No último sábado (15/5), a professora e pesquisadora da Universidade de Liverpool Patrícia Rossini apresentou o estudo Informação e Desinformação sobre a Covid-19 no Brasil, que ela elaborou em parceria com Antonis Kalogeropoulos. Foi durante o seminário de abertura do Programa Avançado de Comunicação Pública, promovido por Aberje e ABCPública, intitulado O que aprendemos sobre comunicação enfrentando a Covid-19. Os participantes debateram em ambiente online os desafios dos profissionais de comunicação durante a pandemia.

O relatório de Patrícia Rossini foi produzido durante o pico da primeira onda de casos de coronavírus por meio de painel online com mais de dois mil brasileiros. O objetivo foi avaliar o pano de fundo de informação e desinformação, além do papel e desafios encontrados pela comunicação pública. 

Esse estudo trata o consumo de informação por WhatsApp no Brasil como um fenômeno. Mas o que significa consumir notícias pelo WhatsApp e qual o perigo dessa prática? É a indagação deixada por Patrícia aos profissionais de Comunicação. Não há resposta exata, apenas fatos a serem considerados, diz: “O WhatsApp é uma ferramenta popular, de fácil acesso e rápido compartilhamento de informações, verídicas ou não; e convivemos com uma doença em que todos os dias se descobre um pouco em um cenário de polarização política em níveis jamais vistos”.

Um dos maiores desafios da comunicação pública é a desinformação que vem “de cima”, aponta pesquisadora
Patrícia Rossini (Foto: J.D.Ross/Syracuse University)

O estudo aponta, entre os motivos da desinformação, o uso de sites partidários e/ou alternativos; a confiança e apoio à atuação do Governo Federal; e a participação em grupos de WhatsApp com pessoas desconhecidas como variáveis que explicam essa crença persistente na desinformação.

Para a pesquisadora, o uso intensivo de mídias sociais amplifica o problema de disseminação de notícias falsas já antes instalado no País, o que torna ainda mais difícil para autoridades de saúde, de governo e de Estado repassarem aos cidadãos informações de credibilidade. “É a descrença generalizada em instituições políticas e na mídia que abre espaço para os discursos polarizados. Você não sabe mais em quem acreditar, já que a notícia chega por vários meios,” explica. 

A pesquisa quantitativa, disponível no site da Universidade de Liverpool, não apresenta soluções para o grande problema de desinformação no Brasil durante a pandemia da Covid-19, mas provoca questionamentos aos profissionais, reforçados pela pesquisadora. “Um dos maiores desafios da comunicação pública é que a desinformação vem de cima, o que a torna muito mais danosa. O inimigo às vezes é o próprio Governo Federal. Então, como confiar em uma fonte que deveria ser oficial?”, indaga Patrícia Rossini.

O relatório de pesquisa

O estudo foi realizado durante o primeiro auge da pandemia no Brasil, em julho e agosto de 2020, em duas etapas (2.010 pessoas na primeira e 1.378 na segunda), utilizando painéis online pelo Ibope Inteligência. A pesquisa faz parte do projeto Está no WhatsApp, então deve ser verdade: Mídias Sociais e acesso a notícias como caminhos para explicar desinformação e comportamentos sobre Covid-19, financiado pela Universidade de Liverpool.

Covid-19 muda estratégia das assessorias de comunicação

Emily Gonçalves

Profissionais com décadas de experiência à frente da comunicação de instituições ligadas à saúde pública brasileira participaram, na sequência, de um painel sobre O que aprendemos com comunicação enfrentando a Covid-19. E, apesar de terem presenciado inúmeras crises internas ao longo dos anos, disseram que, além da duração e impacto, a pandemia exigiu bastante das equipes e dirigentes e impulsionou mudanças permanentes na atuação da comunicação. Uma das transformações foi aumentar a importância e responsabilidade da comunicação nas estruturas dos órgãos públicos.  

Elisa Andries

O debate contou com a participação de Isabel Raupp (Anvisa), Elisa Andries (Fiocruz), Emily Gonçalves (Secretaria de Estado da Saúde de SP), Ricardo Azeredo (Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre), com mediação de Jorge Duarte (ABCPública e curador do Programa Avançado de Comunicação Pública).

Alguns insights trazidos por eles no debate:

Isabel Raupp

“Aprendemos que a comunicação institucional é importantíssima, mas, sobretudo, a figura da coordenação de comunicação tem que ter uma cadeira na mesa de decisão.”Isabel Raupp

“Pensamos nos veículos de comunicação como aliados, visando o bem comum, com mapeamento dos públicos de interesse e buscando evitar a polarização política. Nosso trabalho não é para o governo, mas para o SUS, para o serviço público, para a população.”Emily Gonçalves

Ricardo Azeredo

“Focamos no contato direto com os jornalistas e mantivemos um canal intenso, permanente com a imprensa para fazer com que ela trabalhe ao nosso lado, e isso têm dado resultado.”Ricardo Azeredo.

“Pensando em comunicação de crise, no meio da pandemia, a Anvisa teve que começar a conversar com o público que era distante: a população. A palavra usada foi transparência. Abrimos as informações da Anvisa para a população, trabalhamos o uso e adaptação de linguagem simples e aprendemos uma lição: temos que pensar que nós somos veículos de comunicação, somos produção de conteúdo. Nós somos os próprios veículos de comunicação. Nós somos mídia.”Elisa Andries

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