A XP Investimentos realiza na sexta-feira (28/2) um workshop sobre o Covid-19, popularmente conhecido como Coronavírus, com debates e discussões sobre os impactos do vírus na economia brasileira e nos mercados mundiais.
Voltado para a imprensa, o evento deve levantar também
questões sobre a cobertura do Covid-19.
Estarão presentes Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, Debora
Santos, analista política, Marcos Ross, economista sênior e Betina Roxo,
analista de ações.
Para participar, é preciso entrar em contato pelo e-mail xp@idealhks.com.
Além de fundamental para a democracia, a solidez da mídia de um país é um dos pilares que asseguram sua influência sobre outras nações, colaborando para a relevância econômica e geopolítica. Esse é o entendimento da consultoria britânica Brand Finance, que reuniu em Londres em 25/2 mais de 200 diplomatas, jornalistas e autoridades para apresentar seu Global Soft Power Index.
Soft power é um conceito cunhado em 1990 pelo cientista político americano Joseph Nye, que descreveu o processo de empregar valores culturais e sociais como arma de influência em substituição ao poderio militar ou econômico. Os Estados Unidos lideram o ranking, seguidos por Alemanha e Reino Unido, praticamente empatados. O Brasil ficou em 29º, destacado como o mais influente da América Latina.
Pesquisa global – Há
vários rankings de soft power. Para
elaborar o dela, a consultoria fez uma pesquisa com mais de 55 mil pessoas em
100 países, combinando a opinião do público com a de líderes políticos,
empresários, jornalistas e acadêmicos. Os países foram avaliados em três
métricas – familiaridade, reputação e influência – e em sete pilares complementares:
comércio e negócios, governança, relações internacionais, cultura, educação e
ciência, pessoas e valores, e mídia e comunicação.
Nesse quesito, a pontuação
ponderou a influência externa dos meios do país, a confiabilidade da mídia, a
capacidade de comunicação da nação e o interesse em acompanhar assuntos a ela
relativos. Foram concedidas “medalhas” aos campeões em cada um. Os Estados
Unidos levaram ouro como país com a mídia mais influente, seguidos por Alemanha
e Reino Unido.
O valor de uma indústria de mídia
sólida para a importância global de uma nação emerge em vários pontos do
relatório. No Reino Unido, o império da BBC, que atinge 426 milhões de pessoas
por semana no planeta, figura como um dos atributos que valeram a posição no
ranking, ao lado da mística da Família Real.
O resultado veio a calhar para a
emissora, que sofre com o risco de perder a taxa obrigatória a ela paga por
todas as residências britânicas. Entre os planos do Governo já sinalizados para
a BBC está justamente concentrar esforços na programação voltada para o mercado
externo. Outras nações tentam emular sua história de sucesso investindo em
redes globais, como Russia Today, Al Jazeera, Press TV e CGTV.
O estudo mostra como fenômenos
culturais e valores sociais contribuem para o soft power. Caso da Coreia do Sul, que com uma boa ajuda do K-Pop
conquistou o 14º lugar em influência global, superando nações maiores e mais
ricas.
Ou da Suécia, que ficou em nono
lugar, à frente de gigantes territoriais e econômicos, alavancada pela alta
pontuação em respeito ao meio ambiente graças à ativista Greta Thumberg. O que
uma menina de tranças fazendo greve na porta da escola pode valer a um país…
E ainda ajudou outros nórdicos, igualmente bem-vistos no contexto da mudança
climática.
A influência do Brasil – O
Brasil foi mais bem avaliado em familiaridade e reputação do que em influência.
E levou medalhas – de bronze – apenas em esportes e alegria. Nossa maior
pontuação foi em “grande lugar para visitar”, com 6.8, não tão longe dos 8.2 da
Austrália. Nos critérios ligados à mídia os números ficam mais distantes dos
líderes.
A influência da imprensa marcou
2.6, contra 7.3 dos Estados Unidos, o que certamente tem a ver também com o
idioma. E a confiança na mídia mereceu 2.0, enquanto o Canadá ficou com 4.3. De
qualquer forma, vale observar que globalmente a credibilidade da mídia anda
frágil, pois o mais alto índice ainda é baixo.
Um dos participantes do painel
que discutiu os resultados, Peter Fisk, da IE Business School de Madrid, chamou
a atenção para o papel da Inteligência Artificial no futuro da mídia e em seu
potencial de criar e manipular conteúdo capaz de influenciar audiências. No
entanto, ele defende que o poder não estará nas mãos de quem manipula, mas sim
dos mais confiáveis.
Além dos aspectos ligados à
mídia, o estudo é valioso para entender a visão do mundo sobre os países à luz
de questões contemporâneas, como democracia e respeito ao meio ambiente. Ele
mostra como o alinhamento a valores universalmente aceitos pode legitimar liderança
global. Segundo a Brand Finance, a razão é simples: os Estados, assim como as
pessoas, tendem a confiar mais nos que compartilham os mesmos ideais.
Faleceu nesta quarta-feira (26/2), aos 43 anos, o assessor de imprensa da Volkswagen Luís Felipe Figueiredo. Ele estava internado havia dez dias após sofrer um mal súbito em casa, na madrugada de sábado (15/2) para domingo (16), e bater com a cabeça no chão, causando um hematoma do lado direito do cérebro. Ele chegou a ser operado em caráter de urgência para realizar a drenagem desse hematoma, porém não resistiu aos ferimentos.
Em nota, a Volkswagen do Brasil informou: “Lamentamos
profundamente informar o falecimento de nosso colega Luís Felipe Figueiredo,
assessor de Imprensa da Volkswagen do Brasil, ocorrido em razão de um
traumatismo craniano decorrente de queda. O velório ocorrerá a partir das 8h
desta quinta-feira, 27 de fevereiro, e a cremação será realizada ao meio-dia,
ambos em São Caetano do Sul. O Serviço Social da Volkswagen está prestando o
auxílio necessário à família”.
Formado em Direito e Jornalismo, com pós-graduação em Gestão
Automotiva, Luís Felipe começou a carreira em 2002, no site WebMotors. Passou
ainda pelo Estadão até ser contratado em janeiro de 2013 pela Volkswagen.
Fernando Mitre e Rodolfo Schneider, diretores de Jornalismo da Bandeirantes, anunciaram uma série de mudanças nos telejornais da emissora. As informações são de Flávio Ricco (UOL). Entre o que já está feito, o Jornal da Band terá um novo projeto gráfico e a participação fixa de Paloma Tocci e Joana Treptow. Além disso, um novo cenário será estabelecido até abril.
Em março, o Café com Jornal mudará de nome e passará
a se chamar Primeiro Jornal. Luiz Megale deixará a apresentação
do programa, mas continuará na emissora. Seu substituto ainda não foi definido,
mas segundo a reportagem, será um “prata da casa”. O telejornal passará por
transformações, tornando-o mais ágil, com um púlpito no lugar da bancada.
O matutino Bora SP irá ao ar das 6h às 8h, seguido
pelo Bora Brasil, das 8h às 9h. Entre outras novidades, a Band também
negocia um novo contrato com a Somar Meteorologia.
Durante sessão da Comissão Mista na Câmara dos Deputados,
Aureo relatou que, “tratando da extinção de registro profissional no Ministério
do Trabalho, eu rejeitei a redação do artigo 51 da MP e acatei o conjunto de
todas as emendas que estabeleciam os registros profissionais. O Ministério
(Secretaria do Trabalho) permanece com todas as suas atribuições e as
profissões com o mesmo padrão de registro que tinham antes da publicação da
Medida Provisória, em novembro de 2019. Então, as categorias que estavam
abrangidas pelo artigo 51 estão com seus registros restabelecidos no Ministério
do Trabalho”.
A retirada do artigo foi vista como uma vitória para as
entidades que lutaram por meses pela derrubada da desobrigação do registro
profissional dos jornalistas. Para a Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj), a vitória foi importante para a categoria, mas outras questões ainda
devem ser analisadas: “O relatório, mesmo com modificações, mantém muitas
medidas que precarizam as relações de trabalho. Ainda consideramos que a melhor
alternativa é a MP ser derrubada”, disse Maria José Braga, presidente da
Fenaj.
Conversa sobre jornalismo científico no Brasil e lançamento da BORI. (Foto Marcelo Justo)
Sabine Righetti (esq.) e Ana Paula Morales. Foto: Marcelo Justo
A Agência Bori, lançada em 12/2, é uma plataforma que visa a facilitar o acesso a assuntos e pesquisas científicas, atuando como ponte entre a imprensa e cientistas. A ideia é valorizar o jornalismo científico e a divulgação de temas relacionados à ciência no País. O projeto, tocado pelas especialistas em jornalismo científico Sabine Righetti e Ana Paula Morales, já tem parcerias com 90 revistas científicas.
Na plataforma são apresentados ao menos três estudos
inéditos, vindos das revistas parceiras, e que têm potencial de divulgação e
interesse público. A agência produz um pequeno resumo sobre os estudos, e
disponibiliza o contato dos pesquisadores à imprensa: “Se eles (pesquisadores) concordarem
com a divulgação na Bori, precisam estar disponíveis para dar entrevistas
durante o período de embargo”, explica Sabine.
Em entrevista ao Knight Center, Sabine e Ana Paula
destacaram alguns problemas que afetam a visibilidade da ciência no Brasil,
como a falta de informação, dificuldades no acesso a dados e pesquisas sobre
determinados assuntos científicos, e o fato de que poucas instituições de
ciência brasileiras têm assessoria de imprensa. Sabine explicou que “às vezes,
é mais fácil falar com alguém da Nasa do que com um cientista de uma
universidade aqui na esquina, porque não tem assessoria ou você não acha o
contato do pesquisador e, quando acha, ele não quer falar”.
A agência utiliza inteligência artificial e cruzamento de
dados para detectar assuntos com potencial de divulgação, além de destacar
temas que são pouco veiculados. Com uma equipe de 13 profissionais, cinco fixos
e oito redatores freelances, a Bori ainda não se sustenta sozinha e está
em busca financiamento. A ideia é estabelecer um projeto de assinaturas e
acordos com instituições e cientistas que queiram ter uma presença maior ou
periódica na plataforma.
Oito meses após ser afastado da TV Globo, Mauro Naves acertou na segunda-feira (24/2) sua ida para a Fox Sports. Segundo apurou o UOL, Naves não será utilizado como repórter. Ele participará dos programas e atuará diretamente na produção destes. Sua estreia na emissora será no próximo domingo (1°/3), no programa de Nivaldo Prieto.
A possibilidade de desempenhar funções novas, que não as de repórter – como fazia na Globo – despertou o interesse de Naves pela proposta da Fox Sports. Vale lembrar que ele já havia participado de alguns programas na emissora, como o Expediente Futebol, e o Aqui Com Benja, onde gravou uma entrevista com Benjamin Back.
Em 5 de junho do ano passado, Naves foi afastado pela TV
Globo após envolvimento polêmico no caso de estupro contra o jogador Neymar.
Desde então, fez participações especiais em programas esportivos da Band e da
TV Gazeta.
Para marcar o lançamento da campanha Rumo aos 200 Anos, em 2025, o Diário de Pernambuco ganhou na edição de 15 e 16/2 um novo projeto editorial e gráfico. O DP é o jornal mais antigo do Brasil e da América Latina a poder alcançar esta marca. O jornal passou por muitas crises nos últimos anos e esteve perto de fechar. Foi comprado recentemente por um grupo de advogados, que constituíram um Comitê do Bicentenário, com representantes do jornal e da sociedade civil, para propor reportagens, projetos e ações a partir deste ano para marcar a data.
A base do projeto e da reformulação é um trabalho de consultoria realizado por Roberto Gazzi, profissional com passagens por O Estado de S. Paulo, onde foi editor-chefe e diretor de Desenvolvimento Editorial, e Folha de S.Paulo. Atua hoje como consultor de empresas de mídia, após ter sido diretor executivo do Correio, da Bahia.
Além das mudanças editorial e gráfica, a consultoria que fez para o Diário também reorganizou a estrutura da Redação, com remanejamento de profissionais e implantação de um novo modelo de operação. “Estas mudanças são importantes para reposicionar a marca neste momento tão desafiador para o jornalismo tradicional”, afirma Gazzi. Com o avanço da era digital, em todo o mundo os jornais enfrentam dificuldades e desafios para adaptar-se aos novos tempos.
“Estou contente com os resultados da consultoria”, disse ele a J&Cia. “Sem recursos extras e trabalhando com o competente pessoal interno, fizemos as reformas e lançamos o projeto, importante para a sobrevivência do jornal, um dos mais premiados do País segundo o ranking do J&Cia, uma instituição de Pernambuco e do Brasil, e que tem de ser apoiado em sua luta para chegar ao bicentenário. Mais feliz ainda com a repercussão. Como disse uma leitora, ‘ficou lindo demais, dá super pra perceber as mudanças, mas nāo faz o leitor estranhar’. Era tudo o que eu queria. Como disse: ‘Jornal é hábito, por isso as mudanças sāo sutis, mas marcantes”. Confira detalhes das mudanças.
A partida de Jorge de Miranda Jordão (Salvador, 1932 – Rio de Janeiro, 2020), na semana passada, aos 87 anos, encerrou aquele que talvez tenha sido o mais ruidoso fenômeno da imprensa brasileira pois, salvo raríssimo engano, ele era o último soldado de Samuel Wainer. (Entrou na Última Hora carioca em 1954, com 22 anos, e a partir dessa data foi para onde Samuel mandasse. Dirigiu, por exemplo, a Última Hora gaúcha e a paulista). A rigor, as mais novas gerações do nosso jornalismo deveriam debruçar-se sobre a história do jornal Última Hora (1951-1991), criado por Samuel, para compreender suas inovações revolucionárias, tanto na prática da reportagem como na renovação gráfica, que, aliás, justificam a evocação sugerida.
Tive a honra e o
privilégio de trabalhar com Miranda na Folha da Tarde em 1968/69. No meu
entendimento, foi a sua tentativa de substituir politicamente a Última Hora sob
a mesma receita ideológica de Wainer, pois, àquela altura, o jornal original
arrastava-se debilmente, estrangulado pelos rumos do País pós-1964. Porém, em
vez de buscar as camadas populares, dirigiu-se à classe estudantil. Fazia
sentido, uma vez que não havia espaço para hastear a bandeira sindicalista; por
outro lado, o movimento estudantil começava a se reorganizar a partir do
primeiro congresso (clandestino) da União Nacional dos Estudantes (UNE),
realizado na cidade de Valinhos (SP), em 1967. E era a força à esquerda com a
qual se podia contar.
A redação da Folha de
Tarde adquiriu ares de uma assembleia estudantil permanente. Basta lembrar que,
nas coberturas de passeatas, que começaram a pipocar em 1967 e tornaram-se
contundentes em 1968, o jornal designava quatro repórteres, fora aqueles que,
em eventual disponibilidade, iam por conta própria. Também é conveniente anotar
que ali na redação os roteiros sigilosos das manifestações proibidas eram
conhecidos com boa antecedência.
Essa espécie de Terra do
Nunca era liderada por Miranda, tendo abaixo de si o secretário João Ribeiro, que equivalia ao atual
posto de editor-chefe, e Vicente
Wissembach, Arlindo Mungioli e Frei Betto como chefes de Reportagem.
(À noite, e até o avanço da manhã seguinte, essa função cabia ao Rousseau – foge-me seu verdadeiro nome,
que nunca soube –, doce figura que, nas horas vagas, era um declamador amador
disputado por festas familiares e saraus eruditos, segundo constava).
Certamente Miranda
Jordão merecerá uma biografia competente, à altura da sua trajetória. Por isso,
limito-me aqui a lembrar de duas ou três coisas que sei dele (*) – Deux ou trois choses que Je Sais D’elle, filme nouvelle vague de Jean-Luc Godard, 1967 – relativas à
estranha presença de um jornal como Folha da Tarde, agressivamente oposicionista ao regime militar, na Empresa
Folha da Manhã. (Realisticamente, em questão de meses, o vespertino passaria
para a extrema-direita, após a decretação do Ato Institucional Nº 5, em 13 de
dezembro de 1968).
Em uma reunião da
redação, expus meu estranhamento à postura da empresa; Miranda Jordão explicou.
“Quando Octavio Frias de Oliveira me
chamou para fazer o jornal, eu lhe perguntei qual seria a linha. Ele me disse: ‘eu
não quero fazer sacanagem com ninguém’. Entendi da minha forma e toquei em
frente”. Contudo, numa entrevista que faz parte do livro Memórias da Imprensa Escrita (Editora Saraiva, de Aziz Ahmed) e que pode ser vista no YouTube, Miranda Jordão
acrescentou uma ligeira variação: Frias anunciou que seria um jornal à
esquerda, mas nos limites da prudência, face à situação em que o País vivia.
Mas tudo indicou que Miranda Jordão fez do jeito dele.
Miranda sairia de cena
em meados de 1968, se não me trai a memória, assim como Frei Betto, perseguido
pela polícia política. Foi preso no Uruguai e recambiado para o Brasil; a
partir daí desconheço suas idas e vindas. Sei que reapareceria mais tarde no
Diário Popular, para o qual deu protagonismo inédito na sua história
centenária.
A perseguição a Miranda Jordão rendeu um episódio ironicamente
bem-humorado que teve a participação de Álvaro
Luiz Assumpção, familiarmente conhecido como Meninão, empresário da noite. É justo recordá-lo.
Meninão era um grandalhão divertido,
como são os boêmios, e paulistano quatrocentão de alto costado. Seu apelido
advinha de uma boate que fundou e fez enorme sucesso em São Paulo. Em certo
momento, ele passou a assinar uma concorrida coluna diária, que se tornou
leitura obrigatória na chamada classe A, embora fosse publicada no improvável,
popularesco e sanguinolento jornal Notícias Populares. A propósito, na época,
corria entre jornalistas uma piada de humor negro alusiva à cultura do diário,
tendo como mote um frequente de pessoa que, sob aparência respeitável, conserva
esqueletos no armário. Se for bem pendurado (no pau-de-arara), dá
uma semana de manchete no Notícias Populares.
A coluna intitulava
Meninão em dia com a noite e apresentava uma variada coleção de notícias
quentíssimas sobre economia e política, simultaneamente ao sempre folclórico
movimento da noite, que incluía artistas, transações entre empresários do
setor, fofocas a respeito de músicos e crooners, novidades em rótulos e
coquetelaria, vendedores de flores e o pessoal do Exército da Salvação que ia
distribuir santinhos religiosos para recuperar almas mergulhadas no pecado. Esse um mundo tão ricamente
diversificado poderia ser representado pela boate que os Demônios da Garoa
abriram na rua Barão de Tatuí, no Centro, obviamente batizada como Saudosa
Maloca, em cuja parede havia um nicho protetor abrigando uma imagem de Nossa Senhora
Aparecida sob uma luzinha vermelha.
Era natural que figura
tão interessante quanto Meninão atraísse Miranda Jordão e fosse fazer sua
coluna na Folha da Tarde. Ficaram amigos próximos, a ponto de Miranda merecer
hospitalidade na residência de Meninão, na heráldica rua Gironda, nos Jardins.
Em breve futuro, essa amizade custou caro ao colunista, que acabou sendo detido
pelo Deops, durante a perseguição ao seu chefe, sob a acusação de dar guarida a
subversivos. Na verdade, qualquer nome, encontrado na agenda de algum preso
político, também tomava o imediato destino do Deops ou da Operação
Bandeirantes. Em princípio, foi algo surpreendente que um quatrocentão festivo
fosse ligado à luta armada, pois era essa a suspeita que recaia sobre Miranda
Jordão. E neste ponto chegamos ao humor irônico referido acima. Meninão me
contou, após safar-se do grave enrosco, que estava aguardando sua vez de ser
ouvido, quando um delegado do Deops, ao reconhecer a conhecida figura
corpulenta e alta de Meninão, perguntou, intrigado, a um investigador. Ué, o
que esse cara está fazendo aqui? É do MR-8, respondeu o policial
displicentemente, para facilitar a resposta. “Eu gelei”, recordou Meninão,
apertando meu braço.
Meus caminhos se cruzaram indiretamente com os de Miranda Jordão nos inícios de 1969. Samuel Wainer voltara havia pouco do seu exílio em Paris para tentar reerguer a Última Hora, que prosseguia na sua lenta e inexorável agonia aberta em 1964. Os antigos companheiros de Wainer, que haviam participado da Folha da Tarde, já estavam a postos no Rio de Janeiro para participar da ressurreição. (Claro que Miranda não estava, como gostaria, uma vez que se preocupava em preservar a liberdade).
Samuel Weiner
João Ribeiro me chamou e eu lá fui, sob promessa de um salário excelente e apartamento pago pela Última Hora. Descobri mais tarde, que tais rompantes eram típicos de Samuel. Nada disso vingou. O apartamento da Zona Sul transformou-se num simples quarto no Solar da Fossa, em Botafogo, lendário reduto hippiee da contracultura pelo qual passaram Caetano Veloso & Cia quando vieram conquistar o Sul. Quando deixei o casarão, me disseram que outro grupo, Novos Baianos, estava chegando.
Não posso precisar
quanto durou aquela ressurreição da Última Hora, mas garanto que minha incursão
carioca foi de uns seis meses, sem receber um tostão. Mas fui largamente
recompensado pela aventura que Samuel Wainer me proporcionou.
Que ninguém se engane: a
sedução de Samuel derretia pedras!
(*) A utilização dos títulos de obras célebres – livro, música, cinema, teatro – adaptados às matérias para torná-las mais chamativas foi-me ensinada por Justino Martins, grande mestre, na revista Manchete. Apliquei-a pela primeira vez numa reportagem sobre a centenária galeria de serviços que corre sob a avenida Paulista, com o título Viagem ao centro da terra. Nada a ver com o livro de Júlio Verne, pois a minha terra foi escrita com a letra t minúscula.
José Maria dos Santos
Esta é novamente uma colaboração de José Maria dos Santos, ex-Diários Associados, Manchete, Abril e Diário do Comércio, de São Paulo, entre outros.
Em entrevista ao Knight Center for Journalism in the Americas, o correspondente paraguaio Cándido Figueiredo, que trabalha na cidade de Pedro Juan Caballero, onde Léo Veras foi executado em 12/2, disse que a situação na região está muito tensa após o ocorrido. Segundo ele, “há rumores de que o Primeiro Comando Capital (PCC) estaria planejando ataques contra outros jornalistas”.
Figueiredo, que trabalha no maior jornal do Paraguai, o ABC
Color, se disse muito abalado com a morte de Véras, com quem tinha uma grande
amizade e conversava diariamente. Ele está cobrindo o assassinato, e contou que
é “muito difícil escrever quando a vítima é um amigo”, denunciando a demora no
avanço da investigação.
Afirmou que vive com escolta policial há 25 anos, devido a
diversas ameaças que recebeu ao longo da carreira. Com o avanço do PCC, a
região fica “mais perigosa”, relata: “Eles implementam o seu poder na base do
medo. (…) Acho que agora estão pressionando para que a gente não publique
muitas coisas sobre eles”.