Por Marco Antonio Zanfra

Tenho um pouco de vergonha de contar esta história, porque pode dar a impressão de que tudo aconteceu por causa do excesso de bebida. Mas não, juro, eu não estava bêbado. Foi uma espécie de “tragicomédia de erros”, detonada e alimentada por cabeças cheias de um sentimento de desconsolo.

Aconteceu na noite depois do enterro do grande fotógrafo Antônio Pirozelli. O ambiente era o bar, claro. E os ânimos eram aqueles normais às pessoas que perdem amigos e sofrem por isso. Tínhamos descido da redação da Folha e estávamos num grupo, tomando cerveja – para afogar as mágoas, claro, porque ali ninguém bebia! –, quando Vanda Martins (já falecida) chegou da rua e me perguntou, à queima-roupa: “Cadê sua bolsa?”. Sem olhar para trás, respondi: “Aí em cima do balcão”.

Só que não. E aí estava armada a confusão. Aparentemente, a bolsa tinha sido roubada (furtada seria o termo correto). O primeiro suspeito de ter sumido com ela era um − desculpem o preconceito – “marginalzinho” que frequentava o bar e, ao ser confrontado, me agrediu com um soco na testa e fugiu correndo pela avenida Duque de Caxias. Dois motoristas da Folha saíram atrás dele e o trouxeram de volta. Ele negava ter pegado a bolsa, mas ninguém acreditava. Cheguei a subir cheio de razão as escadas de um hotelzinho ao lado do bar, achando que a bolsa tinha sido escondida lá, mas a procura deu em nada.

 O fotógrafo Prêmio Esso Álvaro da Costa, o “Ceguinho”, também já falecido, que tinha um filho oficial da PM, assumiu o lado criminal da história: chamou uma viatura para levar o “indigitado ladrão” ao 3º Distrito Policial. Tudo estava, pois, encaminhado, os ânimos no bar voltando ao normal, quando minha amiga Cris Medeiros – que na época secretariava o chefe Adílson Laranjeira – chegou e quis saber o porquê do fuzuê todo.

 Expliquei-lhe que tudo tinha acontecido porque minha bolsa havia sido furtada de cima do balcão e…

 “Não pode ser. Sua bolsa está lá em cima. Você a deixou na cadeira…”

 Era verdade. Até hoje eu não entendo o motivo de tanta encrenca. Eu costumava deixar a bolsa na redação, não a levava para o bar. Então, por que disse que estava no balcão? Repetindo que não estava bêbado, por quê?

 Álvaro jamais me perdoou. Para o “indigitado” – que disse ter apanhado na delegacia para confessar – paguei umas cachaças e não houve maiores ressentimentos. Mas, como eu disse no início, tenho vergonha até hoje.


Marco Antonio Zanfra

A história desta semana é novamente de Marco Antonio Zanfra, que atuou em diversos veículos na capital paulista, entre eles Folha de S.Paulo, Agora, revista Manchete, Jornal dos Concursos, Folha da Tarde e Diário Popular, e, em Santa Catarina, foi editor em O Município (Brusque) e em seguida no Jornal de Santa Catarina (Blumenau). Em Florianópolis, onde reside, trabalhou em O Estado e A Notícia, na assessoria de imprensa do Detran e do Instituto de Planejamento Urbano, além de ter sido diretor de Apoio e Mídias na Secretaria de Comunicação da Prefeitura.

Nosso estoque do Memórias da Redação acabou. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

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