Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Uma das dez palavras do ano do dicionário Collins em 2021 foi trabalho híbrido, confirmando que o modelo de combinar dias no escritório e dias em casa veio para ficar.

A ideia agora está se estendendo a encontros corporativos e atividades como coletivas de imprensa e congressos, que começam a ressurgir depois do período de trevas que alguns países viveram em 2021.

Mesmo sem as restrições do ano passado, vários encontros estão adotando este ano o formato combinado, oferecendo a possibilidade de participar ao vivo ou virtualmente.

Um dos exemplos é o Simpósio Internacional de Jornalismo Online do Knight Center, que está com inscrições abertas.

Para quem gosta da ideia, aqui vai mais um argumento: eventos híbridos podem ser mais sustentáveis − desde que algumas regras sejam seguidas.

Essa foi a constatação de um estudo publicado na revista Nature Communications, provando em números que as conferências virtuais ou híbridas têm o potencial de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

O tamanho do negócio é gigante. Os cinco autores citam um levantamento da Oxford Economics constatando que em 2017 os eventos empresariais mobilizaram 1,5 bilhão de pessoas de 180 países, demandaram US$ 2,5 trilhões em investimentos e contribuíram com 26 milhões de empregos.

Mesmo com o abalo causado pelo pandemia, a previsão é otimista. A Allied Market Research tinha avaliado há dois anos a indústria de eventos em US$ 1.135,5 bilhões. Em janeiro passado, projetou aumento de 11% até 2028.

Um grande negócio, mas também um grande problema ambiental, com megaestruturas e uma multidão de participantes cruzando os céus.

O tamanho do problema

Segundo os autores do trabalho, até agora esse impacto não tinha sido quantificado.

O que eles fizeram foi medir os efeitos de alimentação, acomodação, preparação, execução, tecnologia da informação e comunicação e transporte.

Depois de muitas contas, gráficos e tabelas, a conclusão foi de que a transição da conferência presencial para a virtual tem o potencial de diminuir a pegada de carbono em 94% e o uso de energia em 90%.

Se o evento tiver 50% de participação presencial, a pegada de carbono e o uso de energia podem ser reduzidos em dois terços.

Mas não basta trocar uma coisa pela outra. O estudo faz recomendações sobre como atingir esses resultados.

Uma delas é a descentralização. Os pesquisadores sugerem que conferências com mais de 50% de participação presencial devem ter hubs em diferentes localidades, a fim de reduzir deslocamentos.

Além disso, mudar o cardápio do coffee break de encontros presenciais para dietas baseadas em vegetais e melhorar a eficiência energética de tecnologia da informação e comunicação nos virtuais podem reduzir ainda mais a pegada de carbono.

Networking x Inclusão

Como tudo na vida, trocar o formato presencial por um modelo híbrido ou totalmente virtual traz vantagens e desvantagens.

A perda óbvia é o networking. Algumas conferências até criaram atividades de socialização online, mas elas não substituem a conversa do cafezinho.

Por outro lado, atividades virtuais e híbridas são mais inclusivas e podem alcançar mais público.

Uma pesquisa feita pela Nature Communications entre seus assinantes em março de 2021 revelou que 74% dos acadêmicos preferiam continuar com reuniões científicas somente virtuais ou ter uma opção virtual, apesar da “fadiga do Zoom”.

O motivo relatado foi a descoberta de que depois o isolamento da pandemia permitiu participar de mais eventos e apresentar mais trabalhos do que naquela era distante em que viagens eram permitidas, mas limitadas pelo tempo e pelos custos altos.

O mesmo raciocínio pode valer para reuniões de empresas, conferências de negócios e apresentações para a imprensa.

Juntando-se a isso o benefício em potencial para a mudança climática, o dicionário de palavras mais populares de 2022 pode ganhar um novo vocábulo: depois do trabalho híbrido, a conferência híbrida.

Confira a íntegra do estudo.


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