A história desta semana é de Nair Keiko Suzuki (nairsuzuki@gmail.com), que se aposentou no ano passado como editora-assistente de Economia e Negócios do Estadão, em sua segunda estada por lá. Ela atuou também em revista Notícias Fiesp e Gazeta Mercantil, teve três passagens pela sucursal paulista do JB, duas pela Agência Folhas e uma na Folha de S.Paulo, além de IstoÉ e na extinta revista Afinal. Carteirinha Na década de 1970, quando se trabalhava em sucursal de grandes jornais nacionais — como o Jornal do Brasil (JB), que hoje existe só online –, a gente fazia de tudo. Cobria incêndio do Joelma vendo as labaredas da calçada da elegante avenida São Luís, em São Paulo; mandava para a sede carioca as cotações das principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo para serem distribuídas pelo País todo; cobria manifestações no Vale do Anhangabaú pelas Diretas-Já; cobria pela tevê jogos importantes de futebol nos estádios de São Paulo e Santos; cobria turfe aos domingos, ouvindo a Rádio Eldorado, que irradiava os páreos e anunciava quem cruzava a linha de chegada. De repórter estagiária, em 1969, a chefe de Reportagem da sucursal do JB em São Paulo, cinco anos depois, fui credenciada em 1974 para cobrir o Grande Prêmio de Fórmula 1. O Autódromo de Interlagos estava entrando no circuito internacional do GP de automobilismo disputado em vários continentes e todos queriam fazer a melhor cobertura. Sem experiência no ramo, fui na cola dos coleguinhas e disputei o melhor espaço para poder entrevistar os pilotos e acompanhar os preparativos para a corrida. O espaço, porém, era pequeno para tantos repórteres. A organização do autódromo determinou, então, que só poderiam permanecer no local privilegiado os jornalistas profissionais com credencial. Quase todos tinham crachá e credencial. Decidiu-se, então, que só poderiam ficar quem fosse sindicalizado e tivesse a carteirinha do Sindicato. Muitos não tinham, mas eu tinha. Fiquei e fiz uma reportagem completa para o Jornal do Brasil sobre a vitória do Emerson Fittipaldi pela McLaren-Ford. Essa foi uma das raras vezes em que tive de exibir a carteirinha do Sindicato. Sem contar, é claro, os dias das eleições da diretoria da entidade. Por isso, e normalmente por desleixo, preguiça de ir até a sede do Sindicato e por querer adiar ao máximo o pagamento da taxa, a maioria renovava a carteirinha só muitos anos depois de vencido o prazo. O próprio Sindicato não se empenhava muito em alertar para a necessidade de atualização. Eu tenho guardada, pelo seu charme, uma carteirinha da Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais (Fenaj) feita em couro azul-marinho, que tinha todas as informações, inclusive o tipo sanguíneo, e uma tarja em diagonal escrita JORNALISTA, em vermelho. Essa carteirinha, de julho de 1991, venceu dois anos depois e a Fenaj abandonou o modelo, alegando que sua confecção era muito cara. Depois, o Sindicato de São Paulo, com apoio da Fenaj, lançou o Cartão do Sindicalizado, simples e feinho, válido também para ter descontos em lojas e serviços conveniados só para quem apresente documento com foto. O meu último venceu em dezembro de 2012. Em maio deste ano, ao passar pelo Sindicato, lembrei-me do Cartão do Sindicalizado vencido e fui à Secretaria. Lá me informaram que naquele momento não estava havendo renovação, mas que se eu quisesse, poderia solicitar a nova carteirinha da Fenaj, expedida pelo órgão que tem sede em Brasília. Fiz o requerimento, paguei uma taxa de R$ 85, entreguei uma foto 3 X 4 e enviei de casa cópia do meu diploma de jornalista pela ECA-USP. Cerca de um mês depois recebi a carteirinha em casa, pelo Correio. Achei-a muito bonita e criativa, com foto dos dois lados, e coloquei-a no meio de outros documentos sabendo que dificilmente, a essa altura da vida, alguém vai me pedir a identificação de jornalista. Aposentei-me, após 45 anos de profissão, mas carrego comigo a carteirinha, feliz e orgulhosa como o repórter que vê sua primeira matéria publicada no jornal. Depois que o prazo de validade vencer, daqui a três anos, vou dá-la para minha neta, Olivia, como lembrança da vovó jornalista.