Por Hamilton Almeida e Eduardo Ribeiro

O pai do jornalismo de tecnologia no Brasil está offline”, escreveu Bruno Romani para a edição do Estadão. Aos 90 anos, morreu na noite do último domingo, 16, o jornalista Ethevaldo Siqueira, pioneiro da cobertura tecnológica no País. Ele estava internado em São Paulo, no hospital Oswaldo Cruz, para o tratamento de leucemia. Deixou esposa, dois filhos, cinco netos e uma bisneta. O enterro foi no Cemitério da Bom Pastor, em Ribeirão Preto (SP).

Em homenagem a ele, o jornal, em suas versões impressa e digital, mostrou a enorme contribuição desse paulista de Monte Alto (SP) ao jornalismo, em especial em temas como tecnologia e inovação, quando ali atuou, entre 1967 e 2012. Ele saiu, até com alguma mágoa, pelos tantos anos de contribuição, mas acabou voltando e nos últimos quatro anos com a coluna Mundo Digital na Rádio Eldorado FM. E esteve na ativa praticamente até o fim, pois a última participação dele na emissora foi em 14 de outubro.

Ethevaldo Siqueira

Não é demais lembrar sua generosidade, tão falada por amigos e colegas nas redes sociais, comprovada em participações nas mais diversas atividades, inclusive sindicais. Difícil esquecer a sua participação em encontros e congressos dos próprios jornalistas, levando sua mensagem e seu conhecimento sobre tecnologia. Era um show de deixar a todos boquiabertos.

Com o olhar voltado sempre para o futuro, Ethevaldo descreveu o desenvolvimento de diversas tecnologias no Brasil e no mundo. Em 15 de fevereiro de 1993, mais de dois anos antes da estreia da internet comercial no Brasil, ele escreveu no Estadão: “O mundo assiste a uma nova revolução no mundo da informática e das telecomunicações: a revolução das redes de voz e de dados. Ela é o resultado da crescente capacidade de comunicação dos computadores”.

“Dar conta do nível de pioneirismo do Ethevaldo é difícil − ele já era um repórter interessado na cobertura de tecnologia na década de 1960”, disse o jornalista e colunista do Estadão Pedro Doria. “Ninguém na imprensa brasileira via a área como algo que precisava ser coberto de forma sistemática. O Ethevaldo via. Quando o ‘jornalismo de informática’ começou a surgir, nos anos 1980, Ethevaldo já era um veterano de duas décadas”.

Mas destacamos também o apoio que ele sempre deu à saga e à memória do inventor brasileiro do rádio, Roberto Landell de Moura, divulgando os feitos científicos pioneiros do padre gaúcho. Provavelmente, foi um dos primeiros jornalistas paulistas a lembrar do padre inventor em seus artigos, reportagens e livros.

Landell e sua invenção

Quando publicou os livros Grandes personalidades das comunicações, em 2001, Revolução digital, em 2007, e Para compreender o mundo digital, em 2008, incluiu referências ao cientista brasileiro pioneiro das telecomunicações.

Em 29 de setembro de 2000, assinou um artigo no Estadão intitulado Marconi não inaugurou o Cristo Redentor em 1931. Além de ter levado, injustamente, a fama de inventor do rádio, Marconi, que na verdade inventou o telégrafo sem fio, também aparecia na história nacional como responsável pela iluminação do Cristo Redentor, por meio de um impulso elétrico acionado desde a distante Roma.

Ironicamente, o País que não reconhece em seus livros didáticos que Padre Landell é o verdadeiro “Pai do rádio”, estava concedendo uma deferência especial ao italiano…

Graças ao trabalho de Ethevaldo, ficou-se sabendo, anos mais tarde, que os sinais enviados por Marconi não puderam ser captados por problemas meteorológicos. O plano B entrou em ação: um dos engenheiros ligou a chave comutadora em paralelo, que estava prevista para uma emergência, e salvou a festa. E Marconi foi ficando com a fama, mais uma vez, pelo que não fez!

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