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segunda-feira, agosto 11, 2025

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Jabuti tem Lula x FHC e autores multipremiados entre finalistas

A Câmara Brasileira do Livro divulgou os finalistas do 64º Prêmio Jabuti, principal reconhecimento literário do Brasil. O concurso contou nesta edição com 4.290 trabalhos inscritos, em 20 categorias e trouxe dez finalistas em cada uma delas.

Destaque para Biografia e Reportagem, que trouxe trabalhos de alguns dos mais premiados jornalistas brasileiros, além de uma curiosa disputa entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

Um dos maiores vencedores da história do Jabuti, Laurentino Gomes volta a concorrer neste ano com Escravidão – Volume II (Editora Globo). Ele, que com Escravidão – Volume I já havia vencido esta mesma categoria em 2020, tenta agora repetir o sucesso da trilogia 1808, 1822 e 1889, campeãs nos anos em que concorreram ao prêmio de Livro-Reportagem. A diferença é que naquela época o Jabuti contava também com uma categoria especial de Melhor Livro do Ano – Não Ficção, sempre vencidas por ele.

Destaque também para Eliane Brum, jornalista mais premiada no ano passado e na história brasileira, segundo o Ranking dos +Premiados da Imprensa, que tenta seu segundo troféu com Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo (Companhia das Letras). Ela já havia conquistado a categoria Livro-Reportagem em 2007, com A vida que ninguém vê.

Outra disputa interessante envolve indiretamente dois antigos adversários políticos. Vencedor em Livro do Ano de Não Ficção de 2001 com Corações Sujos, Fernando Morais é autor der Lula: Biografia – Volume I (Companhia das Letras), enquanto Fernando Henrique Cardoso concorre com sua autobiografia Um intelectual na política: Memórias (Companhia das Letras).

Disputam ainda a categoria Biografia e Reportagem Anjo mutilado (Companhia da Letras), de Marcelo Bortoloti; João Cabral de Melo Neto: Uma biografia (Todavia), de Ivan Marques; Memórias Sangradas: vida e morte nos tempos do cangaço (Olhares), de Daniel Brito e Ricardo Beliel; Ney Matogrosso: A biografia (Companhia das Letras), de Julio Maria; O ar que me falta (Companhia das Letras e Penguin), de Luiz Schwarcz; e O vento mudou de direção: o Onze de Setembro que o mundo não viu (Fósforo), de Simone Duarte.

Confira a relação completa dos finalistas.

Repórter cinematográfico agredido durante operação da PF recebe alta do hospital

Agredido no último domingo (23) enquanto fazia a cobertura a resistência armada do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) a um mandado de prisão, Rogério de Paula, repórter cinematográfico da Inter TV, emissora afiliada da Globo, recebeu alta do hospital e voltou para casa.

Imagens divulgadas na internet mostram o momento em que o agressor Diogo Resende, assessor do vereador Robson Souza (PSDB), agride o repórter, que cai. Na queda, a câmera que segurava atingiu-o na cabeça.

Diogo apresentou-se em uma delegacia na segunda-feira (24/10) e vai responder em liberdade por lesão corporal. A Câmara Municipal de Três Rios exonerou-o do cargo de assessor parlamentar.

Duda Teixeira lança livro que reúne textos e reportagens de Gareth Jones

Duda Teixeira, editor da revista Crusoé, lançou o seu mais novo livro Fome na Ucrânia: Os relatos do front do Holodomor.
Duda Teixeira, editor da revista Crusoé, lançou o seu mais novo livro Fome na Ucrânia: Os relatos do front do Holodomor.

Duda Teixeira, editor da revista Crusoé, lançou o seu mais novo livro Fome na Ucrânia: Os relatos do front do Holodomor, uma seleção de 40 textos e reportagens do jornalista galês Gareth Jones. Essa é a primeira tradução de obras dele para o português.

Gareth niciou a primeira de suas três viagens para a União das Republicas Socialistas Soviéticas, a URSS, aos 24 anos, para documentar a evolução do Plano Quinquenal, anunciado pelo então ditador Josef Stalin. Na terceira viagem, em 1933, testemunhou o Holodomor, termo criado pela união das palavras ucranianas holod (fome) e mor (extermínio).

O livro reúne textos escritos por Gareth nesse período, em que narra a tragédia causada pela coletivização das terras e pelo confisco de grãos, que resultou na morte de cerca de 4 milhões de ucranianos. Ele foi assassinado em 1935, provavelmente pela polícia secreta soviética.

Justiça nega pedido de indenização de Oscar Fakhoury contra o Projeto Comprova

O TJ-SP acatou recurso do Aos Fatos contra a Revista Oeste, que pedia censura e indenização à plataforma de checagem.
O TJ-SP acatou recurso do Aos Fatos contra a Revista Oeste, que pedia censura e indenização à plataforma de checagem.

O juiz Henrique Dada Paiva, da 8ª Vara Cível do Foro Central Cível de São Paulo, negou pedido de indenização contra o Projeto Comprova em ação movida por Otávio Oscar Fakhoury, presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Fakhoury solicitava a condenação dos veículos e da organização ao pagamento de indenização por danos morais, retratação e direito de resposta em razão de uma verificação de fatos de agosto do ano passado, publicada pelo projeto.

O Comprova havia analisado uma thread (ou fio) feita por Fakhoury em sua conta no Twitter, onde, na sequência de postagens, o empresário linkou matéria desatualizada, veiculada quatro meses antes da thread, sobre a suspensão da aplicação de um tipo de imunizante nos Estados Unidos.

No julgamento, que ocorreu em 16/10, o magistrado relembrou a proteção constitucional que a liberdade de expressão recebe no País. Ele avaliou que, nesse caso, tais princípios foram respeitados.

Para a Justiça, a informação veiculada na postagem tinha o potencial de levar os leitores o erro, e as matérias jornalísticas que trataram da verificação foram objetivas e fundamentadas em documentos públicos e oficiais. Ao contrário do que Fakhoury buscou sustentar, as matérias não estão centradas em juízos subjetivos sobre ele, tendo como objeto a vacinação da população contra a Covid-19, assunto de interesse público.

Otávio Fakhoury ainda pode recorrer da decisão levando o caso para o Tribunal de Justiça de São Paulo.

Jornalistas lançam manifesto em apoio à democracia, ao TSE e à chapa Lula-Alckmin

Ajor: Como o jornalismo inova para combater a desinformação eleitoral

Jornalistas de todo o Brasil publicaram nesta segunda-feira (24/10) um manifesto de apoio ao trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a proliferação de fake news na campanha eleitoral.

O documento, aberto para receber novas adesões online, faz menção aos inúmeros ataques sofridos pela imprensa ao longo do mandato do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), e à recente polêmica envolvendo a Jovem Pan, acusada pelo TSE de tratar os presidenciáveis de forma desigual, além de reproduzir desinformações e notícias falsas contra o ex-presidente e candidato pelo PT, Luís Inácio Lula da Silva.

Confira a íntegra do documento:

 

“Manifesto de apoio à democracia, ao TSE e à chapa Lula-Alckmin

Como jornalistas com o compromisso ético de perseguir e publicar a verdade, estamos indignados com o grande fluxo de notícias falsas produzidas com o objetivo deliberado de fraudar a decisão livre do eleitor neste segundo turno da disputa presidencial.

Repudiamos toda e qualquer forma de censura e não admitimos que a liberdade de expressão seja distorcida para permitir a prevalência de mentiras na campanha eleitoral. Também vemos com apreensão que concessões públicas de rádio e TV sejam usadas em favor de uma candidatura. Por isso apoiamos o esforço do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para coibir a interferência danosa das fake news nas eleições, respeitados os limites da Constituição e da lei.

Bolsonaro tem uma trajetória associada à violência desde os anos 1980, com o plano de explodir bombas em quartéis que o levou à prisão. Ele e os filhos têm conexões com Adriano da Nóbrega, apontado como miliciano pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). O clã foi acusado por ex-funcionários de obrigar servidores a lhes entregar grande parte dos salários. Desde os anos 1990 a família comprou 107 imóveis e pagou quase a metade em dinheiro vivo.

Bolsonaro defende a ditadura, a tortura e o assassinato de opositores. Ofende as cidadãs e os cidadãos negros, indígenas, nordestinos e LGBTQIA+. Acha natural sentir atração sexual por meninas de 14 anos. Mostrou-se desumano diante da dor dos brasileiros na pandemia. Foi incompetente na economia e a fome voltou. Desprezou a ciência, o meio ambiente, a cultura e a educação.

Bolsonaro destruiu instrumentos de transparência e de combate à corrupção. Comprou o apoio do Congresso com o orçamento secreto, elevando a níveis inéditos o desvio de recursos públicos. Com o uso ilegal da máquina pública Bolsonaro ilude muitos, mas não os jornalistas dignos desse nome. Daí sua fúria contra nós, dirigida sobretudo às colegas mulheres.

É um presidente que prega abertamente a desobediência a decisões da Justiça e que incentiva a população a se armar, contribuindo assim para enfraquecer as instituições republicanas e estimular a violência.

Nós, jornalistas que defendemos uma comunicação democrática inclusiva e que respeite os valores da diversidade e da igualdade étnico-racial, recomendamos o voto em Lula e Alckmin nesta eleição em que a nossa democracia está em jogo.

Lula já demonstrou suas qualidades como gestor e provou sua inocência após injusto massacre judicial. Nada tem de comunista, como alardeiam seus inimigos. É um conciliador, que conta com o apoio de trabalhadores e da parcela mais lúcida do empresariado e da intelectualidade do país.

Reiteramos o apoio ao TSE e cobramos das grandes plataformas digitais maior empenho no combate às fake news para termos eleições limpas, livres e seguras. Com a ampla aliança conduzida por Lula e Alckmin, reencontraremos a paz, o desenvolvimento e, fundamental para a sobrevivência do jornalismo, teremos a garantia de que a democracia sobreviverá!

#FakeNewsNãoÉLiberdade
#FakeNewsÉCrime
#EuApoioTSE
#ManifestoDosJornalistas
#ForaBolsonaro
#LulaPresidente”

Flávio VM Costa é o novo editor-chefe do Intercept Brasil

Flávio VM Costa, um dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog deste ano é o novo editor-chefe do The Intercept Brasi
Flávio VM Costa, um dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog deste ano é o novo editor-chefe do The Intercept Brasi

Flávio VM Costa, um dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog deste ano, na categoria Produção Jornalística em Multimídia, é o novo editor-chefe do The Intercept Brasil. Em quase 20 anos de carreira, é o primeiro negro a ocupar esse cargo na entidade.

Baiano, estudou em escolas públicas de Salvador e formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, sendo o primeiro membro de sua família a concluir o ensino superior.

Antes de fazer parte do time do Intercept Brasil, Flávio dirigia o núcleo de jornalismo investigativo no UOL, área que ele mesmo criou. Também teve passagens por veículos como Correio e A Tarde, além de já ter atuado na produção de documentários investigativos.

Entidades sobem o tom contra a Jovem Pan

Mais de dez entidades de apoio ao jornalismo e à democracia publicaram na manhã desta segunda-feira (24/10) nota conjunta condenando a postura da Jovem Pan durante as últimas semanas de campanha eleitoral.

A emissora vem sofrendo uma série de sanções impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que considerou que, além de tratar os presidenciáveis de forma desigual, estaria reproduzindo desinformações e notícias falsas contra o ex-presidente e candidato pelo PT, Luís Inácio Lula da Silva.

Vale lembrar que a legislação brasileira prevê que candidatos não podem ser tratados de forma desigual por empresas com concessão pública, como é o caso da Jovem Pan, que além do canal na TV a cabo e no YouTube tem sua origem no rádio.

“Para nós, causa consternação o caminho seguido por um grande veículo, como a Jovem Pan, que utiliza uma outorga de rádio e outras plataformas de conteúdo para propagar produtos da indústria da desinformação, que não têm origem certa, apuração verificável ou qualquer referencial nos princípios básicos do bom jornalismo e, no fundo, buscam destruir a credibilidade das instituições democráticas”, afirma a nota.

Nas redes sociais e nos bastidores, a Jovem Pan e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro vêm denunciando o caso como se fosse censura, o que incomodou as entidades, historicamente reconhecidas por lutarem contra esse tipo de situação. “Lamentamos que, neste momento, esse conceito esteja sendo usado de forma tão deturpada por veículos de comunicação, principalmente concessionários públicos, na tentativa de levarem à frente uma espécie de vitimismo tacanho e obterem licença para continuarem a mentir, difamar e avariar os pilares do regime democrático”, completou o artigo.

Assinam o documento entidades de classe, como Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor/PA), e da sociedade civil, entre elas Instituto Vladimir Herzog, Intervozes, Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Observatório da Ética Jornalística (Objethos), Diracom (Direito à Comunicação e Democracia), Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), International Center for Information Ethics, Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e Artigo 19.

Confira a íntegra.

Intercept Brasil atinge meta e incentiva aumento de apoiadores mensais

Intercept Brasil é alvo de mentiras e difamação sobre doações ao PCC

O Intercept Brasil anunciou nesta sexta-feira (21/10) que conseguiu arrecadar os R$ 500 mil necessários para evitar seu fechamento imediato. Mas pede ajuda para aumentar em 500 o número de apoiadores mensais, com o objetivo de evitar que novamente corra o risco de fechar.

Cecília Olliveira, cofundadora do Intercept Brasil e uma das pessoas que liderará o site nesta nova etapa, ao lado de Andrew Fishman, publicou no Twitter que a meta foi atingida graças ao apoio de 6.687 pessoas.

“Fizemos história! Nossa comunidade se juntou para levantar R$ 500 mil em 7 dias. O Intercept continua!”, publicou o site. “Agora temos 72 horas para chegar a 10 mil apoiadores mensais para garantir que jamais vamos correr esse risco novamente. Só faltam 500 pessoas!”. Veja como apoiar.

Em 14/10, o Intercept Brasil anunciou que se separou da redação do Intercept nos Estados Unidos e que precisaria de doações para dar continuidade ao trabalho.

Abraji lista ferramentas para cobrir as eleições

A menos de dez dias do segundo turno, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) listou ferramentas úteis para auxiliar os jornalistas na cobertura das eleições. A ideia é aprofundar o debate sobre os candidatos nesta reta final.

O PinPoint, ferramenta gratuita do Google, permite que o usuário identifique automaticamente nomes de pessoas, instituições e locais mencionados em arquivos de áudio e texto. A plataforma também faz transcrições de áudios. Desde agosto de 2021, a Abraji, curadora do projeto no Brasil, disponibiliza documentos de interesse público na ferramenta.

O CruzaGrafos permite verificações cruzadas e investigações avançadas de dados. A ferramenta tem diferentes bases de dados públicas e possibilita visualizar ligações entre políticos, empresas, documentos e outras informações.

O Publique-se reúne mais de 7 mil processos judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e das justiças Estadual, Federal e do Trabalho. Na ferramenta, é possível verificar quais processos judiciais de interesse público citam políticos como partes.

O Ctrl-X, projeto criado em 2020 pela Abraji, mostra processos judiciais contra jornalistas e veículos, com o objetivo de identificar figuras públicas que estejam utilizando o Judiciário para atacar, perseguir e intimidar profissionais de imprensa. A ferramenta conta com mais de 5 mil ações.

E o Aleph, ferramenta criada pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), consórcio internacional de jornalismo investigativo, agrupa mais de 500 bases de dados que podem ser cruzadas entre si. A plataforma contém informações do tipo “follow the money”, ou seja, dados e documentos para rastrear ativos e propriedades corporativas, gastos governamentais e informações sobre indivíduos e grupos de interesse jornalístico.

Memórias da Redação: A imprensa na época dos dinossauros

Telex

Por Luiz Roberto de Souza Queiroz

Quando terminei de datilografar − isso mesmo, datilografar, numa máquina de escrever Olivetti − um release para a CBPO, Táta Gago Coutinho pediu um motoqueiro por telefone, entregou o texto e ele se mandou voando para Campinas, onde ficava o canteiro de obras da empreiteira e nossa interface, José Arthur.

Aprovado o texto com as correções feitas pelo engenheiro, o motoqueiro (que então ainda não era chamado de motoboy) voltou a São Paulo, onde o release foi redatilografado e xerocado em várias cópias. O motoqueiro, que ficara esperando, tomando café, partiu à toda para entregar na redação da Folha, do Estadão e do Diário Popular. Como ele conseguiu terminar a distribuição antes da meia-noite, quando os jornais fechavam, a notícia foi publicada e, satisfeitos, mandamos a conta para a CBPO.

O fato é de 1980 e seria corriqueiro, a não ser pelo fato de que, em vez de pagamento, da grana esperada, recebemos uma grande caixa enviada pelo José Arthur com um aparelho esotérico, o fax. Um bilhete explicava que da próxima vez bastaria passar o texto pelo equipamento, sem a correria desenfreada do motoqueiro. E ainda dava uma gozada, perguntando se nós, jornalistas, continuávamos na pré-história da tecnologia.

Fax

Nossa velocidade pré-histórica já tinha evoluído muito, entretanto, desde que Hypolito José da Costa lançou o Correio Braziliense original, em 1808. Ele o imprimia em Londres e o enviava como contrabando de navio para o Brasil, onde chegava no mínimo um mês depois.

Por falar em navio, quando uma tromba d´água provocou uma avalanche que quase destruiu Caraguatatuba, no litoral paulista, em 1967, os repórteres tiveram que descer a serra a pé, no meio da lama, alimentando-se de palmito cru cortado na hora e, já com a reportagem, os depoimentos e a descrição do desastre em mãos, perceberam que não havia meios de comunicação para transmitir.

Foi um sabichão, acho que do Jornal do Brasil, que alugou uma lancha, abordou um navio parado ao largo porque os portos estavam sem operar, e conseguiu passar a matéria pelo rádio de bordo. Eu fui um dos menos sortudos que ficaram com o grande furo no bolso, que só foi possível entregar na redação quatro dias depois, quando era notícia velha… e que não foi publicada.

Mesmo quando a imprensa adotava tecnologia moderna, costumava dar xabu na hora de usar. Foi assim na inauguração de Brasília, em 1960, como já contei em outro texto. O Estadão usou um equipamento de telefoto emprestado para passar as fotos no mesmo dia da inauguração de Brasília para São Paulo, mas a telefonista interurbana (é, era preciso pedir a uma telefonista que fizesse a ligação Brasília/São Paulo) achava que os apitos e zunidos transmitidos pela linha eram um defeito da ligação e interrompia perguntando se preferiam que a ligação fosse refeita, com o que no meio da fotografia saía uma tarja preta, correspondendo à voz dela.

Telefoto

Dois anos mais tarde, na Copa do Chile, em 1962, a telefoto quase não pôde ser usada pelo Fábio Salles para enviar os retratos dos gols para a redação, porque, com seu portunhol ininteligível, cismou de pedir um benjamim para ligar três tomadas numa única saída elétrica.

A arrumadeira não entendeu e ele uniu polegar e indicador de uma mão – no sinal de OK – e enfiava e retirava repetidamente o indicador da outra mão no orifício resultante, dizendo que “necessito esto agora mismo, muy necessário”.

O gerente do hotel foi chamado para expulsar o jornalista por assédio sexual, mas acabou entendendo e, do laboratório improvisado numa banheira cheia de fixador, as fotos puderam finalmente migrar – cada uma demorando 10 minutos – para São Paulo.

Problema tecnológico também complexo era trabalhar na Internacional nas segundas-feiras, quando uma cabine inteira da redação amanhecia com de oito a dez metros de notícias enfileiradas sem tirar de papel de bobina. Eram uns dois metros de notícias da France Presse, outro tanto da Reuters, outro ainda da Ansa, da United Press e de outras agências, cada uma com seu telex. Durante a noite as informações em inglês, italiano ou francês – o que explicava a necessidade de tradutoras de plantão – fluíam constantemente dos aparelhos.

Telex

Este que vos escreve era uma das ‘vítimas’ que precisava ler rapidamente todas as notícias, jogar fora a maioria, como resultados das corridas de touro da Espanha, para selecionar as que eventualmente mereceriam a honra de serem traduzidas e, quem sabe, publicadas no dia seguinte.

Problema maior era quando, numa época em que satélite era um sonho acalentado por um ou outro maluco da NASA, o cabo submarino que transmitia os sinais dava xabu, um problema que o editor Gianino Carta, pai do Mino, atribuía à publicação, em qualquer página do jornal, do nome do ex-rei da Itália, Vitor Emanuel III.

Apesar de o monarca ter abdicado em 1946, Gianino garantia que nos jornais italianos bastava sair o nome dele para as máquinas engolirem alguns dedos dos impressores e as ramas caírem no chão, misturando todas as linhas de chumbo trabalhosamente fundidas pelas linotipos. O ex-rei era o rei do azar, garantia o jornalista, supersticioso como todos nós.

Voltando ao tema abandonado acima, quando o cabo submarino dava xabu o sinal do telex ficava maluco e em vez de um impulso levar à impressão da letra correta, fazia com que a letra fosse a imediatamente à direita do teclado, se bem me lembro. Em decorrência, a notícia do assassinato, por exemplo, saía grafada como s mpyovos fp sddsddomsyp.

Não dá sequer para imaginar o desespero do jornalista que saía do telex com meio metro de papel de bobina com essa algaravia. Como, porém, nessa época pré-histórica, da qual esse seu criado participou… e com muito orgulho, mercê de anos dentro das cabines de telex, o Alaur Martin pegava a tira de papel com dizeres incompreensíveis e tranquilamente ‘traduzia’ a notícia perdida, trocando cada letra trocada pelo cabo submarino pela letra que deveria ter sido digitada.

Para nós, leigos na criptografia antediluviana, era milagre e quando ele nos devolvia a notícia reescrita de forma legível, só não o beijávamos porque o gesto seria mal interpretado. Mas que ele merecia, merecia.


Luiz Roberto de Souza Queiroz

A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação. Ele diz que este foi feito a quatro mãos, com a esposa, Táta Gago Coutinho. “Explico: a gente conversava, ela foi lembrando os temas e eu correndo atrás, para digitar”.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para baroncelli@jornalistasecia.com.br.

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