Reconhecida duas semanas atrás pela revista Prospect, uma das publicações mais importantes da imprensa britânica, como uma das 25 pensadoras e pensadores mais influentes do mundo em 2024, Eliane Brum, a +Premiada Jornalista da História do Brasil segundo o Ranking +Premiados da Imprensa, foi eleita a Pensadora do Ano para 2025. Ela estava entre os escolhidos pela publicação e agora, após votação popular, ficou em primeiro lugar.
Eliane, que é também fundadora da Sumaúma, plataforma de jornalismo trilíngue feita sobre e a partir da Floresta Amazônica, tem 37 anos de carreira no jornalismo, sendo 27 deles cobrindo pautas socioambientais e a Amazônia. Em 2016, durante um trabalho em Altamira, no Pará, percebeu que precisava se mudar para aquela região, um “epicentro de tudo o que precisamos mudar”.
A jornalista era a única representante brasileira na lista que incluía importantes pensadores especializados em temas como clima, economia, liberdade, geopolítica e tecnologia. No site da Sumaúma Eliane comentou sobre o reconhecimento:
“Eu defendo a recentralização do mundo. Não apenas a centralidade da Amazônia, mas de todos os biomas e dos oceanos. Defendo o deslocamento do que é centro e do que é periferia. E isso não é nem pode ser apenas retórica. A recentralização do mundo é urgente. Esse reconhecimento da Prospect me dá muita alegria, porque esse deslocamento de centralidades parece estar presente nessa escolha, ao colocar no centro outros valores e outras ideias.”
Eliane faz parte da lista dos jornalistas +Premiados no exterior, com importantes reconhecimentos, como o Maria Moors Cabot e o Prêmio SIP em duas oportunidades. Venceu também prêmios como Esso, Vladimir Herzog, Mulher Imprensa eJabuti de Melhor Livro Reportagem.
O jornal digital Poder360, fundado e desde então dirigido por Fernando Rodrigues, está em contagem regressiva para os seus 25 anos de vida, a se completarem em 18 de abril. Embora tenha sido batizado com o atual nome apenas em novembro de 2016, a operação editorial teve início em 2000 com o antigo Blog do Fernando Rodrigues, à época hospedado no UOL.
Fernando Rodrigues
Em janeiro de 2017, iniciou a fase solo, independente e definitiva. O último post no UOL havia sido publicado em 31 de dezembro de 2016. O Drive, newsletter única no mercado e exclusiva para assinantes, também celebra data redonda, dez anos, que serão completados em 25 de maio.
Segundo lembra Rodrigues, “o Poder360 é a operação editorial mais antiga da mídia brasileira dedicada exclusivamente aos assuntos do poder, lato sensu. Faz a cobertura ampla de notícias sobre os Três Poderes, mas também sobre economia, negócios, agências reguladoras e diversas indústrias relevantes, como as dos setores de energia, agropecuária, saúde, esportes, tecnologia, mídia e assuntos internacionais”.
Ele lembra ainda que muitos veículos digitais nasceram e morreram nesses 25 anos. “Tudo parece ser muito fugaz na internet”, destaca, garantindo: “Sobreviver um quarto de século no meio digital talvez seja o equivalente a durar 50 ou 100 anos na mídia impressa. Estar operando de maneira cada vez mais consolidada e ampliando a influência e credibilidade do Poder360 é um sinal de que a produção jornalística tem sido útil para o público que se informa por aqui. Sem o aval do leitor não seria possível existir tanto tempo”.
Marina Colasanti morreu nessa terça-feira (28/1), aos 87 anos. A causa da morte não foi divulgada, mas a TV Globo informou que ela sofria de Mal de Parkinson e teve pneumonia. Deixa viúvo, o jornalista e escritor Affonso Romano de Sant’Anna, e duas filhas. O velório será nesta quarta-feira (29/1), no Parque Lage, Zona Sul do Rio de Janeiro. O local marcou a história de Marina, que chegou a morar lá.
Marina nasceu em Asmara, capital da Eritreia, na época uma colônia italiana. Veio para o Brasil aos 11 anos e teve formação como artista plástica. Apesar disso, começou a trabalhar, em 1962, como jornalista e cronista do Jornal do Brasil. Escreveu para revistas da Editora Abril, apresentou programas culturais na televisão e traduziu para o português autores estrangeiros renomados.
Foi autora de mais de 70 obras, para crianças e adultos, entre poesia, contos, crônicas, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil, neste caso ilustrando as próprias obras. Recebeu o Prêmio Machado de Assis em 2023, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Em 2024, foi escolhida como personalidade literária do ano pelo Prêmio Jabuti, após ganhar a estatueta nove vezes ao longo dos anos, na categoria de Melhor Livro Infantil.
É considerada uma das grandes personalidades da cultura brasileira, e teve uma carreira marcada pela sensibilidade e pelo talento.
Repórter fotográfico da Folha garantiu primeira colocação no ano passado com as conquistas dos prêmios Maria Moors Cabot, CICV, Direitos Humanos e Folha de Jornalismo
Depois de meses de apuração, com 200 premiações jornalísticas analisadas neste período, Jornalistas&Cia e Portal dos Jornalistas divulgaram nesta terça-feira (28/1) uma edição especial com os resultados do Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira 2024.
Em sua 14ª edição, a iniciativa apontou Lalo de Almeida, repórter fotográfico da Folha de S.Paulo, como o +Premiado Jornalista do Ano. Com 162,5 pontos, o jornalista alcançou a primeira posição do Ranking com a conquista de importantes prêmios, entre eles o Maria Moors Cabot, uma das mais antigas e relevantes premiações de jornalismo do mundo, por seus mais de 30 anos de carreira e dedicação em retratar ameaças ao meio ambiente e crises migratórias.
Lalo também integrou as equipes que conquistaram em 2024 os prêmios CICV, na categoria Cobertura Humanitária Internacional; Direitos Humanos de Jornalismo, em Multimídia; e Folha de Jornalismo, na categoria Reportagem. Essas premiações também fizeram Lalo subir 20 posições no Ranking dos +Premiados Jornalistas da História, pulando da 46ª para a 26ª posição.
Lalo durante a cobertura das queimadas no Pantanal em 2020
Este é o segundo ano consecutivo e a terceira vez na história do Ranking que um repórter fotográfico é o +Premiado Jornalista do Ano. Em 2023 tal feito coube a Marcia Foletto, de O Globo, e em 2015, Dida Sampaio (Estadão) e Domingos Peixoto (O Globo) dividiram o primeiro lugar.
Curiosamente, o segundo colocado desta edição também foi um repórter fotográfico: Paulo Pinto, da Agência Brasil. Fabiana Moraes, professora de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco e colaboradora do The Intercept Brasil, completou o pódio na terceira posição.
Entre os veículos, destaque para TV Globo, Folha de S.Paulo e Metrópoles, que ocuparam as primeiras posições entre os +Premiados Veículos do Ano, e para o Grupo Globo, que mais uma vez foi o +Premiado Grupo de Comunicação do Ano.
A edição especial traz ainda quais são os jornalistas, veículos e grupos de comunicação +Premiados da História, além de recortes regionais e por plataforma de atuação, no caso dos veículos.
Lalo de Almeida, da Folha de S.Paulo, é o +Premiado Jornalista de 2024. Com 162,5 pontos, o repórter fotográfico alcançou a primeira posição do Ranking com a conquista de importantes prêmios, entre eles o Maria Moors Cabot, uma das mais antigas e relevantes premiações de jornalismo do mundo, por seus mais de 30 anos de carreira e dedicação em retratar ameaças ao meio ambiente e crises migratórias.
Lalo também integrou as equipes que conquistaram em 2024 os prêmios CICV, na categoria Cobertura Humanitária Internacional; Direitos Humanos de Jornalismo, em Multimídia; e Folha de Jornalismo, na categoria Reportagem. Essas premiações também fizeram Lalo subir 20 posições no Ranking dos +Premiados Jornalistas da História, pulando da 46ª para a 26ª posição.
Este é o segundo ano consecutivo e a terceira vez na história do Ranking que um repórter fotográfico é o +Premiado Jornalista do Ano. Em 2023 tal feito coube a Marcia Foletto, de O Globo, e em 2015, Dida Sampaio (Estadão) e Domingos Peixoto (O Globo) dividiram o primeiro lugar. Curiosamente, o segundo colocado desta edição também foi um repórter fotográfico: Paulo Pinto, da Agência Brasil.
Especializado em pautas socioambientais, Lalo de Almeida fez ao longo de sua carreira parte de importantes projetos audiovisuais que evidenciam temas como desmatamento, mudanças climáticas, incêndios devastadores, impactos da ação humana na natureza e as diversas (e muito complexas) relações entre o homem e o ambiente. Através de suas fotografias, mostra aquilo que muitos querem manter “por trás das cortinas”.
Nascido em 1970, tem mais de três décadas de carreira no fotojornalismo. Diz que sempre teve interesse por fotografia e “aventuras”. Desde a juventude, fazia registros de suas viagens, passeios, escaladas e trilhas, chegando inclusive a vender algumas de suas fotos para revistas.
Estudou fotografia no Instituto Europeo di Design, em Milão, Itália. Na época, chegou a trabalhar cobrindo pautas policiais. Ao retornar ao Brasil, teve breve passagens por Estadão e revista Veja, até chegar à Folha de S.Paulo, onde trabalha há mais de 30 anos. Colaborou também em diversos projetos para o jornal americano The New York Times, além de outras publicações brasileiras, como Globo Rural e revista Crescer.
É autor de diversas séries de fotografias premiadas internacionalmente, como Distopia Amazônica (projeto ao qual se dedicou por 12 anos), ABatalha do Belo Monte (2013), Um Mundo de Muros (2017), Pantanal em Chamas (2020) e Darién, a Selva da Morte (2024).
O Ranking +Premiados da Imprensa conversou com Lalo de Almeida sobre sua carreira e trajetória no fotojornalismo. Ele falou sobre as motivações que o levaram a seguir na profissão, como se interessou e especializou em pautas socioambientais, os riscos desse tipo de cobertura e bastidores de premiados trabalhos que fez.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Ranking 2024 – O que significa para você ser o +Premiado Jornalista de 2024?
Lalo de Almeida – É um reconhecimento por essa dedicação que tive ao longo da carreira. Sempre brinco que não me considero um cara talentoso, e sim um cara muito esforçado. Então, acho que ser o +Premiado reconhece esse esforço, essa dedicação de tantos anos trabalhando sempre no mesmo ritmo, na mesma toada, tentando ser coerente, vejo como um reconhecimento pela carreira.
Lalo fotografando uma área queimada do Pantanal em 2020, na região da Serra do Amolar (MS).
É importante ressaltar que nada disso teria acontecido se eu não tivesse trabalhado com alguns dos melhores jornalistas do Brasil. Na verdade, esse reconhecimento aconteceu porque tive o privilégio de trabalhar com essas feras, se não, eu não teria ganhado todos esses prêmios. Estou sendo premiado e reconhecido, mas na verdade é um reconhecimento meu e de todos os jornalistas com quem trabalhei, estou recebendo de forma individual, mas enxergo muito como algo coletivo.
E são parcerias longas com esses jornalistas e não esporádicas, parcerias de anos e anos de trabalho. Então, tive a sorte de trabalhar com os melhores. A fotografia é um processo meio solitário e individual, onde você está lá sozinho para fazer o clique. Mas até chegar esse momento da foto ocorre um processo muito coletivo, desde a elaboração da pauta, do projeto, viagens, apuração, até finalmente a hora da fotografia. Então, nada disso teria acontecido sem o apoio dos meus colegas nesses trabalhos premiados.
Ranking 2024 – Como surgiu seu interesse em trabalhar com fotojornalismo?
Lalo – A fotografia sempre esteve presente na minha vida como uma forma de registrar minhas viagens. Quando eu era mais jovem, na adolescência, queria fazer fotografia de natureza. Fazia muitas caminhadas, escaladas, e fotografava essas viagens. Cheguei até a publicar minhas fotos em algumas revistas. Mas nessa época eu estava perdidão, não sabia que curso fazer, que profissão seguir, acabei indo cursar Geologia, mas não era para mim.
E nesse meio tempo eu continuava fotografando minhas viagens, explorava cavernas e registrava esses momentos. Uma vez, fiz uma viagem de bicicleta pela Patagônia, e publiquei as fotos em vários lugares, revistas, jornais. E foi aí que percebi que talvez esse negócio tinha jeito, decidi ser fotógrafo, decidi fazer isso da minha vida. Fui estudar fotografia, mas na época não havia graduação, uma formação específica no Brasil. Então, lembrei do meu irmão que morava em Milão, na Itália, eu também já falava italiano, e foi assim que decidi ir para lá, para estudar fotografia no Instituto Europeo di Design.
Lalo durante a cobertura das queimadas no Pantanal em 2020.
Nessa época, para me sustentar, trabalhei em uma pequena agência de fotojornalismo que cobria apenas cronaca nera − em italiano, assuntos policiais. Eu pegava minha motinho, ficava escutando a frequência de rádio da polícia e dos bombeiros, e quando acontecia algo, saía dirigindo para lá e fotografava o ocorrido. Depois, revelava as fotos (era ainda a época do preto e branco), editava, ampliava e logo em seguida pegava a motinho de novo e ia nas redações dos jornais para vendê-las. Foi uma experiência fantástica, pois eu fazia o ciclo inteiro da notícia, do trabalho, desde entender o que era a pauta, sair para fotografar, editar, revelar, ampliar, até conseguir vender o peixe para o editor. Cheguei a cobrir a Guerra da Bósnia, no começo dos anos 1990, por uma outra agência, cobertura essa que também foi uma grande escola de aprendizado para mim.
Aí chegou um ponto em que achei que era a hora de voltar ao Brasil, um país muito rico, com muitas histórias para contar. Mas quando cheguei, não conhecia ninguém. Trabalhei alguns meses no Estadão e na revista Veja, mas as coisas não estavam fluindo. Foi então que um editor da Folha de S.Paulo me ligou e me convidou para trabalhar lá. Fui pensando que não ia durar muito, com a ideia de ficar no máximo um ano, e olhe lá. E o que era para ser apenas um ano acabou virando 30. Estou perto de completar 31 anos de Folha. E não me arrependo. É um lugar incrível, que tem um ambiente que exala vontade de criar, de contar histórias. Foi justamente na Folha que fiz alguns dos melhores projetos da minha carreira. Acredito que o jornal me possibilitou fazer trabalhos que em poucos lugares do mundo eu conseguiria.
Ranking 2024 – O seu interesse em cobrir questões socioambientais surgiu por causa de suas viagens ou algum outro fator te deu aquele “estalo”?
Lalo – Acho que um pouco dos dois. Sinto que tive um retorno às minhas raízes no sentido de que gosto muito de fotografar no meio da natureza, prefiro fotografar em ambientes afastados, rurais, estar no meio desses lugares remotos. Sinto que consegui juntar no meu trabalho hoje aquele desejo de estar fotografando no meio da natureza, e ao mesmo tempo colocando o jornalismo nisso tudo, contando as histórias, as ameaças que rondam esses biomas.
Mas creio que teve um momento muito importante na minha carreira, que considero uma virada de chave em vários sentidos, que foi o trabalho sobre Belo Monte. Esse trabalho me fez entender essa ocupação predatória na Amazônia, e foi a partir dele que comecei a fazer muitos projetos especiais multimídia para a Folha.
Em 2009, me mandaram para Altamira, para cobrir as primeiras audiências públicas para a população sobre o que seria o projeto Belo Monte. Fomos para ver o que a população achava, os indígenas e ribeirinhos. E quando comecei a ouvir o que seria o projeto, pensei “nossa, isso aqui vai ser um estrago, vai ter um impacto gigantesco nas populações”. Despertei um interesse em acompanhar o projeto Belo Monte do começo ao fim. Pedi para a Folha para que, sempre que tivesse alguma pauta em Altamira, me escalassem para eu continuar acompanhando a história de perto. Mas eu acabava indo apenas uma vez por ano, não ia ser suficiente para cobrir totalmente o assunto.
Foto de capa do projeto A Batalha de Belo Monte, publicada no final de 2013.
Foi então que consegui uma bolsa do Ministério da Cultura chamada Marc Ferrez, um prêmio para fotografia, e usei o dinheiro para documentar os impactos socioambientais da obra de Belo Monte. Passei quatro meses em 2013 morando em Altamira, fotografando as obras, que estavam a todo vapor. E aí, no segundo semestre de 2013, a Folha resolveu começar a fazer grandes projetos multimídia, um deles sobre Belo Monte. E como eu já estava por perto, a Folha mandou mais cinco jornalistas para me ajudar lá. Produzimos o especial em 15 dias.
Então, esse trabalho de Belo Monte foi uma virada de chave para mim por dois motivos. O primeiro porque entendi o que era esse processo de ocupação predatória da Amazônia, que não leva em conta as questões ambientais nem as populações locais. Percebi o quão nocivos são esses projetos, e me interessei demais por tudo isso, quis continuar registrando, fotografando, procurando outros assuntos dentro desse tema, outras histórias. E ao mesmo tempo, quando fiz esse especial, o jornal começou a me chamar para fazer praticamente todos os especiais multimídia. Todo ano eu fazia algum projeto que durava de quatro a seis meses. Então, foi virada de chave também nesse sentido, pois a partir de Belo Monte comecei a fazer vários outros projetos especiais.
Ranking 2024 – Sobre o projeto Um Mundo de Muros, como foi vivenciar e cobrir essas divisões entre as populações de países e regiões tão distintos?
Lalo – Foi um projeto fantástico. Trabalhei ao lado de Patrícia Campos Mello, uma das melhores jornalistas do Brasil [N. da R.: Patrícia também foi a +Premiada Jornalista do Ano nas edições 2019 e 2020 do Ranking]. Nós pensamos nesse projeto numa época em que vários “muros” e divisões estavam sendo erguidos pelo mundo, o assunto era bem pertinente. Foram viagens incríveis, todas foram únicas. Visitamos zonas de conflito, com muita tensão. Visitamos os muros entre Estados Unidos e México, Quênia e Somália, Sérvia e Hungria, além de muros internos no Peru e Brasil. Passamos então por África, Europa, América e Oriente Médio.
Muro entre México e Estados Unidos, destacando parte do dele dentro d’água, da série Um Mundo de Muros (2017).
Creio que a mais difícil em termos de acesso foi a do muro entre Quênia e Somália. É região tensa, com muito terrorismo. Os terroristas saem da Somália, entram no Quênia e fazem os atentados. E a gente teve que pedir autorizações para vários órgãos do governo do Quênia para conseguir acessar esse local. Qualquer deslocamento que fazíamos, tínhamos escolta armada. E quando fomos no muro, a gente foi num comboio militar, com uns 30 soldados
Nessa viagem foi a primeira vez que eu usei um drone. Foi um projeto supermultimídia, com imagens em 360 graus, e eu tinha acabado de comprar um drone para usar. Quando chegamos na fronteira, tinha um fosso e uma grade gigantesca que cerca esse fosso, com vários soldados em volta, e aquele clima de tensão. Aí tirei a câmera, comecei a fotografar rápido, e eu ia fazer algumas imagens com o drone também. Mas depois de só cinco minutos que chegamos lá, um soldado se aproximou e falou que, por questões de segurança, a gente não poderia ficar muito tempo ali. Ou seja, a gente atravessou meio mundo para no fim ficar só cinco minutos no muro? No fim, nem usei o drone. A gente acabou ficando 20 minutos no máximo. Quer dizer, foi uma canseira, indo atrás de diversas autorizações, muito tempo de viagem, deslocamento, para ficar pouco tempo no muro. Se fiquei 20 minutos registrando o muro foi muito.
Mas foi um projeto incrível e que, no começo, parecia inviável e impossível. Era muita grana para as viagens. Tentamos patrocínio por fora, mas não conseguimos. E no fim, a Folha bancou tudo e esse trabalho acabou sendo um dos trabalhos mais premiados do jornal.
Ranking 2024 – E sobre a série Pantanal em Chamas, o que você sentiu ao ver toda aquela destruição e ao tirar a foto emblemática do macaco carbonizado?
Lalo – Esse trabalho foi muito marcante para mim. Na época, estávamos fazendo um projeto chamado Amazônia sob Bolsonaro. Então, nosso foco estava 100% na Amazônia. Eu estava trabalhando com meu amigo Fabiano Maisonnave, que na época era correspondente em Manaus. E a gente começou a receber notícias de que os focos de incêndio no Pantanal estavam crescendo, lá perto de junho, julho. E aí já tínhamos viagem marcada para Amazônia, mas decidimos ir para o Pantanal antes da Amazônia.
E, sendo sincero com você, estávamos meio desinformados, para falar a verdade, a gente sabia que a situação estava feia, mas não tínhamos noção do quão grave estava. Quando chegamos lá, foi um grande susto. O céu estava lindo e azul, achávamos que não tinha tanto fogo assim, mas conforme fomos chegando perto do Sesc Pantanal, na região de Poconé, que era o lugar onde estavam concentrados os incêndios, de repente surgiu um muro de fumaça, era fogo por todo o lado. Não tínhamos noção do tamanho dos incêndios.
Na Amazônia, o que ocorre normalmente com os incêndios (isso está mudando recentemente por causa do clima) é o seguinte: o pessoal derruba as árvores pois não consegue colocar fogo com elas em pé pois são muito úmidas. Então, primeiro derrubam árvores, esperam a vegetação secar e colocam fogo quando a vegetação já está seca. E nesse processo, nesse meio tempo, os bichos conseguem fugir. Mas no Pantanal, é diferente, o fogo passa devastando tudo rapidamente. E a quantidade de animais mortos que vimos lá foi assustadora, de partir o coração. Foi um susto essa descoberta dos incêndios no Pantanal.
Depois disso tudo, seguimos viagem para a Amazônia, que já estava marcada, para continuar nossa cobertura. Mas admito que fiquei angustiado de deixar o Pantanal. Tentei convencer a Folha a voltar para Pantanal, mas naquele momento não tinha como. Então eu, angustiado, fui para lá por conta própria, com a minha família.
A foto específica do macaco queimado foi feita nessa viagem. Estávamos numa fazenda próxima à Serra do Amolar, na fronteira com a Bolívia, e o fogo tinha passado no dia anterior com uma velocidade gigantesca, um dos incêndios mais fortes que vi. No dia seguinte, percorremos a região por onde o fogo tinha passado. E no meio do cenário apocalíptico, com uma cinza esbranquiçada de tão forte que era o fogo, nos deparamos com essa figura. Quando olhei, até levei um susto, pois parecia quase uma figura humana. Era um macaco bugio, que estava em uma posição como se estivesse rastejando, fugindo das chamas, e é um movimento muito humano, parecia uma pessoa. Foi um choque. E quando olhamos em volta, percebemos que não era só aquele macaco, tinha outros, era um bando. Encontramos outros macacos carbonizados.
Ficamos pensando sobre o quão devastadoras foram as chamas, e o quão rápidas elas foram, pois nem os macacos, que são bichos espertos e rápidos, conseguiram escapar. Encontramos até aves calcinadas nas árvores, que nem conseguiram voar, não deu tempo de voar, ou ficaram perdidas, tamanha a intensidade do fogo. Então, foi um choque tremendo. Estávamos acostumados a ver incêndios na Amazônia, mas no Pantanal, o que pegou de verdade foi a questão dos bichos, dos animais, e não só eles mortos, mas vimos muitos feridos, agonizando, filhotes sem os pais, bichos com a pata queimada, uma verdadeira tragédia.
Foto de um macaco bugio carbonizado para a série Pantanal em Chamas (2020). A posição do macaco lembra uma figura humana.
Ranking 2024 – Pensando em todos esses temas essenciais que você cobriu com suas imagens, qual a importância da fotografia para o jornalismo?
Lalo – Para responder a essa pergunta me vêm à cabeça algumas coisas. Depois de tantos anos cobrindo esses temas socioambientais, a minha percepção é que o interesse das pessoas por esses assuntos ainda é muito pequeno. Então, acho que a imagem, que é uma linguagem muito direta e cria muita empatia com o outro, é um jeito de se comunicar muito eficiente. Acho que as fotografias têm essa capacidade de atrair as pessoas para que se interessem pelas histórias.
Lalo em meio aos incêndios que atingiram o Pantanal em 2020.
Ainda mais hoje, em um mundo onde cada vez menos as palavras são usadas, a questão da imagem está cada vez mais presente, acredito que a fotografia jornalística, feita seguindo os padrões do jornalismo profissional, com credibilidade, critérios, apuração e conceitos, é muito eficiente, e tem capacidade de se comunicar com as pessoas de uma maneira muito imediata, forte e potente. Não adianta nada ficar falando que o Pantanal está queimando, queimou 30% do pantanal − tudo bem, é importante, mas acho que as pessoas conseguem se conectar mais com essa notícia quando veem por exemplo a foto do bugio queimado. Eu acho que a fotografia, nesse sentido, tem uma eficiência enorme.
Então, a fotografia é importante pelo poder de comunicação imediata e direta que ela tem, principalmente nesses assuntos que às vezes as pessoas acham chatos ou não se interessam muito. Você consegue criar uma conexão mais rápida e potente com os leitores.
Ranking 2024 – Qualquer tipo de investigação jornalística tem seus riscos, e com a cobertura da Amazônia e de questões socioambientais não é diferente. O que você tem a dizer sobre a questão da segurança dos jornalistas durante essas coberturas mais arriscadas?
Lalo – No caso da cobertura da Amazônia, especificamente, acredito que precisamos falar sobre alguns pontos que tornam o trabalho mais desafiador e mais perigoso. Grande parte das atividades que acontecem na Amazônia, de alguma forma estão ligadas a atividades ilícitas, garimpo, extração de madeira, drenagem de terra, assuntos recorrentes nas coberturas. Então, o tempo inteiro estamos em contato com esses grupos que praticam atos ilícitos, e às vezes até estão ligados a políticos, que estão cometendo crimes e obviamente não querem se expor. E cada vez mais temos grandes facções criminosas que estão por trás dessas atividades ilícitas, a situação vem se tornando complexa.
Para nós, que cobrimos pautas ligadas à Amazônia, a sensação que eu tenho é que, atrás daquela determinada curva, pode ter alguém te esperando, sabe? É a sensação de que, atrás daquela árvore, tem alguém te esperando, tem uma emboscada. E nós andamos muito nessas coberturas, não ficamos parados, vamos atrás da notícia, e então ficamos expostos a todo o momento, e com pouquíssimos recursos de como pedir socorro. Estamos muito por conta própria.
Outro ponto a se pensar é o seguinte: são regiões tão tensas, com uma tensão constante, que qualquer mal-entendido pode gerar uma tragédia. Trabalhamos sempre num certo nível de tensão. Uma vez, durante uma cobertura, novamente com Fabiano Maisonnave, estávamos num ramal da Transamazônica e paramos para fotografar um jerico, um caminhãozinho muito utilizado por lá, que tinha um adesivo do Bolsonaro. Descemos para tirar uma foto desse jerico, o Fabiano fez uma foto com o celular mesmo, e aí um cara saiu correndo com uma peixeira atrás da gente.
Em outra ocasião, eu estava em Altamira, tomando um guaraná num boteco. E o som estava bem alto, tocando músicas de sofrência, que falavam sobre traição, e tinha um casal já bêbado tomando cerveja do meu lado. Aí falei para o meu amigo e colega Marcelo Leite que estava na cobertura comigo: “Marcelão, você já reparou que aqui só toca música de corno?” E isso eu estava falando para ele, fiz uma piada. Aí o homem do lado ouviu, e ele queria me matar. Ele estava bêbado e disse que ia me matar e esperar a polícia.
Lalo fotografando uma área invadida por grileiros dentro da Terra Indígena Trincheira/Bacajá (PA).
Outro problema é que estamos constantemente em lugares muito remotos, afastados. Então, qualquer emergência de saúde que você tiver, você está perdido. Imagine que você está no meio do Vale do Javari e você toma uma picada de cobra. E aí? Não tem soro, você está há três dias de barco de qualquer lugar… Eu, por exemplo, quase morri em 2023. Foi um milagre não ter morrido. E esse caso diz muito sobre o que é trabalhar na Amazônia.
Estava indo para Oiapoque, saindo do Amapá, para cobrir a exploração de petróleo na região. No meio do caminho, comecei a me sentir mal, sorte que eu estava com meu colega de cobertura e amigo Vinicius Sassine. Fui para o hospital, o médico pediu uns exames, eu comecei a alucinar, cheguei a ficar inconsciente, fiquei muito mal mesmo. Resumindo, eu estava com Meningite Meningocócica. Só que o médico até então achava que eu estava com dengue. Começaram a aparecer manchas no meu corpo, e por sorte o Vinicius Sassine fotografou e mandou para a irmã dele que era médica e estava fazendo residência em Ribeirão Preto (SP). Ela mostrou para um professor, que disse que isso estava com cara de Meningite Meningocócica. Ele falou que eu tinha horas de vida. Aí foi uma correria, eu precisei ser transferido para outro hospital, precisava de um avião UTI, já estava inconsciente, todo o rolo para pagar o preço caríssimo do avião, a saúde foi caindo por causa da demora, mas consegui chegar a São Paulo e me curei. Mas as chances de eu ter sobrevivido eram mínimas e eu deveria ter muitas sequelas, e não tive nada, foi um milagre. Tudo isso que passei foi muito ruim, mas poderia ter sido bem pior se eu estivesse em um local mais remoto.
Então, trabalhar na Amazônia tem esses dois grandes riscos, o risco de você estar lidando constantemente com essas atividades criminosas e ilegais, e é uma tensão constante, e você não sabe quem pode estar te esperando e o que pode acontecer, e qualquer fagulha pode desandar para uma tragédia; e ao mesmo tempo você estar trabalhando em lugares remotos, com pouca comunicação, pouco acesso a qualquer tipo de socorro. É muito desafiador.
Ranking 2024 – Qual foi o trabalho mais difícil que você já fez?
Lalo – Trabalhos difíceis acho que foram muitas pautas na Amazônia, muitas histórias angustiantes de fazer, tanto pela dificuldade em contar a história, os riscos que essa história envolvia, o quanto nós nos expomos. Mas do ponto de vista pessoal, uma das histórias que mais me tocou como ser humano, como pessoa, que me deixou muito aflito e arrasado mesmo, foi a história do estreito de Darién, que fiz com a Mayara Paixão, no ano passado.
A selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, é uma rota extremamente perigosa, pela qual passam milhares de pessoas diariamente, consumidas pelo sonho de chegar aos Estados Unidos. É um drama humano terrível, que envolve muitas crianças, passando por essa experiência horrorosa que é fazer essa travessia. Eu saí arrasado dessa cobertura. As crianças sofriam muito, e as famílias faziam a travessia sem recurso nenhum, na cara e na coragem, por esperança, por desespero, um pouco de tudo. E zero recursos. E eles ainda precisavam chegar nos Estados Unidos, e as crianças doentes, com fome, e eram milhares todos os dias. E tudo isso para chegar no muro, pois a parte pior é a parte do México, pois lá tem muita violência, então muitos ainda estão no meio do caminho, é uma situação angustiante. Foi uma das coisas que mais me tocou nesses últimos trabalhos.
Foto da série Darién, a Selva da Morte, publicada em 2024. A imagem mostra a situação de milhares de famílias que fazem esta perigosa travessia diariamente.
Ranking 2024– O que você gostaria de fotografar mas ainda não fotografou?
Lalo – Acho que gostaria de fotografar mais a América Latina. Sair um pouco do Brasil. Já fotografei um pouco, mas quero fazer mais registros da América Latina, principalmente nos países andinos. Achar histórias nesses lugares interessantes. Quero sim continuar fotografando questões socioambientais, eu me interesso muito por essa relação entre o homem e o ambiente, mas queria sair um pouco dessa zona.
Às vezes é bom sair da sua zona. Estou muito focado na cobertura da Amazônia, por exemplo, e às vezes é muito exaustivo você focar tanto em um só tema, por mais que esse seja um tema superdiverso. É muito importante sair dessa sua zona às vezes, especialmente porque você pode inclusive ver outras perspectivas sobre esse tema que você está cobrindo.
Ranking 2024 – Você tem alguma marca registrada nas fotos, algo que você sempre faz questão de mostrar nos seus trabalhos?
Lalo – Acredito que não, mas, inconscientemente, acabo sempre mostrando nas minhas fotos essa questão de a paisagem ser muito presente, e o ser humano não ser o sujeito principal. O ser humano acaba virando mais um elemento dessa paisagem, não é o sujeito principal. Meu trabalho mostra muito dessa relação homem-paisagem e homem-ambiente, e às vezes só foto do ambiente sem o personagem, e muitas vezes a foto só do ambiente sem o personagem conta mais do personagem do que se ele estivesse na foto.
Acho que meu trabalho é muito isso. As vezes pessoas acham meio frio, por estar meio distante das pessoas. Mas nem todo trabalho é assim, claro, mas acredito que tenho muito essa questão de destacar o ambiente, de colocá-lo no lugar de sujeito principal.
Foto do trabalho Distopia Amazônica, tirada em Altamira (PA), em 2019. A imagem mostra um menino ribeirinho na comunidade de Paratizão, às margens do Rio Xingu, próximo à represa de Belo Monte.
Ranking 2024 – Quais são suas referências no fotojornalismo?
Lalo – Acho que não tenho uma ou algumas referências específicas. Creio que é muito mais um processo em que você vai “pescando” uma coisa ou outra de vários colegas, de trabalhos que você vê, tudo vai te fazendo pensar, e você vai criando aquele “caldo” na sua cabeça e aí sai a inspiração, o jeito que você enxerga as coisas. Na verdade, é um conjunto de diversas influências diárias que vou absorvendo e isso que vai me inspirando.
Mas para citar alguns, aqueles que considero os “mestres” da fotografia, trabalhos referências na história, falo sobre Eugene Smith, fotógrafo americano fantástico. Teve seu auge nos anos 1950-1960, tem trabalhos incríveis. E o admiro pela persistência, pela obstinação de tentar contar histórias do melhor jeito possível, a forma como se doava pelas histórias.
Admiro muito também o Sebastião Salgado, não só pelas fotografias, mas como ele conseguiu viabilizar os projetos, é um cara que pensa grande, que pensou fora da caixa e conseguiu fazer trabalhos sobre os grandes temas da humanidade. É um cara que, quando comecei a estudar fotografia, no começo dos anos 1990, ele já estava na história da fotografia. E continuou trabalhando depois de mais 30 anos, produzindo que nem um louco, trabalhos importantes, então admiro também essa longevidade.
Lalo descendo em um garimpo de ouro ilegal dentro da Reserva Nacional do Cobre (Renca), no Pará.
Ranking 2024– Quais dicas você daria para jornalistas que querem ingressar no fotojornalismo?
Lalo – Acredito que o mais importante é encontrar um tema em que você tenha um interesse genuíno, que você não esteja fotografando só por trabalhar. Que você tenha um interesse real sobre aquilo que está fotografando, isso faz toda a diferença no trabalho final, e você consegue fugir de estereótipos. Dedique-se a temas em que tenha algum interesse, em que acredite, e aí o trabalho acontece naturalmente.
Em termos de carreira, de fato, é uma carreira dura. Eu peguei muitas transições, do preto e branco para o colorido, depois para o digital, depois a chegada da internet e das redes sociais. E eu tentei sempre me adaptar a essas realidades que foram aparecendo.
A indústria do fotojornalismo deu uma derretida. Mas tento ver o lado bom das coisas. Com a internet e os avanços tecnológicos, conseguimos publicar hoje com muito mais qualidade, e temos espaços quase infinitos para expor nossos trabalhos. O grande desafio é viabilizar tudo isso em termos econômicos, mas em relação a possiblidades criativas, vejo muitos caminhos hoje em dia.
Ranking 2024 – E o que vem de novo por aí? Novos projetos, grandes reportagens multimídia?
Lalo – Eu consegui recentemente uma bolsa incrível da National Geographic Society, um financiamento. Com isso, vou fazer um trabalho sobre os impactos das mudanças climáticas nas populações amazônicas, principalmente indígenas e ribeirinhas. A ideia é falar sobre como as mudanças climáticas mudam os modos de vida dessas populações, que são pessoas que estão muito conectadas aos ciclos naturais, e de repente encontram uma nova realidade climática, e como eles estão se adaptando (ou não) a essas novas realidades.
E tem um outro trabalho, com financiamento de uma fundação norueguesa, em parceria com Vinicius Sassine, sobre grandes obras na Amazônia. É um trabalho que vai sair na Folha, e não posso adiantar muitas coisas. Mas é um projeto que vai durar pelo menos um semestre. Só nesse ano de 2025, tenho pelo menos umas 12 viagens marcadas para a Amazônia.
Pôr do sol no Rio Negro (Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Como a cobertura da Amazônia garantiu posições de destaque entre os +Premiados Jornalistas do Ano
O assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari, Amazonas, em junho de 2022, foi um dos muitos exemplos dos riscos que trazem as coberturas de crimes ambientais e humanitários na Floresta Amazônica. Nem por isso a região sai do foco de um grupo de aguerridos jornalistas que dedicam parte de suas carreiras, quando não toda ela, para ajudar a preservar a maior floresta tropical do mundo a partir de reportagens cada vez mais bem elaboradas.
O resultado desse trabalho, felizmente, não está passando em branco. Ao analisarmos as principais premiações jornalísticas nacionais e internacionais de 2024, podemos perceber que a temática esteve presente com bastante frequência nas premiações abertas ao tema.
O recorte dos +Premiados Jornalistas do Ano é um exemplo claro disso. A começar por Lalo de Almeida, da Folha, que garantiu a primeira colocação após vencer o Maria Moors Cabot por sua contribuição ao jornalismo na cobertura da região. Além disso, no ano passado, ele também fez parte da equipe que faturou o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, com a reportagem Amazônia na rota do petróleo.
Pôr do sol no Rio Negro (Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Destaque também para o trabalho Amazon Underworld (O submundo da Amazônia), promovido pela equipe da InfoAmazônia em colaboração com as publicações Armando.Info (Venezuela) e La Liga Contra el Silencio (Colômbia), que venceu os prêmios Vladimir Herzog, na categoria Multimídia, e Gabo de Cobertura Noticiosa. Com isso, nove profissionais brasileiros dividiram a quarta colocação do Ranking, ao lado de Mateus Bruxel, da GZH.
Além deles, o site Amazônia Vox, do Pará, também foi destaque no ano passado ao classificar três de seus integrantes entre os Top 50 +Premiados Jornalistas do Ano, e ficar na primeira posição entre os +Premiados Veículos do Ano na Região Norte.
Levantamento agrupa premiações de acordo com suas variações temáticas e geográficas para chegar a um sistema de pontuação justo e objetivo
Criado para reconhecer o trabalho de excelência de jornalistas, veículos e grupos de comunicação brasileiros a partir dos prêmios por eles conquistados, o Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira analisou no último ano, entre iniciativas internas de grupos, locais, regionais, nacionais e internacionais, ativos ou inativos, os resultados de 200 prêmios de jornalismo. São mais de oito décadas de informações e dados coletados, que analisam um universo extremamente amplo, repleto de particularidades e diferentes prestígios.
Para chegar aos resultados, as premiações são classificadas de acordo com suas amplitudes temáticas e geográficas. Quanto mais ampla e abrangente for a possibilidade de participar de uma iniciativa, mais pontos ela renderá ao jornalista premiado. “O sistema de pontos, se não é perfeito, é extremamente justo e orientado pelo desafio de dar objetividade a algo tão subjetivo como o valor intrínseco que a conquista de um prêmio tem para alguém”, explica o coordenador da pesquisa Fernando Soares.
No formato adotado, o Ranking atribui de 10 a 100 pontos para cada prêmio vencido por jornalistas e seus veículos. Como não há um critério padrão de reconhecimento a ser seguido pelas premiações, as menções honrosas e eventuais prêmios para 2º e 3º colocados não são considerados pela pesquisa.
No caso dos profissionais, esses pontos são computados na totalidade para conquistas individuais, e pela metade para trabalhos em equipe. Já para veículos e grupos cada conquista é única e integral, independentemente da quantidade de profissionais da equipe que conquistaram o prêmio.
Ao ser cadastrada na pesquisa, uma premiação é classificada levando em consideração os seguintes aspectos:
Geográfico
Global: Concorrem com profissionais de todo o mundo;
Continental: Iniciativas destinadas ao jornalismo nas Américas;
Nacional: Concorrem profissionais de todo o País;
Regional: Destinada a premiações divididas por regiões brasileiras;
Local: Iniciativas estaduais, municipais ou microrregionais dentro de um único estado;
Interno: Premiações de veículos ou grupos de Comunicação.
Temático:
Geral: Premiações e homenagens que não fazem distinção de tema;
Específica: Premiações e homenagens direcionadas a determinadas editorias (Economia, Meio Ambiente, Política etc.);
Institucional: Premiações e homenagens com foco em temas pré-determinados por entidades e empresas organizadoras, que se beneficiam diretamente do assunto abordado;
Por seu valor histórico para o jornalismo brasileiro, os prêmios Esso e Embratel são os únicos que contam com pontuações específicas e próprias, mas que também levam em consideração as divisões geográficas e temáticas.
A pontuação é definida a partir do cruzamento das subdivisões em que cada categoria de um prêmio se encaixa, como mostra a tabela abaixo. Vale destacar que um mesmo prêmio pode ter categorias em mais de uma classe de pontos. Um exemplo é o próprio Prêmio Esso, que se notabilizou por reconhecer, além de reportagens nacionais de temática geral, também trabalhos divididos por temáticas, como o prêmio de Informação Econômica (Nacional/Específica) ou pelas regiões do Brasil (Regional/Geral).
O Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira chegou em 2024 a 200 prêmios analisados. A marca é três vezes maior do que a registrada na primeira edição da pesquisa, publicada em 2011, quando foram analisadas 65 iniciativas.
Neste ano, dez novos prêmios de jornalismo foram incluídos. São eles o internacional One World Media Awards, promovido pela organização britânica OWM, que trabalha em prol da justiça social e do desenvolvimento global; o Prêmio INAC de Integridade, iniciativa nacional que em 2025 chega à sua 5ª edição; e os prêmios estaduais Sistema Famasul, SRCG de Agrojornalismo e OCB/MS, todos do Mato Grosso do Sul, Adepes e Jornalismo Cooperativista, do Espírito Santo, AMOP, do Paraná, MPGO, de Goiás, e Abapa, da Bahia.
Vale lembrar que apenas iniciativas que já tiveram ao menos três edições realizadas em sua história estão aptas a serem incluídas na lista de premiações avaliadas.
Cálculo para ranking de veículos não considera prêmios internos
Para chegar aos resultados dos rankings de veículos e grupos mais premiados do ano e da história algumas medidas e ajustes são necessárias. Além de considerar a pontuação integral de maneira única para o caso de trabalhos em equipe, não são computados os resultados dos prêmios internos de veículos.
Com isso, em vez de 200 iniciativas, esses levantamentos levam em consideração os resultados de 193 premiações, desconsiderando assim os prêmios Abril, Agência Estado, Editora Globo, Estadão, Folha, RBS e Zero Hora.
Confira a relação completa:
Internacionais
Colombe D’oro Per La Pace
CPJ Internacional Press Freedom
Econômico Ibero Americano
Every Human Has Rights
Eset-LA
Gabo
Global Shining Light Award
Iberoamericano Rei da Espanha
Knight International
Kurt Schork
Latino Americano em Saúde Vascular
Latinoamericano de Jornalismo Investigativo
Lorenzo Natali
Maria Moors Cabot
One World Media Awards**
Roche
Seal Awards
SIP
Wash Media Awards
Nacionais
+Admirados da Imprensa
3M
99
ABCR
ABCZ
Abdias Nascimento
Abear
Abecip
ABF
Abimilho
Abmes
ABP
Abraciclo
Abracopel
Abrafarma
Abraji
Abramge
Abrapp
Abrelpe
Abvcap
ACIE
Adpergs
AEA de Meio Ambiente
Allianz Seguros
Alltech
Amaerj – Patrícia Acioli
AMB
ANA
Anamatra
Andifes
ANTF
Automação Imprensa
Ayrton Senna
Biodiversidade da Mata Atlântica
BM&FBovespa
Bracelpa
Brasil Ambiental
C6
Caixa
Câmara Espanhola
Cbic
CICV
Citi
Cláudio Abramo
Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados
CNA
CNH
CNI
CNT
Comissão Europeia de Turismo
Comunique-se
Direitos Humanos
Ecopet
Embrapa
Embratel
Esso
Estácio de Sá
Ethos
Fenacon
Fraterno Vieira
Gilberto Velho
GTPS
IBGC
IGE
IMPA
Imprensa de Educação ao Investidor
INAC de Integridade**
IREE
Itaú de Finanças Sustentáveis
Jabuti
João Valiante
Jornalismo em Seguros
Jornalista de Impacto
Jornalista Tropical
Jornalistas&Cia
José Hamilton Ribeiro
José Luiz Egydio Setúbal
José Reis
Líbero Badaró
Longevidade
Massey Ferguson
Medtronic
Microcamp
Mobilidade Urbana Sustentável (ITDP)
Mongeral Imprensa
MPT
Mulher Imprensa
New Holland
NHR Brasil
Onip
Personalidade da Comunicação
Petrobras
Policiais Federais
República
SAE Brasil
Santos Dumont
SBD
Sbim
SBR/Pfizer
Sebrae
Sefin
Senai
Telesp
Tim Lopes (Andi)
Tim Lopes (Disque Denúncia-RJ)
Top Etanol
Transparência
Troféu Audálio Dantas
Unisys
Vladimir Herzog
Volvo
Regionais
BNB (Nordeste)
Estaduais
Alagoas
Braskem
Octávio Brandão
Amazonas
Fapeam
Bahia
Abapa**
Ceará
ACI
Adpec
Gandhi
MPCE
Prefeitura de Fortaleza
Distrito Federal
Engenho
Espírito Santo
Adepes**
Jornalismo Cooperativista**
Goiás
OAB-GO
MPGO**
Sincor-GO
Mato Grosso do Sul
Águas Guariroba
OCB-MS**
Sistema Famasul**
SRCG de Agrojornalismo**
Minas Gerais
CDL/BH
Chico Lins
Corecon-MG
Crea-MG
Délio Rocha
Pará
Aimex/Danilo Remor
Hamilton Pinheiro
Sistema Fiepa
Paraná
AMOP**
Fecomércio-PR
Femipa
Ocepar
Sangue Bom
Sistema Fiep
Pernambuco
Cristina Tavares
Piauí
MPPI
Rio de Janeiro
Alexandre Adler/Sindhrio
Corecon-RJ
Firjan
Mobilidade Urbana
Secovi-Rio
Rio Grande do Norte
MPRN
Rio Grande do Sul
Amrigs
ARI
Asdep
Cooperativismo Gaúcho
Corecon-RS
José Lutzemberger
Justiça Eleitoral
MPRS
Press
Setcergs
Sindilat-RS
Themis
Rondônia
MPRO
Santa Catarina
CRO-SC
Fenabrave-SC
Fiesc
São Paulo
Abag/RP
Aceesp
Crosp
Fecomércio-SP
Fundação Feac
Internos de veículos*
Abril
Agência Estado
Editora Globo
Estadão
Folha
RBS
Zero Hora
* Prêmios internos não são considerados nos rankings dos +Premiados Veículos e +Premiados Grupos de Comunicação ** Premiações incluídas nesta edição do Ranking
A comunicação ocupou a cena em janeiro de 2025, principalmente pelas ameaças à liberdade de expressão, com perspectiva de silenciamento de opiniões de minorias e da livre circulação de discursos falsos, extremistas e a atuação implacável das plataformas digitais para não terem suas atividades submetidas à regulação.
Se você não está conseguindo acompanhar tudo, além de ficar antenado no conteúdo aqui do Portal dos Jornalistas, pode ler o artigo Afasta de mim esse cálice − Da ditadura do silêncio à ditadura da algazarra, que reúne uma seleção de dados e tendências já anunciados para a área da comunicação em 2025. Como a pesquisa do Instituto Reuters sobre o que vai impactar os trabalhos de jornalistas e de comunicadores públicos e a pesquisa da USP que foi traduzida em uma cartilha bem simples para orientar todos os públicos sobre o ainda pouco compreendido mas muito perigoso “normal” nas redes sociais: “Você é o produto”, embora os donos das plataformas queiram que o usuário acredite que You are the media now.
A notícia boa do mês é que, em direção contrária às investidas em favor da desinformação, tem órgão adotando iniciativas concretas em favor do acesso à informação e da participação social. A Defensoria Pública do Ceará acabou de lançar a sua Política Estadual de Comunicação, que, segundo eles anunciaram, está “alinhada aos princípios de transparência, publicidade e inclusão”. O mais importante, na avaliação da ABCPública, é que a iniciativa coloca em prática uma recomendação do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Gerais (Condege); sendo assim, torcemos para que reverbere em outras defensorias do País. Por meio da política de comunicação, o Condege pretende “consolidar uma comunicação mais acessível e estratégica, promovendo a educação em direitos e a participação cidadã”, usando “linguagem simples, acessível e inclusiva, com enfoque antirracista, antiLGBTfóbico e antimisógino”.
Veja a seguir alguns canais e projetos que vão te deixar bem informado sobre tudo que vai rolar na comunicação pública em 2025.
Mapa da Regulamentação da ABCPública
Se você é como nós e acredita que a comunicação pública só ganha força se estiver bem explicitada em compromissos oficiais, como as políticas de comunicação, não perca tempo: visite a área de políticas de comunicação disponível no site da ABCPública. São mais de 200 documentos que podem te ajudar a pensar uma proposta de política que melhor se adequa à instituição onde você trabalha.
Podcast Comunicação Pública: Guia de Sobrevivência – Sexta temporada traz novidades e temas relevantes
Ao celebrar cinco anos no ar, o podcast Comunicação Pública: Guia de Sobrevivência inicia a sexta temporada com novo quadro e diversidade de temas e de convidados
Se você ainda não ouviu o primeiro episódio de 2025, não perca! Aline Castro abriu os trabalhos com uma superdica sobre o uso de “mensagens-chave” ou key messages, para “fazer acontecer” na comunicação, ou seja, ajudar comunicadores a alcançar mais efetividade nos projetos. Usando linguagem simples, exemplos criativos e altíssimo astral, ela conduz um bate-papo que prende a sua atenção do início ao fim. Não perca!
E se você não conseguiu acompanhar, as edições históricas estão indicadas a seguir:
Vale a pena ouvir de novo: O episódio inaugural, lançado em 28 de janeiro de 2020, contou com a participação de Jorge Duarte, abordando o tema Comunicação Estratégica.
Trajetória: De lá para cá, foram produzidos 60 episódios completos, além de mais de 40 interprogramas e cases de sucesso, apresentados por profissionais e especialistas de diversas regiões. Ao todo, o podcast já trouxe mais de 90 pessoas entrevistadas.
Propósito: O podcast busca combinar leveza e bom humor com insights práticos, que inspirem profissionais de comunicação a agir pelo interesse público e pela transformação social brasileira.
Sexta temporada: A nova temporada traz o novo quadro Dica de Sobrevivente, com entrevistas curtas com profissionais que atuam no setor público, compartilhando aspectos de suas rotinas e experiências práticas.
Em 2025, também estão previstos temas de episódios variados, tais como diagnóstico de comunicação; criação digital; gestão de equipes; experiência do usuário; participação social, e muito mais!
Onde ouvir: O podcast é apresentado e produzido por Aline Castro, jornalista, servidora pública e integrante da diretoria nacional da ABCPública. Ele está disponível nos principais players de áudio e vídeo: Spotify; Apple Podcasts; Amazon Music; Deezer; YouTube.
Audiência pública sobre moderação de conteúdo em plataformas digitais
Audiência AGU (Crédito: Emanuelle Sena/AscomAGU)
A Advocacia-Geral da União (AGU) promoveu em 22/1 uma audiência pública para debater diretrizes de moderação do conteúdo nas plataformas digitais.
Um dos resultados é que a AGU vai elaborar um documento com sugestões para a regulamentação das redes sociais no Brasil, que será enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e para o Congresso Nacional. Leia mais aqui.
A ausência de representantes das empresas que atuam no País, mesmo tendo sido convidadas, não impediu o debate, que seguiu com a participação de especialistas e integrantes da sociedade civil. Eles discutiram propostas para combater a desinformação, promover direitos fundamentais e estabelecer novas regras para as redes sociais. Assista aqui.
Pode não parecer novidade, mas aqui há dados que te ajudam a trabalhar em direção contrária
De acordo com o levantamento do Instituto Ipsos, 62% dos brasileiros acreditam em notícias falsas. Nesse quesito somos líderes e estamos à frente de Arábia Saudita e Coreia do Sul, Peru e Espanha. A pesquisa mundial, segundo o Ipsos, revela ainda “uma redução da confiança nos políticos e um aumento no uso indevido dos fatos”.
Sabemos que às vezes as fake news são tão bem elaboradas que é difícil até desconfiar. Sabendo disso, várias instituições criaram programas de verificação de fatos para salvar os brasileiros da dúvida cruel: “é ou não é fake news?”. Aqui vão algumas dessas iniciativas:
● Senado Verifica – Fato ou Fake? é um canal de interação com o cidadão destinado à checagem da veracidade de informações sobre o Senado publicadas em quaisquer meios de comunicação e nas redes sociais, consideradas falsas, incorretas ou que tenham a finalidade de gerar engano ou ânimo contrário à instituição: https://www12.senado.leg.br/verifica.
O site Brasil Contra Fake é uma plataforma dedicada à divulgação de informações e esclarecimentos sobre desinformação relacionada às ações institucionais do Governo Federal, assim como às políticas públicas que são alvo de desinformação: https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake.
● Para combater as fake news sobre saúde, o Ministério da Saúde criou o projeto Saúde Sem Fake News, um canal de comunicação com a população. Qualquer cidadão pode adicionar gratuitamente no celular o WhatsApp do Ministério da Saúde − (61) 99289-4640.
● A agência Lupa é um hub de combate à desinformação por meio do jornalismo e da educação midiática: https://lupa.uol.com.br/.
● Aos Fatos é uma organização jornalística dedicada à investigação de campanhas de desinformação e à checagem de fatos: https://www.aosfatos.org/.
● A Justiça Eleitoral possui o Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação, que tem o objetivo de estimular a confiança social no processo eleitoral brasileiro, assim como a percepção em torno da imparcialidade, do profissionalismo e da fundamentalidade da Justiça Eleitoral: https://www.justicaeleitoral.jus.br/desinformacao/#desinformacao-parceiros.
● O Comprove é o canal de checagem de notícias relacionadas à Câmara dos Deputados. Por meio dele, o cidadão pode tirar dúvidas sobre conteúdos recebidos pelas redes sociais ou divulgados em sites da internet: https://www.camara.leg.br/comprove.
● O FactCheck é focado em entregar notícias verdadeiras sobre a política norte-americana: https://www.factcheck.org/.
Representantes do CNJ, das associações da magistratura e dos tribunais superiores e da imprensa lançaram o Painel de Checagem de Fake News. Os parceiros do Painel contribuem para o projeto dentro de suas áreas de atuação: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/painel-de-checagem-de-fake-news/.
O Pecado, conto de Olavo Bilac, trata de uma jovem cheia de medo por ter cometido pecados cabeludos. Tinha de se confessar, de qualquer jeito, pra se sentir melhor. A caminho da igreja e do confessor, a jovem topa com uma amiga que vinha da igreja. Começa assim:
A Anacleta ia caminho da igreja, muito atrapalhada, pensando no modo porque havia de dizer ao confessor os seus pecados… Teria a coragem de tudo? E a pobre Anacleta tremia só com a ideia de contar a menor daquelas cousas ao severo padre Roxo, um padre terrível, cujo olhar de coruja punha um frio na alma da gente. E a desventurada ia quase chorando de desespero, quando, já perto da igreja, encontrou a comadre Rita.
Abraços, beijos… E lá ficam as duas, no meio da praça, ao sol, conversando.
− Venho da igreja, comadre Anacleta, venho da igreja… Lá me confessei com o padre Roxo, que é um santo homem…
− Ai! comadre! − gemeu a Anacleta − também para lá vou… e se soubesse com que medo! Nem sei se terei a ousadia de dizer os meus pecados… Aquele padre é tão rigoroso…
− Histórias, comadre, histórias! − exclamou a Rita − vá com confiança e verá que o padre Roxo não é tão mau como se diz…
− Mas é que meus pecados são grandes…
− E os meus então, filha? Olhe: disse-os todos e o Sr. padre Roxo me ouviu com toda a indulgência…
− Comadre Rita, todo o meu medo é da penitência que ele me há de impor, comadre Rita…
− Qual penitência, comadre?! − diz a outra, rindo − as penitências que ele impõe são tão brandas!… Quer saber? contei−lhe que ontem o José Ferrador me deu um beijo na boca… um grande pecado, não é verdade? Pois sabe a penitência que o padre Roxo me deu?… mandou−me ficar com a boca de molho na pia de água benta durante cinco minutos…
Bom, a obra de Olavo Bilac é sem dúvidas uma obra exemplar. Como exemplar também é a enorme obra do cearense Chico Anysio.
Chico Anysio
Chico foi humorista, ator, escritor e um monte de outras coisas. Deixou muitos livros publicados. Seus espetáculos levavam muita gente, que ria de tudo que ele dizia.
Num dos seus últimos stand-ups, Chico conta histórias de amor, sexo e palavrões. Era seu jeito, solto e sem firulas. Fez o povo mijar-se de rir quando começou dizendo que no seu tempo “era muito difícil comer gente”. E mais: “Era só puta ou empregada… Eu gosto de puta porque a puta não me reconhece no dia seguinte”. Disse também: “Eu tinha um Fiat Pulga, que é um carro mínimo, né? Quem tem pau grande não cabe nele…”.
Pois é, teve um tempo rico de autores e atores.
Chico Anysio criou mais de 200 personagens. Incluindo mulheres ditas da vida.
Casou-se várias vezes, inclusive com uma ex-ministra do governo Collor: Zélia Cardoso de Mello, que por sua vez teve um caso com o ex-senador Bernardo Cabral.
Chico foi quem foi, no humorismo desenvolvido de todas as formas.
Na poesia, como no teatro, são inúmeros os autores que abordam desde sempre o tema erótico, que a hipocrisia social teima em torcer o nariz.
O poeta paraibano Augusto dos Anjos não deixou de enveredar por tais trilhas. Os exemplos são muitos e bons, como esses que escreveu: Orgia, A Meretriz e o mais conhecido de todos: Versos Íntimos.
Augusto dos Anjos
Houve um tempo em que o autor era chamado de O Poeta das Putas. A razão disso devia-se ao fato de ele ser declamado por tudo quanto era “mulher perdida”.
Aqui, um exemplo da escrita erótica do autor de Eu e Outras Poesias:
Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Prenderam para sempre, nesta rede,
Dentro do ângulo diedro da parede,
A alma do homem polígamo e lascivo?!
Este lugar, moços do mundo, vêde:
É o grande bebedouro colectivo,
Onde os bandalhos, como um gado vivo,
Todas as noites, vêm matar a sede!
É o afrodístico leito do hetairismo,
A antecâmara lúbrica do abismo,
Em que é mister que o gênero humano entre,
Quando a promiscuidade aterradora
Matar a última força geradora
E comer o último óvulo do ventre!
Em 1982, Hilda Hilst lançou à praça o livro A Obscena Senhora D.
Nesse livro a narrativa é em primeira pessoa, e os desavisados ficam na dúvida de a quem de fato a autora se refere: a ela mesma ou à personagem do título.
No decorrer de toda a sua existência, Hilda Hilst provocou grandes polêmicas, ora falando mal de Deus e tudo mais. A sua boca era uma espécie de cachoeira de palavrões e a sua mente, um universo de fogo sem preconceitos.
Hilda era filha de um fazendeiro do interior paulista, da linhagem quatrocentona de Prado. Apolônio, que conheceu a futura esposa Bedecilda no Rio de Janeiro. Corria o ano de 1920. Ele voltou para a sua cidade, Jau, e Bedecilda logo depois foi à sua procura. Na cidade, começou a perguntar onde era possível achá-lo. Encontrou-o num bordel em Bauru.
Voltaram os dois às boas e logo se casaram. Ele não queria filho. Em 1930 nasce, pra seu desespero, Hilda.
No correr do tempo, Hilda conta que o pai largou a mãe quando ela tinha dois ou três anos de idade.
Essa história é longa; longa e acidentada. A própria Hilda chegou a revelar que o pai ficara louco e fora internado num hospício. Morreu em 1966. Revelou também que a mãe era uma doidivanas.
São muitos os textos em versos e prosa deixados por Hilda Hilst.
Aníbal Machado, que chegou a se esconder no pseudônimo Antônio Verde, é um nome pouco lembrado hoje em dia. Deixou boas coisas publicadas, entre elas o conto Viagem aos Seios de Duília. Trata de uma história que tem como protagonista o funcionário aposentado José Maria. Solteirão. Uma hora, esse José lembra-se da sua primeira namorada e resolve procurá-la nos cafundós do Judas, onde nasceu. Reencontra a amada, viúva, com uma porrada de filhos e netos nas costas. As dificuldades a deixaram velhinha, velhinha da Silva. Num determinado momento, o personagem dá no pé, arrependido de ter voltado ao passado. Virou filme, em 1964, mesmo ano em que aos 70 Aníbal morreu.