Foi a leilão, em São Paulo, em 21/3, o prédio de 55 mil m2 da Editora Abril, estrategicamente localizado na Marginal do Tietê. O complexo foi inaugurado em 1968, mesmo ano em que a empresa deu à luz a revista Veja, que viria a ser a mais importante do País e a quarta entre as semanais de informação do mundo.

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Com o arremate vencedor da Marabraz, desaparecerá, de forma melancólica, um dos símbolos mais nobres e reconhecidos do jornalismo brasileiro, por onde passaram milhares de profissionais que deram régua e compasso à imprensa do País, com publicações hegemônicas em praticamente todos os segmentos editoriais.

O Portal dos Jornalistas e a newsletter Jornalistas&Cia têm acompanhado com tristeza todo o desdobramento da decadência do império construído por Victor Civita e que começou a ruir com os múltiplos erros de gestão de seu sucessor e herdeiro, Roberto Civita, consumando-se poucos anos depois de sua morte.

Só que a Abril, muito mais do que um prédio, uma marca, miríades de publicações, era uma quase religião, tal o grau de afeição que todos por ela nutriam, fosse pelos bons salários, boas oportunidades profissionais, clima de camaradagem, fosse sobretudo pelo alto grau de liberdade existente, mesmo nos anos de chumbo.

Nas redações, pululavam cantores, dançarinos, jogadores de futebol, que usavam os intervalos para dar asas a seus dotes amadores, que encantavam quem por ali passava, certamente enervando os mais conservadores, sem que isso fosse um obstáculo intransponível.

Só quem lá esteve viu livreiros pararem as redações para conferir os últimos lançamentos, o carrinho de lanches que sinalizava a hora do recreio, cosméticos, roupas, tudo ali era uma festa. E até os sindicatos dos Jornalistas e dos Gráficos tinham liberdade de ação, com diretores que ali trabalhavam em algumas das publicações da empresa. Mas nem pensar em prescindir, irreverência à parte, de produzir e oferecer à sociedade o melhor do Jornalismo brasileiro.

Por essa razão, a newsletter Jornalistas&Cia, usando a sugestão de um de seus mentores e colaborador ocasional José Maria dos Santos, decidiu sair em campo para fazer uma edição especial e com ela celebrar um ciclo profícuo, que, tendo o famoso Edifício da Marginal do Tietê como símbolo, aportou uma das mais belas páginas da história do Jornalismo brasileiro. Que hoje, é certo, continua, mas agora num novo ciclo que, todos torcemos, seja também profícuo.

Mas a Abril que desaparece deixou marcas indeléveis em milhares de profissionais de inúmeras formações. Jornalistas, publicitários, marqueteiros, administradores, advogados, médicos e por aí vai. Uma saga que coincidentemente teve as modestas contribuições de três integrantes da equipe de Jornalistas&Cia: Silvio Ribeiro, nosso diretor comercial, que ali trabalhou entre 1967 e 1969, na Distribuidora Abril; Wilson Baroncelli, editor executivo, que esteve por lá entre 1975 e 1979, e o diretor Eduardo Ribeiro, que em duas passagens, entre 1969 e 1977, ali iniciou e reiniciou sua jornada profissional.

O especial conta com depoimentos de Carlos Maranhão, Gerson Reis Júnior, Ignácio de Loyola Brandão, Júlio César Barros, Luiz Bonasio, Luiz Laerte Fontes, Marilda Varejão, Marlene Jaggi, Nelson Graubart, Nelson Romanini Filho, Tão Gomes Pinto e Silvio Lancellotti, todos com passagens marcantes pela empresa.

Confira a edição!

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