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Entidades expressam indignação e profundo pesar sobre assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira

Texto publicado originalmente em 15/6/2022 pela Ajor

Organizações ligadas à defesa das liberdades de expressão e de imprensa questionam presidente do Brasil sobre estímulo à ocupação ilegal das terras de povos originários e ataques contra jornalistas que denunciam irregularidades

As organizações abaixo-assinadas se dirigem à sociedade brasileira para expressar profunda indignação e tristeza pela confirmação da morte do indigenista Bruno Araújo Pereira e do correspondente britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas, cujos corpos estão sob análise pericial.

Antes de tudo, nos solidarizamos com as famílias e amigos/as das mais recentes vítimas da escalada de violência que impera no Brasil. Sabemos que sentimentos de pesar não acalmam a dor de suas pessoas próximas, e nos somamos aos esforços por justiça e reparação.

Reforçamos nossos pedidos às autoridades nacionais e internacionais para que a execução seja apurada de forma célere, transparente e independente, sem qualquer interferência que possa atrapalhar a investigação. É preciso investigar e responsabilizar os envolvidos na morte de Dom e Bruno, daqueles que perpetraram o crime àqueles que o ordenaram.

Na semana passada, por duas vezes, lamentavelmente autoridades governamentais sugeriram que as próprias vítimas eram responsáveis pela tragédia. O presidente da República inclusive afirmou, em discurso público, que os dois haviam se lançado na região sabendo dos riscos, “em uma aventura [grifo nosso] que não é recomendável que se faça”.

Na manhã desta quarta-feira, 15 de junho, o presidente do Brasil preferiu gastar seu  tempo em uma entrevista descrevendo o jornalista como “malvisto na região” por fazer “muita matéria contra garimpeiro” e chamou de “excursão” o trabalho do correspondente, que, segundo o presidente, deveria “ter segurança mais que redobrada consigo próprio”. Seu comentário, mais uma vez, tenta isentar o Estado brasileiro de qualquer responsabilidade em garantir a segurança do trabalho de jornalistas, indigenistas e ambientalistas no Vale do Javari, e praticamente admite que criminosos assumiram o controle da região.

As organizações signatárias repudiam veementemente tais afirmações, que não surpreendem, já que apenas reiteram a aversão do presidente ao jornalismo livre e independente. Dom Phillips e Bruno Pereira estavam prestando um importante serviço para a sociedade ao reportarem a realidade amazônica.

O jornalista e o indigenista eram profissionais capacitados e experientes. Dom Phillips estava no Brasil havia 15 anos compartilhando reportagens sobre o Brasil, em especial sobre a Amazônia, sendo reconhecido internacionalmente por seu trabalho, com publicações em veículos como Guardian e Washington Post. Estava escrevendo um livro sobre o cotidiano da Amazônia.

Um dos mais respeitados indigenistas brasileiros, Bruno Pereira era servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e tinha 11 anos de atuação na região do Vale do Javari.

Nos últimos anos, jornalistas e ambientalistas mostraram recordes de desmatamento e avanços de garimpeiros e madeireiros, da pesca predatória e do narcotráfico sobre territórios indígenas. Também foram divulgados assassinatos de ativistas e o enfraquecimento de órgãos de controle e de fiscalização pelo governo federal. Não se trata de aventura, e sim de jornalismo.

Em paralelo, o presidente e seus aliados se tornaram protagonistas de ataques à imprensa. Dados de várias organizações jornalísticas, como Fenaj e Abraji, apontam crescimento exponencial das hostilidades, agressões e discursos de ódio contra jornalistas e meios de comunicação. Entre 2019 e 2021, os casos de ataques à imprensa e a seus profissionais saltaram mais de 200%, segundo levantamento da Abraji. Eles vêm, em sua maioria, da família do presidente, de integrantes do governo federal e de seus apoiadores. Tal contexto tem colocado o Brasil em posições mais do que preocupantes em classificações globais de liberdade de imprensa e expressão, como as produzidas por Repórteres sem Fronteiras e Artigo 19.

Diante dessa realidade, o trabalho de campo de Dom Phillips e Bruno Pereira era ainda mais importante, porque garantia, mesmo nas condições mais difíceis, o direito de acesso à informação da população.

Não aceitaremos que o horror e as trevas dominem o Brasil.

O Brasil não é uma aventura.

15 de junho de 2022.

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
Associação de Jornalismo Digital (Ajor)
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
Artigo 19
Intervozes
Instituto Palavra Aberta
Instituto Vladimir Herzog
Repórteres sem Fronteiras (RSF)
Tornavoz

Especial #diversifica confrontará a “objetividade” na narrativa jornalística inclusiva

Especial #diversifica destaca práticas de Diversidade, Equidade e Inclusão no Jornalismo
Um conteúdo:

O #diversifica, novo hub de conteúdo sobre Diversidade, Equidade & Inclusão (DEI) da Jornalistas Editora, prepara para agosto o lançamento de seu primeiro projeto de fôlego. Sob o tema Subjetividades, o especial multiplataforma partirá da compreensão de que as narrativas jornalísticas, ainda que busquem se encaixar num paradigma de objetividade, são permeadas por percepções de mundo, noções morais, significados sociais e culturais daqueles que as constroem. Por essa ótica, o especial mostrará que a produção jornalística, bem como seu alcance, se enriquece quando construída por pessoas de diferentes classes, raças e vivências.

“Infelizmente ainda é comum que, nas redações, superiores acusem de ‘não objetivos’ os profissionais que criam pautas pelo viés da diversidade”, explica a coordenadora editorial do #diversifica Luana Ibelli. “Trocar o conceito de ‘objetividade’ por ‘subjetividade’ provoca pensar que, na realidade, é inevitável que a vivência do jornalista influencie as narrativas construídas por ele, e que grupos socialmente poderosos consideram suas visões de mundo como universais, portanto, ‘objetivas’”.

Dentre os conteúdos previstos, o especial contará com uma série em videocast de seis episódios, lançados semanalmente a partir de agosto. Cada um deles trará um convidado para discutir a diversidade sob sua ótica de vida e experiência profissional. Cada episódio será dedicado a um tema: Negritude, Indígenas, LGBTQIAP+, PcD, Saúde Mental e Territórios.

Também em agosto circulará uma edição especial de Jornalistas&Cia que trará um extrato dos principais pontos discutidos nas entrevistas em vídeo, somados a outras reflexões e análises sobre a questão da diversidade.

O especial Subjetividades também contará com conteúdos exclusivos publicados no hotsite do #diversidade, página que será lançada nas próximas semanas pelo Portal dos Jornalistas. Estão previstas ainda ações para redes sociais e as versões em áudio (podcast) dos programas.


O #diversifica é um hub de conteúdo multiplataforma sobre Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) do Portal dos Jornalistas e da newsletter Jornalistas&Cia. Ele conta com os apoios institucionais da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), International Center for Journalists (ICFJ), Meta Journalism Project, Imagem Corporativa e Rádio Guarda–Chuva.

Morre Charles Marzanasco Filho, ex-assessor de Ayrton Senna

Charles Marzanasco Filho e Marcello Ghigonetto, da Honda, durante a cerimônia dos +Admirados da Imprensa Automotiva 2022

Faleceu em São Paulo na manhã desta quinta-feira (16/6), aos 67 anos, o jornalista Charles Marzanasco Filho. Ele vinha se tratando desde o ano passado de um mieloma múltiplo, agravado nas últimas semanas. Charlinho, como era carinhosamente conhecido entre os profissionais da imprensa especializada em automóveis, teve sua carreira marcada por ter sido assessor de imprensa do piloto Ayrton Senna, desde 1987 até sua morte, em 1994; e da Audi, por 25 anos (1993-2018).

Nos últimos anos vinha dividindo seu tempo entre alguns trabalhos como assessor de imprensa para o piloto Bruno Baptista e o cavaleiro Doda Miranda, e como colunista da Quatro Rodas. Orgulhava-se de ter substituído na revista o espaço que antes era ocupado pelo célebre jornalista britânico Jeremy Clarkson.

“Imagine, então, como não fiquei naquele momento”, relembrou recentemente em conversa com Fernando Soares, editor deste Portal dos Jornalistas. “Nossa, substituir um jornalista consagrado mundialmente pelas polêmicas e loucuras que cria em relação aos carros do mundo inteiro…”.

Em uma de suas últimas aparições em público, em 25 de abril, esteve na cerimônia de premiação dos +Admirados da Imprensa Automotiva, onde foi homenageado nas categorias Colunistas (Top 3) e Jornalistas (Top 25).

Mesmo com sua mobilidade reduzida, ele subiu ao palco para ser homenageado e foi aplaudido de pé por todos os presentes. Visivelmente emocionado, aproveitou o momento para quebrar o protocolo e dizer algumas palavras de agradecimento aos colegas do setor: “Eu já estou entre os três finalistas e pra mim já é uma honra muito grande. Encontrar todos vocês é emoção demais. Obrigado por tudo. Para todos vocês. Estou muito feliz!”.

Confira no vídeo a participação de Charlinho:

 

De cabeça erguida e com sorriso no rosto

Uma doença tão devastadora como é o câncer afeta de diferentes maneiras, física e emocionalmente, aqueles que a precisam encarar. No caso de Charlinho, por mais que os impactos no seu corpo fossem visíveis e tivessem dificultado o seu dia a dia, chamava a atenção a forma como ele enfrentou a doença de maneira positiva e com bom humor, sempre mantendo todos os amigos informados sobre cada etapa de seu tratamento.

Em fevereiro, chegou a estrelar a campanha #CuidadosQueTransformam, promovida pela Janssen Brasil, para o Dia Mundial de Combate ao Câncer. A ação selecionou três pacientes para homenagear profissionais da saúde que, a partir de ações inesperadas e inspiradoras, contribuíram para seus tratamentos.

 

Mente criativa. Ações inusitadas

Em 2018, poucos meses após Charles ser desligado da área de imprensa da Audi, o repórter Vitor Matsubara produziu um perfil dele para o UOL Carros. A reportagem reunia algumas histórias marcantes – e ousadas – da sua carreira à frente da Comunicação da marca. Entre elas, a própria chegada da Audi ao Brasil, que reuniu jornalistas no Aeroporto de Congonhas para acompanharem o pouso de um avião com os primeiros modelos da marca.

Ayrton Senna e Charlinho

O velório de Charles Marzanasco Filho, que completaria 68 anos no próximo dia 25, é nesta quinta (16/6), na sala 5 do Cemitério Morumby (rua Deputado Laércio Corte, 468), a partir das 13h, e o enterro está marcado para as 17 horas.

Troféu Mulher Imprensa terá nova categoria exclusiva para voto popular

A 16ª edição do Troféu Mulher Imprensa, que visa a reconhecer o trabalho jornalístico das mulheres dentro e fora das redações brasileiras.
A 16ª edição do Troféu Mulher Imprensa, que visa a reconhecer o trabalho jornalístico das mulheres dentro e fora das redações brasileiras.
Um conteúdo:

A Revista e Portal Imprensa anunciaram a 16ª edição do Troféu Mulher Imprensa, que visa a reconhecer o trabalho jornalístico das mulheres dentro e fora das redações brasileiras. Buscando premiar as profissionais de destaque em cada setor indicadas pelo júri, haverá uma categoria especial de Prêmio Popular onde o público poderá indicar uma profissional até 13 de julho pelo site do projeto.

Com o tema Pertencimento e Inovação, a premiação é dividida nas categorias Telejornalismo; Radiojornalismo; Jornalismo Impresso e Online; Multimídia; Consultora de Comunicação; Prêmio Especial: Diversidade; e Prêmio Popular: Pertencimento e Inovação. As cinco profissionais mais votadas pelo júri na primeira fase serão anunciadas em julho e passarão para a votação aberta em cédula eletrônica via site.

A votação popular será de 18/7 a 30 de agosto e só será permitido um voto por e-mail durante todo o processo. O anúncio das vencedoras será em setembro.

Durante o programa de lançamento, cujo tema foi O Trabalho Colaborativo na Diversidade, estiveram presentes no debate conduzido pela professora da ESPM/SP, Cicelia Pincer Batista; a presidente da Rede de Jornalistas Pretos (JP), Marcelle Chagas; a conselheira da Associação de Jornalismo Digital (AJOR) e coordenadora de projeto na Rede da Maré, Daniele Moura; e Gabriela Augusto, representante da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e fundadora da Transcendemos Consultoria.


O #diversifica é um hub de conteúdo multiplataforma sobre Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) do Portal dos Jornalistas e da newsletter Jornalistas&Cia. Ele conta com os apoios institucionais da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), International Center for Journalists (ICFJ), Meta Journalism Project, Imagem Corporativa e Rádio Guarda–Chuva.

Documentário mostra cotidiano de jornalistas em democracias em crise

Documentário Endangered mostra cotidiano de jornalistas em democracias em crise

O repórter norte-americano Ronan Farrow produziu o documentário Endangered (Ameaçados de extinção, na tradução livre), sobre o cotidiano de jornalistas que vivem em países cujas liberdade de imprensa e democracia estão em crise. A repórter da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello está entre os retratados no filme, que estreou no domingo passado (12/6), no festival Tribeca, em Nova York.

Patrícia foi responsável por reportagens sobre disparos de mensagens em massa para beneficiar candidatos durante as eleições de 2018. Por seu trabalho, venceu em 2020 o Prêmio Maria Moors Cabot, a mais relevante distinção concedida nos Estados Unidos a jornalistas estrangeiros.

Desde então, tem sido vítima de diversos ataques, em sua grande maioria com teor misógino. Ela é autora do livro A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital.

Além de Patrícia, o documentário mostra também o cotidiano do americano Oliver Laughland, que cobriu a campanha de Donald Trump pelo The Guardian; do repórter fotográfico Carl Juste, do Miami Herald, responsável por cobrir o dia a dia de Trump e o movimento Black Lives Matter; e da repórter fotográfica mexicana Sashenka Gutierrez, especializada em coberturas de protestos e de violência no México.

O autor do documentário, Ronan Farrow, acompanhou o trabalho dos jornalistas durante três anos. Em 2018, ele ganhou o Prêmio Pulitzer por ter revelado os crimes sexuais cometidos pelo produtor de cinema Harvey Weinstein. Endangered foi dirigido por Rachel Grady e Heidi Ewing. O filme estará disponível em 28 de junho no HBO Max.

Rádio Novelo lança podcast sobre o Brasil em meio à crise climática

Rádio Novelo lança podcast sobre o Brasil em meio à crise climática

A Rádio Novelo estreou em junho o podcast Tempo Quente, que debate o papel do Brasil em meio à crise climática, e os lobbies e interesses que agem para manter o País na contramão do combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Ao todo, serão oito episódios, publicados semanalmente, apresentados por Giovana Girardi, jornalista de ciência e meio ambiente há 20 anos.

“O Brasil tinha a faca e o queijo na mão para ser um líder mundial no combate às mudanças climáticas. Mas parece ter aberto mão disso em benefício apenas dos interesses de alguns”, destaca Giovana. “Saber fazer, a gente sabe, mas isso tudo está desmoronando. A escalada do desmatamento é o resultado mais gritante, mas estamos sujando nossa matriz elétrica e o negacionismo climático e ambiental se espalhou pelo País. E esse retrocesso veio em privilégio de quem? É isso que a gente se propôs a desvendar”.

Fruto de mais de um ano de produção, a jornalista fez uma centena de entrevistas com políticos, lobistas, cientistas e comunidades que estão no meio desses conflitos de interesses. O primeiro episódio trata sobre o maior complexo termoelétrico a carvão mineral da América do Sul, em Santa Catarina.

Confira o podcast no site da Rádio Novelo e nas principais plataformas de áudio.

Museu do Futebol abre concurso de crônicas esportivas

Estão abertas as inscrições para a primeira edição do Concurso de Crônicas do Museu do Futebol, realizado em parceria com a revista Placar. Interessados devem enviar seus textos até 13 de julho sobre o tema Torcida.

As três melhores crônicas serão premiadas da seguinte maneira: o primeiro colocado receberá R$ 2.000 e terá sua crônica publicada em uma edição impressa e no site da revista Placar; o segundo receberá R$ 1.500; e o terceiro, R$ 1.000. Todos os trabalhos vencedores serão publicados no site e nas redes sociais do Museu do Futebol.

Os textos devem ser inéditos e ter no máximo de 3.300 caracteres com espaços, incluindo título e nome do autor. O concurso é aberto a escritores profissionais, amadores e/ou estudantes, todos concorrem em categoria única. Menores de idade também podem participar, com autorização dos pais ou responsáveis.

As crônicas serão julgadas por uma comissão formada por Milly Lacombe, colunista do UOL; Fábio Altman, editor da Revista Placar; e Renata Beltrão, assessora de Comunicação do Museu do Futebol. O resultado será divulgado no site e nas redes sociais do Museu até 15 de agosto.

Confira o regulamento completo e inscreva-se aqui.

Leia também: 

Jornalistas transgênero buscam mais representatividade para a comunidade

O Brasil é o país com o maior número de pessoas trans assassinadas no planeta, responsável por 125 de mortes.
O Brasil é o país com o maior número de pessoas trans assassinadas no planeta, responsável por 125 de mortes.
(Esta reportagem foi realizada como um trabalho da disciplina “Jornalismo e Liberdade de Imprensa na América Latina”, na Escola de Jornalismo e Mídia da Universidade do Texas em Austin. Ela foi publicada originalmente em inglês pela LatAm Journalism, e traduzida para o português pela IJNet)

*Por Tanya Velazquez

O Brasil é o país com o maior número de registros de pessoas trans assassinadas no planeta. Entre outubro de 2020 e setembro de 2021, foram registrados 375 assassinatos de pessoas trans no mundo; só o Brasil foi responsável por 125 dessas mortes. O jornalista transgênero Caê Vasconcelos trabalha para amplificar as vozes da comunidade trans.

Embora as gerações mais jovens do país tenham progredido em direção à aceitação social e igualdade para as pessoas trans, ainda há muito conservadorismo na cultura de sua sociedade, disse Vasconcelos à LatAm Journalism Review (LJR). Em 2019, o Supremo Tribunal Federal do Brasil aprovou a criminalização da transfobia, mas a lei não é aplicada com rigor.

“Parte desse ódio vem de nossos parlamentares, principalmente do governo federal de Jair Bolsonaro”, disse Vasconcelos.

Vasconcelos, 30 anos, é jornalista e repórter especializado em cobertura LGBTQ+. Desde dezembro de 2019, Vasconcelos se identifica abertamente como homem trans em sua vida profissional e pessoal.

Ele trabalhou em vários meios de notícias, como a Ponte Jornalismo e a ESPN. Embora não tenha enfrentado nenhuma discriminação de seus empregadores até agora, ele disse que ainda vive em constante medo em sua vida cotidiana.

Ao mesmo tempo em que a violência contra jornalistas aumenta em toda a América Latina, pessoas trans são frequentemente agredidas e assassinadas no Brasil.

O Brasil vem liderando o ranking global de assassinatos de pessoas trans nos últimos 13 anos. Segundo o Pulitzer Center, pelo menos 4.402 pessoas trans foram assassinadas entre janeiro de 2008 e setembro de 2021 em todo o mundo.

Vasconcelos reconhece o perigo de ser um jornalista trans no Brasil, mas disse que foi a vontade de ajudar a comunidade trans que o levou a seguir carreira no jornalismo.

“Era a necessidade de amplificar as vozes da população marginalizada, que vem de onde eu vim, e que nunca foi ouvida pela imprensa da forma correta. Estou buscando dar visibilidade e defender os direitos humanos acima de tudo”, disse.

Vasconcelos disse que atualmente há poucos jornalistas no Brasil que se identificam abertamente como trans. Essa falta de jornalistas trans só alimentou a sub-representação dessa comunidade no noticiário brasileiro. Quando há representação de pessoas trans nas notícias, geralmente é um retrato negativo, disse ele.

“Quando a imprensa noticia algo é sempre no sentido de morte e violência, raramente vemos histórias positivas sobre nossas lutas”, disse Vasconcelos. “Sou um dos poucos jornalistas que aborda outros temas; positivo, de vida e avanços.”

As manifestações da transfobia

A maioria dos atos discriminatórios contra pessoas trans no Brasil não são atos de agressão física, mas micro agressões psicológicas, disse Vasconcelos. Desde ter seu nome ou pronomes desrespeitados até não poder usar um banheiro público ou ter uma consulta médica negada, ele disse que essas ações violentas são “normais” no Brasil.

No país, foram registrados 1.276 crimes motivados por LGBTQ-fobia em 2019. 1.148 desses crimes foram delitos não físicos, como difamação, calúnia ou ameaças, e os 237 restantes foram atos de agressão física.

Mas um dos maiores medos de Vasconcelos – e uma ocorrência frequente que jornalistas trans e muitas outras pessoas trans enfrentam – é perder o emprego por ser sincero sobre sua identidade.

“Tenho colegas que já perderam o emprego por pedirem para usar seu nome social em um crachá”, disse ele. “Um dos meus maiores medos era perder o emprego por ser quem sou, algo muito comum aqui no Brasil.”

Um nome social no Brasil é aquele adotado por indivíduos que sentem que o nome representa melhor sua identidade.

As pressões do trabalho sexual

Danielle Villasana, que é natural dos Estados Unidos e vive em Istambul, fez vários trabalhos na América Latina, onde se concentrou durante muito tempo em comunidades de mulheres trans na região.

Villasana disse que não fala em nome da comunidade trans, mas ao fotografar mulheres trans em suas comunidades, ela disse que testemunhou vários casos de micro agressões de pessoas que passaram por suas sessões de fotos. Ela disse que a maior parte das mulheres trans que ela fotografou citaram o trabalho sexual como sua única opção de trabalho devido à discriminação e à transfobia.

Apenas 4% da população trans no Brasil tem empregos formais com possibilidade de promoção e progressão na carreira, segundo dados registrados pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) em 2020. Além disso, 90% da população trans e queer tem a prostituição como principal renda.

A prostituição só aumenta a vulnerabilidade das pessoas trans a atos de violência, disse Villasana. A expectativa de vida das mulheres trans está entre 35 e 41 anos – aproximadamente metade da expectativa de vida da população geral do mundo, de acordo com a Warner Media. Uma vez que elas trabalham nesses empregos, é difícil para elas subir na escala socioeconômica do país, disse ela à LJR.

“É o fato de que elas só conseguem encontrar esse emprego. O trabalho sexual as deixa à mercê de tantas vulnerabilidades, violência, doenças e instabilidade econômica”, disse Villasana. “Não há espaço para mobilidade ascendente.”

Brasil sob Bolsonaro

A raiz da transfobia está nos valores conservadores e cisgênero que estão integrados nos governos do Brasil e de outros países latino-americanos, disse Donna DeCesare, professora associada da Universidade do Texas em Austin e ex-jornalista na América Latina. Ela também testemunhou em primeira mão a violência transfóbica que existe em países como o Brasil.

“Muitos governos na América Latina são muito repressivos e retrógrados”, disse DeCesare à LJR.

Bolsonaro é conhecido por ter feito declarações transfóbicas sobre pessoas trans ao vivo na TV, durante entrevistas e em seu Twitter, tanto antes de sua eleição como presidente quanto agora que está no cargo.

A ideologia de Bolsonaro influenciou algumas das políticas e ações federais do Brasil. Bolsonaro é uma figura reacionária e conscientemente LGBTQfóbica, disse James Green, professor de história do Brasil na Brown University. Ele morou no Brasil por seis anos e mantém-se atualizado sobre a política do país desde 1973.

“O governo, por exemplo, não financiou filmes que tratam de questões LGBTQ, incluindo questões trans. O governo também apoiou o fechamento de uma exposição de arte que incluía pessoas trans”, disse Green à LJR.

Jornalistas trans como Vasconcelos precisam primeiro superar os preconceitos da sociedade brasileira para conseguir um emprego no jornalismo. Depois de obter sucesso na carreira, os jornalistas podem usar sua plataforma para se manifestar contra os mesmos preconceitos que enfrentaram.

Esperança para jornalistas trans

Nos cinco anos de carreira de Vasconcelos, ele disse que ainda não descobriu nenhuma organização jornalística específica para pessoas trans. O próprio Vasconcelos está trabalhando para criar mais apoio a jornalistas trans no Brasil e tornar os temas relacionados à transgeneridade mais difundidos no noticiário. Ele disse que planeja lançar a primeira agência de jornalismo feita apenas por pessoas trans no Brasil no final do ano.

“A ideia não é apenas cobrir os temas que fazem parte do nosso cotidiano, mas também proteger outros jornalistas, para que não sofram transfobia nas redações”, disse Vasconcelos.

O jovem jornalista se mantém esperançoso em relação à comunidade trans e ao seu futuro. Vasconcelos vislumbra uma sociedade mais receptiva e igualitária no Brasil e trabalha todos os dias para esse objetivo.

“Meu sonho, e é para isso que trabalho, é que o Brasil deixe de ser o país que mais mata pessoas trans”, disse. “Que possamos ver cada vez mais pessoas trans na televisão, de jornais a novelas e filmes. Que nossas crianças trans consigam crescer em um país menos violento, com carinho em casa e direito de acesso à educação, saúde e sociedade em geral.”


* Tanya Velazquez é uma estudante de graduação de primeira geração na Universidade do Texas em Austin, cursando um Bacharelado em Jornalismo e Estudos Latino-Americanos, juntamente com certificações em Espanhol e em Direitos Humanos e Justiça Social. Após se graduar, ela espera ser uma repórter de TV/correspondente estrangeira cobrindo assuntos relevantes em toda a América Latina.

Programa de aceleração pagará até US$ 20 mil para startups jornalísticas

Estão abertas as inscrições para a segunda edição do GNI Startups Lab, programa de aceleração de negócios para startups jornalísticas da Google News Initiative no Brasil. A iniciativa, que conta com o apoio da Ajor (Associação de Jornalismo Digital) e do laboratório de inovação Echos, selecionará até 16 veículos brasileiros.

Eles passarão por um período de imersão em formato remoto ao longo de 16 semanas, e receberão até US$ 20 mil cada, além de mentoria, treinamento e workshops sobre tópicos como estratégia, produto, modelo de negócios, vendas e marketing, construção de comunidade e captação de recursos.

O objetivo do programa é apoiar empreendedores comprometidos com o desenvolvimento de produtos de notícias inovadores orientados pela oferta de jornalismo de qualidade no país, contribuindo ainda para o desenvolvimento do ecossistema de notícias no ambiente digital.

As startups selecionadas receberão uma ajuda de custo, orientação e suporte para desenvolver um mínimo produto viável (MVP), além de serem convidados a fazer uma apresentação a investidores. O programa, de abrangência nacional, é direcionado a empresas jornalísticas em estágio inicial de desenvolvimento.

De acordo com Fabiana Zanni, coordenadora do GNI Startups Lab no Brasil, o programa incentiva os empreendedores a analisarem suas empresas dos pontos de vista de produto e modelo de negócio, com a finalidade de chegar a modelos mais viáveis e economicamente sustentáveis.

“Na prática, os gestores mergulham em questões fundamentais da operação das empresas e são provocados a adotar metodologias e abordagens que podem ajudá-los a  impulsionar seus produtos ou negócios – inclusive mapeando a concorrência e a  audiência para atuação mais assertiva no envolvimento com seu público-alvo. Tudo isso com um acompanhamento próximo e profissional dos especialistas do Google, em parceria com a Echos e a Ajor”, afirma a executiva.

Além de ajudar as startups selecionadas a inovar e desenvolver novos modelos de negócios, o programa também visa fomentar o aumento da diversidade de vozes no ambiente midiático.

Das dez organizações selecionadas para a primeira edição do GNI Startups Lab, realizada em 2021, sete são associadas à Ajor: Agência BORI, Agência Tatu, Alma Preta, AzMina, Núcleo Jornalismo, MyNews e Ponte Jornalismo. Também participaram do programa as iniciativas Fervura, São Paulo para Crianças e Galápagos.

Para Maia Fortes, secretária Executiva da Ajor, o programa é uma oportunidade para empreendedores que estão aprimorando seus modelos de negócios e precisam de apoio para pensar em estratégias viáveis de inovação e sustentabilidade. “O ecossistema das startups de notícias no Brasil enfrenta desafios muito particulares relacionados à estrutura financeira, de negócio e de tecnologia. Esperamos que a consultoria especializada, alinhada às demandas de cada organização, ajude a alavancar ainda mais o jornalismo de alta qualidade que é produzido por iniciativas de todas as regiões do país”.

Conheça os critérios básicos para aplicar ao GNI Startups Lab:

  • Ser uma startup baseada no Brasil com foco em desenvolvimento de produto jornalístico com apuração original ou teor explanatório por pelo menos seis meses antes da inscrição;
  • Startups com foco em um ou mais dos seguintes tópicos: (i) Jornalismo de interesse público (ii) Produção de conteúdo que preencha uma lacuna de informação (iii) Produção de conteúdo local/regional ou a serviço de comunidades específicas (iv) Produção de serviços e conteúdo para comunidades socialmente vulnerabilizadas(v) Exploração de novas maneiras de distribuir e/ou monetizar informações.
  • No momento da inscrição, ter um produto já lançado no mercado e ativo, demonstrando tração por meio de visitas, inscrições e/ou receita;
  • Startups compostas por fundadores maiores de 18 anos. Os participantes devem ser capazes de falar e escrever em português de maneira eficaz;
  • Os fundadores devem estar disponíveis para participar do programa, estando presentes nas aulas, oficinas e sessões de mentoria realizadas virtualmente durante as 16 semanas de duração do programa;
  • Fundadores e startups não devem ser unicamente ou substancialmente administrados ou operados por qualquer pessoa que seja membro do comitê de avaliação do Startups Lab da Google News Initiative, ou por qualquer pessoa que seja parente imediato ou resida na(s) mesma(s) residência(s) de qualquer uma dessas pessoas.

Cada candidato poderá enviar apenas uma inscrição por rodada. Candidaturas múltiplas para a mesma proposta não serão consideradas. As inscrições seguirão abertas até 17 de julho pelo www.gnistartupslab.com.br. Os trabalhos selecionados serão anunciados em 1º de agosto. Mais informações pelo [email protected].


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