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quarta-feira, dezembro 10, 2025

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Sujou! A revista popular proibida

Quanto vale um exemplar de uma edição de revista apreendida nas bancas? Não tenho a menor ideia. Acredito que cada caso seja um caso; e que o preço varie de acordo com a tiragem, a importância do título, a data e o tal do contexto histórico. Retomando a pergunta: e quanto valeria um exemplar de uma edição de revista que, por pura paúra da editora responsável, a Abril dos bons tempos, nem sequer chegou a ser distribuída? Tenho na gaveta um exemplar assim. Novinho em folha − ou nem tanto, pois a capa, vitimada pela passagem de 34 anos, se descolou. Pelo que sei, todos os demais exemplares foram destruídos de maneira inapelável. Ou ao menos deveriam ter sido. Sobrou o meu.

Deve valer algum dindim, ora essa.

O curioso é que o tal exemplar não é de uma revista que, por exemplo, tratasse de política a sério. Longe disso − e põe longe mesmo. A revista nem mesmo seria lançada nos idos sombrios da ditadura militar, mas em pleno e solar período do Brasil recém-redemocratizado.

O ano era 1986, com José Sarney na Presidência (até aí morreu o Neves). Quem viveu o período sabe que, tirando uma ou outra estupidez, como a proibição do filme Je Vous Salue, Marie, do cineasta suíço (sim, suíço) Jean-Luc Gordard, a censura não dava mais as caras. A última chefe do Departamento de Censura Federal, Solange Hernandez, perdera a boquinha havia dois anos.

A tal revista, perdão pelo suspense, era uma edição especial − “one shot”, tiro único, como os publicitários diziam − da popular Contigo, que então vendia como pãozinho quente. A redação vivia em festa, com tiragens a cada semana maiores. Tempos, de fato, feéricos. Vez por outra, desciam à redação, no fechamento, Thomaz Souto Corrêa e Alberto Dines, diretores da Abril, sobraçando garrafas gigantes do melhor champanhe, dessas de pódio de Fórmula 1, para comemorar as vendas. Tiravam uma casquinha da glória que, por justiça, cabia então ao diretor de Redação, o saudoso Paulo Stein.

Contigo, na época, passara por mais uma grande mudança editorial. Havia tempos deixara de ser uma revista de fotonovelas. Na ocasião, tinha abdicado, também, de manter-se como publicação voltada exclusivamente para a cobertura de TV − ainda que este fosse, sem dúvida o assunto principal. Num período em que, terminada a ditadura militar, o País, aliviado, queria voltar a falar de política no dia a dia, Contigo participava, atuante, dessa retomada. Com muito bom humor.

Sim, era uma revista popular. E daí? A Última Hora também fora um jornal popular. E renovou o jornalismo brasileiro. Contigo, guardadas as devidas proporções, faria algo similar. O redator José Antônio Simch da Silva, por exemplo, com raro talento e milimétrico senso de humor, “traduzia” todas as semanas para os leitores − leitoras, principalmente − de Contigo a quantas andavam os rumos da política no País. Ênio Longo, diretor de arte, na azáfama do fechamento, encontrava tempo para ilustrar os textos. Ele, um dos designers que melhor uso fez da salinha do prisma. Infelizmente, esse tipo de jornalismo popular morreu.

Não parece em vias de ressuscitar.

Foi Alberto Dines quem sugeriu a Paulo Stein que ocupasse a última página, espaço nobre de cada edição, com a seção Fotofofoca, aproveitando fotos de políticos e gente famosa e acrescentando jocosos balões de história em quadrinhos. Não era nenhuma novidade na imprensa, ressalve-se. No comecinho dos anos 1960, havia uma seção exatamente igual, sem tirar nem pôr, na revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand, com as “fotopotocas” − de início criadas por Ziraldo. Na própria Contigo, Décio Piccinini mantinha uma coluna de notas que incluía, aqui e ali, duas fotopotocas. Com muita graça, por sinal.

Sujou! A revista popular proibida
Fotofofoca

Novidade, no duro, foi a descoberta de que havia um time de primeiríssima para bolar as fotofofocas. Além do próprio Décio, sempre engraçadíssimo, a equipe que, de modo espontâneo, se apresentou para o mister tinha, em ordem alfabética: Édson Aran (garoto ainda, assinava Édson Arantes, mas já era então um ótimo texto de humor), o próprio José Antônio Simch da Silva (irmão do desenhista Edgar Vasquez, do personagem Rango), Júlio Bartolo (dono de um humor sarcástico e impagável e, mais tarde, diretor-geral da ESPN), Luiz Chagas (guitarrista do grupo Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, e pai da cantora Tulipa Ruiz e do músico Gustavo Ruiz, na época crianças) e Pedro Giacommini (que surpreendia com tiradas ótimas e faria carreira no jornalismo automotivo). Modéstia às favas, acrescento meu nome à lista. Eu não era dos piores nesse ofício.

Mas o melhor de todos, que eu me lembre, era o Chagas, com um humor ao mesmo tempo nonsense e demolidor. Era ele quem gostava de requisitar as fotografias ao Dedoc (o departamento de pesquisa e documentação da Abril), no que tecia surrealismos do tipo “mande uma foto do Congresso sob tempestade com um palhaço em primeiro plano”. Se houvesse tal imagem, seria perfeita. Por que não pedir ao prestativo e eficiente Dedoc? Vá lá que aparece algo parecido.

Perdão se mantenho o suspense sobre o motivo de a Abril destruir uma tiragem inteira, mas me faz bem lembrar o sucesso da seção Fotofofoca e gastar mais algumas linhas de confete. Ganhamos até um Prêmio Abril de humor. Um dos entusiastas era Roberto Civita em pessoa. Foi ele quem se decidiu pela publicação de uma edição especial, toda ela com fotofofocas. Sim, esta mesma, a vítima da cruel autocensura da editora.

Sujou! A revista popular proibida
Tancredo Neves

Paulo Stein liberou uma verba extra para concluirmos o especial. Com ela, compramos vodca (era a bebida da moda nos anos 1980), cerveja e um uisquinho. Também encomendamos pizzas na vetusta Urca da avenida Brigadeiro Luiz Antônio (sim, ainda hoje de pé, na esquina com a Santos). Marcamos a reunião para um sábado, no meu apartamento de solteiro, ali perto. A mesa da sala de jantar do apê, em torno da qual nos sentamos para bolar as fotofofocas, era versátil. De um lado, exatamente igual a outras tantas. Bastava acionar duas alavancas, no entanto, e ela se tornava uma mesa de bilhar. Aliás, o encontro começou com umas boas tacadas.

Matamos a vodca. Sobrou cerveja. Restou algum uísque também. Entre um gole e outro, deparamos com fotos de artistas e, sobretudo, políticos da época. Por ordem de aparição na revista: Figueiredo, Magalhães Pinto, Delfim Netto, Tancredo, Aureliano Chaves, Sarney, Ulysses Guimarães, Dante de Oliveira, Franco Montoro, ACM, Lula, Dilson Funaro, Maluf, Fidel Castro, Pinochet, Reagan, Gorbachev, Mao Tsé Tung e Margareth Tatcher. Um grande elenco.

Jânio Quadros mereceu um capítulo especial. Tanto na revista quanto nessa história toda.

Candidato naquele ano de 1986 a prefeito de São Paulo, o histriônico cidadão parecia sem chances, fora da disputa. Não pagava placê. Fernando Henrique Cardoso era o virtual eleito. Inadvertidamente, sentou-se até na cadeira de prefeito, suscitando, após o sufrágio, o comentário de Jânio de que era preciso limpar o assento, em virtude das “nádegas indevidas”.

Enquanto as campanhas eleitorais corriam soltas, Jânio era quase todas as semanas “debulhado” − verbo que gostávamos de usar, no sentido de atazanar − na seção Fotofofoca. Muito natural, portanto, que voltássemos à carga na feitura do especial. As brincadeiras, muitas vezes, comentavam a contumaz predileção do homem da vassoura pelo álcool destilado. Fermentado idem.

Sujou! A revista popular proibida
Jânio Quadros

Uma coincidência complicou os planos da Abril para a edição especial. Para surpresa geral, Jânio Quadros foi eleito. Ao mesmo tempo em que o especial era rodado na gráfica da avenida Marginal.

Aqui há um ponto obscuro na história, que os colegas da época em muito ajudariam se esclarecessem. Lembro apenas que, com Jânio na Prefeitura, a Abril abriria um flanco indesejável se atacasse o prefeito a esmo. Seria alguma dívida com a Prefeitura? Falta de algum alvará?

Não consigo recordar. De qualquer maneira, alguém da direção da editora − ou, mais provável, do departamento jurídico da empresa −, folheando o exemplar de Fotofofoca mal saído da gráfica, decidiu-se pelo corte sumário das 12 fotofofocas sobre o prefeito recém-eleito. Tal como estava impressa, a revista não seria distribuída − eis o veredicto.

Àquela altura, nós da redação já havíamos recebido cada qual o seu exemplar do reparte a que Paulo Stein tinha direito. Peguei dois. De maneira que, quando nos foi solicitado (ordenado é a palavra correta) devolver o exemplar, fiquei com um de lambuja.

Sei apenas que, por questões técnicas, não seria possível cortar as páginas de Jânio Quadros e distribuir a edição já impressa. Foi preciso destruí-la; e imprimir uma nova — sem, bem-entendido, as piadas contra o trêfego alcaide.

Um aviso final: meu exemplar não está à venda. Custava 17 cruzados. Mas não tem preço.


Walterson Sardenberg Sobrinho

A história desta semana é novamente de Walterson Sardenberg Sobrinho, o Berg. Ele foi repórter de Manchete; editor de Placar, Brasileiros e Viagem & Turismo; editor-chefe de Gosto, Próxima Viagem, MIT e The President; e diretor de Redação de Náutica, Contigo e Mergulho.

Tem alguma história de redação interessante para contar? Mande para [email protected].

 

Paulo de Tarso Porrelli lança Poesia Muda

Poesia Muda é o título do terceiro livro de Paulo de Tarso Porrelli, que ele lança em formato e-book gratuito. O designer Daniel Olitta Belluco assina a capa e a direção de arte. O livro pode ser baixado aqui.

Paulo era adolescente quando o lendário Diário de Piracicaba, no interior paulista, começou a publicar as poesias dele: “Peguei cedo o gosto pela leitura, o meu pai lia Monteiro Lobato lá em casa. Sabe?! Penso que leitores são sentinelas atemporais e que escrever cura a gente”. 

Apaixonado por música, dedica um poema da obra “ao eterno Naná Vasconcelos”, cuja inspiração veio da faixa Uma Tarde no Norte, do álbum Contando Estórias, que o falecido percussionista, compositor e arranjador mundialmente aclamado lançou em 1995. 

Antes de Poesia Muda ele escreveu O Som da Pétala Ágata e Nós de Nada: uma belezura de figura e de palavreado, ambos catalogados na Coleção Latino-Americana da Biblioteca Britânica, no Reino Unido. Versos de Paulo Porrelli estão no livro Trilhos e Letras − uma antologia do trem, com participações de autores como Ivan Lins e Paulo Coelho; em Oficina de Poesia – Revista da Palavra e da Imagem, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal; e na coletânea brasileira Concurso Nacional de Novos Poetas. Com a crônica Duma época de tempos atrás, venceu o 7º Prêmio UFF de Literatura – Vinícius de Moraes 100 Anos, cujo texto integra a antologia lançada pela editora da universidade. 

Ex-presidente da rádio Educativa de Piracicaba, Porrelli teve passagens, entre outras, pelas tevês Globo, Band e EPTV e rádio Jovem Pan, além de ter atuado em comunicação corporativa.

Imprensa automotiva despede-se de Adalberto Vieira

Adalberto Vieira (Crédito: Fábio Rogério)
Adalberto Vieira (Crédito: Fábio Rogério)

Faleceu na madrugada desta sexta-feira (21/5), aos 67 anos, Adalberto Vieira. Pardal, como era mais conhecido entre os amigos do setor automotivo, lutava contra um câncer na bexiga.

Ele descobriu a doença, com metástase em outros órgãos, há aproximadamente dois meses. Segundo a filha Laura Vieira, ele chegou a ser internado, fez tratamento de radioterapia e iniciaria nos próximos dias o processo de imunoterapia, mas acabou não resistindo.

Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, Adalberto iniciou a carreira como estagiário do jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, em 1977. Deixou a redação em duas ocasiões para assumir a assessoria de imprensa da prefeitura local e por um breve período trabalhou em radiojornalismo e em uma produtora de vídeos. Retornou ao Cruzeiro em 1997 e, desde então, editava o Caderno Motor, suplemento de veículos do jornal. 

Jornalistas baianos são incluídos em grupo prioritário de vacinação

Profissionais de imprensa da Bahia foram incluídos, na terça-feira (18/5), nos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19
Profissionais de imprensa da Bahia foram incluídos, na terça-feira (18/5), nos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19

Profissionais de imprensa da Bahia foram incluídos, na terça-feira (18/5), nos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19. Serão vacinados, em primeiro momento, jornalistas com mais de 40 anos, radialistas, cinegrafistas, apresentadores, fotógrafos e blogueiros registrados, que estejam na linha de frente do trabalho durante a pandemia.  A decisão foi tomada durante a reunião da Comissão de Intergestores Bipartite (CIB), que reúne os secretários estadual e municipais de saúde.

A conquista foi resultado de uma forte campanha do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores em Rádio e TV (Sinterp) e a representação local da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).

Ficou estabelecido na reunião que 70% das doses recebidas serão destinadas à continuidade da vacinação de grupos prioritários definidos no Plano Nacional de Imunização. Os demais 30% serão usados para vacinar a população em geral, com idades de 18 a 59 anos, de forma escalonada.

Moacy Neves, presidente do Sinjorba, disse que este momento é para celebrar o reconhecimento da relevância da categoria para garantir que as pessoas recebam informação de qualidade: “A vitória é estarmos incluídos no rol das categorias prioritárias e vamos seguir na luta para que as outras faixas etárias também sejam imunizadas”.

Proposta aumenta base de cálculo do IR para empresas jornalísticas

Imposto de Renda

Tramita na Câmara Federal o Projeto de Lei 728/21, que aumenta de 8% para 32% da receita bruta mensal a base de cálculo do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) para a empresa jornalística que optar pelo recolhimento a partir do lucro presumido. 

A proposta, de autoria do deputado Helio Lopes (PSL-RJ) insere dispositivo na Lei 9.249/95. Atualmente, podem optar pela regra do lucro presumido as empresas com faturamento anual de até R$ 78 milhões no exercício anterior. “A mudança justifica-se tendo em vista a necessidade de adequar a legislação tributária em vigor à realidade desse segmento econômico”, defende o parlamentar. 

O PL tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Laurentino Gomes lança em junho o segundo volume da trilogia Escravidão

Laurentino Gomes lançará em 22 de junho o livro Escravidão Volume II − Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João ao Brasil (Globo Livros), segundo volume da trilogia Escravidão, que conta a história do período escravagista no Brasil.

Laurentino Gomes (Crédito: Divulgação)

Na obra, o autor concentra-se no século XVIII, período que representou o auge do tráfico negreiro no Atlântico, motivado pela descoberta das minas de ouro e diamantes no País e pela disseminação, em outras regiões da América, do cultivo de cana-de-açúcar, arroz, tabaco, algodão e outras lavouras que utilizavam de forma intensa a mão de obra cativa.

No texto de apresentação, Laurentino escreve que, “entre 1700 e 1800, cerca de dois milhões de homens e mulheres foram arrancados de suas raízes africanas, embarcados à força nos porões dos navios negreiros e transportados para o Brasil. Muitos seriam vendidos em leilões públicos antes de seguir para as senzalas onde, sob a ameaça do chicote, trabalhariam pelo resto de suas vidas. No final do século XVIII, a América Portuguesa tinha a maior concentração de pessoas de origem africana em todo o continente americano”.

Laurentino Gomes lança em junho o segundo volume da trilogia Escravidão

O livro é fruto de seis anos de pesquisas, que incluem viagens por 12 países e três continentes. O texto contém é ilustrado por imagens e gráficos. Sobre a importância do tema, Laurentino escreveu na sinopse que “nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a escravidão. Conhecê-lo ajuda a explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também o que seremos daqui para a frente”.

No ano passado, Laurentino venceu o Prêmio Jabuti de Literatura 2020, na categoria Biografia, Documentário e Reportagem, com o primeiro volume de Escravidão, que aborda os acontecimentos desde o primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares.

O livro já está em pré-venda.

Desinformação que vem “de cima” é um desafio para a comunicação

Um levantamento feito com mais de três mil jornalistas apontou que 32% dos entrevistados têm tido dificuldades em manter fontes confiáveis.
Um levantamento feito com mais de três mil jornalistas apontou que 32% dos entrevistados têm tido dificuldades em manter fontes confiáveis.

No último sábado (15/5), a professora e pesquisadora da Universidade de Liverpool Patrícia Rossini apresentou o estudo Informação e Desinformação sobre a Covid-19 no Brasil, que ela elaborou em parceria com Antonis Kalogeropoulos. Foi durante o seminário de abertura do Programa Avançado de Comunicação Pública, promovido por Aberje e ABCPública, intitulado O que aprendemos sobre comunicação enfrentando a Covid-19. Os participantes debateram em ambiente online os desafios dos profissionais de comunicação durante a pandemia.

O relatório de Patrícia Rossini foi produzido durante o pico da primeira onda de casos de coronavírus por meio de painel online com mais de dois mil brasileiros. O objetivo foi avaliar o pano de fundo de informação e desinformação, além do papel e desafios encontrados pela comunicação pública. 

Esse estudo trata o consumo de informação por WhatsApp no Brasil como um fenômeno. Mas o que significa consumir notícias pelo WhatsApp e qual o perigo dessa prática? É a indagação deixada por Patrícia aos profissionais de Comunicação. Não há resposta exata, apenas fatos a serem considerados, diz: “O WhatsApp é uma ferramenta popular, de fácil acesso e rápido compartilhamento de informações, verídicas ou não; e convivemos com uma doença em que todos os dias se descobre um pouco em um cenário de polarização política em níveis jamais vistos”.

Um dos maiores desafios da comunicação pública é a desinformação que vem “de cima”, aponta pesquisadora
Patrícia Rossini (Foto: J.D.Ross/Syracuse University)

O estudo aponta, entre os motivos da desinformação, o uso de sites partidários e/ou alternativos; a confiança e apoio à atuação do Governo Federal; e a participação em grupos de WhatsApp com pessoas desconhecidas como variáveis que explicam essa crença persistente na desinformação.

Para a pesquisadora, o uso intensivo de mídias sociais amplifica o problema de disseminação de notícias falsas já antes instalado no País, o que torna ainda mais difícil para autoridades de saúde, de governo e de Estado repassarem aos cidadãos informações de credibilidade. “É a descrença generalizada em instituições políticas e na mídia que abre espaço para os discursos polarizados. Você não sabe mais em quem acreditar, já que a notícia chega por vários meios,” explica. 

A pesquisa quantitativa, disponível no site da Universidade de Liverpool, não apresenta soluções para o grande problema de desinformação no Brasil durante a pandemia da Covid-19, mas provoca questionamentos aos profissionais, reforçados pela pesquisadora. “Um dos maiores desafios da comunicação pública é que a desinformação vem de cima, o que a torna muito mais danosa. O inimigo às vezes é o próprio Governo Federal. Então, como confiar em uma fonte que deveria ser oficial?”, indaga Patrícia Rossini.

O relatório de pesquisa

O estudo foi realizado durante o primeiro auge da pandemia no Brasil, em julho e agosto de 2020, em duas etapas (2.010 pessoas na primeira e 1.378 na segunda), utilizando painéis online pelo Ibope Inteligência. A pesquisa faz parte do projeto Está no WhatsApp, então deve ser verdade: Mídias Sociais e acesso a notícias como caminhos para explicar desinformação e comportamentos sobre Covid-19, financiado pela Universidade de Liverpool.

Covid-19 muda estratégia das assessorias de comunicação

Emily Gonçalves

Profissionais com décadas de experiência à frente da comunicação de instituições ligadas à saúde pública brasileira participaram, na sequência, de um painel sobre O que aprendemos com comunicação enfrentando a Covid-19. E, apesar de terem presenciado inúmeras crises internas ao longo dos anos, disseram que, além da duração e impacto, a pandemia exigiu bastante das equipes e dirigentes e impulsionou mudanças permanentes na atuação da comunicação. Uma das transformações foi aumentar a importância e responsabilidade da comunicação nas estruturas dos órgãos públicos.  

Elisa Andries

O debate contou com a participação de Isabel Raupp (Anvisa), Elisa Andries (Fiocruz), Emily Gonçalves (Secretaria de Estado da Saúde de SP), Ricardo Azeredo (Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre), com mediação de Jorge Duarte (ABCPública e curador do Programa Avançado de Comunicação Pública).

Alguns insights trazidos por eles no debate:

Isabel Raupp

“Aprendemos que a comunicação institucional é importantíssima, mas, sobretudo, a figura da coordenação de comunicação tem que ter uma cadeira na mesa de decisão.”Isabel Raupp

“Pensamos nos veículos de comunicação como aliados, visando o bem comum, com mapeamento dos públicos de interesse e buscando evitar a polarização política. Nosso trabalho não é para o governo, mas para o SUS, para o serviço público, para a população.”Emily Gonçalves

Ricardo Azeredo

“Focamos no contato direto com os jornalistas e mantivemos um canal intenso, permanente com a imprensa para fazer com que ela trabalhe ao nosso lado, e isso têm dado resultado.”Ricardo Azeredo.

“Pensando em comunicação de crise, no meio da pandemia, a Anvisa teve que começar a conversar com o público que era distante: a população. A palavra usada foi transparência. Abrimos as informações da Anvisa para a população, trabalhamos o uso e adaptação de linguagem simples e aprendemos uma lição: temos que pensar que nós somos veículos de comunicação, somos produção de conteúdo. Nós somos os próprios veículos de comunicação. Nós somos mídia.”Elisa Andries

Histórias do Jornalismo Esportivo: Num gravadorzinho, o flagra de Ricardo Teixeira

Por Sílvio Lancellotti (*)

Copa de 90. Na Folha de S. Paulo já fazia quase uma década, a comentar o “Calcio” na Band já fazia mais de cinco anos, natural que o jornal me incumbisse de cobrir a competição na Itália. Em 1986, na Copa do México, eu havia me limitado a participar da brigada de retaguarda, cá em São Paulo. Ivan Siqueira, da revista de bordo da Varig, a Ícaro, com a qual eu também colaborava, me propiciou um upgrade à primeira classe do voo desde a Paulicéia até Roma. Pegaria o avião no Rio, no Galeão.

Claro que me trajei convenientemente, num blazer e com gravata. Porém, constrangido para não parecer pomposo, acomodei-me no bico do avião, onde existe uma poltrona de cada lado, um barzinho no meio. Embora entretido na leitura de La Gazzetta dello Sport, que havia comprado no aeroporto, imediatamente reconheci o cidadão abrupto que esbarrou no meu braço e nem esboçou um pedidinho de desculpas: Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Com ele estava Kleber Leite, um repórter de campo que depois se transformou em vendedor de placas de publicidade em estádios e ainda, em 1995, no presidente do Flamengo.

Ambos se sentaram na fileira precisamente atrás de mim. Teixeira navegou através de um punhado de boas doses de uísque, levantou a voz e, num rompante, passou a falar mal de meio mundo, principalmente de um tal Sebastião Lazaroni, exatamente o treinador que ele havia escolhido para comandar – sim – a seleção do Brasil. Eu dispunha de um gravadorzinho de bolso, no tamanho e no formato de um maço de cigarros. Armei o apetrecho e o coloquei numa posição em que captasse a diatribe enfurecida. Por uns quinze, vinte minutos, Teixeira espalhou palavrões. Nos seus momentos menos cruéis, acusou Lazaroni de frouxo, imbecil, incompetente, um coitado, inclusive manifestou-se arrependido por tê-lo contratado.

Assim que desembarquei em Roma, corri a uma agência da Italcable, datilografei um texto e transmiti à Folha por fax. Saiu com destaque de primeira página, já na edição da manhã seguinte, dias antes de a Copa começar. Ricardo Teixeira tentou desmentir e até me processar. Desistiu quando exibi, a um grupo de colegas, e a um amigo magistrado, a fita e o conteúdo gravado com a sua parlapatice. Detalhe: eu nem fora à Bota para cobrir o Brasil. Minhas prioridades eram a Azzurra, concentrada em Marino, numa das periferias de Roma; e a Argentina, em Trigoria, no lado oposto.


Silvio Lancellotti

(*) Arquiteto por diploma e jornalista por paixão, Silvio Lancellotti participou das equipes inaugurais de Veja e de IstoÉ, dirigiu a revista Vogue, foi cronista de Esportes e Gastronomia da Folha de S.Paulo e do Estadão. Na TV, apresentou programas de culinária, comentou futebol, oito edições da Copa do Mundo e seis dos Jogos Olímpicos. Escreveu cinco livros sobre esportes, 13 de culinária e quatro romances. Integra o elenco de colunistas do portal R7 desde 2012.

A série Histórias do Jornalismo Esportivo traz causos vividos por profissionais da imprensa esportiva ao longo de suas trajetórias, como parte da campanha de divulgação do novo Prêmio +Admirados da Imprensa Esportiva.

Após matéria sobre PM, repórter do Correio sofre ameaças

Ataques graves a jornalistas dobraram em 2022, diz monitoramento da Abraji
A comunicadora Lana Holanda entrou para o Programa de Proteção Legal para Jornalistas, da Associação de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Bruno Wendel, repórter do jornal baiano Correio, recebeu esta semana mensagens no celular com ameaças e xingamentos após a veiculação de reportagem em 18/5 sobre ações de grupos de extermínio e extorsão no município de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador.

A reportagem tratava do soldado da policial militar Joedson dos Santos Andrade, que havia sido preso na Operação Assepsia I. Morto a tiros no domingo (16/5), em suposto confronto com suspeitos, o soldado respondia em liberdade na condição de investigado.

Ao todo, quatro pessoas teriam mandado mensagens para o celular do repórter. Segundo texto do Correio, um dos remetentes chamou o jornalista de vagabundo. Outro sugeriu que veículo e jornalista não reconhecem o trabalho das forças de segurança pública. E uma terceira pessoa disse que o jornalista tem de se retratar.

As ameaças foram acompanhadas de uma nota de repúdio escrita em nome da tropa da 59ª Companhia Independente de Polícia Militar/Vila de Abrantes, afirmando repudiar e rejeitar a matéria pois “as afirmações imputadas ao policial são totalmente inverídicas, mentirosas e descabida (sic) de credibilidade”.

A nota diz que Joedson dos Santos não era réu e, sim, investigado pela Secretaria de Segurança Pública/BA pela morte de dois homens “em combate armado”. “Em momento algum o processo que tramita em segredo de justiça afirma que os policiais envolvidos são réus, culpados ou inocentes, e sim estão denominados como investigados”, prossegue a nota.

Em 15 anos dedicados à cobertura de segurança pública, Bruno Wendel afirma que nunca havia sofrido ameaças semelhantes. “Todo meu trabalho investigativo envolve estar nas delegacias, nas companhias. A polícia entende meu trabalho. Fiz outras matérias de denúncias de crimes cometidos por policiais e nunca fui ameaçado”.

E mais:

Especial J&Cia reunirá estudantes de jornalismo numa cobertura que terá ainda história e ficção

Ela fará uma homenagem ao jornalista negro e gay que no século XX desafiou costumes, João do Rio, no ano e mês do centenário de sua morte.
Ela fará uma homenagem ao jornalista negro e gay que no século XX desafiou costumes, João do Rio, no ano e mês do centenário de sua morte.

A edição homenageará o jornalista negro e gay João do Rio, do início do século XX, que desafiou costumes, introduziu a reportagem na imprensa brasileira e levou 100 mil pessoas ao seu enterro

A edição especial que Jornalistas&Cia está preparando para celebrar o Dia da Imprensa (1º de junho) e que circulará no dia 2 de junho será ainda mais especial neste ano de 2021. Ela fará uma homenagem a um dos jornalistas mais importantes da história da imprensa brasileira, João do Rio, no ano e mês do centenário de sua morte, com uma participação tripla. 

Um grupo de estudantes do curso de Jornalismo da Universidade São Judas, sob a coordenação do professor e escritor Moacir Assunção, vasculhará o universo de João do Rio e da época em que viveu, contabilizando ainda a imensa contribuição que aportou ao jornalismo, introduzindo a reportagem e a presença do povo e das minorias nas páginas dos jornais e revistas em que atuou.

José Maria dos Santos, jornalista e historiador, que é também membro da Academia Paulista de História, vai nos presentear com um artigo sobre toda a trajetória de João do Rio, desde o nascimento até sua morte, em junho de 1921, passando pelos veículos em que atuou e embates dos quais participou ao longo da vida, com curiosidades e outras preciosidades de seu tempo.

Por fim, Assis Ângelo, principal incentivador dessa homenagem, usando seu talento ficcional, vai nos brindar no especial com um furo de reportagem, percorrendo de um modo diferente e lúdico os principais acontecimentos da vida de João do Rio e seu legado para o jornalismo brasileiro.

E mais:

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