Diante da necessidade de comunicar o que ações de impactos sociais produzem e de dar voz a empreendedores periféricos e marginalizados, Tássia Di Carvalho criou em 2016 a IS, primeira agência de comunicação do País voltada exclusivamente a atender a esse público. “É uma transferência monetária de nós, para nós, e por nós“,  afirma.

Tassia Di Carvalho – CEO da IS

Formada em Jornalismo e em Publicidade e Propaganda, hoje com dois MBA em andamento, a empresária comanda a agência que já atendeu clientes da Alemanha, EUA, Reino Unido, Nigéria e Noruega, com demandas de ações de impacto social. A equipe conta com Bruno Simões, em fotografia, filmagem, logística e também motorista; Beatriz Nóbrega, jornalista com MBA em Redes Sociais em andamento; e Mário Grave, também fotógrafo.

Em conversa com o Portal dos Jornalistas, Tássia explicou que a ideia de criar uma empresa que atende a iniciativas que mudam vidas veio principalmente de suas experiências pessoais: “A gente percebe que muita gente tem um preconceito muito grande com favelas e periferias, por isso que eles me procuram também. Eles sabem que sou uma mulher preta, periférica, então sabem que tenho um olhar e uma percepção diferenciados”.

Confira a entrevista com Tássia Di Carvalho na íntegra:

Portal dos Jornalistas: Como surgiu a ideia de criar uma agência para entender empresas que trabalham com ações sociais?

Tássia Di Carvalho: Sempre trabalhei com ações de impacto social. Eu mesma sou fruto de projetos sociais que mudaram totalmente a minha perspectiva de vida quando era criança.

Quando eu tinha mais ou menos cinco anos de idade, fui tirada da escola para poder cuidar dos meus irmãos mais novos pra minha mãe poder ir trabalhar e a gente poder ter o que comer. Minha mãe não tinha com quem nos deixar e aí mudamos de cidade. Quando nos mudamos, lá no bairro em que a gente morava, muito próximo à nossa casa tinha uma creche comunitária. Foi o primeiro projeto social com que tive contato. Isso me tirou de quase dois anos fora da escola, porque fui retirada aos cinco e só retornei aos oito.

O último trabalho que tive antes de empreender foi no jornal O Dia, onde cheguei a ser colunista. Fui repórter antes disso também, cobria o lado positivo de favelas e periferias. Então, escrevia sobre direitos humanos, pautas raciais, pautas de igualdade, muitos projetos sociais, muitas lideranças comunitárias, muito protagonismo local, eu cobria tudo isso. Infelizmente, o jornal fez uma demissão em massa e eu saí nessa leva.

Bateu aquele primeiro desespero: “O que eu vou fazer?”. Depois bateu o segundo desespero: “O que os projetos sociais que eu coloco nas páginas do jornal vão fazer? Ninguém vai saber deles”.

Portal dos Jornalistas: A partir daí, quais foram e quais são as principais dificuldades encontradas pelos clientes e que a agência busca solucionar?

Tássia Di Carvalho: A maior necessidade com que nos deparamos foi em relação a assessoria de imprensa, e ainda é até hoje. Geralmente, não buscamos os clientes, eles é que nos buscam porque acabamos nos tornando uma referência pelo Brasil e até em outros países.

A principal dificuldade dos clientes é que eles têm iniciativas incríveis e ninguém conhece, ninguém sabe o que está acontecendo naquele lugar. Às vezes, quem mora ali dentro também não sabe o que está acontecendo, e a gente vê uma dor nas pessoas por ninguém saber que aquilo ali existe e existe dentro daquele território.

No início achávamos que essa dor era só de projetos sociais. Mas não é, essa dor é de ações de impacto social, de todos os perfis, de todos os tamanhos.

Portal dos Jornalistas: Recentemente, a IS ampliou o leque de serviços, passando a oferecer mais opções aos clientes. De onde surgiu essa necessidade? Vocês viam que os clientes precisavam de apoio também em outras esferas da comunicação?

Tássia Di Carvalho: Dos próprios clientes mesmo! A gente acabou fazendo muita coisa por demanda, apesar de eu ter me formado em mídias sociais em 2014, quando abri a agência, em 2016, eu já tinha MBA nessa área, mas só fui começar a oferecer mesmo os serviços em 2017, porque os clientes estavam procurando.

Começamos a trabalhar com gerenciamento de mídias sociais porque era essa a demanda. Foram aparecendo também outros tipos de demandas, que não eram somente de mídias sociais.

A gente não se encara ainda como um site de produção de vídeo, mas trabalhamos muito com a parte de produção de conteúdo, estamos partindo pra essa parte de audiovisual também. Estamos percebendo um caminhar para chegar em um caminho em que vamos nos dividir entre produção de conteúdo tanto por vídeo quanto por podcast.

Estamos planejando fazer um podcast da Agência IS ainda para este ano, e isso vai se dar através do Periférico, que é um site sobre notícias, sobre empreendedorismo periférico, voltado para pessoas de periferia. A ideia é que futuramente o Periférico possa ser um hub de informações e também de cursos.

Portal dos Jornalistas: Como uma boa produção de conteúdo e um bom marketing impactam diretamente a forma de o mundo ver essa população?

Tássia Di Carvalho: Impactam em tudo, impactam muito. Porque percebemos que muita gente tem um preconceito muito grande com favelas e periferias. Por isso eles também me procuram. Sabem que sou uma mulher preta, periférica, então sabem que tenho um olhar e uma percepção diferenciados.

Depois que criei a primeira, outras agências vieram nesse caminho, e tá tudo bem. Pessoas de favelas começaram a criar agências porque é uma necessidade de visibilidade e de transferência monetária de nós, por nós, e pra nós, é uma necessidade de deixarem de ser invisibilizados e de terem seus territórios mostrados na televisão e na mídia só como um celeiro de bandidos.

Favelas e periferias não são isso, 99% das pessoas que estão lá não são bandidos. Quando você vê na mídia, eles só retratam o bandido. A gente consegue inserir a favela em todos os cantos possíveis e imagináveis.

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