Pela primeira vez desde sua criação em 2017, o Atlas da Notícia, censo que mapeia a presença do jornalismo local no Brasil, registrou redução nos chamados “desertos de notícias”, ou seja, regiões que não oferecem aos seus cidadãos informações apuradas e produzidas por jornalistas sobre o lugar onde vivem.

O estudo, inspirado no projeto America’s Growing News Deserts, da Columbia Journalism Review, é promovido no Brasil pela Projor. De acordo com a pesquisa, que contou com 303 colaboradores voluntários e estudantes de 80 organizações e universidades brasileiras, 271 municípios passaram a contar com ao menos um veículo de comunicação local no último ano, enquanto 15 voltaram a ser considerados desertos.

“Os dados demonstram que a atividade jornalística no país é intensa, com o surgimento de novos empreendimentos que forçam e testam os limites do que entendemos ser um veículo de comunicação jornalístico”, explica Sérgio Lüdtke, presidente do Projor e coordenador da equipe de pesquisadores do Atlas. “A expansão dos meios digitais no país, muitos deles de empreendedores individuais, traz consigo o desafio de capacitar os novos meios para uma gestão sustentável e o estímulo à criação de políticas públicas que estimulem o surgimento de novas iniciativas para reduzir ao máximo os desertos de notícias no país.”

A redução dos desertos foi maior nas regiões Norte, onde foi identificada atividade jornalística em mais 95 municípios, e no Nordeste, em 87 municípios. As notícias passaram a ocupar esses territórios por conta do avanço dos meios nativos digitais e pelo crescimento da produção de notícias por rádios, sobretudo as comunitárias.

No total, o levantamento mapeou 14.444 veículos jornalísticos em atividade no Brasil, um acréscimo de 5,2% em relação ao último censo. Os meios online são 5.245 e correspondem a 36% do total de veículos de comunicação. Desses, 1.671 são blogues ou meios que usam redes sociais como sua principal plataforma de distribuição de conteúdo.

Apesar do avanço, a pesquisa mostrou ainda que 2.712 municípios permanecem desertos de notícias. Neles vivem 26,7 milhões de habitantes, enquanto outras 32,4 milhões de pessoas vivem nos 1.643 municípios que têm somente 1 ou 2 veículos de comunicação jornalística, considerados no censo como quase desertos. Proporcionalmente ao número de cidades, o Nordeste é a região com maior número de desertos, com 56,4% dos municípios nessa condição.

O Atlas da Notícia 2023 contou com a coordenação local de cinco pesquisadores, um em cada região do país: Angela Werdemberg (Centro-oeste), Jéssica Botelho (Norte), Mariama Correa (Nordeste), Marcelo Crispim da Fontoura (Sul) e Dubes Sônego (Sudeste). Eles participarão de uma conferência online na próxima terça-feira (15/8), às 19 horas, na página do Observatório de Imprensa no YouTube.

 

Novo site

Uma das novidades desta edição do Atlas da Notícia foi o lançamento de seu novo site. Agora será possível ver todos os principais dados em uma única página, facilitando a pesquisa e o cruzamento com diversas bases de dados. A ferramenta estará disponível a partir de 14 de agosto.

“Pesquisadores agora terão um recurso a mais para desenvolverem pesquisas baseadas em cruzamentos de dados”, acrescenta o coordenador de dados do Atlas da Notícia, Sérgio Spagnuolo. “Inicialmente, estamos nos concentrando em informações de educação e conectividade no Brasil, mas em breve queremos colocar mais bases de dados para cruzamento”.

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