Mayra Pinheiro, médica pediatra e secretária de gestão do trabalho e da educação do Ministério da Saúde, no depoimento que deu à CPI da Covid em 25/5, acusou Rodrigo Menegat, jornalista de dados e ex-Estadão, de extração indevida de dados do aplicativo TrateCov. Mayra foi ouvida na CPI sobre as estratégias do governo para distribuição do chamado Kit Covid, composto por remédios sem eficácia comprovada no combate à doença.

A secretária, conhecida como Capitã Cloroquina, disse no depoimento que Menegat havia hackeado o aplicativo mas voltou atrás na fala: “Ele na verdade não conseguiu hackear. O sistema é seguro. Hackear é quando você usa a senha de alguém, entra em uma plataforma ou um sistema. Foi uma extração indevida de dados. O termo que foi utilizado foi um termo de leigos. Hoje a gente tem um laudo pericial que classifica a operação feita de extração indevida de dados.”

O software, lançado em janeiro deste ano pelo governo federal, tinha como objetivo orientar médicos sobre formas de oferecer tratamento para pessoas com suspeita de Covid-19. Entretanto, foi retirado do ar por acusações de que receitava indiscriminadamente remédios sem eficácia comprovada contra a doença, como cloroquina e ivermectina. Na épocaRodrigo publicou em suas redes sociais simulações que fez no aplicativo e, em uma delas, o TrateCov recomendava os remédios para um hipotético recém-nascido com dor de barriga e nariz escorrendo.

Ao contrário do que Mayra afirmou, Menegat não invadiu o sistema nem extraiu indevidamente os dados. O aplicativo era aberto e qualquer pessoa podia fazer simulações. Era só colocar dados do paciente, como idade, peso e sintomas, para receber a prescrição do chamado tratamento precoceEle apenas acessou o código público do site do aplicativo e fez simulações na área aberta da plataforma, constatando que até para recém-nascidos os remédios estavam sendo recomendados.

A Abraji condenou as acusações como infundadas e caluniosas: “O apelo à calúnia e difamação contra jornalistas na tentativa de se defender da exposição de falhas na atuação do governo federal é uma tática frequente do presidente Jair Bolsonaro e de seu alto escalão. Uma clara violação à liberdade de imprensa. A Abraji exorta os órgãos públicos envolvidos a esclarecerem os fatos e eventualmente punirem os responsáveis, caso se verifique que denúncias inverídicas foram registradas contra o jornalista. Além disso, é lamentável a exposição do nome do repórter pela CPI da Covid, sobretudo levando em conta a total falta de embasamento das acusações movidas pelo governo federal e o histórico de assédio virtual que costuma se seguir a tais eventos”.

Ele não foi o único a usar o sistema. Na época, muitos jornalistas e veículos de imprensa fizeram simulações semelhantes e verificaram os mesmos resultados, pressionando o Ministério da Saúde a tirar o aplicativo do ar. Mayra e o ex-ministro Eduardo Pazuello estavam presentes no lançamento do software, em Manaus.

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