Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

As redes sociais fortalecem ou enfraquecem a democracia? A resposta depende do país, como demonstra uma pesquisa do Pew Research Center em 27 mercados, divulgada no ano em que boa parte do planeta vai às urnas para eleger chefes de estado e de governo.

 

E é justamente nos EUA, no centro das atenções eleitorais devido à possibilidade da volta de Donald Trump ao poder, que mais gente vê as redes como ameaça ao regime democrático.

O Brasil, viciado em redes, aparece em quinto lugar entre os países onde a população vê menos riscos causados por elas: 71% acham que elas são boas para a democracia, enquanto 25% acreditam que não são benéficas.

O país mais favorável às redes como elemento positivo para a democracia é a Nigéria, com 77% do público entrevistado pensando dessa forma.

Na média geral dos países pesquisados, segundo o Pew,  as redes são mais aprovadas do que reprovadas sob a perspectiva de seu impacto sobre o ambiente democrático.

Traços comuns entre países

Mas olhando com lupa, os pesquisadores encontraram alguns traços comuns entre grupos de países. Nas economias emergentes − como Brasil, Nigéria, México, Quênia e Índia − as pessoas são mais propensas a dizer que as redes sociais promovem a democracia.

Em países mais desenvolvidos, como EUA, França, Holanda, Austrália, Canadá e Reino Unido, o sentimento é inverso, com mais entrevistados afirmando que as redes sociais tiveram um efeito negativo sobre a democracia do que declarando achar que contribuem para seu fortalecimento.

Em algumas nações esse sentimento pode ter sido influenciado por movimentos do governo. O estudo destaca a França, onde Emmanuel Macron tomou posição forte em favor da regulamentação das redes sociais para conter a propagação de desinformação.

Em 2023, o presidente também sugeriu que o acesso às mídias sociais deveria ser cortado em tempos de agitação política, inclusive durante os protestos por causa da violência policial na França.

Em linha com outros estudos examinando comportamentos nas redes sociais, a idade conta na opinião do público. Em 14 dos países pesquisados, adultos mais jovens têm maior probabilidade do que os mais velhos de dizer que as redes sociais são boas para a democracia.

Esta diferença é mais acentuada na Polônia, onde 86% dos adultos com menos de 40 anos afirmam que as redes sociais beneficiaram a democracia no seu país, em comparação com 56% das pessoas com 40 anos ou mais.

O Brasil não ficou longe: 76% dos entrevistados entre 18 e 39 anos veem benefícios das redes, mesma visão de 67% daqueles acima dos 40.

“Não vi e não gostei”

Outro fator que influencia a opinião é a frequência de uso das redes sociais, lembrando o ditado “não vi e não gostei”.

Os que as utilizam são bem mais inclinados do que os não usuários a dizer que as redes sociais beneficiaram a democracia em seu país.

Em todos os mercados pesquisados pelo Pew, há uma diferença de pelo menos 10 pontos entre usuários e não usuários de redes sociais nesta questão. No Brasil ela é de 14 pontos.

O estudo pode surpreender diante de tantas críticas a respeito do impacto das plataformas digitais sobre a sociedade e escândalos como o do Cambridge Analytica, em que o Facebook foi usado para influenciar eleições nos EUA.

No entanto, isso aconteceu em uma era em não havia o escrutínio de hoje sobre as plataformas digitais. Nem as organizações sérias de mídia estavam tão bem desenvolvidas para exibir seu conteúdo nas redes sociais como hoje.

Atualmente, quando se fala em conteúdo de redes, o conjunto engloba o que extremistas ou disseminadores de desinformação postam, mas também o jornalismo de qualidade − e isso é bom para a democracia, levando informação confiável aos feeds de pessoas pouco proativas na busca de notícias ou sem acesso a assinaturas pagas.

Outro elemento dessa equação é a pluralidade. Expostas a várias opiniões, as pessoas podem escolher no que acreditar. O risco é que, em países com baixo nível educacional e pouca educação midiática para desconfiar de extremismos ou de fake news, a democracia pode estar sendo mais afetada do que os entrevistados pelo Pew percebem.


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