Por Luciana Gurgel 

Luciana Gurgel

Diversos estudos tomam como referência as perspectivas e experiências de profissionais veteranos para projetar o que vai acontecer com o jornalismo. Mas o que pensam os que são realmente o futuro da profissão?

Isso foi o que a agência de comunicação americana Greentarget tentou descobrir em mais uma rodada de uma pesquisa que vem realizando há três anos, intitulada NextGen.

Embora envolva apenas estudantes de jornalismo e profissionais recém-formados nos EUA, o relatório apresenta conclusões que podem não ser tão diferentes em outros mercados.

Afinal, desafios como redações enxutas, desinformação e incertezas em torno da adoção da inteligência artificial na produção de notícias são universais.

Mas apesar de todas essas ameaças, os novos profissionais americanos estão otimistas e se revelaram idealistas.

Questionados sobre o que a próxima década reserva para o futuro do jornalismo, nem um único entrevistado foi “muito negativo” nas suas expectativas, enquanto quase três quartos (72%) se mostraram positivos ou muito positivos.

A pesquisa indicou que o desejo de mudar o mundo por meio do jornalismo, que inspirou as gerações passadas, continua vivo.

A maioria dos entrevistados encara a carreira com senso de propósito. Disseram-se movidos por ideais como verdade, justiça e igualdade.

Salário não está entre as motivações

Entre as cinco razões citadas para exercer a profissão (cada participante podia escolher várias) apenas uma não está relacionada ao que o relatório descreve como “serviço à sociedade”: “aprender coisas novas”, que aparece em terceiro lugar.

Em primeiro lugar veio “fornecer informações para que o público tome decisões informadas (62%)”, e em segundo “expor a injustiça (58%)”. O quarto motivo é “combater a desinformação e as fake news“, que inspira 45% dos novos jornalistas. “Ensinar os outros” aparece em quinto, citado por 41%.

Nenhuma das 13 motivações principais da lista refere à expectativa de ganhar dinheiro − talvez um sinal de que os problemas de remuneração no jornalismo já estejam literalmente “precificados”.

E não é só no Brasil. Uma outra pesquisa nos EUA, feita pelo site ZipRecruter em 2022, revelou que jornalismo é o curso que reúne mais profissionais arrependidos devido à falta de perspectiva de emprego e baixos salários. Ao todo, 44% dos candidatos a emprego com diploma universitário se arrependem da escolha nos EUA. Em jornalismo são 87%, e em comunicação 64%.

Mas para os entrevistados da pesquisa NextGen, por enquanto o que vale é a esperança de fazer a diferença.

Embora quase a metade deles tenha dito acreditar que o volume de notícias falsas vai crescer em 2024, nove em cada dez estão dispostos a fazer o que puderem para combater a sua propagação.

O valor da DEI (Diversidade, Equidade, Inclusão)

Em uma geração fortemente influenciada por causas sociais, que vivenciou movimentos como o Black Lives Matter, o MeToo e o agravamento da crise climática, a DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) emergiu como uma prioridade.

Quase seis em cada dez novos jornalistas entrevistados pela Greentarget estão preocupados com o nível de representação racial, de gênero e econômica no jornalismo. E 85% destacaram a importância de ter fontes diversas em formação profissional.

A IA não representa uma ameaça para metade dos entrevistados. A maioria já utiliza a tecnologia em suas atividades, com 74% afirmando que ela terá um impacto significativo no jornalismo.

No entanto, os métodos tradicionais ainda não estão sendo abandonados. A pesquisa NextGen constatou que os recursos mais utilizados para a produção de conteúdo são reportagens de rua (94%) e apuração com fontes primárias e especialistas (92%). Esses métodos superaram as plataformas sociais como instrumento para ter ideias de pauta, apurar informações ou checar fatos.

Embora cheios de esperança, alguns desses profissionais podem se decepcionar se entrarem para o rol dos que mudam de área por dificuldade de pagar as contas ou até de encontrar um emprego em que se consiga colocar em prática todos os ideais.

Mas para Lisa Seidenberg, diretora da agência responsável pelo estudo, é animador ver que eles não estão apenas pensando nos desafios, mas na busca de soluções.

O relatório completo pode ser visto aqui.


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