2.3 C
Nova Iorque
quarta-feira, dezembro 10, 2025

Buy now

" "
Início Site Página 529

Walesa, o cardeal e uma visita às raízes de Eliezer Strauch

Eliezer Strauch e sua mulher, Lia Strauch

Por Alessandra Ber

Com a ascensão de Lech Walesa e o movimento operário na Polônia, Eliezer fez as malas e seguiu para Varsóvia. Só que dessa vez o passaporte brasileiro não o ajudou em muito. A Polônia não estava concedendo vistos a jornalistas. A greve em Gdansk era manchete dos jornais, pois era mais um movimento que tinha coragem de enfrentar o regime comunista.

Eliezer, de Paris foi para Bruxelas, onde o cônsul israelense era amigo e, com a dica recebida, apresentou-se à Embaixada da Polônia em Bruxelas como homem de negócios. Tiro e queda, o visto foi concedido. Chegando a Varsóvia qual não foi a surpresa de encontrar dezenas de jornalistas, todos na mesma posição de homens de negócios.

Começava o inverno rigoroso e Eliezer foi comprar um chapéu para se proteger do frio, seguindo direto para uma reunião do Partido dos Trabalhadores. Na porta estavam amontoados casacões, sobretudos, chapéus. Eliezer indaga a um velhinho se podia deixar as coisas naquele amontoado. A resposta do polonês foi clara: “Aqui não se rouba − a não ser que passe um judeu”.

Varsóvia nos anos 1980 ainda era a Varsóvia sob o regime comunista. Filas para comprar pão, filas para carne etc. Mas sendo predominantemente católica, enfeitada para o Natal que se aproximava.

Eliezer resolveu que não se identificaria como judeu, por enquanto. Conseguiu uma entrevista com o Cardeal da Polônia, que depois se tornaria o Papa João Paulo II. O futuro papa era um homem fascinante. Escrevia poemas, peças teatrais e contou de sua prisão durante dois anos pelos nazistas. Entre um cálice de vinho e outro, Eliezer confessa ao cardeal que não era homem de negócios e sim jornalista e seu objetivo era conseguir uma entrevista com Lech Walesa.

Munido de uma carta dirigida ao líder operário, Eliezer viaja para Gdansk, cidade portuária em greve, enfeitada para o Natal. Cânticos nas igrejas, mulheres entrando e saindo das missas, visitas aos cemitérios para homenagem aos mortos.

O encontro com Walesa se dá no estaleiro e Eliezer fica boquiaberto com a sabedoria de um operário que tem a coragem de enfrentar o poder soviético e que nada o tirará de suas metas. Walesa diz conhecer a Histadrut (Confederação dos Trabalhadores de Israel) e, bem-humorado, confessa que se receber um convite para visitar Israel aceitará imediatamente.

Véspera de Natal, com a entrevista enviada aos dois jornais − O Globo e Yedioth Aharonoth −, Eliezer começa a matutar o que fará nos dias de Natal. O desejo era ir à cidade de seu pai, Ustilke Done. Já não havia necessidade de disfarces. Nos escritórios de relações com a imprensa mostra o seu interesse de viajar até a cidade e pergunta como chegar até lá. A funcionária muito prestativa lhe diz: “Colocaremos à sua disposição um carro e um guia que fala português”. Eliezer, pasmado, pensa duas vezes: será verdade ou será um artificio do Partido para me levar para a Sibéria?

Era verdade. No dia seguinte pela manhã, no hall do hotel, lá estavam um motorista e uma guia. Após a apresentação, feita em um português correto, a guia Tatiana explica que estudou Português na universidade e o seu doutorado era sobre as obras de Camões. Durante a viagem ainda contou que vinha de uma família de nobres poloneses destronados durante a II Guerra e a ocupação soviética.

A longa viagem, por uma estrada em que não havia muito movimento, ficaram os dois a discutir Camões. Os sinais eram todos em polonês, mas a certa hora Tatiana disse: estamos nos aproximando. Eliezer, que não era de demonstrar sentimentos, liga o gravador e começa a gravar.

“Estamos entrando em Ulstike − eis o ring tão falado. O ring era a estação ferroviária. E tal e qual meu pai o descreveu. Foi aqui que meu pai despediu-se pela última vez de sua mãe, para nunca mais voltar.”

A cidade, que havia sido de maioria judia, agora era uma cidade de veraneio, por sua localização nas montanhas, e uma nova população circulava pelas ruas. Não mais os judeus religiosos com seus chapéus pretos e passos apressados em direção à sinagoga. Não mais as crianças e os jovens a caminho da escola ou do “cheder”, onde aprendiam as primeiras lições do Talmud. Não mais o cheiro de doces, pepinos azedos, arenques, que eram vendidos em barris de madeira. Várias vezes teve que interromper a gravação pois ficava com a voz embargada. Os correios − lembrou da última carta que escreveu a sua avó e que voltou com o carimbo de endereço desconhecido.

Tatiana e Eliezer vão a prefeitura ver se há algum indicio de seus antepassados. O funcionário consegue descobrir que a família Strauch está registrada nos livros até o ano de 1942. Depois não há mais traços. Os avós eram donos de uma hospedaria, lugar onde os judeus em trânsito paravam para uma refeição ou um pernoite. Saem da prefeitura com um mapa na mão e chegam a um pedaço de casa velha de madeira. A porta é aberta por um velho e Eliezer pensa ele deve saber qual foi o fim de sua avó e tia. O velho assustado começa a falar rapidamente em polonês. Tatiana pede calma, diz que o visitante não veio tomar posse da casa e sim pedir informações. Mais calmo, ele começa a contar que a sua casa é parte do que ficou da hospedaria. E o que foi feito dos judeus?

Tatiana traduz: em 1942, a cidade foi invadida pelos ucranianos junto das tropas nazistas. Os judeus que ainda restaram na cidade foram levados para a igreja local e os ucranianos colocaram fogo. Morreram queimados, velhos, jovens, crianças e depois levados para uma cova comum e cobertos com uma boa camada de cal.

Eliezer segura a voz e pergunta: onde fica o cemitério judeu? O velho explica: para lá daquela floresta. Eliezer continua gravando − não posso sair daqui sem ir ao cemitério e dizer o Kadish, a oração dos enlutados.

Sobem por um atalho que mistura lama e neve. Eliezer encontra algumas lápides caídas onde as letras hebraicas quase desapareceram com o tempo.

Em pé e não conseguindo mais conter as lágrimas começa a dizer: “Shma Israel Adonai Eloeynu Adonai Ehad” (Escute, Israel, Deus e nosso pai − Deus é um…)

O que havia começado com a greve dos estivadores e os passos para a independência da Polônia também foi para Eliezer a resposta a muitas perguntas e a sensação de que agora seus antepassados descansavam em paz.


Alessandra Ber

A história desta semana é de uma estreante no espaço, Alessandra Ber. Com mais de 20 anos de experiência em comunicação corporativa, em passagens por Santander, McDonald’s e Via Varejo, assumiu em agosto a Gerência Executiva de Relações com a Imprensa da TIM.

Ela conta que, no início de setembro, viu republicada pela mãe no Facebook a história originalmente escrita pela tia Lia Strauch, esposa de Eliezer Strauch, que trabalhou em O Globo (aqui, em Paris e em Jerusalém), foi correspondente do israelense Yedioth Aharonoth em Paris e editor-chefe da edição brasileira da revista Shalom. É autor do livro Serviço Secreto de Israel (Summus, 1976).


Tem alguma história de redação interessante para contar? Mande para [email protected].

Google anuncia novas ferramentas para repórteres

O Google lançou nesta sexta-feira (16/10) o Journalist Studio, espaço que visa a ajudar profissionais repórteres em seu trabalho, unindo tecnologia, eficiência, segurança e criatividade. O projeto apresenta duas novas ferramentas, segundo a empresa, “muito úteis para o jornalismo em geral”.

O Pinpoint possibilita que os profissionais examinem rapidamente vários documentos, identificando e organizando automaticamente as pessoas, organizações e locais mencionados com mais frequência. A ferramenta pode ser utilizada com PDFs digitalizados, imagens, notas manuscritas, e-mails e arquivos de áudio.

A ferramenta The Common Knowledge Project ajuda repórteres a compartilharem dados sobre questões importantes para suas comunidades locais. É possível produzir gráficos interativos em questão de minutos, incorporá-los em matérias e compartilhá-los nas redes sociais.

Profissionais da RedeTV assinam carta contra redução de salários

Profissionais de imprensa da RedeTV decidiram recusar os novos contratos de redução de vencimentos e jornada de trabalho impostos pela direção da empresa, pelo oitavo mês consecutivo. A decisão foi tomada em assembleia realizada em 14 de outubro.

Em carta publicada no site do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, eles reiteram que estão sendo “coagidos a assinar esses aditivos contratuais sob a ameaça e aceno de que quem não o fizer será demitido. (…) Muitos de nós, profissionais, já no vermelho pelos cortes anteriores nos salários, ficaremos ainda mais endividados com as reduções agora de novembro, dezembro e, eventualmente, do décimo terceiro”.

O texto destaca certas atitudes da RedeTV que, segundo eles, entram em contradição com as reduções de salários, “como as contratações milionárias de Luís Ernesto Lacombe e Sikêra Jr., além dos vários sorteios realizados pela emissora, publicidade, merchands, e engajamento nas redes sociais, que geraram aumento de caixa”.

“Nós, jornalistas da RedeTV, frequentemente, lutamos para manter a nossa função social de garantir informação à população brasileira, e muitas vezes nos desdobramos, com a situação no limite do caos e da falta de infraestrutura, com falta de equipamentos, jornadas reduzidas e equipes muito menores, para informar a população durante a pandemia. Nós nos posicionamos contra e recusamos qualquer nova redução que coloque ainda mais em risco a nossa função social de informar e que ameace o cumprimento do dever constitucional e da responsabilidade com a população que tem uma emissora, com concessão pública, como a da RedeTV”, diz a carta.

Leia o texto na íntegra.

Abril convoca Paulo Zocchi a retornar ao trabalho antes do prazo combinado

A Editora Abril avisou Paulo Zocchi que vai antecipar em dez meses o fim de sua liberação sindical, convocando-o a retornar à empresa a partir de 30 de outubro. Ele tem vínculo com a Abril, mas desempenha as funções de presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e de vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Em assembleia realizada em 15/10, mais de 40 profissionais de imprensa decidiram, por unanimidade, fazer uma campanha de denúncia contra a Editora Abril. O ato mobilizará diversos sindicatos de diferentes categorias, com publicações nas redes sociais e cartas direcionadas à empresa, explicando a necessidade de manter a liberação do presidente do sindicato até o prazo combinado.

Segundo o SJSP, “a atitude da empresa ataca o exercício do mandato sindical, pois a jornada normal de trabalho impede o desempenho pleno das atividades ligadas à Presidência da entidade. (…) A Abril está rompendo uma prática acordada desde os anos 1960 entre empresas de comunicação e o Sindicato dos Jornalistas, quando todos os presidentes do Sindicato começaram a ser liberados pelas empresas durante o mandato, mantendo os salários e os direitos recebidos no emprego”.

Nesta segunda-feira (19/10), haverá uma reunião para discutir estratégias e diretrizes da campanha de denúncia contra a Abril. É possível inscrever-se previamente por meio deste link.

Pesquisa indica que 61% dos brasileiros acham notícias da imprensa “mais ou menos confiáveis”

Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360

O PoderData, divisão de estudos estatísticos do Poder360, divulgou uma pesquisa sobre credibilidade e características em geral da imprensa brasileira. Os números indicam que 61% dos entrevistados têm certa desconfiança das notícias veiculadas pelas empresas jornalísticas, classificando-as como “mais ou menos confiáveis”.

Vale destacar que esse número aumentou seis pontos percentuais desde a última pesquisa sobre o assunto, em agosto passado, na qual 55% achavam o trabalho jornalístico “mais ou menos confiável”. Apenas 16% disseram que as notícias publicadas pela imprensa são “muito confiáveis”, número que fica próximo aos 17% que as classificam como “pouco confiáveis”.

O PoderData identificou que participantes apoiadores do governo Bolsonaro duvidam mais da imprensa. Cerca de 34% daqueles que avaliam o presidente como “ótimo” ou “bom” classificam a imprensa como “pouco” ou “nem um pouco confiável”. Entretanto, 85% das pessoas que enxergam o governo Bolsonaro como “ruim” ou “péssimo” consideram a mídia como “mais ou menos” ou “muito confiável“.

Outro dado relevante da pesquisa é que 41% dos entrevistados usam veículos jornalísticos na internet como principal fonte de informação. TV e rádio são usados por 27%, redes sociais foram escolhidas por 16% e jornais impressos e revistas, por apenas 13%.

A pesquisa levou em conta respostas de 2.500 pessoas em 503 municípios. Confira mais detalhes do levantamento.

Projor e Insper lançam guia sobre eleições municipais

O Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), em parceria com o Insper, lançou o Manual GPI Eleições 2020, que serve como guia para profissionais de imprensa e outros cidadãos interessados em temas sobre as eleições municipais.

O Manual oferece as informações e recursos necessários para cobrir as eleições de 2020, abordando temas como impostos, políticas públicas, ferramentas de gestão, transparência e prestação de contas, análise de dados municipais, entre outros.

O guia apresenta um Raio X dos Municípios, que compara cidades por meio de estatísticas sobre educação, habitação, meio ambiente, mobilidade, saúde e segurança. Há também seções dedicadas ao impacto do trabalho jornalístico durante eleições, à desinformação e a como as fake news prejudicam o debate público e a cobertura do tema.

Dia Mundial da Notícia: brasileiros entre os melhores trabalhos

FinCEN Files: matéria investigativa do BuzzFeed com participação de Poder360, Época e piauí (Crédito: Reprodução/BuzzFeed)

Em comemoração ao Dia Mundial da Notícia (World News Day), iniciativa da Fundação de Jornalismo do Canadá e do Forum Mundial de Editores, o site britânico journalism.co.uk compilou sete grandes trabalhos que marcaram 2020 até agora, sobre temas como a pandemia, o movimento Black Lives Matter e o meio ambiente. MediaTalks by J&Cia traz um resumo de todos eles e links para o conteúdo original.

E tem brasileiros na lista. Uma das matérias destacadas, publicada pela revista AreWeEurope, é assinada por uma jornalista brasileira, Fernanda Buriola, baseada em Bruxelas. 

A lista inclui também a investigação liderada pelo BuzzFeed sobre os documentos financeiros vazados do tesouro americano, que teve a participação de Poder360 e das revistas Época e piauí.

Radar Aos Fatos passa a detectar ondas de desinformação no WhatsApp

O Radar Aos Fatos lança, em parceria com a Twist Systems, seu monitoramento público automatizado de desinformação no WhatsApp. Hoje, mais de 270 grupos públicos de discussão política são monitorados e mais de um milhão de mensagens são coletadas e analisadas todas as semanas em busca de padrões linguísticos e de imagens com potencial desinformativo.

O Radar Aos Fatos está em sua versão beta e continua em desenvolvimento. Até novembro, a empresa planeja expandir o número de grupos monitorados e implementar a análise de imagens, vídeos e links, fundamentais para a compreensão do panorama desinformativo que há no WhatsApp. (Veja+)

Google oferece treinamento para jornalistas de pequenas redações

O Google lançou nesta quarta-feira (14/10) o Treinamento de Imersão em Produto para Redações de Pequeno Porte, que visa a ajudar pequenas redações a pensar em seus produtos e encontrar novos caminhos de sustentabilidade comercial.

Podem se inscrever no treinamento, gratuito, profissionais que trabalhem em redações com menos de 50 jornalistas no Brasil e em todos os países das Américas do Sul, Norte e Central. Não é necessário ter nenhum conhecimento prévio.

Ao longo de oito semanas, com início em janeiro de 2021, os participantes vão definir uma estratégia executiva, equilibrar as necessidades do usuário e as regras do bom jornalismo. Além da teoria, será possível colocar em prática o que foi aprendendido, em empresas jornalísticas de diferentes perfis.

As inscrições vão até 11 de novembro. O grupo de participantes será anunciado em dezembro. Inscreva-se!

Fenaj: Bolsonaro fez 299 ataques à imprensa em nove meses

A Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) divulgou nesta quarta-feira (14/10) os dados de um monitoramento para contabilizar todos os ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro à imprensa nacional em 2020. De janeiro a setembro, foram 299 declarações ofensivas ao jornalismo. Os números indicam a média de 33 ataques por mês.

O levantamento levou em conta discursos do presidente, entrevistas, lives, declarações oficiais e postagens em redes sociais. Do total de ataques, 259 são classificados como descredibilização da imprensa, ou seja, investidas contra o jornalismo em geral ou contra um veículo específico; 38 casos são ataques diretos a um profissional de imprensa; e outros dois ataques a organizações sindicais.

A Fenaj preparou uma linha do tempo, que contém todos os ataques de Bolsonaro à imprensa em 2020 ordenados cronologicamente. Confira!

Últimas notícias

pt_BRPortuguese