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quarta-feira, novembro 5, 2025

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Elon Musk postou quase três vezes por dia contra a imprensa em um ano, revela RSF

Elon Musk (Crédito: X/Twitter)

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

O bilionário Elon Musk, que há três anos comprou o Twitter e tem 227 milhões de seguidores na plataforma que rebatizou de X, fez 1.017 ataques contra a imprensa em sua conta entre setembro de 2024 e setembro de 2025 — a média de quase três por dia.

A contagem foi feita pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em uma análise sobre as narrativas de Musk para desacreditar o jornalismo, alinhadas ao discurso do presidente dos EUA, Donald Trump.

Segundo a RSF, seja em suas próprias postagens, comentários, reportagens ou republicação de citações de terceiros, Elon Musk acusa repetidamente a imprensa de propagar  “desinformação” ou de ser vítima de um “virus woke”, ou ainda de ser “a ala de propaganda do Partido Democrata”.

Mais de um terço das postagens analisadas pela RSF sugerem que a mídia desinforma o público. Em resposta, o empresário apresenta X, sua própria rede social, como um “antídoto”, salienta a RSF.

O levantamento da RSF destaca exemplos da retórica de Elon Musk, como “O New York Times é pura propaganda”,  ou “a sigla AP (da agência de notícias Associated Press) quer dizer ‘Propaganda Associada'”.

“Os ataques de Elon Musk muitas vezes assumem a forma de slogans que facilmente ficam na mente das pessoas,  viralizam e equivalem a campanhas de difamação”, aponta a organização.

“Esses bordões curtos, constantemente repetidos e apresentados como verdades universais, servem como lemas, reforçando a ideia de que a mídia tradicional é fundamentalmente desonesta ou atende a interesses.”

Leia a matéria completa em MediaTalks.


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Ativista extremista é preso em Portugal após ameaças de morte a jornalista brasileira

Ativista extremista é preso em Portugal após ameaças de morte a jornalista brasileira Stefani Costa

O ativista extremista Bruno Silva foi detido no começo da semana em Vila Nova, na região Metropolitana de Porto, no norte de Portugal, após direcionar ameaças de morte à jornalista brasileira Stefani Costa, correspondente do Opera Mundi no País. Após passar pela primeira audiência, o criminoso, que é um cidadão luso-brasileiro, teve sua prisão preventiva decretada nesta quinta-feira (23/10).

Stefani comemorou a decisão em suas redes sociais. A jornalista explicou que é a primeira vez na história de Portugal que alguém indiciado por ameaças e discurso de ódio recebe essa medida de prisão preventiva. Desde 2023 como correspondente do Opera Mundi em Portugal, Stefani trabalhou também em reportagens especiais no Líbano, na Ucrânia e no México. Cobriu eventos importantes como as cúpulas do BRICS de 2024 e 2025. Trabalhou também como correspondente em outras publicações como revista O Sabiá, Brasil Já e Jacobin Magazine. No Brasil, atuou na Bandeirantes e no Brasil de Fato.

Em suas redes sociais, Bruno Silva fazia postagens de apologia ao nazismo e à xenofobia. Em um dos posts, ele escreveu que forneceria um apartamento no centro de Lisboa para quem matasse pelo menos 100 brasileiros em Portugal, além de um adicional de 100 mil euros para quem matasse Stefani Costa. O ativista vai responder por discurso de ódio e incitamento à violência.

Vale lembrar que, em maio do ano passado, Bruno já havia sido denunciado por Amanda Lima, outra jornalista brasileira que trabalha em Portugal, no jornal Diário de Notícias, justamente por postagens de ódio contra ela, incluindo ameaças de morte e comentários xenófobos e racistas. O ativista chegou a retratar Amanda como macaca em mais de uma postagem, escrevendo coisas como “volta para a tua terra” e “as tuas raízes no Brasil não se apagam”.

Levantamento feito pela Casa do Brasil de Lisboa, divulgado recentemente pela agência de notícias Deutsche Welle, mostrou que o discurso de ódio contra brasileiros vem crescendo em Portugal. A Comissão Europeia pediu que o país adote medidas mais firmes contra o discurso de ódio e violência online.

Fundador do Expresso e da SIC, Francisco Pinto Balsemão morre em Portugal

Fundador do Expresso e da SIC, Francisco Pinto Balsemão morre em Portugal
Francisco Pinto Balsemão

O empresário e ex-primeiro-ministro de Portugal Francisco Pinto Balsemão morreu em Lisboa em 21/10, aos 88 anos, devido a um câncer.

Nascido em Lisboa, começou a trabalhar desde cedo na imprensa, assumindo o cargo de secretário de redação do Diário Popular em 1963. Dez anos depois, em 1973, fundou o semanário Expresso, um dos principais jornais da mídia de Portugal, que ganhou destaque durante a redemocratização do país. Ele também criou o canal SIC, o primeiro privado do país.

Após a Revolução dos Cravos, em 1974, fundou o Partido Popular Democrata, atual Partido Social Democrata (PSD). Tornou-se primeiro-ministro em 1981, preparando o país para ingressar na Comunidade Europeia e foi sucedido por Mário Soares. Em 1992, de volta à iniciativa privada, fundou a SIC (Sociedade Independente de Comunicação). Seu canal jornalístico, SIC Notícias, começou a operar em 2001.

O presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa decretou luto oficial de dois dias.

(*) Colaboração de Lena Miessva, jornalista e profissional de comunicação, de Portugal

Roberto Dias despede-se da Folha de S.Paulo e vai para a FSB

Roberto Dias (Crédito: LinkedIn)

A Folha de S.Paulo informou que Lívia Marra, editora-adjunta de Home, assumiu interinamente em 21/10 o cargo de secretária de Redação da publicação. Ela entra na vaga de Roberto Dias, que pediu desligamento do jornal, onde estava desde 1997, tendo nesse período exercido diversas funções. “Como integrante do comando da Redação, com rigor e ânimo incansável, ajudou o jornal a fazer sua transição digital. A Folha deseja boa sorte a ele em sua nova etapa profissional”, destacou o comunicado assinado pelo diretor de Redação Sérgio Dávila.

Roberto Dias (Crédito: LinkedIn)

Em um novo momento de sua carreira, Roberto deixa o dia-a-dia das redações e segue para a área corporativa, onde a partir da próxima segunda-feira (27/10) passará a atuar como diretor executivo da FSB em São Paulo, reportando-se ao diretor-geral Marcelo Montenegro.

Lívia Marra (Crédito: LinkedIn)

“A chegada do Roberto reforça o compromisso da FSB Holding em combinar talentos internos e novas experiências — uma mistura essencial para sustentar o crescimento acelerado da empresa”, destacou Alexandre Loures, sócio-controlador e líder da área privada na FSB Holding. “Trazer profissionais com vivências diversas amplia nosso olhar, gera aprendizado para todos e fortalece ainda mais a nossa capacidade de inovar”.

Jornalistas brasileiros faturam prêmio internacional inédito promovido pela IFAJ

Jornalistas brasileiros faturam prêmio internacional inédito promovido pela IFAJ
Leandro Fidelis e Ariosto Mesquita

A Federação Internacional de Jornalistas Agrícolas (IFAJ, na sigla em inglês) anunciou em 18/10, durante o congresso da entidade realizado este ano em Nairóbi, no Quênia, os vencedores do IFAJ Star Prize 2025. Entre os trabalhos destacados pela iniciativa, uma das mais importantes dedicadas à cobertura do agronegócio no mundo, estão dois brasileiros, ambos contemplados com medalha de prata em suas categorias.

Com a reportagem Crédito de carbono chega à pecuária, publicada na edição de julho de 2024 pela revista DBO, Ariosto Mesquita ficou com a segunda colocação na categoria Impresso. Já em Cultura Rural, o prêmio foi para Leandro Fidelis, da revista Conexão Safra, pela reportagem Uma revolução verde capixaba, publicada em junho de 2024.

Ambos os profissionais são filiados à Rede Agrojor, que integra a lista de associações ligadas à IFAJ. “A conquista de Ariosto Mesquita e Leandro Fidelis no Star Prize 2025 mostra que o talento e a qualidade do jornalismo agro brasileiro já são reconhecidos lá fora”, destacou Vera Ondei, presidente da Rede Agrojor. “Agora é hora de ampliarmos essa presença, inscrevermos nossos trabalhos, participarmos dos congressos e mostrarmos ao mundo a força da nossa produção”.

O presente e o futuro do Jornalismo – Insights: Sexto e último encontro do ciclo debaterá Democracia sob espreita

Crédito: Freddy Kearney/Unsplash

O sexto encontro do ciclo O presente e o futuro do Jornalismo – Insights, que J&Cia realiza em comemoração aos seus 30 anos, em parceria com a ESPM-SP e que fechará a série, debaterá o tema Democracia sob espreita. A proposta é trazer reflexões sobre Os desafios da imprensa diante da ascensão e do protagonismo da extrema direita. Onde estamos errando e onde estamos acertando?

O debate, em 27 de outubro, das 9h30 às 12h30, na ESPM Tech (Rua Joaquim Távora, 1240, Vila Mariana, São Paulo), terá a participação de Carla Jimenez (UOL), Leão Serva (consultor e escritor) e Ricardo Gandour (ESPM/R.Gandour Estratégia e Comunicação), com moderação de Verónica Goyzueta (ESPM, Vocentro e Porvir). Inscrições gratuitas aqui, mas com vagas limitadas.

Os convidados

Carla Jimenez

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com extensão em Finanças (FIA-USP), Carla Jimenez é colunista do UOL, onde também ocupou o cargo de editora-chefe de Política entre dezembro de 2023 e agosto de 2025. Foi diretora e editora-chefe do jornal El País no Brasil (2013-2021) e cofundadora do portal Sumaúma Jornalismo (2022). Foi colunista de política na CartaCapital e no The Intercept Brasil (2022). Especializou-se na cobertura de macroeconomia e negócios em veículos como O Estado de S. Paulo, Agência Estado, IstoÉ Dinheiro, CanalRh, PEGN e revista Época. Apaixonada pelo Brasil, onde vive desde criança, nasceu em Santiago do Chile.

Leão Serva

Jornalista e escritor, ex-diretor de Jornalismo e correspondente da TV Cultura em Londres (2019-25), Leão Serva foi secretário de Redação e diretor de Marketing da Folha de S.Paulo e participou da equipe de criação do iG (Internet Grátis) e do jornal eletrônico Último Segundo. Teve passagens pelos jornais O Estado de S.Paulo, Lance e Diário de S.Paulo e pela revista Placar. Mestre e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, fez pesquisa doutoral no Warburg Institute (School of Advanced Studies, Unversity of London). Atualmente realiza pesquisa em pós-doutorado no Departamento de Antropologia da USP. Colaborou com o projeto Amazônia, do fotógrafo Sebastião Salgado. É autor de diversos livros, como Jornalismo e Desinformação (Ed. Senac), A Fórmula da Emoção na Fotografia de Guerra (Ed. Sesc) e Um Tipógrafo na Colônia (Casa Matinas). Professor de Ética Jornalística na ESPM-SP, acaba de ser eleito como um dos 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros (Jornalistas&Cia).

Ricardo Gandour

Engenheiro civil pela USP-São Carlos, jornalista pela Cásper Líbero, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e Visiting Scholar na Columbia Journalism School, Ricardo Gandour foi editor e diretor de publicações na Folha, diretor de publicações na Editora Globo, diretor executivo no Diário de S.Paulo, diretor de conteúdo do Grupo Estado e diretor de jornalismo da Rede CBN. É membro dos conselhos de Instituto Palavra Aberta, Instituto TornaVoz e do Columbia Global Center Brazil. É professor de jornalismo na ESPM e diretor fundador da RGandour Estratégia e Comunicação, que presta consultoria a entidades e instituições. Escreveu Jornalismo em retração, poder em expansão – A Segunda Morte da Opinião Pública (Summus Editorial).

Verónica Goyzueta

Peruana de nascimento, Verónica Goyzueta trabalha há quase 30 anos como correspondente internacional no Brasil, escrevendo sobre política, economia, cultura, Amazônia e meio ambiente para diversos veículos, como dos grupos Dow Jones, Financial Times e Vocento (Espanha). Foi editora no Brasil da revista AméricaEconomia, coordenadora do Amazon Rainforest Journalism Fund no Pulitzer Center e presidente da Associação dos Correspondentes de São Paulo (ACE) ao longo de uma década. Organizou os livros Guerra e Imprensa e O Brasil dos Correspondentes. É professora de jornalismo da ESPM, correspondente do ABC da Espanha e foi cofundadora do portal Sumaúma.


Preciosidades do acervo Assis Ângelo: O cego na História (28)

(Crédito: Elfikurten)

Por Assis Ângelo

O grande poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) deixou uma obra enorme, em todos os sentidos.

Ainda na adolescência costumava escrever dois a cinco poemas diariamente.

Com a idade de 15 ou 16 anos, Neruda publicava seus escritos em periódicos da sua terra, em capítulos.

Em 1923, o mestre chileno das letras estreava no mundo da poesia com o livro Crepusculário. Nesse livro se acha o soneto Velho Cego, Choravas. Ei-lo:

Pablo Neruda (Crédito: Elfikurten)

 

“Velho Cego, choravas quando a tua vida

era boa, quando possuías nos teus olhos o sol:

mas se o silêncio já chegou, o que é que esperas,

o que é que esperas, cego, desta maior dor?

 

Em teu rincão pareces menino nascido

sem pés para a terra e sem olhos de mar

e como os animais dentro da noite cega

­– sem dia e sem crepúsculo — cansas de esperar.

 

Porque se conheces o caminho que leva

em dois ou três minutos para a vida nova,

velho cego, o que esperas, que podes esperar?

 

E se pela amargura mais dura e destino,

animal velho e cego em caminho e tino,

eu que tenho dois olhos saberei te ensinar”.

 

Neruda andou por nossas plagas entre 1945 e 1954, ciceroneado pelo bom baiano Jorge Amado. E não custa dizer que, ao contrário do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), detestava poderosos de direita. E ao contrário de Neruda, que era declaradamente comunista, Borges que tinha especial admiração por poderosos fardados, desenvolveu toda a sua literatura sem a visão dos olhos. É dele o poema Um Cego. É muito bonito:

Jorge Luis Borges (Crédito: Elfikurten)

 

“Não sei qual é a face que me fita

Quando observo a face de algum espelho;

No seu reflexo espreita-me esse velho

Com ira muda, fatigada, aflita.

Lento na sombra, com as mãos exploro

Meus invisíveis traços. O mais belo

Fulgor me atinge. Vi o teu cabelo

Que é já de cinza ou é ainda de ouro.

Repito que perdi unicamente

A superfície sempre vã das coisas.

O consolo é de Milton e é valente,

Mas eu penso nas letras e nas rosas,

Penso que se pudesse ver a cara

Saberia quem sou na terra rara”.

 

O mestre argentino tinha entre seus leitores o conterrâneo que virou papa: Francisco.

Outro grande poeta que findou seus dias cego foi o inglês John Milton (1608-1674).

John Milton (Crédito: gravura de Jacob Houbraken, 1741)

John Milton escreveu muita coisa bonita em línguas diversas: latim, italiano, inglês, francês, alemão etc. Entre seus escritos poéticos se acha Paraíso Perdido, de 1667, no qual há um embate entre Deus e o diabo.

Ainda não foi dito, creio, que o nosso Machado de Assis se inspirou em Milton para escrever o conto A Igreja do Diabo, de 1884. Tanto numa como na outra obra, o diabo acaba onde sempre deveria ou deverá estar: no Inferno.

É em Paraíso Perdido, poema desenvolvido em 10.565 versos brancos, que se lê a famosa frase: “É melhor reinar no inferno do que servir no Céu”.

Atenção, meus amigos e amigas, alerto: o Milton a quem nos referimos é o Milton nascido e crescido na Inglaterra. Enfim, lá na terra dele chegou a ser preso político por criticar a monarquia. Detestava esse tipo de governo. E, por defender o que defendia politicamente, pagou caro: seus direitos foram cassados, inclusive o da profissão que exercia como professor.

O mais importante épico poético na língua inglesa de Shakespeare foi feito por John Milton e nasceu de modo ditado quando já estava completamente cego.


100 anos de Rádio no Brasil: A revolução com olhos: quando o podcast vira televisão – e mesmo assim continua sendo áudio

(Crédito: ageimagem)

Por Álvaro Bufarah (*)

Quem diria que a velha pergunta “você ouviu o episódio?” ganharia uma continuação tão natural quanto estranha: “ou… assistiu?”. O movimento, que começou discreto, virou correnteza. Em 2025, podcasts de duas, três, cinco horas ocupam telas de TVs e celulares como se sempre tivessem sido feitos para isso. A questão, como provocou o Castnews ao ecoar uma reportagem do New York Times, é menos “por que tanto vídeo?” e mais “quem está vendo tudo isso — e como está vendo?”

A resposta, por enquanto, é híbrida. Em abril de 2025, um estudo da Cumulus Media com a Signal Hill Insights mostrou que quase três quartos dos consumidores de podcast reproduzem vídeos de podcasts (muito frequentemente minimizados ou em segundo plano), contra cerca de um quarto que fica só no áudio. Aproximadamente 30% admitem deixar o vídeo rodando enquanto trabalham e apenas “dão olhadelas” quando algo prende a atenção — uma escuta visual por osmose. A preferência, portanto, não é binária; é situacional. E vale para várias idades, não apenas para a Geração Z. Em números, o áudio ainda é o modo principal de consumo, mesmo com o avanço do vídeo. Ou seja: assistimos… ouvindo.

Do lado das plataformas, a virada é oficial. Em fevereiro, o YouTube celebrou 1 bilhão de pessoas/mês consumindo podcasts por lá — um marco que reposiciona a plataforma como o “canal de TV” da podosfera, especialmente porque o consumo migrou para a sala de estar: mais de 1 bilhão de horas por dia na TV e centenas de milhões de horas de podcasts assistidas nos televisores por mês. O resultado: patrocínios e formatos passam a exigir componente de vídeo com mais frequência, e o feed se comporta como grade — com recomendação, clipes, cortes e “programas de entrevistas” que lembram a TV a cabo de outrora.

No Spotify, a trilha é semelhante. Em meados de 2024, já havia 250 mil podcasts em vídeo, com 170 milhões de usuários tendo visto pelo menos um; quase 70% dos que consomem vídeo por lá o fazem “em primeiro plano”. Em 2025, a plataforma reforçou a remuneração de vídeos de criadores, sinalizando aposta de longo prazo no formato e acirrando a disputa com o YouTube. Se antes o podcast vivia no bolso e no fone, agora ele ocupa a TV da sala — e disputa a mesma atenção de séries e jogos.

O retrato não é só de crescimento; é de mudança de gramática. A narrativa longa, de estúdio simples, contraria o culto do clipe de 15 segundos — e, ainda assim, encontra público. Parte assiste de verdade; parte “ouve com a tela ligada”. É por isso que a estatística engana quando não esclarece o que conta como visualização (30 segundos? Metade do programa? Clipes recortados?). O próprio levantamento mencionado pelo Castnews alerta: há um abismo entre acompanhar quatro horas de Lex Fridman e ver dezenas de cortes no TikTok e no Shorts. A mesma etiqueta (“view”) guarda comportamentos muito diferentes.

(Crédito: ageimagem)

 

Nessa crônica audiovisual, três peças estão se encaixando:

  1. Descoberta e alcance: o YouTube empurra podcasts como empurra músicas e vídeos; o algoritmo sugere, a audiência responde, e os cortes virais “reabastecem” o funil. Daí a sensação de que podcasts viraram televisão de baixo custo: cenários simples, conversas longas, carisma no centro. A Wondery (Amazon) não esconde a previsão: mais programas sobre comida e viagens — categorias queridas de anunciantes — ganham tração justamente porque o vídeo “mostra” o que o áudio apenas evoca.
  2. Hábito de consumo: o multitasking manda. O mesmo ouvinte ora assiste ativo, ora minimiza a janela e volta ao puro áudio. Na média, 58% ainda tratam podcast como áudio (mesmo em players de vídeo), e a maioria usa além do YouTube uma segunda plataforma favorita (Spotify ou Apple). A onipresença em telas não matou a intimidade do fone; apenas a colocou sob luz.
  3. Economia e produção: vídeo profissional encarece a barreira de entrada e pressiona criadores menores — um dos temores relatados por produtoras que fizeram escola no formato narrativo em áudio. Ao mesmo tempo, para quem já tem público, o vídeo abre novas janelas (literalmente) e diversifica receita. A sala de estar voltou ao jogo — e com ela os CPMs de “tela grande”.

E a crítica? Ela passa por clareza de métricas e pluralidade de formatos. Se tudo passa a ser contabilizado como “view”, corremos o risco de julgar o ecossistema por uma régua que ignora o valor do escutar sem ver. A força do podcast sempre esteve em permitir que a vida siga — trânsito, cozinha, treino, trabalho — enquanto histórias nos acompanham. Ira Glass, guardião de uma estética que o vídeo não substitui, lembra o óbvio que esquecemos: “Há poder em não ver”. O audiovisual amplia; não precisa substituir.

Ao fim, o podcast virou televisão… sem deixar de ser rádio. O público escolhe quando precisa de companhia na tela e quando só quer uma voz no ouvido. Para quem produz, a lição é dupla: explorar o vídeo onde ele soma (descoberta, distribuição, patrocínio) e proteger o coração sonoro do formato (roteiro, edição, ritmo, proximidade). Para quem mede, o desafio é separar clipe de capítulo, play de atenção, tela acesa de ouvido presente. Sem isso, confundiremos barulho com escuta — e audiência com ausência.


Fontes

  • Castnews — “Do áudio ao vídeo: quem está assistindo a todos esses podcasts?” (21 jul. 2025), com base em reportagem do The New York Times e dados de Cumulus/Signal Hill. CASTNEWS
  • Cumulus Media & Signal Hill Insights — Podcast Download: Spring 2025 (relatório e release). Confirma que áudio segue modo principal de consumo e detalha hábitos de “assistir ouvindo”. Cumulus Media +1
  • YouTube (Tim Katz) — “Drop the Mic: 1 Billion Monthly Podcast Users on YouTube” (26 fev. 2025). Marco de audiência e posicionamento da plataforma para podcasts. blog.youtube
  • Bloomberg — “A Billion People Are Watching Podcasts on YouTube Every Month” (26 fev. 2025). Cobertura do marco e contexto competitivo. Bloomberg
  • The Verge — cobertura de living room e TV: “YouTube is now even bigger on TVs than phones” (2025) e “400 million hours of podcasts watched on TVs monthly” (2024).

Leia também: Preciosidades do acervo Assis Ângelo: O cego na História (28)

Agência Pública, Aos Fatos, InfoAmazonia e O Povo vencem Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados

A Escola de Dados, programa mantido pela Open Knowledge Brasil, anunciou em 17/10 os vencedores do Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados 2025. Promovido em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a iniciativa homenageia Cláudio Weber Abramo, um dos pioneiros no jornalismo de dados e transparência pública no Brasil, falecido em 2018.

“O Prêmio Cláudio Weber Abramo é mais do que um reconhecimento. É um encontro entre profissionais, ideias e propósitos que ajudam a manter o jornalismo vivo, inovador e relevante”, destacou Thays Lavor, coordenadora da Escola de Dados, durante a cerimônia.

Com o Projeto Escravizadores, que neste ano já havia conquistado a categoria Jornalismo de Dados e Infografia do Prêmio SIP, a Agência Pública faturou desta vez o prêmio de Investigação. Participaram do projeto Ana Alice De Lima, Babak Fakhamzadeh, Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Bruno Penteado, Catarina Bessel, Danilo Queiroz, Darlene Dalto, Ester Nascimento, Ethieny Karen, Fernanda Diniz, Leandro Aguiar, Leticia Gouveia, Lorena Morgana, Mariama Correia, Marina Dias, Matheus Pigozzi, Matheus Santino, Patricia Junqueira, Pedro Ezequiel, Rafael Custodio, Rafael de Souza Oliveira, Raphaela Ribeiro, Raquel Okamura, Renata Cons e Romeu Loreto.

Em Inovação e Experimentação o troféu ficou com o Aos Fatos pelo especial Check-Up, produzido por Bianca Bortolon, Bruno Fávero, Milena Mangabeira, Rhenan Bartels e Yvna Sousa.

Na categoria Visualização de dados, a reportagem Eleições Municipais 2024: qual é o posicionamento dos eleitos na Amazônia em relação ao meio ambiente?, produzida por Carolina Passos e Renata Hirota, para a InfoAmazonia foi a grande vencedora.

E em Dados Abertos a plataforma O Povo+ foi a vencedora com a reportagem especial Letais, violentos e intencionais: os crimes contra policiais no Ceará. O conteúdo foi produzido por Mateus Mota e Ayuri Reis.

Além dos quatro prêmios principais, a Comissão Julgadora do prêmio concedeu uma Menção Honrosa para o portal Metrópoles, pelo trabalho Tentáculos da máfia chinesa.

“Hoje celebramos não apenas os trabalhos excepcionais do jornalismo de dados, mas a resiliência e dedicação de toda uma classe de profissionais que diariamente transformam a realidade, dando a números tom, forma e contexto; construindo conhecimento a partir de dados; e municiando a cidadania com informação”, acrescentou Haydée Svab, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil.

Festival celebrará os 10 anos do Instituto AzMina

Festival celebrará 10 anos do Instituto Azmina

O Instituto AzMina completa, em 2025, dez anos de atuação em prol da igualdade de gênero, da informação de qualidade e da tecnologia a serviço das mulheres e pessoas LGBTs. Para marcar a data, a organização realiza o Festival AzMina: 10 Anos Sonhando Feminismos, no dia 1º/11, das 14h até às 20h, na Biblioteca Mário de Andrade (R. da Consolação, 94, República), em São Paulo. 

O evento reunirá jornalistas, ativistas, pesquisadoras e artistas em uma programação gratuita que inclui painéis, oficinas, performances e um show de encerramento. Durante todo o evento, o público poderá visitar a feirinha com produtos e publicações da Lojinha AzMina, El Cabriton, Ubu Editora e Grupo Editorial Record. Confira a programação completa: 

  • 14h às 15h | Painel 1 – Resistindo à ofensiva moral sobre o aborto
    com Bárbara Barboza (Oxfam Brasil), Marcello Medeiros (Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde) e Simony dos Anjos (Rede de Mulheres Negras Evangélicas) mediação: Joana Suarez (AzMina) 
  • 14h às 15h30 | Oficina – Escrevivência: nossas histórias, nossos textos
    com Natália Sousa (do podcast Para dar nome às coisas) 
  • 15h às 15h30 | Performance Artística e Poética com Mel Duarte (escritora, poeta e compositora) 
  • 15h30 às 16h30 | Painel 2 – Primavera feminista: das hashtags às novas formas de falar sobre gênero no Brasil com Ana Flor (mestranda em educação), Carolline Sardá (comunicadora) e Débora Baldin (comunicadora popular)
    mediação: Marília Moreira Helena Bertho (AzMina) 
  • 16h às 17h | Oficina  – Representar para resistir: colagem e design como ferramentas de luta com Giulia Santos e Kath Puri (AzMina) 
  • 17h às 18h30 | Painel 3 – Hackeando a desigualdade: um papo sobre tecnologias feministas + lançamento QuitérIA com Fernanda Martins (Doutora em Ciências Sociais), Iana Chan (CEO da Programaria) e Veronyka “Travahacker” Gimenes (Associação Código não binário) mediação: Ana Carolina Araújo (AzMina) 
  • 19h às 20h | Show de encerramento com Samba das Minas 

A entrada para os painéis será gratuita, tendo que reservar somente os ingressos para as oficinas pelo link. Saiba mais no instagram da Revista Azmina. 

 

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