Por Álvaro Bufarah*

Já há muito tempo que o rádio tem se apoiado em conteúdos de outras mídias para alcançar mais audiência em plataformas diferentes. Nesse contexto, o uso de vídeos nas transmissões ao vivo e em eventos como jogos, shows, e externas tem se tornado um fator diferencial para a produção dos conteúdos.

Muitas emissoras e produtoras já pensam seus produtos sonoros com a produção de vídeo inclusa, textos para sites, redes sociais e fotos para as chamadas.

Para os puristas, isso “mata” a graça do meio rádio e das mídias sonoras, pois tira sua principal característica: a falta da imagem, que favorece a imaginação dos ouvintes. Por outro lado, ocorreram várias mudanças nos perfis dos públicos e da própria forma de consumir mídia. Com isso, fica difícil que os mais jovens queiram apenas ouvir, de forma passiva, uma programação pré-determinada.

Em meio a esse cenário, o YouTube, a segunda maior plataforma de busca do planeta, tornou-se uma das formas mais utilizadas para a transmissão de imagens pelas rádios, produtoras e podcasters.

Para Eduardo Brandini, head de Parcerias do YouTube Brasil e professor do curso de Rádio, TV e Internet da Faap, esse caminho já era esperado, pois não podemos dissociar o áudio do vídeo, sendo a complementariedade de ambos o grande produto de consumo nas redes.

Eduardo Brandini
Eduardo Brandini

Ele lembra que, independentemente do conteúdo, todos querem formas diferentes de distribuição e, para isso, a plataforma na qual trabalha tem grande potencial, sendo que a cada minuto são inseridas 500 horas de produção no YouTube. Parte disso, são vídeos sem importância para a grande maioria, mas temos receitas, tutoriais, vídeocassetadas, aulas, palestras etc., no mesmo espaço virtual, possibilitando ao público uma vasta gama de opções.

Brandini destaca que o diferencial está nas narrativas apresentadas, principalmente a forma autoral do áudio. Ou seja, o vídeo é uma forma de ilustrar as falas (narrativas) apresentadas em áudio dentro da plataforma. Esse elemento é o diferencial entre os diversos produtores de conteúdo.

O pesquisador traz outro elemento para o cenário: os “sentidos” dados pelos produtores aos produtos disponibilizados. Para isso, não basta contar uma história, mas, sim, pensar em como contar aproveitando ao máximo as características técnicas disponíveis e o fator humano envolvido.

Assim, para Eduardo, os podcasts ganharam grande visibilidade, explorando uma das características fundamentais da comunicação: a pessoalidade de uma conversa. Ele recorda que assistir a um jogo de futebol pela TV ou ouvir pelo rádio sozinho (sem qualquer pessoa por perto) é chato, pois para quem vamos reclamar da arbitragem ou da falta de garra do jogador? Por isso, os podcasts e transmissões de rádio com vídeo ficaram tão interessantes: eles são o prolongamento da conversa do bar, do sofá de casa, da janela com o vizinho.

Isso justifica o interesse do público em uma transmissão histórica, ocorrida na última semana de janeiro, quando o pessoal do Flow Podcast transmitiu um jogo ao vivo (com imagem) via YouTube. O diferencial não foi a narração, mas a conversa com o público durante o jogo, os comentários, as piadas e os conflitos. Tudo muito próximo do que fazíamos no rádio lá nos anos 1970 e 80, porém agora com as imagens do estúdio ou do jogo.

Modernos estúdios de rádio incluem recursos de vídeo

Nos últimos cinco anos houve um aumento do número de emissoras transmitindo as imagens de eventos e de seus estúdios. O professor afirma que, “mais importante do que saber onde está a bola, é poder trocar ideias, conversar, discutir com os apresentadores, permitindo que os ouvintes tenham o status de usuários, podendo escolher o que ouvir e quando ouvir, interagindo com o material”.

Essa interação é beneficiada pelo uso do áudio, pois o consumidor pode fazer várias atividades enquanto acompanha um conteúdo escolhido. No caso da transmissão do podcast do jogo, por exemplo, o narrador envolve o ouvinte no ambiente em que ele não pode estar (por qualquer motivo) possibilitando que reclame, xingue, ria e chore com o comunicador.

Para Brandini, é o som da conversa em contraponto à narração formal que gera a conexão entre amigos (comunicadores e ouvintes), somando imagens mediadas pela internet.

Novamente, vem a velha história de que com tudo isso uma mídia matará a outra. NÃO!!!!. O head de parcerias do YouTube reafirma que isso não é verdade e que cada mídia tem seu espaço, porém gera uma necessidade latente de que cada meio de comunicação seja repensado para interagir com esse novo contexto.

Brandini é categórico: “Cada vez mais teremos novas formas de transmissão, mas o foco é o formato, não o meio”.  Particularmente, podemos entender que essa é a chave do sucesso para os profissionais de mídia. Não importa por onde o consumidor irá acessar o conteúdo, o que importa é que ele acessará algo que realmente queira ver e ouvir…

Outro ponto chave para o futuro dos conteúdos, segundo ele, é que todos disputam o mesmo espaço de atenção do público. Brandini exemplifica usando uma pizza que representaria as 24 horas de um dia de um consumidor.

Imagine que o tamanho da pizza não muda, mas o número de pedaços sim… É o mesmo processo com a nossa atenção diante dos diversos conteúdos nos quais somos bombardeados todos os dias. Dessa forma, o vídeo de um produto novo em uma rede social, uma notícia sobre a pandemia da Covid-19 e uma conversa no WhatsApp disputam o mesmo espaço de atenção do usuário.

Nesse ponto, entra o fator empatia e humanidade, pois, para Eduardo, quem será visto ou ouvido é quem conseguiu gerar uma conexão com seu público. Fator muito forte para quem usa áudio, pois é um recurso que traz confiança e proximidade com o mediador.

E isso se estende a todos os profissionais que pretendem atuar com comunicação nesse mundo digitalizado, sejam jornalistas, produtores de conteúdo, humoristas, artistas etc. Brandini afirma que eles terão cada vez mais que se organizar sobre as diversas formas de tecnologias, pensando no diferencial de como contar suas histórias.

Tudo isso, porque os acessos às tecnologias foram barateados com os anos e basta um celular para que um consumidor se transforme também em produtor de conteúdo. Tudo seguindo a lógica da conversa casual…

O pesquisador recorda: “Quando você quer contar algo diferente para outra pessoa, as vezes só o texto não dá conta, então você manda um áudio. Mas, às vezes, o áudio ainda é insuficiente, aí mandamos um vídeo. Pôxa, ainda falta algo… temos que fazer referência a um momento que estivemos juntos… então mandamos uma foto em um link de uma rede social…” Tudo isso faz parte da mesma conversa. Ou seja, temos de pensar em uma comunicação com todos esses elementos, pois é assim que conversamos em nosso cotidiano, pais e filhos, chefes e colaboradores, amigos, namorados, casais… enfim, todos utilizam essas ferramentas.

Eduardo Brandini cita como tendência para a empresa a diversificação e segmentação dos conteúdos, possibilitando que sempre alguém produza algo para que outro alguém consuma.

Nesse contexto, a criatividade e a forma de contar serão fatores decisivos para capturar o consumidor. E finaliza: “Não adianta produzir mais se as pessoas não conseguem ter mais tempo para consumir”. É preciso produzir sempre mais e melhor para sobreviver nesse mercado.

Se você quer saber mais sobre o tema ou apenas ouvir a entrevista, entre neste link abaixo e ouça o podcast Radiofrequência.


Álvaro Bufarah
Álvaro Bufarah

(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

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