ser o único a ter aderido integralmente aos princípios do Levenson Inquiry, enquanto o Ipso não assinou embaixo, ficando portanto livre para não seguir integralmente os princípios. Por isso é considerado não reconhecido.

Carta-bomba – Na carta aberta – na verdade um documento eletrônico exibindo exemplos escabrosos extraídos de vários jornais – o grupo aponta que racismo e ataques com base na fé religiosa contra comunidades tornaram-se comuns na imprensa, encorajando discriminação e violência.

Eles sustentam que, embora a imprensa seja livre para atuar, mesmo os mais flagrantes casos de discriminação por parte da imprensa não têm sido considerados como quebra de código de conduta pelo Ipso.

O chairman da entidade, Sir Alan Moses, defendeu-se afirmando que as decisões são tomadas com base na quebra do Código Editorial, sem que isso implique concordância com o conteúdo em questão. E coloca o dedo na ferida: “A questão real é como encontrar o equilíbrio entre a liberdade de expressão e a proteção do interesse público”.

O alvo principal desse movimento é a chamada red top media – os famosos tabloides sensacionalistas britânicos. Eles deixaram de ser chamados de tabloides porque outros jornais adotaram esse formato. E passaram a ser conhecidos como red top por usarem o vermelho nos títulos.

São jornais de enorme circulação, para leitores tradicionais, conservadores, nem sempre abertos a minorias raciais ou sociais. Alguns articulistas pegam mesmo pesado. Dois deles chegam a ser citados na carta aberta ao Ipso. Mas não é apenas na página de opinião que o nacionalismo exacerbado se manifesta. É comum ver manchetes fortes destacando, por exemplo, um crime cometido por um imigrante de recursos limitados.

Partidos políticos entraram na dança – Acusações de racismo e islamofobia estão atingindo também os dois principais partidos políticos por aqui. O Trabalhista vem enfrentando uma crise, e já perdeu importantes parlamentares que saíram atirando por acharem que o líder, Jeremy Corbyn, endossou discurso antissemita de alguns membros. E esta semana foi a vez do Partido Conservador, da primeira-ministra May, que enfrenta uma onda de protestos de membros por posições consideradas islamofóbicas.

Um bom debate sobre liberdade de expressão e de imprensa, que ainda deve render muita discussão por aqui.

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