A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) realizará em março uma audiência para abordar ameaças e violações à liberdade de imprensa e de expressão no Brasil. O evento é fruto de um pedido feito por 16 entidades brasileiras e latino-americanas, entre elas a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
O documento apresentado à CIDH contém relatórios e dados
que ilustram o aumento de ataques e violência geral à imprensa e a
comunicadores, além de casos específicos que exemplificam a situação, como o de
Patrícia Campos Mello (Folha de S.Paulo), que sofreu ataques por sua
reportagem que denunciava o compartilhamento de fake news via WhatsApp
para favorecer Jair Bolsonaro durante as eleições presidenciais de 2018; e o de
Gleen Greenwald, acusado de ter cometido crimes digitais, incluindo
envolvimento com hackers, ao divulgar áudios da Operação Lava Jato.
Marcelo Träsel,
presidente da Abraji, acredita que o evento pode ajudar a conscientizar as
pessoas sobre os frequentes ataques à liberdade de imprensa e expressão no
Brasil e em países vizinhos: “Esperamos que essa audiência amplie a consciência
sobre a questão dentro e fora do País, em especial nas instituições que podem
agir para mitigar o problema”
Renata Mieli, coordenadora geral do
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), destaca o aumento no
número de ataques à imprensa durante o governo Bolsonaro: “O Brasil sempre
conviveu com casos de violação à liberdade de expressão, mas eles eram difusos.
O que diferencia o momento atual é que, a partir do governo Bolsonaro, houve
uma institucionalização das violações aos direitos humanos e à liberdade de
expressão”.
Vale lembrar que um relatório
da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgado em janeiro indicou
que Bolsonaro foi responsável por mais da metade dos ataques à imprensa em
2019. Os dados indicam um aumento de 54% na violência contra comunicadores.
Por Luciana Gurgel, de Londres, especial para o Portal dos Jornalistas
O boicote de jornalistas a uma coletiva na sede do Governo britânico sobre o Brexit em Londres nessa segunda-feira (3/2) repercute fortemente nos meios jornalísticos e políticos. Repórteres de The Mirror, i, HuffPost, PoliticsHome, Independent e da agência de notícias PA foram proibidos de participar por não terem sido convidados, apesar de credenciados para a cobertura do Governo no Parlamento. Em solidariedade, colegas de BBC, ITV, SkyNews, The Guardian e até do Daily Telegraph, que apoia o Governo de Boris Johnson, recusaram-se a entrar na sala.
A NUJ (National Union of
Journalists) divulgou uma nota em que classifica o incidente como alarmante, e
um ataque à liberdade da Imprensa. Keir Starmer, principal candidato à
liderança do Partido Trabalhista, enviou carta ao Governo pedindo uma
investigação sobre o caso.
O caso ganhou as primeiras
páginas de vários jornais, com críticas à conduta do setor de Imprensa do
Governo britânico, que estaria escolhendo a dedo os jornalistas com quem quer
falar e deixando veículos críticos à margem.
É a ponta do iceberg em um
relacionamento que se tornou mais tenso após as eleições gerais de dezembro
passado, que deram vitória a Boris Johnson, ex-jornalista. Desde então algumas
práticas históricas vem sendo alteradas.
A transferência dos briefings
diários concedidos por membros do Governo da sede do Parlamento para a
residência oficial do primeiro-ministro foi uma delas, causando reação dos
veteranos credenciados, organizados em um grupo denominado “Lobby”. Entre os
temores manifestados estava justamente o risco de o Governo bloquear a entrada
de profissionais, o que não aconteceria nas dependências neutras do Parlamento.
Lee Cains, diretor de Comunicação
de Boris Johnson, sustentou a atitude sob o argumento de que o Governo tem a
prerrogativa de falar com quem quer e onde quer. Mas a posição foi questionada
por quem defende a tese de que o acesso a informações sobre temas públicos deve
ser livre a todos os veículos interessados.
Everaldo Marques acertou sua ida para o SporTV e deixará a ESPN na próxima sexta-feira (7/7), dia do término de seu contrato com a emissora. A rescisão, segundo o UOL, foi amigável. A data de estreia dele no Grupo Globo ainda não foi divulgada.
O narrador estava há 15 anos na ESPN e tornou-se referência
na locução de esportes, principalmente os americanos, tendo a oportunidade de
narrar jogos de basquete e futebol americano na emissora. Sua última grande
cobertura foi o Super Bowl 54, no último domingo (2/2). A ESPN não
informou se contratará um substituto.
O C6 Bank anunciou os vencedores da 1ª edição do Prêmio C6 de Jornalismo, que reconhece reportagens sobre educação financeira e finanças pessoais, com o objetivo de ajudar os brasileiros na tomada de decisões financeiras conscientes.
Tulio Hernández e Ginna Morelo. Foto: Fundação Gabo
A Fundação Gabo, em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), realiza o curso Refugiados e migrantes: como cobrir o caso venezuelano, no objetivo de aperfeiçoar, ampliar e enriquecer a cobertura do fenômeno migratório. O Brasil está na lista dos países cujos jornalistas podem se inscrever, além de Colômbia, Chile, Peru, Equador e Argentina.
As aulas serão de 13/4 a 17/4 em Medellín, na Colômbia. Os
11 selecionados terão aulas em espanhol com Ginna Morelo (Colômbia) e Tulio
Hernández (Venezuela). Em entrevista à Abraji, Morelo afirmou que o curso
visa a estimular os participantes a cobrirem as migrações de forma mais
horizontal e ampla: “A cobertura da migração não cabe em uma sala de redação,
por maior que seja. Quando vemos pessoas atravessando um país, são culturas que
caminham para outros territórios. É necessário romper os esquemas de um
trabalho extremamente vertical e fortalecer uma cobertura horizontal de
jornalismo colaborativo”.
Para se inscrever, é preciso ter três anos de experiência,
além de interesse pelo tema. Os participantes receberão alojamento por seis
noites, passagens aéreas, alimentação e seguro médico internacional. Será
preciso pagar uma taxa de matrícula no valor de 100 dólares. No final do curso,
três participantes serão selecionados para investigar e produzir matérias sobre
imigração e refugiados, sob orientação de Ginna Morelo, e terão um subsídio de
até cinco mil dólares para fazer o trabalho. Mais
informações aqui (em espanhol).
Lucas Amorim é o novo diretor de Redação. Saem também os editores executivos Cristiane
Mano e David Cohen
O Grupo BTG, que há três semanas assumiu o controle da Exame,
adquirida
em dezembro passado ao Grupo Abril, demitiu nessa sexta-feira (31/1) a
cúpula da Redação, como parte da restruturação que desde então vem planejando. Deixaram
a empresa o diretor de Redação André Lahóz Mendonça de Barros, o
redator-chefe José Roberto Caetano e os editores executivos Cristiane
Mano e David Coehn. O também editor executivo Lucas Amorim
Pereira é o novo diretor de Redação.
André e Beto eram os com mais tempo na revista: 22 anos e
meio. Cristiane estava há 20 e David, desde 1997, mas nesse período teve uma
passagem por Época e Época Negócios (que dirigiu), até voltar recentemente.
Lucas está há 12 anos em Exame, onde era editor executivo de negócios e
finanças e editor do aplicativo.
Caetano disse a este Portal dos Jornalistas que, desde que
assumiu, o BTG não deu nenhum sinal de que seriam dispensados, tanto que
participaram de várias reuniões sobre o futuro: “A nossa demissão acabou vindo
como uma quase surpresa. Mas, claro, é do jogo numa mudança de propriedade, e é
perfeitamente da lógica dos negócios (como tantas vezes Exame retratou em
reportagens). Entendemos que os donos querem renovação, a começar pela própria
equipe. Éramos os mais velhos de casa e também os salários mais altos. Em suma,
exterminaram os dinossauros e fizeram um bom corte na folha salarial. Não sei
se houve outras promoções e nomeações entre os jornalistas − o grupo
remanescente, incluindo pessoal da arte e foto, é da ordem de 40 pessoas”.
Segundo ele, o Grupo BTG está investindo em tecnologia, vai
renovar o site e o aplicativo, introduzir Big Data, entre outras iniciativas, e
está criando quatro novas áreas de negócios em torno da marca Exame: editorial,
eventos, educação financeira e uma área chamada Research, de produção e venda
de relatórios de análise de ativos financeiros. Para isso, além de tecnologia,
estão levando gente do banco e contratando profissionais não jornalistas.
“De minha parte, não tenho nenhum plano na gaveta. Vou me
dar um tempo de reflexão, avaliar possíveis caminhos e oportunidades, ativar
contatos. Felizmente carrego um enorme acervo de amizades feitas nestes anos
todos, e tenho recebido muitas mensagens carinhosas de apoio. É reconfortante
neste momento ser alvo de toda essa atenção. Saio satisfeito e orgulhoso dos
meus 22 anos e meio de Exame, agradecido a todos que trabalharam comigo − e
foram muitos profissionais ótimos e pessoas queridas. Foi um enorme privilégio.
E em especial parto grato ao André, que conheci quase um garoto naquela semana
de agosto de 1997, veio a se tornar meu chefe e incentivador do meu
crescimento. E é, além de um profissional que muito admiro, um amigo caríssimo”.
Os contatos pessoais dele são betocaetano@gmail.com
e 11-950-246726.
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
Banca de jornais. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
O Instituto Verificador de Comunicação (IVC) divulgou dados sobre a circulação de jornais dos principais veículos de comunicação do País. A pesquisa leva em conta números registrados de dezembro de 2014 a dezembro do ano passado. Segundo o estudo, as assinaturas digitais estão aumentando, enquanto a versão impressa segue em queda. As informações são do Poder360.
Segundo o portal, a Folha de S.Paulo foi o jornal com maior
número de assinaturas digitais, seguida de perto por O Globo. Destaque para o
Valor Econômico, que teve um aumento de 414% em suas assinaturas digitais. O
Correio Braziliense também teve um aumento significativo: 179%.
Todos os veículos analisados no estudo sofreram queda na
circulação de suas versões impressas desde dezembro de 2014 até 2019. O jornal
com maior tiragem média de impressos foi o mineiro Super Notícia, com pouco
menos de 140 mil, cerca de 50% a menos do que a média registrada em 2014, mesmo
sendo o “melhor colocado”. O Estado de Minas foi o que mais reduziu sua tiragem
média de impressos, com números 72% inferiores.
Na soma da média de tiragem mensal das versões impressa e
digital, a Folha de S.Paulo tem os maiores números do ano. O estudo também
mostra a variação de custo das assinaturas e o comportamento das revistas Época
e Veja, que estão em queda livre. Confira
a íntegra no Poder360.
A consultoria Llorente & Cuenca (LLYC) lançou um relatório sobre o comportamento dos consumidores ao redor do mundo em 2020, trazendo as dez principais tendências que devem se destacar no mercado ao longo do ano.
O estudo apresenta três abordagens que devem ser levadas em
conta ao analisar o perfil dos consumidores e suas tendências de consumo: o
desafio demográfico, que se refere ao envelhecimento da população e à obsessão
por evitá-lo o máximo possível; os critérios econômicos, como a crise mundial e
perfis de consumo específicos que variam para cada pessoa e região; e a
evolução da tecnologia e o uso de dados, que aumentam o consumo por informações
e as recomendações de produtos através de algoritmos e Inteligência Artificial.
As tendências apresentadas mostram um aumento no consumo da
indústria alimentícia (Foodemic) e de beleza, principalmente nos
produtos que desaceleram o envelhecimento (Forever Young), além de
consumidores “cautelosos” em tempos de crise (Consumidor em crise) e um
aumento na quantidade de idosos no ativismo − visto hoje como uma tendência
global − graças ao envelhecimento das redes sociais (Ativismo pós-geracional).
Confira
o relatório na íntegra.
Quando
soubemos, no caderno de Geral do Diário Popular, em meados de 1996, que o nosso
futuro chefe seria um sujeito chamado José
Luiz Longo, que desconhecíamos totalmente – a não ser o fato de que ele era
próximo do diretor de Redação Josemar
Gimenez, com quem havia trabalhado junto em O Globo –, certamente todo
mundo pensou algo parecido: mais um burocrata para nos infernizar. Brincávamos
dizendo que de uma coisa a gente tinha certeza: ele devia ser um cara alto e
longilíneo, com aquele sobrenome. Quando o vimos, semanas depois do anúncio,
todo mundo se surpreendeu com aquele homem baixinho, nervoso, com uma barba
permanente em um rosto que denotava inteligência e sagacidade. Ato contínuo,
ganhou dos repórteres-fotográficos, sob a liderança do gozador Rubens Gazeta (alguém que, com esse
sobrenome, nasceu para trabalhar em jornal), o apelido de Toulouse Lautrec – referência ao pintor francês que viveu
entre 1864 e 1901 e se tornou conhecido por ter revolucionado o estilo dos cartazes
publicitários em sua época e por sofrer de uma doença recessiva que o
transformou num homem adulto com pernas curtas de criança, medindo apenas
1,52m. De fato, ambos tinham características físicas em comum, como a barba, os
óculos e a pequena estatura.
Aos poucos, fomos descobrindo que, se Toulouse Lautrec foi um gênio em sua época, ao pintar os cartazes de aviso do famoso Moulin Rouge, casa de espetáculos da boemia parisiense, de um modo completamente incomum, poder-se-ia dizer algo semelhante de Longo, um gênio em encontrar novos e interessantes ângulos para as matérias. Eu, então um jovem jornalista recém-formado, estava substituindo um repórter mais velho e experiente que convalescia de uma doença e, de cara, senti que ele gostou de mim. Houve uma tragédia causada pelas chuvas na região do Ipiranga e, junto com a colega Montserrat González, fui lá cobrir. Descobri, depois, que ele havia pedido para que ela, uma excelente repórter, acompanhasse meu trabalho. “O rapaz veio de assessoria de imprensa, sabe como é”, justificou. No fim do dia, a colega ofereceu um relatório muito favorável sobre minha atuação na reportagem.
Ele
começou, então, a me encomendar matérias interessantes, boa parte ligadas a
questões históricas, que havia percebido que eu gostava. Fui fazendo-as da
melhor forma possível. Poucos meses depois que ele entrou, fiquei sabendo que o
colega adoentado ia voltar, já estava recuperado. Perderia, então, o emprego.
Coisas da vida, problema algum, sabia que seria provisória minha estada naquela
que era uma fábrica de fazer bons repórteres, o Dipo, como chamávamos o jornal
e estava feliz por ter aprendido em meses o que levaria muitos anos para
aprender. No entanto, outra colega, creio que a Alessandra Pereira, me disse que ele havia reagido
desfavoravelmente à ideia da volta do repórter. “Não vou abrir mão do Moacir,
de jeito nenhum”, afirmara. Acabei ficando… e me tornei, de fato, repórter
nessa época. Comprovei, na prática, a máxima de Gabriel García Márquez, segundo a qual jornalista é “a melhor
profissão do mundo”.
Aos
poucos, Longo tornava-se querido e admirado pelos repórteres do Dipo, uma turma
que não perdia para ninguém em termos de cobertura, batendo com folga,
especialmente em Cidades, Esporte e Polícia, os colegas de redações então
poderosas como Estadão e Folha. E o chefe, também ativista dos direitos humanos
e um dos fundadores do coletivo Democracia Corinthiana, sempre sugerindo pautas
interessantes e inéditas, como já fizera em O Globo e no O Estado de Minas,
onde trabalhou também. Lembro-me que, uma vez perguntou-me se Rego Freitas,
nome da rua onde fica o nosso sindicato, era parente do Bento Freitas, rua
vizinha. Queria fazer uma matéria com o mote “unidos para sempre”. Não eram,
viveram em épocas diferentes.
Longo,
que perdemos em 22 dezembro de 2019, aposentado, mas ainda em atividade, era de
fato um mestre na pauta jornalística. Sacava da cartola, como um mágico, ideias
geniais para transformar em texto de jornal. Dizia algo que repito para meus
alunos hoje: a notícia está em todo lugar, basta observar.
Pouco
mais de um ano depois, fez-me uma sugestão: queria criar uma pequena coluna no
jornal, que sairia todo sábado, na qual contaríamos a história de um bairro.
Morador da Zona Norte toda sua vida, ele sabia da importância dos bairros para
uma cidade gigante como São Paulo, na qual, muitas vezes, a pessoa vive em um
ou dois distritos, sem precisar deslocar-se para praticamente nada. Aceitei o
desafio e começamos pela Mooca, região emblemática da cidade que, uma década depois,
se tornaria quase uma parceira, já que comecei a ministrar aulas na
Universidade São Judas Tadeu, que fica na Mooca e é um marco da região. Foi uma
verdadeira aventura essa coluna, que batizamos de Conheça seu bairro. Em pouco
mais de dois anos, contamos a história de nada menos que 120 bairros da
capital. Descobri que tinha gente que colecionava os textos, outros que os
mandavam para parentes em outras regiões. Conheci personagens
interessantíssimos, muitos dos quais levei para o caderno Seu Bairro, do
Estadão, no qual iria trabalhar depois. Enfim, a coluna fez-me conhecer São
Paulo, algo que não tem preço.
Outra
história curiosíssima, que o amigo Josmar
Jozino conta em seu livro Meio que em off (Letras
do Brasil), foi o texto que fiz sobre um bode fantástico que dava leite. Bicho
enorme e forte, ele era hemafrodita e vivia em um sítio na cidade de
Brazópolis, sul de Minas. Foi missão passada pelo Longo a partir de um sujeito
meio louco que apareceu no jornal – e foi conosco até o lugar. Ele me disse na
volta que havia sugerido ao prefeito da cidade que “desapropriasse” o animal.
Parecia história do Festival de Besteiras que Assola o País (Febeapá), do saudoso Stanislaw Ponte
Preta, que, em tempos de Bolsonaro, teria muito a escrever se estivesse por
aqui.
Em
1999, quando fui trabalhar no Estadão, o fato de ter passado pelo Dipo era uma
distinção importante. Os colegas que me conheciam da rua diziam que “se foi do
Dipo é bom, pode confiar” para os novos chefes que ainda não tinham tomado
contato comigo. Encontrei no Estadão e no JT gente como Josmar, Fábio Diamante, Marici Capitelli, Robson
Morelli, entre outros, que eram, como eu, egressos do Dipo. Entre os
motoristas, então, quase todos haviam trabalhado no matutino da Major Quedinho,
nome que relembra um personagem da Guerra do Paraguai. Estava em casa, enfim.
Voltei
a ouvir falar do Longo novamente porque ele havia mandado uma repórter, que
depois soube tratar-se da Marici, para “seguir uma nuvem de chuva”. A razão
para tão esquisito pedido era que o Dipo havia tomado um furo no dia anterior e
isso o Longo não admitia, ainda mais em tragédias da cidade, algo em que éramos
imbatíveis. A pobre repórter teve que ficar acompanhando, de carro, o
deslocamento de uma nuvem escura. E a história virou um folclore do jornalismo.
Era um pombo sem asa ou PSA, expressão com a qual Josmar designava as pautas
mais estranhas.
Quando
lancei o meu livro sobre a Revolução de 1924 – São Paulo deve ser
destruída, a história do bombardeio à cidade na Revolta de 1924 (Record) –, tive o prazer de contar com a
presença dele no debate na Livraria da Vila da Fradique Coutinho. Ele me falou,
então, a frase que jamais esquecerei: “Quando lia seus textos da história dos
bairros, pensava: esse rapaz é um historiador. Agora está aqui o historiador”.
Ainda me sugeriu escrevermos juntos um livro sobre a Mooca. Foi a última vez
que o vi com vida. Nos estertores de 2019, um choque: pelo Facebook a colega Gláucia Padilha avisava e, na
sequência, o também colega Dario
Palhares confirmava que ele havia morrido.
Longo, o grande repórter e chefe de Reportagem, uma das pessoas que mais reconheceu meu trabalho, jazia no velório de um cemitério da sua querida Zona Norte, na presença da mulher, Célia, dos filhos e da mãe. Mesmo adoentado, me disseram, não parava de bolar coisas para o jornalismo. Ainda era jovem, tinha apenas 62 anos, e se permitia sonhar. Foi enterrado em meio a palmas e sons da música Epitáfio, dos Titãs, que diz assim: “Devia ter amado mais, chorado mais, ter visto o sol nascer…”. Agora, como diz o colega Nelson Nunes, está seguindo nuvens no céu, na grande redação celestial. E, certamente, bolando pautas sensacionais. Abraço, amigo, siga em paz… tenha a certeza de que todos aprendemos muito com você.
Moacir Assunção
A história desta semana é uma colaboração de Moacir Assunção, jornalista, historiador e professor do curso de Jornalismo da Universidade São Judas Tadeu (SP).
Jesse Nilson, o Jotinha, repórter cinematográfico da Band-RS, está impossibilitado de realizar suas funções há quase dois anos, devido a complicações pós-cirúrgicas no coração. Em janeiro de 2018, ele teve um infarto, e a intervenção médica resultou em três pontes de safena. Depois do ocorrido, ele teve dificuldades para dar continuidade ao tratamento, pois não obteve suporte do SUS e o INSS negou o benefício de saúde a ele. Com fortes dores, não conseguia mais trabalhar.
“Senti muita dor no peito e nos ombros, não conseguia mais segurar
uma câmera”, contou Jotinha em entrevista ao Coletiva.net. Ele explicou também
que, apesar de ainda ser funcionário da Rede Bandeirantes, não recebe o salário
desde maio por causa do INSS. Jotinha foi diagnosticado tendinopatia do
supraespinhal, uma evolução de uma tendinite no tendão do ombro.
Ele fez um desabafo em suas redes sociais, expondo sua
situação: “Saí vivo do hospital, mas sem vida. Falhas no tratamento,
diagnósticos equivocados, medicamentos prejudiciais, avaliações imprecisas,
desrespeito médico, descasos judiciais sucessivos, desamparo do INSS,
incapacidade de atendimento do SUS e outras tantas coisas”.
O desabafo comoveu amigos e ex-colegas, que organizaram uma
vaquinha online para ajudar Jotinha a dar continuidade ao tratamento, pagar as
contas e outras necessidades básicas. A meta é arrecadar R$ 5 mil. Até esta
quarta-feira (29/1), tinha obtido aproximadamente R$ 3.7 mil. Contribua!