Por Luiz Roberto de Souza Queiroz

A maravilhosa história de Sérgio Vaz sobre a Olivetti do Lenildo, que trocava as teclas para que os “catadores de milho” não pudessem usar a “sua” máquina, publicada no Jornalistas&Cia 1.321, remete à história de Paulo de Tarso Costa, um dos muitos que já se foram para a redação lá de cima.

Foca de tudo, no primeiro dia de jornal o Paulinho – que viria a se tornar um grande repórter − teve que me acompanhar numa reportagem, “para aprender como se fazia”. Se bem me lembro, era sobre um famoso sapateiro italiano produtor de scarpins de alto nível, que dava uma coletiva no Hotel Jaraguá e, sei lá por quê, o Estadão resolveu que deveria ser entrevistado.

Paulinho anotou toda a entrevista, como eu, e na volta expliquei que escrevesse sua matéria sozinho. Eu escreveria a minha e depois compararíamos para ele entender o que tinha feito de certo e de errado.

Terminei a matéria, passei para o editor, fui ler os jornais, copidesquei algumas notícias que chegavam, gastei um tempão e Paulinho… nada. Eu olhava para ele, que, ponta da língua fora da boca, batucava na Olivetti, catando milho, é claro, tirava a lauda, corrigia à mão, voltava a colocar a folha na máquina… e nada.

Já quase na hora do fechamento finalmente Paulinho entrega ao chefe de Reportagem as duas laudas sofridamente produzidas.

A matéria até que estava boa, o incrível é que todas, absolutamente todas as letras “O” estavam escritas à mão. A explicação, disse candidamente Paulinho, é que “a máquina não tinha a letra O”.

“E por que você não trocou de máquina?”, perguntou o editor. 

“Trocar com quem, se ninguém mais está escrevendo, quase todo mundo já foi embora?”.

Fomos examinar a máquina do Paulinho e, é claro, o “O” estava lá, funcionando perfeitamente. Só que, sem encontrar a tecla do “O”, que caíra da Olivetti, o carinha da manutenção das máquinas a substituíra por outra, de vírgula, que tinha estampado um número, em vez da letra, mas o Paulinho não descobriu o “mistério”. 

A foquice acabou resultando num joguinho efêmero: vários de nós disputamos escrever textos “à la Paulinho”, para ver com que velocidade era possível escrevinhar pulando para deixar em branco todas as letras “O” do texto. Não foi mole, não…


Luiz Roberto de Souza Queiroz

A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação.

Nosso estoque do Memórias da Redação acabou. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

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