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iJnet: O avanço do jornalismo de dados nas universidades brasileiras

Texto publicado originalmente em 10/7/2022 pela iJnet

Por Taís Seibt

Até pouco tempo o jornalismo de dados era apenas uma vertente do jornalismo digital ou investigativo, mas vem ganhando cada vez mais espaço como disciplina específica nas faculdades de Jornalismo do Brasil. A oferta vem ao encontro das demandas do mercado de trabalho, mas a implementação nas universidades ainda é um desafio diante da necessidade de especialização dos professores nessa área.

Em um recente artigo acadêmico, o pesquisador Marcelo Träsel, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), traçou um panorama do ensino de jornalismo de dados no Brasil em 2019, chegando a 32 instituições de ensino superior com esse tipo de oferta, sendo 15 públicas e 17 privadas. No total, foram identificadas 52 disciplinas nessas instituições, sendo 36 obrigatórias.

Na opinião de Träsel, um dos pioneiros na pesquisa sobre jornalismo de dados no Brasil, embora seja desejável, os cursos de Jornalismo não necessariamente precisam de uma disciplina dedicada exclusivamente a esse tema. “O trabalho com dados poderia ser transversal, acontecendo em qualquer aula que trabalhe com a prática jornalística, porque essas técnicas são úteis para todas as editorias e uma boa proporção do noticiário trabalha com números”, analisa. O principal empecilho para isso, na avaliação de Träsel, é a falta de professores capazes de ensinar jornalismo guiado por dados, já que poucos receberam algum treinamento ou têm experiência profissional nessa área.

Rodolfo Stancki é um desses poucos. Lecionando jornalismo de dados na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) há cerca de um ano, a base para o trabalho em sala de aula veio de uma formação em reportagem assistida por computador (RAC) no período em que ele trabalhava como repórter da Gazeta do Povo, por volta de 2011. “Sempre tentei implementar alguns elementos daquelas aulas na minha rotina como repórter e, depois, como professor de Redação”, conta. Mesmo assim, Stancki foi buscar mais formação quando passou a dar aula de Jornalismo de Dados: “Ainda estou fazendo alguns cursos, a formação é constante”.

Levar profissionais do mercado para a universidade, por meio de cursos de extensão, acaba sendo uma opção para suprir esse gap dos docentes sem deixar de oferecer treinamento aos estudantes. A jornalista Thays Lavor, editora-chefe do Data.doc do jornal O Povo, do Ceará, é uma dessas profissionais que se dedica a realizar oficinas de curta duração para jovens jornalistas. “Pela experiência, eu notava que os jornalistas recém-formados ou mesmo os com alguma experiência, possuíam lacunas que iam desde o desconhecimento de plataformas de transparência, ou seja, onde buscar os dados, até como trabalhar esse material para fazer análises e extrair reportagens”, conta. E assim, ela preparou cursos focados em plataformas públicas de dados e como extrair informações relevantes delas.

Começando pelo básico 

O conteúdo programático trabalhado por Lavor no nordeste brasileiro é similar ao descrito por Stancki no sul do país. “Geralmente começamos a disciplina com um projeto de reportagem de dados, navegando em portais de transparência e outros bancos de informações disponíveis pela rede”, diz o professor Stancki. Também a metodologia de fact-checking, fortemente associada ao trabalho com dados hoje em dia, é trabalhada em sala de aula.

A resistência aos cálculos e planilhas é, muitas vezes, uma barreira. “É comum os alunos dizerem ‘fiz jornalismo, pois não gosto de matemática’, e assim, inconscientemente, eles já ingressam com um obstáculo para aprender”, observa Lavor, que também é mestre em comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e cursa especialização em ciência de dados na Esalq/USP. “Quando o aluno vê a aplicabilidade da técnica, a importância daquele passo dentro do processo, aí se anima em estar ali e se permite aprender”.

Träsel observa que a maioria dos currículos de Jornalismo não prevê uma disciplina de estatística, que é central para coberturas de ciência e saúde, por exemplo. Ele também percebe que muitos estudantes não aprenderem sobre a estrutura do Estado antes de chegarem à universidade. “Saber qual órgão é responsável pelo quê é tão importante quanto saber matemática, porque para encontrar bases de dados ou fazer um pedido de acesso à informação precisamos ter pelo menos uma vaga ideia de em qual poder ou esfera administrativa o assunto tramita”, pontua.

Competência transversal 

Na visão da estudante Amanda Bernardo, que cursa o sétimo semestre de Jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e integra a primeira turma de Jornalismo de Dados e Checagem da instituição, a aula específica de jornalismo de dados tem apresentado recursos e conhecimentos que não estavam presentes em outras disciplinas do curso. “Ainda existem cortes muito marcados quando o assunto é jornalismo de dados na graduação. Em outras disciplinas, esse definitivamente não é um assunto, exceto por alguns professores que são mais ligados a essa área”, observa.

A avaliação da estudante coincide com o observado por Marcelo Träsel, que considera essa transversalidade uma conquista para longo prazo. “Daqui a uns 10 ou 20 anos, talvez, o trabalho com dados esteja integrado em todas as disciplinas. Neste momento, porém, ainda precisamos ensinar essas técnicas aos futuros jornalistas, que por sua vez desenvolverão essas habilidades em redações e, no futuro, podem vir a se tornar professores”, projeta.

Por essa falta de transversalidade, Amanda considera fundamental a universidade em que estuda promover atividades ligadas a esse tema, como o Open Data Day Porto Alegre e a Maratona de Dados Unisinos, que fazem parte da agenda acadêmica desde 2019, com a participação de palestrantes reconhecidos nacionalmente. “Esse suporte extraclasse torna muito mais dinâmico o aprendizado”, conclui a estudante.

“Os jornalistas precisam se apropriar destas técnicas para poder fortalecer suas investigações, jornalismo e tecnologia caminham lado a lado”, diz Lavor. Stancki arremata: “A competência de investigação e análise de dados parece ser um dos futuros do Jornalismo, o que vai diferenciar a produção jornalística da produção de conteúdo dos demais usuários”.

Um argumento em favor de disciplinas dedicadas ao jornalismo guiado por dados, na visão de Träsel, é que elas permitiriam ir além da análise de dados públicos com planilhas eletrônicas. “Com um semestre inteiro à disposição, o professor pode, talvez, ensinar algumas técnicas básicas de visualização de informação, ou ensinar os rudimentos de linguagens como R, SQL e Python”, sugere.

Nessa caminhada, também instituições externas à universidade ganham relevância. Muitas delas são citadas pelos próprios professores como agentes de sua formação para dar aulas. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) tradicionalmente oferece oficinas em seus congressos anuais e desde 2019 realiza o Domingo de Dados. A Escola de Dados tem uma ampla oferta de cursos não só para iniciantes, mas também para quem busca conhecimentos mais avançados em programação. A Fiquem Sabendo é referência quando o assunto é Lei de Acesso à Informação, sendo a plataforma WikiLAI a bibliografia básica em diversos treinamentos. Há ainda os cursos massivos do Knight Center for Journalism e muitos outros. Para quem busca pós-graduação aplicada, o master do Insper e o MBA do IDP são opções de especialização em jornalismo de dados no Brasil.

Organizações realizam ato em memória de Bruno Pereira e Dom Phillips em 16/7

Organizações realizam ato em memória de Bruno Pereira e Dom Phillips em 16/7

A Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de SP, a Comissão Arns, o Instituto Vladimir Herzog e a OAB-SP realizam no próximo sábado (16/7) um ato em memória do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, na Catedral da Sé, centro de São Paulo, das 10h às 11h30.

Além de homenagear os dois profissionais assassinados na Amazônia, o ato Bruno e Dom presentes: em defesa dos povos indígenas do Brasil visa a defender a importância da vida, da terra e da cultura dos povos indígenas e tradicionais, bem como a proteção do meio ambiente e o combate a violações de direitos humanos.

Beatriz Matos, viúva de Bruno, e Alessandra Sampaio, viúva de Dom, estarão presentes. O ato terá também com participações culturais, como o cantor Chico César, o coral indígena Opy Mirim, a cantora Marlui Miranda e cantora lírica Tati Helene.

As entidades organizadoras do ato assinaram manifesto no qual destacam a crescente violência contra os povos indígenas e tradicionais, bem como o desmonte de políticas públicas de preservação do meio ambiente. As organizações cobram também justiça pelas vítimas.

“Honrar a memória desses defensores de direitos humanos exige dar continuidade à sua bem-aventurada missão”, diz o manifesto. “Assim, devemos relatar e denunciar a violência que se impõem sobre esses povos, exigir que sejam tomadas as providências devidas para a sua proteção, e transformar todas as crenças e estruturas que dão espaço para a violência”.

Inscrições para Prêmio Nacional de Jornalismo em Seguros vão até sexta (15/7)

6º Prêmio Nacional de Jornalismo em Seguros anuncia vencedores

Termina nessa sexta-feira (15/7) o período de inscrições para o VI Prêmio Nacional de Jornalismo em Seguros, realizado pela Escola de Negócios e Seguros (ENS). A premiação, que valoriza trabalhos jornalísticos sobre temas relacionados ao setor de Seguros, tem apoio institucional da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) e da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Os trabalhos inscritos concorrerão em cinco categorias: Mídia Impressa, Audiovisual, Webjornalismo e Imprensa Especializada do Mercado de Seguros, além da nova categoria Inovação, que premia reportagens com foco em ideias originais e criativas de empresas que agregaram novas tecnologias ou ferramentas para gerar melhorias para a área de seguros.

Cada categoria terá cinco finalistas, escolhidos por uma Comissão de Seleção. Os três melhores trabalhos serão premiados da seguinte maneira: R$ 15 mil para o primeiro colocado, R$ 6 mil para o segundo e R$ 3 mil para o terceiro. Podem ser inscritos trabalhos veiculados em mídia impressa, rádio, TV, websites e na imprensa especializada.

A cerimônia de premiação está programada para setembro, provavelmente em formato online. Inscrições e regulamento completo no site do prêmio.

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GIJN lança guia para cobertura de diferentes tipos de eleições

GIJN lança guia para cobertura de diferentes tipos de eleições
Crédito: Marcelle Louw para a GIJN

A Rede Global de Jornalismo Investigativo (GIJN, em inglês) lançou o Guia de Eleições para Repórteres Investigativos, que oferece ferramentas, técnicas e recursos para ajudar repórteres na cobertura de quase todas as eleições.

O guia mostra, por exemplo, ferramentas que possibilitam identificar e conectar pessoas por trás de sites que promovem campanhas de ódio e medo; recursos de código aberto para capturar postagens violentas em redes sociais; pesquisa de anúncios políticos no Facebook; rastrear conversas de áudio da polícia; exploração de canais de mídia extremistas e antidemocráticos; rastreamento de financiamento ilícito de campanhas; filtrar automaticamente grandes quantidades de dados, entre outros.

Já estão disponíveis a Introdução e os capítulos de 1 a 3. Ao todo, são quatro capítulos que abordam temas como desinformação eleitoral, preparação de jornalistas para a cobertura das eleições, investigação de candidatos e de mensagens políticas, e fake news nas redes sociais.

“A mídia independente e os jornalistas investigativos precisam cavar além da superfície de eleições cada vez mais precárias, ao mesmo tempo em que protegem suas informações, a si mesmos e a própria liberdade de expressão de ataques multifacetados e com interesses antidemocráticos”, diz a Introdução do guia. A GIJN lembra também que, em 2022, além das eleições do Brasil, acontecem também outras eleições nacionais importantes em Hungria, França, Sérvia, Colômbia, Filipinas, Índia, Quênia e Estados Unidos.

Vale lembrar que a GIJN realiza em 19/7, às 10h, um webinar sobre as eleições do Brasil em 2022, com dicas de investigação para que jornalistas abordem diferentes aspectos do tema.

Acesse o guia aqui.

Últimos dias de inscrições para o GNI Startups Lab

Google divulga selecionados para programa Startups Lab Brasil

Termina no próximo domingo (17/7) o período de inscrições para segunda edição do Startups Lab da Google News Initiative (GNI), programa que visa a apoiar empresas jornalísticas em estágio inicial de desenvolvimento. O projeto é feito em parceria com a Echos Laboratório de Futuros Desejáveis e com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor).

Ao longo de 16 semanas, o programa contribuirá com a aceleração do ecossistema de notícias em ambiente digital dos participantes, atendendo às necessidades específicas de cada um para o desenvolvimento de novos projetos inovadores.

As startups selecionadas receberão financiamento de até US$ 20.000, além de mentoria, treinamentos e workshops sobre temas como estratégia, produto, modelos de negócio, vendas, marketing, construção de comunidade e levantamento de fundos. Os participantes terão também ajuda de especialistas do Google para criar estratégias digitais de sucesso.

No final do programa, os veículos poderão apresentar seus pitchs para potenciais investidores em um Demo Day. Os selecionados serão anunciados em 1º de agosto. O programa vai de 15 de agosto até 2 de dezembro de 2022.

Mais informações e inscrições aqui.

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Mudanças no Grupo RIC em Cascavel e Londrina

Mudanças no Grupo RIC em Cascavel e Londrina

O Grupo RIC anunciou na semana passada mudanças em suas equipes envolvendo as operações de Londrina e Cascavel, que fazem parte de um processo de reestruturação.

Entre as novidades estão a contratação de Valdinei Rodrigues, que assumirá a partir de agosto o Balanço Geral Oeste. Gustavo Parra, atual apresentador do BG Oeste, estará no comando do Balanço Geral Londrina. Ele liderará um processo de mudanças no programa, que devem estrear em 8 de agosto.

Em decorrência às férias de Parra, o BG Oeste será apresentado por Vagner Krazt, atual âncora do Cidade Alerta Oeste. E em Londrina, até a estreia de Parra no BG Londrina, Vinícius Buganza acumulará a apresentação do programa e do Cidade Alerta Londrina, programa do qual é âncora.

Giuliano Marcos, que esteve nos últimos anos à frente do BG Londrina, deixa a apresentação do programa.

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10 dicas para a cobertura sobre a população LGBTQI+

No mundo todo, minorias sexuais e de gênero (LGBTQI+) enfrentam níveis alarmantes de discriminação, preconceito e violência.
No mundo todo, minorias sexuais e de gênero (LGBTQI+) enfrentam níveis alarmantes de discriminação, preconceito e violência.
Texto publicado originalmente em 07/7/2022 pela iJnet

Por Brian Pellot 

Um conteúdo:

No mundo todo, minorias sexuais e de gênero (LGBTQI+) enfrentam níveis alarmantes de discriminação, preconceito e violência. Para piorar, as notícias sobre essa população são frequentemente permeadas de mitos perigosos ou considerados tabu demais para os veículos cobrirem.

Como jornalistas, temos o poder e a responsabilidade de substituir estereótipos desumanos por retratos nuançados da diversidade sexual e de gênero. Agir dessa forma requer que coloquemos nossos vieses de lado e abracemos os princípios centrais da nossa profissão de justiça, precisão e sensibilidade.

As dicas abaixo destacam 10 formas de melhorar a cobertura sobre a população LGBTQI+.

1. Aprenda com a comunidade

Antes de informar sobre diversidade sexual e de gênero, estude sobre os problemas específicos que pessoas LGBTQI+ enfrentam. O melhor jeito de fazer isso é apresentar-se a representantes da comunidade local. Embora alguns representantes possam hesitar em te encontrar devido a preocupações com segurança ou por cauda de cobertura ruim da mídia que viram antes, é importante fazer esse convite.

Um material que pode ajudar é o capítulo 13 do guia de reportagem da Taboom Media (em inglês e francês). Ele lista detalhes de contatos de organizações de defesa LGBTQI+ na África e internacionalmente que podem te ajudar a começar esse diálogo e construir novas relações.

 2. Eduque a sua audiência

Nossas reportagens podem educar, informar ou entreter. Alguns veículos exploram minorias sexuais e de gênero para entreter a audiência ou cedem aos seus medos para aumentar o número de leitores. Essas abordagens são perigosas e antiéticas.

Em vez disso, devemos nos esforçar para produzir uma cobertura com sensibilidade que eduque e informe. Isso requer que usemos linguagem precisa e acessível, e que expliquemos claramente quaisquer termos que possam não ser familiares. O capítulo 4 do guia de reportagem da Taboom trata de termos-chave que você deve saber e evitar. Também é importante se familiarizar com termos locais e descobrir se a população LGBTQI+ da sua região os consideram afirmativos ou depreciativos.

3. Desafie os mitos

Parte do nosso trabalho educativo como jornalistas é desafiar mitos, estereótipos e concepções equivocadas. Se uma fonte sua repete uma ideia que você sabe que é falsa, você pode removê-la completamente de sua matéria ou incluí-la junto com informação precisa que mostre de forma nítida a ignorância ou viés da fonte. De todo modo, evite incluir discursos de ódio perigosos nas suas matérias.

Alguns dos piores disseminadores de mitos e discurso de ódio são especialistas como médicos, advogados, líderes religiosos, psicólogos e acadêmicos que não sabem sobre o que estão falando quando se trata de questões LGBTQI+ ou que deliberadamente alimentam a desinformação para suprir suas próprias crenças pessoais. A audiência frequentemente confia nessas fontes com base apenas em sua profissão ou posição na sociedade, por isso é importante fazer uma checagem de fatos daquilo que elas falam.

4. Inclua fontes moderadas e diversas

Nunca há só dois lados de uma história. Em vez de tentar retratar as questões LGBTQI+ como preto ou branco, explore as áreas cinzas. Converse com fontes moderadas e diversas que podem acrescentar nuances às questões complexas e frequentemente carregadas de emoção que você está cobrindo, e que possam lançar luz sobre realidades e experiências mais amplas. Se você só cita fontes que têm visões polarizadas opostas sobre algo, você está deixando escapar a grande maioria de pessoas cujas crenças provavelmente estão em algum ponto entre os extremos.

5. Deixe que as fontes falem por elas mesmas

Um lema comum entre ativistas pelos direitos LGBTQI+ e outros grupos marginalizados é “Nada sobre nós, sem nós”.

Quando estiver cobrindo diversidade sexual e de gênero, inclua as perspectivas de minorias sexuais e de gênero. Pessoas LGBTQI+ sabem muito mais sobre os problemas que afetam suas vidas no dia a dia do que qualquer especialista ou estudo externo poderia explicar. Citar as pessoas diretamente também adiciona um elemento humano que vai fazer suas matérias repercutirem com a audiência.

6. Use a terminologia preferida pelas fontes 

Em vez de rotular as fontes como queer, gay ou trans, permita que elas se autoidentifiquem e use a terminologia preferida por elas sempre que possível. Se uma palavra como “queer” não é familiar para a sua audiência, mostre a definição e dê contexto para ajudar o público entender o que ela significa.

Leve em consideração também os pronomes das fontes. Se uma mulher trans usa os pronomes “ela/dela” ou se uma fonte com inconformidade de gênero usa “elu/delu”, siga a vontade dessas fontes. É uma questão básica de respeito e dignidade. Você pode abordar o tema dos pronomes de gênero falando sobre os seus assim que a entrevista começar. Se a sua fonte não disser os dela imediatamente, você pode perguntar na apuração antes da entrevista.

7. Proteja as suas fontes e você também

A melhor forma de proteger todo mundo é ir devagar. Quando temos pressa para publicar matérias sobre assuntos sensíveis ou grupos vulneráveis, temos mais chances de cometer erros perigosos. Comece melhorando os seus hábitos de segurança antes de entrar em contato com as suas fontes usando canais de comunicação com criptografia, redes virtuais privadas (VPNs) e tome outras medidas de segurança.

Quando começar o processo de entrevista, certifique-se de obter o consentimento “consciente” das fontes. Isso significa explicar quando e onde sua matéria vai ser publicada, destacando quaisquer perigos realistas que possam ocorrer e dando a elas o tempo adequado para refletir de forma privada antes de concordar em deixar você publicar detalhes que possam identificá-las. Seu objetivo não é assustar as fontes, mas sim protegê-las e reportar com ética. Às vezes, a coisa mais segura a ser feita é anonimizar fontes que estejam sob risco usando pseudônimos ou removendo detalhes que possam identificá-las.

8. Ilustre a matéria com imagens relevantes

As imagens que você escolher devem ser relevantes para a sua matéria e evitar retratar as pessoas de forma estereotipada ou desumanizada. Por exemplo, se você está fazendo uma matéria sobre a população trans de Gana, não ilustre a matéria com uma foto de mulheres brancas se casando no Canadá. Uma foto dessas não só seria irrelevante como pode reforçar o mito de que diversidade sexual e de gênero é de certa forma um fenômeno ocidental.

É importante também não hipersexualizar as pessoas LGBTQI+. Se a sua matéria é sobre discriminação nos serviços de saúde, não use fotos de homens sem camisa na cama. Bandeiras genéricas com o arco-íris e símbolos de gênero podem sinalizar para a sua audiência que a matéria é sobre questões LGBTQI+, mas essas imagens já são batidas. Pergunte-se: “sobre o que de fato é minha matéria?”. Se é sobre saúde, use imagens médicas. Se é sobre um caso de discriminação, use imagens relacionadas à justiça e tribunais.

9. Conte histórias de sucesso

Muito frequentemente a cobertura sobre a população LGBTQI+ foca em dor, sofrimento e abuso. Essas podem ser realidades tristes e inevitáveis, mas as pessoas queer são muito mais do que seus próprios traumas. Elas vivem alegrias, amor e momentos de sucesso como qualquer outra pessoa. Vá além da vitimização e enfatize a capacidade de ação e poder de suas fontes. Para bons exemplos de narrativas desse tipo, veja a antologia “Hopes and Dreams That Sound Like Yours” (“Esperanças e sonhos que se parecem com os seus”), que registra histórias do ativismo queer na África.

10. Seja honesto com você 

Nós temos nossas próprias crenças e vieses. Se você entender que ainda não pode cobrir questões LGBTQI+ com honestidade, justiça, precisão e sensibilidade, encontre um colega que possa fazer isso. Minorias sexuais e de gênero existem em todas as partes, e essas histórias precisam ser contadas.


O #diversifica é um hub de conteúdo multiplataforma sobre Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) do Portal dos Jornalistas e da newsletter Jornalistas&Cia. Ele conta com os apoios institucionais da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), International Center for Journalists (ICFJ), Meta Journalism Project, Imagem Corporativa e Rádio Guarda–Chuva.

Mais de 90 organizações cobram plataformas digitais pela integridade das eleições

Ajor: Como o jornalismo inova para combater a desinformação eleitoral

Mais de 90 organizações assinaram nesta semana manifesto para reivindicar que redes sociais e aplicativos de mensagens deem a devida importância à moderação e checagem de conteúdos, para garantir eleições seguras em 2022. O documento O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral em 2022 foi assinado por 92 entidades.

O manifesto, que fornece recomendações para as plataformas digitais sobre como garantir a integridade das eleições, é dividido em cinco grandes tópicos: diretrizes gerais sobre integridade eleitoral; regras transparentes e isonômicas a outros países para bibliotecas de anúncios; políticas para combater a violência política contra mulheres, pessoas negras, indígenas, populações tradicionais e LGBTQIA+; políticas para combater a desinformação que afeta a Amazônia, a agenda climática, o meio ambiente e os povos tradicionais; e regras para garantias dos direitos dos usuários e mitigação de danos decorrente dos erros de ação das plataformas.

O documento destaca que, no Brasil, a desinformação sobre a pandemia de Covid-19 contribuiu para agravar a situação da doença no País. Segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, entre abril de 2020 e fevereiro de 2022 ao menos 314 profissionais de imprensa morreram em decorrência da Covid-19.

“Espera-se que as plataformas envidem seus melhores esforços para proteger, ao mesmo tempo, as dimensões individuais e coletivas da liberdade de expressão, bem como o necessário equilíbrio entre este e os demais direitos constitucionais”, diz o documento.

Leia o manifesto na íntegra.

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