Apuração de uma vida inteira. No lançamento do Brio, uma história chama atenção: a de Matheus Leitão Netto. O envolvimento emocional de filho e a perspicácia de um bom repórter se reuniram na reportagem de (tirar o) fôlego, em que Matheus conta sobre o encontro com o delator de seus pais – Marcelo Amorim Netto e Miriam Leitão – nos tempos da ditadura militar, mais de 40 anos atrás.
“O assustador vocábulo ‘tortura’ foi o último a aparecer nessas conversas em que eu colhia retalhos do passado. Mas surgiu tanto em diálogos com familiares, como em conversas reservadas com a minha mãe, ou com o meu pai, em momentos distintos. Transformei aquilo no meu quebra-cabeça particular, no qual cada peça era revelada aos poucos. […] Mesmo assim, eu sentia que não havia detalhes, retratos jornalísticos profundos, mas apenas histórias dos pais contadas para um filho curioso e perguntador. Um filho jornalista”, diz Matheus em seu texto.
Mais à frente, ele explica a razão pela qual o tema ficou sempre rondando sua mente: “A verdade é que, entre uma reportagem e outra que eu fazia sobre a ditadura, inclusive sobre a Guerrilha do Araguaia, parecia que eu estava sempre à procura do passado dos meus pais. Era como se a linha ligada ao anzol ficasse ainda mais tensa. Puxava-me ao local de onde eu na~o deveria sair”.
Vale cada minuto da leitura.