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sábado, abril 20, 2024

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A mãe de todas as violências

Flagrante da agressão a Dida Sampaio

Por Paulo de Tarso Porrelli

Penso que a covardia cometida contra o premiado repórter fotográfico do Estadão Dida Sampaio, em 3/5, no Distrito Federal, resgata a Fênix que habita em nós. No meu caso, as cinzas das minhas memórias eu já havia espalhado ao vento do esquecimento, à espera de que submergissem quietas no rio da minha consciência.

No texto O Livreiro, Monteiro Lobato nos ensina que “os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma”. E, ressalta ele, “a ignorância se perpetua e se perpetua”.

Eis a razão desse meu nariz de cera todo. Já senti algumas vezes à flor da pele o pavor de tamanhas estupidezes. Certo dia um empresário da cidade onde comecei no batente do jornalismo ameaçou-me por telefone sem sequer disfarçar a voz: “Você fica aí fazendo essas perguntas ‘descabidas’; vai embora para São Paulo aprender a ser repórter”. E eu fui, é claro.

Até pelo fato de nesses lugares o despotismo ser muito pior. Comenta-se que por aquelas bandas ainda quase todas “autoridades” frequentam as mesmas quermesses e colunas sociais.

Noutro “causo”, o saudoso cantor e compositor Belchior estava na cidade, para duas noites de show num final de semana. Apaixonado por música, entrevistei-o para uma FM local. Na segunda-feira, o diretor da emissora me chamou à sala dele para, raivosamente, me inquerir: “Como você ousa ir ao ar com um ‘artistazinho’ desses?”. Triste, não é? Parece que esse tal diretor seguiu fazendo a mesma coisa naquele antro de “jabás” e “permutas”. É, sim! Porque muitas vezes a “notícia” naquilo que eles dizem ser um veículo de comunicação vale um quilo de carne no açougue da esquina mais próxima. É submundo das almas mesmo.

Meu pai morreu quando tinha 48 anos. Era assistente social e lecionava Latim e Português. Da nossa curta convivência ficou cravada em mim uma frase dele solta no ar ante a minha percepção infantil: “Uma única palavra pode custar vidas, meu filho”.

E é exatamente o que está acontecendo no Planeta Terra. Nossos “líderes” são tiranos, “dinheiristas”, descarados e desalmados que seguem versando mal as palavras, populistas que dão aos fatos a versão que bem entendem e, o pior, exterminam assim toda a gente de bem. São ignorantes profissionais.

Relutei a escrever estas linhas, mas o fiz para não cair em desalento – “o pior dos sentimentos”, segundo Madre Teresa de Calcutá.

Então, meus caros colegas, para a frente e para cima! Não se intimidem. A ignorância, assim como a vaidade dos políticos, é a mãe de todas as violências.

Parafraseando o mestre Pasquale Cipro Neto: “É isso!”.

Paulo de Tarso Porrelli

A história desta semana é novamente uma colaboração de Paulo de Tarso Porrelli ([email protected]), escritor e jornalista há quatro décadas, com trabalhos em rádios, TVs, comunicação corporativa e produção cultural.


Tem alguma história de redação interessante para contar? Mande para [email protected].

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