A equipe de editores-adjuntos do jornal Vedomosti, um dos principais da Rússia, pediu demissão nessa segunda-feira (15/6) em protesto ao anúncio de Andrei Chmarov como novo editor-chefe, que até então ocupava o cargo interinamente. Ele já havia provocado uma série de polêmicas com atitudes favoráveis ao governo de Vladimir Putin. Os jornalistas que pediram demissão acusaram o Kremlin de interferir na linha editorial do jornal.
Deixaram a publicação os editores adjuntos Boris Safronov, Philip Sterkin, Kirill Kharatian, Dmitri Simakov e Alexander Gubski. O Vedomosti (notícias, em russo) foi criado por um grupo que editava o hoje apenas digital The Moscow Times, em parceria com o jornal britânico Financial Times e o americano Wall Street Journal. É uma publicação de viés liberal, que aborda temas como economia, negócios e política.
Antes de as plataformas digitais nascerem, opiniões polêmicas já causavam danos pessoais a celebridades e constrangiam organizações cujos profissionais se expressavam sem alinhamento ao pensamento da companhia. Mas o advento das mídias sociais alçou tal risco à estratosfera, porque os efeitos negativos podem agora rapidamente ganhar dimensão planetária.
O pesadelo da autora britânica J.K. Rowling é emblemático. Um comentário feito pela criadora da série Harry Potter no Twitter há duas semanas desencadeou uma volumosa onda negativa. E fez refletir sobre cuidados que pessoas públicas precisam ter ao se posicionarem sobre questões sensíveis.
Rowling ironizou a forma como uma ONG dedicada a prevenir o suicídio na comunidade de transgêneros referiu-se a pessoas que nasceram com sexo feminino − chamando-as de “pessoas que menstruam“, em vez de mulheres. A reprimenda veio de Daniel Radcliffe, que encarnou Potter nas telas. Ele defendeu os direitos dos que declaram pertencer a um determinado sexo independentemente de como nasceram, ganhando adesão de atores, personalidades e ativistas.
Sob a ótica da gestão de crises, a reação de J.K.Rowling foi desastrosa. Um pedido de desculpas talvez estancasse a sangria. Mas justificativas frágeis e a arriscada ideia de buscar empatia revelando-se vítima de violência doméstica pelo ex-marido fez tudo piorar.
Na semana passada a reservada escritora teve sua intimidade exposta nas capas dos principais jornais britânicos. E não parou de ser enxovalhada nas redes.
A história tirou do ostracismo o ex-marido da autora, de nacionalidade portuguesa. E valeu ao tabloide The Sun reprovações pela capa da última sexta-feira (12/6). Entrevistado pelo jornal, o moço confirmou a agressão e sustentou que não se arrependia, para desespero de entidades que classificaram a manchete como apologia à violência familiar.
Jornalistas tuiteiros na berlinda − O episódio pode causar prejuízos à carreira de Rowling, pelo risco de boicote aos livros e a projetos futuros. Mas os efeitos são restritos a ela, que não deve ficar pobre se perder alguns contratos. Menos rica, talvez.
As coisas se complicam, porém, quando uma postagem afeta a corporação a que o autor pertence. E se agravam quando a corporação é uma empresa jornalística, dedicada a entregar informação isenta. Ou alinhada a uma posição ideológica que faz parte de sua história. Ou exclusiva.
A atividade dos jornalistas políticos britânicos nas redes sociais, sobretudo no Twitter, é intensa. De vez em quando há uma saia-justa. Nos bastidores o questionamento sobre a prática vem ganhando corpo.
A BBC é o alvo principal, por ser pública. Multiplicam-se os casos de profissionais da emissora criticados por postagens em suas contas.
Dois renomados jornalistas que exerceram cargos executivos − Lionel Barber, que dirigiu a redação do Financial Times, e Will Lewis, ex-chefe da Dow Jones e Wall Street Journal − expressaram nos últimos dias preocupação com o problema durante uma conferência digital promovida pelo think-tank Centre of Study for Financial Innovation.
Barber acha que jornalistas devem ser mais cuidadosos no uso das mídias sociais, pois seus canais têm sido tratados como plataformas individuais, exibindo comentários e não notícias. Para ele, para evitar interpretações equivocadas, não é suficiente ressalvar que as opiniões são pessoais e não da empresa.
Já Lewis deplorou a postagem de matérias antes de chegarem aos leitores, observando que os que pagam pela notícia deveriam ser os primeiros a recebê-la. Ele foi duro, instando os jornalistas a cessarem com a prática, que vê como “imprópria”.
É um movimento que caminha na direção de criar regras para o uso de mídias sociais. Mas esbarra numa pedrinha chamada liberdade de expressão. Se encontrar um equilíbrio, o padrão estabelecido por organizações de mídia britânica que estão debruçadas sobre o tema pode inspirar outros grupos a seguirem o modelo.
O perfil Sleeping Giants Brasil, que vem alertando empresas sobre a exibição de seus anúncios em páginas que disseminam fake news, a partir da contratação de mídia programática, divulgou nessa segunda-feira (15/6) uma relação de marcas que ainda não haviam feito o bloqueio de suas publicidades nas referidas páginas.
Dentre as empresas citadas chamou a atenção o fato de os jornais Folha de S.Paulo e Gazeta do Povo terem suas imagens ligadas ao site Brasil sem medo, que tem como idealizador ativista de extrema direita Olavo de Carvalho. O site recentemente afirmou que o coronavírus não aumentou o número de mortos por causas respiratórias no Brasil e que a mídia brasileira estaria distorcendo o número das vítimas da pandemia.
Em nota encaminhada a nossa reportagem, a Folha explicou: “Todas as campanhas de marketing da Folha estão sendo direcionadas para uma lista de sites selecionados. O domínio brasilsemmedo.com não está nesta relação. Após alerta, a equipe técnica de nossa agência identificou uma falha que fez com que os anúncios de uma de nossas campanhas fossem direcionados a sites fora de nossa lista. Essa falha já foi corrigida”.
Já a Gazeta do Povo informou que, “se identificada a presença de notícias falsas intencionais ou de conteúdo criminoso, o plano de mídia será refeito e o site, bloqueado”. E completou: “A Gazeta do Povo reforça o seu compromisso com o jornalismo ético e com a apuração criteriosa, mas também ressalta sua defesa da liberdade de expressão. A empresa não apoia o boicote a veículos pelo fato de eles exporem opiniões divergentes às suas ou às de quem fez o alerta. O jornal acredita que a pluralidade de ideias e o respeito a visões divergentes são fundamentais para a democracia e o fortalecimento da sociedade”.
A jornalista filipina Maria Ressa foi condenada nessa segunda-feira (15/6) por “difamação digital” por causa de um artigo escrito em 2012 sobre as supostas relações entre um empresário e o presidente do Supremo Tribunal do país na época. Ela é diretora do site Rappler, onde o artigo foi publicado, que faz reportagens críticas ao governo do presidente das Filipinas Rodrigo Duterte. Maria pode pegar até seis anos de prisão.
O empresário citado no artigo denunciou a jornalista em 2017. O pedido foi negado, mas agora retomado e encaminhado à Promotoria, que decidiu levar a diretora do Rappler e Reynaldo Santos, autor do artigo, à justiça. Reynaldo também foi condenado, mas foi libertado sob fiança.
A lei de crimes cibernéticos nas Filipinas, que pune a difamação na internet, assédio e pornografia infantil, entrou em vigor em setembro de 2012, após a publicação do artigo. Mas a Promotoria explicou que, por causa de uma republicação do artigo para a correção de um erro tipográfico após o dia em que a lei passou a valer, o caso poderia ser julgado como possível difamação digital de acordo com essa lei.
Maria, que recebeu diversos prêmios internacionais ao longo da carreira e foi considerada uma das personalidades de 2018 segundo a revista Times, declarou que a condenação “não era inesperada” e que vai “continuar resistindo aos ataques contra a liberdade de imprensa”. O ocorrido foi repudiado por diversas entidades defensoras da liberdade de imprensa. A ONG Anistia Internacional disse que “o histórico de direitos humanos das Filipinas continua, neste caso, a despencar”.
Esse não foi o primeiro “atrito” entre imprensa e governo filipinos. O presidente Duterte já ameaçou fechar a ABS-CBN, principal veículo jornalístico do país, por denunciar abuso de violência contra traficantes e supostos viciados em drogas.
O Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, divulgou nesta terça-feira (16/6) os resultados da pesquisa Digital News Report 2020, que estuda os meios de acesso à informação ao redor do globo. Neste ano, ela foi feita em 40 países. Cerca de 40% dos entrevistados afirmaram estar preocupados com a desinformação vinda de políticos, 14% temem fake news de ativistas e 13%, de jornalistas e veículos de notícias.
No Brasil, o índice de pessoas que se preocupam com a desinformação de políticos é de 50%. O País junta-se a Estados Unidos, Filipinas e África do Sul como os que mais temem fake news de políticos. A pesquisa indica que a imprensa é uma das fontes mais confiáveis durante a pandemia do coronavírus (59%), atrás apenas de cientistas e autoridades de saúde. As redes sociais e os aplicativos de mensagens aparecem como as fontes menos confiáveis, com índices de 26% e 24%, respectivamente.
O estudo indica ainda que, em países com maior polarização política (como o Brasil), os participantes que afirmam seguir uma ideologia de direita tendem a culpar mais a imprensa pela desinformação. Além disso, o instituto pesquisou o principal canal de desinformação em cada país: em quase todos os 40 países, o Facebook foi apontado como o principal meio de desinformação. No Brasil, porém, o WhatsApp é o primeiro colocado.
Uma liminar concedida pelo juiz Daniel da Silva Luz, da comarca de Espumoso, no Norte do Rio Grande do Sul, está impedindo a veiculação de uma reportagem da RBS TV. A matéria trata da concessão irregular do abono emergencial e o pedido foi feito por uma das pessoas citadas na reportagem.
O juiz ainda determinou uma multa de R$ 50 mil reais caso a decisão seja descumprida, mas vale lembrar que a Constituição Brasileira proíbe a censura prévia. A RBS TV informou que recorreria.
Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) declararam que estão acompanhando com preocupação a decisão judicial, que impede o pleno exercício do jornalismo pelo Grupo RBS.
O ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, anunciou nessa segunda-feira (15/6) um pedido à Polícia Federal e à Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar uma charge produzida pelo cartunista Renato Aroeira, e compartilhada por Ricardo Noblat.
O desenho mostra o presidente Jair Bolsonaro após terminar de transformar em uma suástica a cruz vermelha de um hospital, acompanhado da seguinte frase: “Bora invadir outro?”.
Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa afirmou que Noblat e Aroreira contam, neste momento, com defesa incondicional da entidade. “É estarrecedor que o ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, anuncie a abertura de um inquérito policial contra o chargista Aroeira e o colunista Ricardo Noblat, devido a uma ilustração criada pelo primeiro e reproduzida pelo segundo, associando Bolsonaro ao nazismo”, afirma a nota assinada pelo presidente, Paulo Jerônimo.
A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira-SP), órgão vinculado ao Sindicato dos Jornalistas de SP) está promovendo uma série de quatro lives para abordar diversos aspectos relacionados à atividade de Luiz Gama na imprensa do século XIX. A ação celebra os 190 anos de seu nascimento, comemorado no próximo dia 21 de junho.
Advogado e jornalista, Gama foi o principal líder abolicionista negro no Brasil. Em 1964 fundou o primeiro jornal ilustrado de São Paulo, o Diabo Coxo, ao lado do caricaturista italiano Ângelo Agostini, e teve uma longa trajetória em outros veículos da época. Como articulista, contribuiu em questões fundamentais, como a representação da população negra na mídia e a defesa de princípios como a liberdade de imprensa.
A live de estreia aconteceu na última quinta-feira (11/6), e as demais estão programadas para os seguintes dias:
18/6 (18h)
Live 2 – Luiz Gama: uma luz sobre o blecaute histórico
Apresentação: Beatriz Sanz (jornalista, bolsista na fundação Cosecha Roja (Argentina), co-criadora do Banco de Talentos Negros e integrante da Cojira-SP)
Convidado: Oswaldo Faustino (jornalista, escritor, ator e co-fundador da Cojira-SP. Autor dos livros “A Legião Negra” e “ A luz de Luiz”, entre outros)
21/6 (16h)
Live 3: As lições de resistência do jornalista Luiz Gama
Apresentação: Cláudia Alexandre (jornalista, doutoranda em Ciência da Religião na PUC-SP, apresentadora do Programa Papo de Bamba e integrante da Cojira-SP)
Convidada: Ligia Ferreira (Profa. Dra. do Departamento de Letras na UNIFESP. Autora e organizadora dos livros “Primeiras Trovas Burlescas e outros poemas”, “Com a Palavra, Luiz Gama” e “Lições de Resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro”)
25/6 (18h)
Live 4 – Luiz Gama: a voz negra na imprensa
Apresentação: Guilherme Soares Dias (jornalista, empreendedor, apresentador do Guia Negro Entrevista, integrante da Cojira-SP)
Convidada: Cinthia Gomes (jornalista, mestranda em Ciências da Comunicação na USP, integrante da Cojira-SP e da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo)
Flávio Ricco, especialista em notícias de TV e famosos, deixou o UOL e estreou nesta segunda-feira (15/6) sua coluna no portal R7. Segundo o portal, a atuação dele será multimídia, com atualizações diárias, um podcast e um programa multiplataforma.
Ricco começou a carreira escrevendo na extinta Folha da Tarde a primeira coluna sobre televisão do País. Passou por diversos jornais, rádios e emissoras de televisão, como Record, Tupi, Globo, Band, Gazeta e SBT. Esta é a terceira passagem dele na Record. Em 1978, dirigiu um programa de entrevistas apresentado por Ferreira Netto. Em 1986, voltou à emissora com o mesmo programa. Desde 2003 assina sua própria coluna no Canal 1, publicada em mais de 80 jornais. De 2008 a junho deste ano escreveu também no UOL.
PM sem identificação (à direita, de óculos) empurrou o repórter Luís Adorno (UOL). Crédito: UOL
Um policial militar sem identificação empurrou o repórter Luís Adorno (UOL), que cobria as manifestações pró e contra o Governo Bolsonaro deste domingo (14/6). Ele estava gravando uma confusão entre jovens identificados como neonazistas e manifestantes antifascistas, quando foi empurrado pelas costas pelo PM. O celular do repórter caiu no chão e teve a tela danificada.
Depois da agressão, Luís, que é negro, questionou o PM, perguntou sobre sua identificação e afirmou que o empurrão não era necessário. Em tom intimidatório, o PM respondeu: “Vem cá, vamos trocar uma ideia, o que você falou aí? O que você falou aí?” Em seguida, o policial xingou o repórter. O capitão da PM Rogério da Silva Julio orientou Luís a enviar informações para a Corregedoria e destacou que a atitude não é tolerável.
Segundo testemunhas, o policial empurrou Luís para atrapalhar o registro. Não havia aglomeração de pessoas no momento do ocorrido. Rafael Ferreira Souza, manifestante antifascista que testemunhou a agressão, declarou: “Você (Luís) pegou o celular para filmar o que estava acontecendo e chegou o policial e te esbarrou de propósito, isso aí todo mundo viu, de propósito, pra você não filmar o que tava acontecendo”.
Em nota conjunta, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira-SP) repudiaram a agressão, questionando “o fato de o agente estar sem identificação, dificultando assim a denúncia. Sindicato, Fenaj e Cojira-SP cobram a devida responsabilização do agressor, e lembra que o Estado deveria ser garantidor dos direitos de manifestantes e jornalistas, e não violador”.
De acordo com o Sindicato, Adorno foi à delegacia para registrar ocorrência e lá voltou a ser intimidado pelo mesmo PM. “Vamos trocar uma ideia, ficou com medo?” disse o policial.