Monitoramento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 100 jornalistas bloqueados por autoridades públicas no Twitter desde que passou contabilizar esses casos de forma contínua, em setembro de 2020. Ao todo, foram 196 perfis bloqueados pelo presidente da República, e por ministros, deputados, governadores e outras autoridades públicas.

Os motivos dos bloqueios são diversos. Alguns profissionais sequer atuavam na cobertura direta das autoridades que os bloquearam, outros contestaram tweets com informações falsas ou mencionaram o perfil da autoridade no compartilhamento de uma reportagem.

O presidente Jair Bolsonaro foi quem mais bloqueou jornalistas, com 54 casos, seguido pelos irmãos Abraham e Arthur Weintraub, que impediram o acesso de 25 e 16 jornalistas, respectivamente, quando ainda faziam parte do governo. A Abraji ouviu seis profissionais de imprensa que contam como foram bloqueados e as consequências desse bloqueio.

Rodrigo Carvalho, correspondente da Globo em Londres, contou que foi bloqueado pelo presidente em dezembro do ano passado após perguntar a ele, via Twitter, quando os brasileiros seriam vacinados. À época, o Brasil tinha aprovado o uso emergencial de mais uma vacina no Reino Unido: “Pergunta simples, básica. Àquela altura, mais de 40 países haviam saído na frente. As pessoas estavam morrendo. Fui bloqueado”.

O correspondente comparou a postura de Bolsonaro com a do primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson: “Estamos diante de uma figura sem qualquer compromisso com a democracia, alguém que não é capaz de conviver com as muitas cobranças que recebe. Aqui no Reino Unido, diversas críticas podem ser feitas ao primeiro-ministro conservador Boris Johnson, mas ao menos existe a disposição em lidar com elas e em prestar contas. Na pandemia, nos acostumamos com entrevistas coletivas quase diárias do chefe de governo – com jornalistas fazendo perguntas duras e fundamentais. Como não suporta essa ideia básica de democracia, Bolsonaro coleciona gestos de violência contra a liberdade de imprensa e afunda o Brasil num buraco que, sabemos, sempre pode ser mais fundo. É o governo do autoritarismo, do negacionismo e do desprezo pela vida”.

Tai Nalon, diretora executiva e cofundadora de Aos Fatos, disse que “bloquear um jornalista é muito mais desrespeitoso do que eficaz. Se eu sair do meu perfil e entrar em outro, ou se eu não fizer login, conseguirei ver os tweets do político em questão. Bloquear conta é um recurso oferecido a usuários comuns que sofrem assédio. Políticos estão nas redes para prestar contas, o que é muito diferente do papel de um usuário comum”.

Confira os outros depoimentos no site da Abraji.

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