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quarta-feira, dezembro 17, 2025

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Morre Humberto Kinjô, jornalista que enfrentou duas ditaduras e salvou vidas com uma camisa do Corinthians

Humberto Kinjô, em entrevista ao site Puntero Izquierdo
Humberto Kinjô, em entrevista ao site Puntero Izquierdo

Morreu em 15/5, aos 79 anos, Humberto Kinjô. Formado em Jornalismo em 1961, teve seus primeiros anos de carreira ligados às organizações estudantis, chegando inclusive a participar do lançamento do jornal Movimento, da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Com o Golpe Militar de 1964, a publicação teve sua curta vida interrompida e Kinjô passou nos anos seguintes por algumas importantes redações da capital paulista, entre elas Folha de S.Paulo, como copidesque e editor, e Última Hora, também como editor.

Em 1967 foi preso pela ditadura, permanecendo sob o poder dos militares de 24 de agosto a 7 de novembro. Após conseguir um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, voltou à liberdade, mas foi julgado e condenado à revelia dois anos mais tarde, quando se viu obrigado a fugir do Brasil para não ser preso novamente.

Humberto Kinjô, em entrevista ao site Puntero Izquierdo
Humberto Kinjô, em entrevista ao site Puntero Izquierdo

Em janeiro de 1970 iniciava um período de 11 anos vivendo longe do Brasil, como exilado político. Seu primeiro destino foi Santiago, no Chile, primeiro país na América do Sul a eleger um socialista para sua presidência. Mas em 1973 Kinjô sentiria novamente o peso de viver sob um regime ditatorial.

Após um golpe militar em 11 de setembro daquele ano contra o presidente eleito Salvador Allende, que culminou com a sua morte e a ascensão do general Augusto Pinochet à presidência, Humberto viu-se na condição de procurado pelas forças da ditadura chilena.

Com a ajuda de um padre, ele e sua então namorada, a colombiana Marina, refugiaram-se inicialmente em um mosteiro na capital chilena, onde se casariam onze dias após o golpe. Treze dias mais tarde, foram transferidos clandestinamente para a Embaixada de Honduras, onde uma curiosa história envolvendo um “carabinero”, uma pretensa camisa do Rivellino (que na verdade era do Zé Maria) e um esquema para salvar a vida de cinco procurados pela ditadura chilena marcou para sempre a história de Humberto Kinjô.

Uma camisa que salvou vidas

Durante as primeiras semanas do Golpe Militar chileno, a sede da Embaixada de Honduras, no luxuoso bairro de Las Condes, serviu de abrigo para mais de uma centena de apoiadores do governo de Allende ou opositores ao golpe de Pinochet. Mesmo com o espaço praticamente todo ocupado, mais cinco hóspedes precisavam ser acomodados com urgência, caso contrário seriam presos, torturados e talvez até mortos pelos militares.

O problema é que, diferentemente dos primeiros dias de ocupação, quando muitos conseguiram entrar na residência sem chamar a atenção, agora a segurança no entorno da Embaixada era reforçada, já que os vizinhos que apoiavam o golpe denunciaram o caso ao governo. Cerca de dez soldados, segundo relatos, se revezavam na frente das grades da casa e passaram a fazer rondas pelas ruas próximas.

Humberto passou então a frequentar a entrada da casa e tentar, muitas vezes sem sucesso, conversar com os soldados. Após alguns dias de tentativas infrutíferas, ele conheceu um “carabinero”, como são conhecidos os membros da polícia ostensiva do Chile, que era apaixonado pelo futebol brasileiro, em especial por Rivellino, que na época era jogador do Corinthians.

Kinjô, que vinha de uma família de apaixonados pelo clube do Parque São Jorge, havia recebido menos um ano antes de seu irmão, o também jornalista Celso Kinjô, uma camisa que o lateral direito Zé Maria havia usado em uma partida contra o Palmeiras. Em conversa com o fã chileno, ele disse que a camisa, na verdade, havia sido utilizada por Rivellino, que precisou substituir Zé Maria, machucado, e por isso tinha usado o número 2 e não o 11, pelo qual ficou eternizado.

O policial acreditou na história e aceitou as condições impostas por Humberto Kinjô. No dia 21 de outubro de 1973, um domingo, a camisa cotinthiana serviu então como moeda de troca pela vida dos cinco chilenos perseguidos.

Um longo caminho de volta pra casa

Por ser colombiana, Marina conseguiu salvo-condutos para ela e Humberto voltarem ao seu país, um dos poucos lugares livres de uma ditadura na América do Sul naquele período. Por lá, ele passou a trabalhar para o Centro Interamericano de Jornalismo Científico, órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA). Também atuou eventualmente como freelance para a Editora Abril.

Marina e Humberto Kinjô (Imagem: Leo Lepri)
Marina e Humberto Kinjô (Imagem: Leo Lepri)

Mas foi só em 1981, durante o período final e mais brando da ditadura no Brasil, que Humberto pôde finalmente voltar ao País. De lá para cá, passou por Editora Abril, Círculo do Livro e foi professor na Universidade de Guarulhos até se aposentar há alguns anos.

A história detalhada d’O elástico de Rivellino em Augusto Pinochet, registrada por Roberto Jardim, está disponível no site Puntero Izquierdo.

Coletivo lança moção de solidariedade a Rubens Valente

O recém-criado Coletivo Mulheres Jornalistas pela Democracia, que inclui profissionais das cinco regiões do País, lançou moção de solidariedade a Rubens Valente, condenado a indenizar o ministro do STF Gilmar Mendes em R$ 310 mil por trechos sobre a vida do magistrado publicados no livro Operação Banqueiro.

“Convocamos os cidadãos brasileiros que entendem a importância da liberdade de expressão e a gravidade dessa ação a subscrever esta moção”, diz o texto. Para o Coletivo, a condenação de Valente “abre um precedente perigoso e insidioso, buscando amordaçar e desestimular o fazer primordial de um jornalista: investigar e relatar”.

A obra de Valente trata sobre o banqueiro Daniel Dantas, preso em 2008 pela Operação Satiagraha da Polícia Federal. O jornalista escreveu sobre os personagens envolvidos no caso, incluindo Gilmar Mendes, que tomou decisões que garantiram a liberdade de Daniel Dantas. O magistrado não é tema central do livro, mas Mendes declara que teve sua honra atingida.

Valente já pagou cerca de R$ 143 mil a Mendes e terá de desembolsar mais R$ 175 mil como devedor solidário pois a Geração Editorial, que publicou o livro, não arcará com a parte dele. Além disso, por determinação de tribunais superiores, o jornalista deverá incluir, em uma eventual reedição do livro, como direito de resposta, a sentença condenatória e a transcrição integral da petição inicial interposta por Mendes, algo em torno de 200 páginas.

Amigos de Valente organizaram uma vaquinha para ajudá-lo a pagar o ministro do STF. Segundo o jornalista, até a última sexta-feira (13/5), cerca de 85% da meta da campanha (R$ 310 mil) havia sido atingida. Contribuições pela chave PIX 528.027.441-00.

Assine a moção aqui.

Tom Bueno estreia coluna de Saúde no portal iG

Tom Bueno é o novo colunista de Saúde do portal iG. O jornalista trará semanalmente informações de controle e prevenção da doença.
Tom Bueno é o novo colunista de Saúde do portal iG. O jornalista trará semanalmente informações de controle e prevenção da doença.

Tom Bueno, criador do canal Um Diabético no YouTube, é o novo colunista de Saúde do portal iG. Na nova casa, o jornalista trará semanalmente informações de controle e prevenção da doença, além de curiosidades de como é o dia a dia de quem convive com ela.

Ex-Record TV, a contratação de Tom deu-se após o seu canal no YouTube bater a marca de 5 milhões de visualizações. Para ele, a parceria com o iG para ampliação do debate acerca do assunto ajudará a que as informações cheguem a pessoas que estejam passando pelo processo de descoberta e aceitação.

“Essa união de forças entre Um Diabético e iG fará com que as informações cheguem a um número maior de pessoas e mais gente, muitas desesperadas depois do diagnóstico, seja acolhida e ajudada”, destaca.

No texto de estreia Tom contou como foi descoberta da doença, aos 22 anos, a resistência em aceitar o diagnóstico e o impacto de questões como a própria sexualidade no controle da glicemia.

Ataques contra jornalistas crescem quase 27% em 2022, diz Abraji

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) segue monitorando os ataques a jornalistas e meios de comunicação no Brasil em 2022. Entre janeiro e abril deste ano, foram identificados 151 casos de agressão física, verbal, ou outras formas ataque ao trabalho jornalístico, como restrições de acesso à informação, exposição de dados pessoais (doxing), processos civis e penais, assassinato, entre outros. Esse número representa um aumento de 26,9% no total de ataques em relação ao mesmo período em 2021.

Acompanhando uma tendência que se repete desde 2019, o tipo de agressão mais frequente em 2022 é o de discurso estigmatizante, presente em quase 67% do total de ataques. Foram registradas 101 agressões desse tipo, 12 a mais do que em 2021.

A segunda forma mais frequente foram “agressões e ataques”, que incluem violência física, atentados e ameaças explícitas. No total, ocorreram 36 agressões do tipo até abril, o que representa um aumento de 80% em relação ao ano passado. Na sequência, estão restrições na internet (7), restrições de acesso à informação (2) e processos judiciais (2).

O único caso de assassinato foi de Givanildo Oliveira, morto a tiros em 7/2, aos 46 anos, em Fortaleza. O Programa Tim Lopes, da própria Abraji, está acompanhando o caso.

Em relação aos autores dos ataques, pouco mais de 70% são de pessoas relacionadas ao Estado, e quase 58% cumprem mandatos em cargos eletivos.

Do 151 agressões, 106 foram feitas por atores estatais, sendo que 70 (66%) envolveram um ou mais membros da família Bolsonaro. Novamente acompanhando tendência de levantamentos anteriores, o principal agressor é o presidente Jair Bolsonaro, que direcionou no total 32 ataques a jornalistas e meios de comunicação. Na sequência aparecem seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, com 23 ataques; o vereador Carlos Bolsonaro, com 12 casos; e o senador Flávio Bolsonaro, com 8.

Confira mais informações do levantamento no site da Abraji.

Michelle Barros deixa a Globo após 12 anos de casa

Michelle Barros deixa a Globo após 12 anos de casa

A apresentadora Michelle Barros pediu demissão da Globo após 12 anos de casa. Nome conhecido dos telejornais de São Paulo, integrando a equipe de rodízio de apresentadores e substituindo os titulares em fins de semana e feriados, ela passou a comandar desde 2020 a transmissão do carnaval em São Paulo, ao lado de Chico Pinheiro.

Nas redes sociais, escreveu que pediu a Ana Escalada, sua chefe, para deixar a empresa: “Ela, junto com o Fernando Castro, o querido Fernandinho, e o Walter Barroso, meu amigo Waltinho, foram muito gentis e entenderam meu momento. E fiquei feliz com o reconhecimento que recebi deles”.

“Por quase 12 anos percorri os quatro cantos de São Paulo, conheci seus extremos, sua miséria e seu luxo, escreveu Michelle. “Relatei, na Globo, os percalços e as belezas da cidade que abraçou essa alagoana. A rua me deu casca, talento para improvisar, habilidade em passar de um tema para outro rapidamente, deu-me sensibilidade, empatia, ajudou-me a amadurecer”.

A apresentadora foi por sete anos âncora substituta dos principais telejornais da Globo em São Paulo. Esteve à frente das duas últimas coberturas do carnaval, substituindo a Monalisa Perrone, sendo que neste ano ficou no ar por quase dez horas na primeira noite e por volta de oito horas na seguinte.

Michelle escreveu que pretende se dedicar às redes sociais, falar de comunicação, por YouTube e Instagram, além de eventos, encontros e jornadas. Ela também concluirá no final do ano a graduação em Direito e pretende incluir conteúdo de direito autoral e direito digital em suas redes.

Nascida em Alagoas, Michelle iniciou a carreira nas TV e Rádio Educativa. Em seguida, passou por TV Pajuçara e em 2003 foi para a Gazeta. Por volta de 2010, foi transferida para a TV Globo em São Paulo e estreou como apresentadora no SPTV 2ª Edição, em 2015.

Abertas as inscrições para o Prêmio ABMES de Jornalismo

A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior abriu as inscrições para a quinta edição do Prêmio ABMES de Jornalismo.
A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior abriu as inscrições para a quinta edição do Prêmio ABMES de Jornalismo.

A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) abriu, até 10/6, as inscrições para a quinta edição do Prêmio ABMES de Jornalismo. Criado em 2017 com o objetivo de incentivar e valorizar o papel da imprensa e das mídias independentes na cobertura de temas relacionados ao ensino superior brasileiro, a iniciativa chega à sua quinta edição com premiação total de R$ 75 mil, divididos em seis prêmios em dinheiro.

Podem concorrer trabalhos jornalísticos nas modalidades de vídeo, áudio e escrito − impresso e online − e em duas categorias (nacional e regional), publicados em veículo de comunicação entre 12/6 de 2021 e 10/6 de 2022. Cada candidato pode cadastrar até cinco trabalhos em seu CPF.

A comissão julgadora será formada por Arnaldo Niskier, Marcos Vilaça e Merval Pereira, membros da Academia Brasileira de Letras (ABL). Os três vencedores na modalidade nacional receberão R$ 15 mil cada, e os ganhadores da categoria regional serão premiados com R$ 10 mil cada. Os finalistas serão conhecidos em 8/7 e receberão os prêmios em 9 de agosto.

Tão Maior – Homenagem a Tão Gomes Pinto

Tão Gomes Pìnto
Tão Gomes Pìnto

Por Sandro Villar

Não conheci pessoalmente o Tão Gomes Pinto, mas por um desses mistérios da vida acabamos nos encontrando graças ao correio eletrônico, vulgo e-mail. Mandei para ele algumas colunas e, gentilmente, ele respondeu com elogios e me aconselhou a ir pro Facebook. “Sandro, leva tuas crônicas pro Facebook”, sugeriu.

Talvez por ser relapso, não fiz o que Tão me recomendou e me arrependo por isso. Deveria ter acatado o conselho dele. Confesso que estou meio perdido na tal de era digital. Aliás, estou mais perdido do que candidato em queda nas pesquisas. Se me permitem outro exemplo comparativo, estou mais perdido do que o Brasil nos 7 a 1 contra a Alemanha. Preciso aprender mais sobre informática, internet e o escambau.

Ainda sobre a troca de figurinhas com Tão, lembro-me de uma frase dele que, para mim, é uma verdadeira injeção de ânimo − injeção que, aliás, os farmacêuticos não aplicam e isto é apenas um chiste deste aristocrata e charmoso cronista. Disse Tão: “A tua palavra me anima”.

Eu incentivando Tão Gomes Pinto? Bondade dele… A palavra desse grande jornalista é que me anima. Desde então, quando me lembro, acrescento a frase nas mensagens para meus milhares de amigos e uns três inimigos, cuja existência desconheço.

Um incentivo, uma força para quem precisa e, até certo ponto, lembra as palavras do diretor Jorge Fernando quando dirigia atores nas novelas e nas peças de teatro. “Vai lá e brilha”, dizia o diretor. Evidente que, com tal incentivo, os atores se desdobravam e produziam muito mais.

Há um fato hilário envolvendo Tão. Ele era editor e repórter da IstoÉ e foi escalado para entrevistar ninguém menos do que $ílvio $antos, dono do SBT. Se não me falha a cachola, ele foi recepcionado na sede da emissora pelo então diretor artístico Luciano Callegari, que, por falar nisso, era bem parecido fisicamente com o jornalista, quase um sósia do Tão.

Naquela época, a audiência do SBT crescia mais do que a inflação no governo do presifake Riaj (leia de trás pra frente) e comentava-se à boca grande mesmo que a Globo temia perder a liderança de audiência. $$ não era enforcado, mas estava com a corda toda. Era uma pedra no sapato do nosso companheiro redator-chefe Roberto Marinho, dono da Globo e, óbvio, do Brasil.

Terminada a entrevista, Callegari procurou Tão Gomes e perguntou se ele não tinha ficado emocionado por entrevistar $ílvio $antos. “Não”, respondeu o jornalista, com um clássico monossilábico. Um jornalista do quilate de Tão Gomes Pinto emocionar-se após entrevistar alguém, mesmo sendo $$?

Tão não se prestava a esse papel, o de tiete, e, cá entre nós, repórter que é repórter não deve dar uma de tiete durante uma conversa com celebridades, a não ser que o entrevistado seja Jesus Cristo, Buda ou o próprio Deus.


Sandro Villar

Assíduo colaborador deste espaço, Sandro Villar, radialista e jornalista que por muitos anos atuou como correspondente do Estadão em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, presta homenagem a Tão Gomes Pinto, falecido em 29 de abril.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

Repórter da GloboNews quase é atropelada ao vivo; entidades repudiam ataque

Repórter da GloboNews quase é atropelada ao vivo; entidades repudiam ataque

A repórter Paula Araújo, da GloboNews, quase foi atropelada enquanto fazia uma entrada ao vivo na terça-feira (10/5), na Avenida Cupecê, na zona sul de São Paulo. O motorista, ainda não identificado, parou no semáforo ao lado de Paula e da repórter cinematográfica Patrícia Santos, e passou a xingá-las, ameaçá-las e fazer críticas à Globo. Em seguida, o homem colocou a marcha à ré e jogou o veículo contra Paula, que estava em cima da calçada.

“Ele só não me atingiu porque dei dois passos para a frente. Ainda bem que tinha um policial do lado. Daí ele logo saiu”, relatou a repórter à revista Veja. Um trabalhador de um comércio testemunhou a agressão e avisou que iria chamar a polícia. No momento do ocorrido, havia uma viatura por perto, mas os policiais não presenciaram o ataque. Segundo as jornalistas, as circunstâncias evitaram que o homem tentasse algo mais grave.

Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) repudiaram o ataque, pedindo que a Globo “tome todas as providências para que o caso seja investigado com rigor e que o agressor seja identificado. É imperativo que todas as partes tomem atitudes para conter essa escalada e garantir a integridade dos jornalistas no exercício de sua profissão”.

A nota destaca também que este é o terceiro episódio de grave agressão contra jornalistas da Globo de São Paulo nos últimos sete meses. Em outubro, o repórter cinematográfico Leandro Matozo levou uma cabeçada no nariz de um apoiador do presidente Jair Bolsonaro na parte externa do Santuário de Aparecida. E mais recentemente, em março, o repórter cinematográfico Ronaldo de Souza foi atacado com uma corrente por um homem no Brás. O agressor foi localizado pela polícia.

TJSP nega pedido de indenização contra Globo e Drauzio Varella

TJSP nega pedido de indenização contra a Globo e Drauzio Varella

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) negou pedido de indenização feito à Globo e ao médico Drauzio Varella pelo pai de uma criança estuprada e assassinada em 2010. Na ação, o pai alega que a reportagem Mulheres trans presas enfrentam preconceito, abandono e violência, exibida pelo Fantástico, lhe causou abalo psicológico por contar com uma entrevista com a detenta Susy, condenada pelo assassinato de seu filho.

O pai da vítima alegou também que foi procurado por outros veículos de imprensa e teve que reviver o trauma. Seus advogados declararam que a Globo abusou do direito à informação e solicitaram indenização por danos morais no valor de R$ 200 mil.

Na reportagem, Varella mostra o cotidiano de mulheres trans em presídios masculinos. Ele solidarizou-se com Susy, que há oito anos não recebia visitas, e deu-lhe um abraço. Contrariando decisão de primeira instância, o TJSP entendeu que a Globo e o médico não ultrapassaram o limite da liberdade de imprensa. Na decisão, a corte entendeu a revolta do pai da vítima, mas destacou que a reportagem não menciona o crime sofrido pelo filho do autor da ação e nem o nome da vítima. A defesa da Globo argumentou também que a matéria foi feita sem o conhecimento do crime cometido por Suzy.

Melhora a diversidade de gênero e raça na mídia britânica, mas classes baixas seguem excluídas

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Ao produzir a edição especial do MediaTalks sobre DEI (diversidade, equidade e inclusão) na mídia, que circulará em algumas semanas, percebemos como as dores variam em cada país. No Reino Unido, a principal dor chama-se classe.

Não que a mídia britânica tenha acertado as contas em diversidade de gênero e raça. Mas progrediu. Já a inclusão das classes sociais menos favorecidas segue patinando.

O relatório anual de diversidade do NCTJ (National Council of Training for Journalists), divulgado semana passada, constatou que 80% dos 108 mil profissionais que se descrevem como jornalistas no país (incluindo os de grande imprensa, mídias digitais e de atividades de comunicação e RP) vêm da classe alta.

O levantamento registrou avanço no equilíbrio de gênero inclusive em níveis sêniores, e “uma certa melhora” na representação de etnias, embora alertando que “há questões associadas à promoção de pessoas de grupos étnicos não brancos para cargos editoriais mais altos”.

Já em classe o país regrediu. A proporção de profissionais de imprensa oriundos da elite era de 75% em 2020 e subiu para 80% em 2021.

O estudo mostrou ainda que mais repórteres (84%) vieram de classes mais altas do que seus editores (73%). A porta de entrada fechou-se mais para a chamada working class.

Isso significa que o conjunto de fontes que molda a opinião pública e determina comportamentos (de jornais tradicionais a blogs e comunicados de empresas) enxerga o mundo pelas lentes da elite.

E pelas lentes nacionais. O NCTJ constatou que em um país cheio de imigrantes e com uma capital multicultural como Londres, sede de boa parte da mídia e das corporações, 92% dos profissionais de jornalismo são britânicos.

Parece óbvio, considerando que o idioma é vital para a atividade. Mas não é bem assim. Há uma parcela significativa de imigrantes de países que têm o inglês como primeira ou segunda língua. E os que vieram crianças e se formaram em inglês.

Outro sinal de que a baixa inclusão de outras nacionalidades não se deve só ao idioma é que a cadeia produtiva de notícias tem funções que não exigem inglês nativo nem o sotaque da elite, questão sensível no país que conserva estruturas políticas e sociais da era do Império Britânico.

Quem estudou em escolas privadas e se formou em Oxford ou em Cambridge (os Oxbridge) tem uma forma caraterística de falar, denotando uma suposta superioridade intelectual e social. O inglês da elite chama-se Received Pronunciation, conhecido como Queen’s English ou “inglês da BBC”, porque era obrigatório nas transmissões da rede pública.

Não é mais, e a BBC tem se esforçado para incluir gente diversa em suas telas. Só que nem todos aprovam.

Nas Olimpíadas de Tóquio, o barão Jones de Birmingham, ex-ministro que teve assento na Câmara dos Lordes, atacou via Twitter o sotaque da comentarista esportiva Alex Scott, nascida em Poplar, região humilde de Londres onde se passa a série Call the Midwife. O motivo: ela não pronuncia o g no final de palavras como swimming.

Alex Scott
Alex Scott (Crédito: Reprodução BBC)

O barão incluiu no ataque a secretária nacional do Home Office, Priti Patel, e a jornalista política Beth Rigby, pedindo: “Socorro, em nome da língua inglesa alguém pode dar aulas de locução para essas pessoas?”.

Essa é uma mentalidade resistente em parte da população, seja por origem aristocrática ou resultante da polarização insuflada pelo Brexit, que elegeu imigrantes como destruidores da cultura e dos empregos dos ingleses.

Embora não caiba apenas ao jornalismo exterminar preconceitos, diversidade nas redações e diante das câmeras e microfones é parte importante da equação, porque adiciona variadas visões de mundo à cobertura e demonstra que não importa o sotaque, e sim o que se fala.

O consultor de pesquisas Mark Spilsbury, autor do relatório do NCTJ, reconhece que a alta qualificação exigida para jornalistas é uma barreira. Mas salienta que se os empregadores continuarem a recrutar principalmente dentro do seu pool, que não representa o conjunto da população, a sub-representação continuará.

Leia em MediaTalks o relatório completo.


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