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Memórias da Redação: O estilo de Scartezini

Memórias da Redação: O estilo de Scartezini

Por Eduardo Brito Cunha

Falecido no domingo, 4 de setembro, o jornalista Antonio Carlos Antunes Scartezini passou por todos os grandes veículos e por todos os episódios políticos de 40 anos da história brasileira. Tinha um estilo próprio de trabalho, tanto na apuração quanto na redação. Era um paciente cultivador de fontes de informação, o que lhe rendia muita conversa de bastidor, além de material para dois livros, Segredos de Médici e Doutor Ulysses. Era também um fanático pela qualidade de texto, o que trazia dos tempos em que se via como poeta na sua Goiás natal. Dizia que não se podia ser poeta em Goiás ou jornalista em qualquer lugar sem conhecer os nomes de todos os rios goianos e de como a poesia deveria ditar o ritmo do texto.

Quando chegou de Goiânia para estudar na Universidade de Brasília, não havia ainda cursos de Jornalismo na capital. Formou-se em Sociologia, dando ênfase a Antropologia e a Ciência Política. Começou então a trabalhar no Jornal de Brasília, seguindo logo para o Estadão, onde ficou por longo tempo, até aceitar um convite de Veja, que vivia seus áureos tempos. Pela Veja, trabalhou em Brasília, Belo Horizonte e São Paulo, quase sempre cobrindo política. Desde o início de carreira assinava seus textos como A.C. Scartezini, motivo pelo qual muitos dos colegas não percebiam, ao atender a uma ligação para Antonio Carlos, que o chamado era para Scarta.

Era um admirador do ritmo de trabalho de Veja, com seus fechamentos alucinados, mas encarava com humor a pressão desse trabalho. Tarde da noite de uma sexta-feira, Scartezini jantava com a mulher, Virgínia, e um casal de amigos no Piantella, a essa época já o point de políticos de todos os matizes. Ainda não havia celular, claro, e os repórteres de Veja eram obrigados a informar para a revista os telefones dos locais em que estivessem após enviarem as matérias para a sede. Minutos antes da meia noite, o maître foi à mesa para dizer que Scartezini era chamado com urgência. Atendeu e recebeu um pedido: precisavam que alguém de peso bancasse uma frase sobre o então czar da economia, Delfim Netto. Com a paciência que o marcava, Scartezini sentou-se ao telefone, ligou para o deputado Tancredo Neves, mais uns dois políticos até que, enfim, o senador Roberto Saturnino concordou em assumir o texto, embora quisesse algumas modificações. Seguiu-se a inevitável negociação com a editoria, até se chegar a um consenso. O repórter voltou à mesa. Raposa velha, prolongou a conversa, pois conhecia as regras do jogo. Não deu outra. Passadas as duas da manhã, foi de novo chamado ao telefone. Do outro lado, a ordem: “Mudou o texto”. Seguiu-se nova negociação com Saturnino até que, madrugada alta, fez-se a paz.

Memórias da Redação: O estilo de Scartezini
Roberto Saturnino (Crédito: Senado Federal / Plenário do Senado, CC BY 2.0)

Não era o único caso. Pouco mais de um ano depois, Scartezini e uma jovem repórter de Brasília, hoje professora universitária, participaram de uma matéria nacional, que deveria ser a capa seguinte de Veja, sobre controle de natalidade. Caberia a eles ouvir o Ministério da Saúde, o Ministério da Justiça e mais uma série de parlamentares que se interessavam pelo tema. Pelas contas de Scartezini, ouviram 12 pessoas cada um. Já no meio da semana seguinte foram avisados de que a matéria deixaria de ser capa e seria reduzida a uma simples página. Não gostaram de ver perdido o esforço, mas não havia o que fazer, aparentemente. Havia, sim. No mesmo pico do fechamento, veio o telefonema da editoria. Pediram que ambos ouvissem todas as fontes entrevistadas para saber que método anticoncepcional utilizavam. A repórter telefonou para o senador e ex-ministro Roberto Campos. Sempre um lorde com os jornalistas, Roberto Campos disse que não poderia dar uma resposta a ela, mas que gostaria de mandar sua posição à revista. Aliás, não era exatamente uma resposta. A repórter transmitiu lealmente o recado de Campos e pediu demissão. Scartezini ficou ainda mais uns meses em Veja.

Foi ainda nesse período que ele levou um ousado projeto à direção da revista. Governante no período mais repressivo do regime militar, o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici jamais havia falado à imprensa. Entrevistas, nem pensar. A essa altura, Médici já estava fora do circuito político e passava a maior parte do tempo em seu apartamento de Copacabana ou na fazenda que tinha em Dom Pedrito, Rio Grande do Sul. Scartezini propunha fazer o que mais gostava: cultivar a fonte. Procurar conversas com Médici, sem nada publicar, até que se chegasse a um consenso a respeito. Para surpresa geral, Médici concordou. Desde – claro! − que algo só fosse divulgado com sua autorização – que nunca veio. Mas as conversas ocorreram, em geral no Rio de Janeiro e com a presença tanto de D. Scylla, mulher do ex-presidente, quanto do general Carlos Alberto Fontoura, que fora chefe do Serviço Nacional de Informações de Médici. O ex-presidente usava frequentemente Fontoura para passar posições suas: “O Fontoura, aqui, acha que…” e aí vinha. Após a morte de Médici, Scartezini publicou Segredos de Médici, único livro independente já publicado sobre o ex-ditador.

Memórias da Redação: O estilo de Scartezini

Nele há revelações históricas importantes, como o reconhecimento, por Médici, da tortura nos quartéis, embora ele não admita que era aplicada de forma sistemática, institucional. Assumia a responsabilidade, porém, pelas mortes que costumava atribuir a confrontos armados. Além disso, demonstra que as preocupações políticas do ex-presidente, já fora do governo, referiam-se principalmente a comparações de imagem com os sucessores. Médici gostava de dizer, por exemplo, que o general Ernesto Geisel posava de favorável à abertura, mas cassara parlamentares oposicionistas e até fechara o Congresso, enquanto ele, Médici, nunca cassara ninguém e exigira, para assumir, que se reabrisse o Congresso, fechado desde a assinatura do Ato Institucional nº 5. “Eu era o arbítrio, mas quem fechou foram eles”, insistia. Prestava muita atenção, ainda, em atritos nos meios militares, indignando-se quando os sucessores aplicavam sanções contra oficiais que os hostilizavam. Da mesma forma, o outro livro de Scartezini, Doutor Ulysses, utiliza informações de bastidores para mostrar a trajetória do líder que conseguira pautar a redemocratização brasileira.

Memórias da Redação: O estilo de Scartezini

Essa era uma das características básicas de Scartezini. Quando investia em uma matéria, não poupava esforços para obtê-la e para sofisticá-la. Para conversar com Médici, seguiu o general do Rio de Janeiro para Petrópolis, para Porto Alegre, onde o ele tinha apartamento no mesmo prédio de um dos filhos, e mesmo para a fazenda do ex-presidente em Dom Pedrito, interior gaúcho. O mesmo fez com Ulysses Guimarães, acompanhando-o até em momentos em que nada poderia conseguir para a cobertura do dia a dia.

Esse detalhismo valia para o estilo. Guardava matérias feitas até em seus tempos de foca, como a cobertura que fez da invasão armada da Universidade de Brasília. Em 1968, agentes das polícias Militar, Civil, Política (Dops) e do Exército invadiram a UnB e detiveram mais de 500 pessoas na quadra de basquete. Sessenta delas acabaram presas. Os invasores agiram com violência, retirando alunos de sala de aula, espancando e agredindo. Scartezini registrava, em seu texto, pormenores como as gotas de sangue de um aluno pingaram no jaleco branco de um professor de Medicina.

De volta a Brasília, ainda passou pela Folha de S.Paulo e pelo Correio Braziliense, sempre na cobertura política. Trabalhou algumas vezes em assessorias de imprensa, mas era óbvio que sua praia era a Redação. Foi o rumo seguido também pelo filho Bernardo, embora priorizando a cobertura de Cultura, especialmente de música.

Já estava semiaposentado quando apresentou sinais de problemas cardíacos. Ficou internado um mês no Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, onde faleceu, aos 77 anos.


Eduardo Brito Cunha

A história desta semana é novamente uma colaboração de Eduardo Brito Cunha, ex-Estadão, Jornal do Brasil, Correio Braziliense e Jornal de Brasília.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

Após notificação do TSE, Jovem Pan manda reduzir elogios a Bolsonaro

Segundo informações de Gabriel Vaquer, do Notícias da TV, a Jovem Pan fez uma reunião com profissionais do Jornalismo para reduzir a quantidade de elogios feitos ao presidente Jair Bolsonaro e também evitar ataques gratuitos a Luiz Inácio Lula da Silva. As decisões teriam sido tomadas pelo receio de sofrer sanções da Lei Eleitoral e até ser tirada do ar.

Na semana passada, em 6/9, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) notificou a Jovem Pan por divulgação de notícias falsas contra Lula e espaço desigual de elogios a Bolsonaro durante a cobertura das campanhas eleitorais. Segundo o Notícias da TV, a chefia de Jornalismo da emissora pediu a compreensão dos profissionais que estão à frente dos programas de maior audiência, como Os Pingos nos Is e 3 em 1. Apesar da reunião ter sido considerada produtiva, ainda há consenso de que, no calor do momento, possa haver exagero por parte de comentaristas.

Segundo fontes do Notícias da TV, alguns oficiais de Justiça foram à sede da emissora, em São Paulo, para entregar a notificação à equipe do programa 3 em 1 por divulgar informações falsas sobre Lula e fazer propaganda sistemática em favor de Bolsonaro. A Justiça Eleitoral afirmou que a Jovem Pan descumpriu regras da cobertura jornalística da Lei Eleitoral ao, por exemplo, não ouvir a versão do PT sobre as informações divulgadas.

“O pedido para tentar uma cobertura mais equilibrada e menos pró-Bolsonaro foi aceito, justamente para se evitar algo pior”, diz o Notícias da TV. “Mesmo assumidamente simpática à direita e ao atual governo, para a Jovem Pan seria vergonhoso ser tirada do ar por causa de uma cobertura parcial na disputa eleitoral”.

Procurada pelo Notícias da TV, a emissora confirmou a reunião com seus jornalistas após a notificação do TSE.

Mario Sabino deixa O Antagonista e vai para o Metrópoles

Metrópoles inicia operações em SP sob o comando de Mario Sabino

O site O Antagonista e a revista Crusoé anunciaram a saída de Mario Sabino do comando editorial das duas publicações. Sabino foi um dos fundadores delas, ao lado de Diogo Mainardi, em 2015 e 2018, respectivamente.

Com a saída de Sabino, Claudio Dantas assume a Direção-Geral de Jornalismo de O Antagonista, e a Crusoé será comandada por Carlos Graieb.

Vale lembrar que Mainardi anunciou em agosto que deixaria de escrever para ambas as publicações para se dedicar “a atividades mais gratificantes do ponto de vista intelectual e espiritual”.

Sabino assinou com o Metrópoles nessa quarta-feira (14/9) e atuará como diretor da sucursal do portal em São Paulo. Ele será responsável por estruturar uma equipe para a editoria de Economia e Negócios, que ficará baseada na capital paulista, e fará análises políticas e crônicas semanais.

Empresário Pedro Cerize é o novo dono de O Antagonista e Crusoé

O empresário Pedro Cerize, sócio da empresa de análise financeira Inv, anunciou no Twitter que é o novo dono de O Antagonista e Crusoé.

“Sempre fui admirador do trabalhos e sei da importância de uma imprensa livre na garantia de valores fundamentais da democracia, não somente da democracia, mas de princípios importantes às liberdades individuais”, escreveu. “Para garanti-los vamos investir muito para levar esses valores a um número ainda maior de pessoas, de maneira moderna, ousada e responsável. Nosso assinante terá acesso a um cardápio ainda mais amplo e qualificado, mantendo o DNA de independência jornalística”.

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O show de RP na despedida de Elizabeth II, absorvido pela mídia emocionada e obediente

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

A FPA (Foreign Press Association) London não tinha grupo no WhatsApp até a última sexta-feira (9/9), quando ele foi criado para compartilhar instruções de credenciamentos e comunicados sobre a morte da rainha Elizabeth.

A troca de figurinhas entre correspondentes vai revelando as entranhas do cerimonial planejado há 30 anos para a despedida de uma figura pública que estreou na era do rádio e sai de cena no mundo das mídias digitais, talvez a única a ter atravessado todo esse tempo sob os holofotes.

O volume de postagens e a natureza das perguntas são uma amostra do frenesi que tomou conta da mídia.

Na terça-feira (13/9) um correspondente perguntou se havia significado especial para a saída do cortejo fúnebre do Palácio de Buckingham para o Parlamento ter sido marcada para 14h22 de quarta-feira.

Nenhum. Apenas a pontualidade, um dos traços da cultura do país do qual Elizabeth II se tornou o maior símbolo. O trajeto leva 38 minutos. Assim, o caixão da rainha chegou ao Palácio de Westminster precisamente às 15 horas.

Esse é um exemplo da ansiedade de jornalistas acompanhando um dos maiores eventos midiáticos de tempos recentes. Ninguém quer perder nada, cada detalhe importa.

E os passos cronometrados só confirmam a tese de que ninguém faz RP como a família real britânica, pelo menos sob Elizabeth II.

Como em qualquer plano, nem tudo sai como previsto. Charles III viralizou duas vezes irritando-se com inocentes canetas.

Rei Charles irrita-se com as canetas

Por ironia, o primeiro episódio aconteceu na solenidade de proclamação, nunca antes testemunhada pelo público. Desta vez, foi transmitida pela TV, como parte do esforço de aproximação da realeza com os súditos − que por sinal estão pagando a conta das homenagens.

Também não estavam planejados protestos antimonarquia, reprimidos pela polícia com prisões. Eles aconteceram em vários locais, incluindo Edimburgo, local sensível para o futuro do atual sistema político.

A Escócia quer fazer um novo plebiscito sobre sua independência. A morte da rainha é um baque para os que não querem o reino desunido, entre os quais se inclui boa parte da mídia britânica.

Seja por interesses, para garantir audiência ou por uma dificuldade genuína de documentar a morte com distanciamento crítico, a cobertura é emotiva e marcada por uma obediente adesão à narrativa oficial dos press releases que o Palácio de Buckingham divulga várias vezes por dia.

Alguns chegam embargados, com detalhes sobre os próximos acontecimentos. Quando o embargo cai, TVs, edições online e canais de mídias sociais dos veículos disparam as novidades para uma audiência ávida por vivenciar cada detalhe do grande evento.

A gentileza com uma pessoa que morre é esperada. Mas talvez seja exagero a quase total ausência de contexto e de menções a fatos importantes para a vida da nação. Um exemplo é a constrangedora situação envolvendo a fundação beneficente do agora rei.

Desde o ano passado, a Prince’s Foundation vem sendo objeto de revelações de uma suposta troca de doações por comendas reais, sobre um aporte feito pela família de Osama Bin Laden e sobre o recebimento de dinheiro vivo de um bilionário árabe pelo próprio Charles. Foram 3 milhões de euros transportados em malas e bolsas da chique Fortnum and Mason.

É chato falar disso agora, mas será que não é de interesse público saber mais sobre o novo chefe de Estado, o que ele disse sobre as revelações e como anda a investigação policial?

A mídia britânica é considerada uma das melhores do mundo, mas é formada por gente da elite, como mostram as pesquisas. A monarquia é parte de seu universo, e isso pode estar influenciando decisões editoriais.

Resta saber por quanto tempo o encantamento com Charles − ou a glorificação de um sistema conveniente − vai durar.

A primeira pesquisa de opinião depois da morte da rainha mostrou um aumento de admiração pelo novo rei. Ainda assim, menos da metade dos súditos quer vê-lo como chefe de Estado até o fim da vida.

Para quem acha que o pessoal de RP está tendo trabalho com os dez dias de eventos por Elizabeth II, na verdade a aventura está apenas começando.


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Prêmio Anamatra de Direitos Humanos divulga vencedores

Trabalhos de Brasil de Fato, A Gazeta (ES), Portal Vós e Record TV venceram a categoria Imprensa do Prêmio Anamatra de Direitos Humanos 2022, realizado pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra).

Em sua 10ª edição, o prêmio valoriza ações de pessoas físicas e jurídicas na defesa dos direitos humanos no mundo do trabalho. A cerimônia de premiação será em 29/9, no Rio de Janeiro.

Na subcategoria Mídia Impressa ou Eletrônica, o vencedor foi o Brasil de Fato, com a reportagem Mortes, sequelas e trabalho exaustivo: o rastro da Covid-19 em grandes frigoríficos, publicada em novembro de 2021, com autoria de Daniel Giovanaz, Vanessa Ramos e Renan Xavier.

A foto vencedora da subcategoria Fotografia foi A Fome Dói, registrada por Ricardo Vervloet Medeiros, do jornal A Gazeta (ES). Nela, André Alves da Silva, de 59 anos, viúvo e pai de três filhos, está num cruzamento em Vitória (ES) segurando um cartaz relatando seu sofrimento e pedindo dinheiro.

Em Rádio, o trabalho vencedor foi Coronavírus: A luta por sobrevivência do Brasil que anda de moto, publicado pelo Portal Vós. A reportagem, que mostra o dia a dia de motofretistas e entregadores de delivery e os impactos da pandemia na vida deles, teve participação de Geórgia Santos, Flávia Cunha e Tércio Saccol.

E na subcategoria Televisão, a reportagem vencedora foi Sisal, de Mariana Castagna Ferrari, da Record TV, que mostra a situação degradante de adultos e crianças no cultivo, no semiárido nordestino, do sisal, planta que serve de matéria-prima para a produção de cordas, chapéus e tapetes.

Mudam os atores, mas o enredo se repete mais uma vez

Vera Magalhães, da TV Cultura, foi vítima de mais um ataque, desta vez realizado por deputado apoiador do presidente Jair Bolsonaro

Apresentadora do Roda Viva, colunista de O Globo e comentarista da CBN, Vera Magalhães foi vítima de um novo ataque covarde. Desta vez, a ofensiva aconteceu logo após o debate entre os candidatos ao Governo de São Paulo, promovido pela TV Cultura na noite desta terça-feira (13/9).

Com um celular em punho, o Deputado Estadual Douglas Garcia (Republicanos) se aproximou de Vera e disse que ela é “uma vergonha para o jornalismo”. Ele era um dos convidados do candidato a governador Tarcísio de Freitas, do mesmo partido.

“Eu estava sentada na primeira fileira vendo meu celular. Vou registrar um boletim de ocorrência de ameaça contra o deputado Douglas Garcia, do PL. Há centenas de testemunhas. Usou o convite no estafe de Tarcisio Freitas no debate apenas para vir mentir e me acossar e ameaçar”, relatou a jornalista em sua conta no Twitter.

A frase utilizada pelo político é a mesma dita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra Vera durante o debate da Band entre candidatos à Presidência, realizado em 28 de agosto, e repetida nas ações de campanha de Bolsonaro durante o 7 de setembro. Naquele dia, uma faixa com a foto de Vera e a frase foram expostas em um cartaz erguido por um guindaste no Rio de Janeiro. Tanto Garcia, quanto Tarcísio, apoiam e são apoiados por Bolsonaro em São Paulo.

Desta vez, porém, ao perceber o ataque, Leão Serva, diretor de Jornalismo da TV Cultura, arrancou o celular da mão do deputado e atirou para longe e contra-atacou o assédio do parlamentar: “Vai pra puta que te pariu, filha da puta”.

A reação, bastante elogiada por outros jornalistas nas redes sociais, é um divisor de águas para o jornalismo. Pela primeira vez um dirigente da tevê brasileira se rebelou fisicamente para impedir um ataque contra algum de seus jornalistas.

“Ele veio aqui visivelmente com a intenção de ‘lacrar’. A única solução possível naquele momento era afastá-lo da ‘lacração’”, disse Leão Serva, em entrevista para o UOL, sobre o momento em que tirou o celular da mão de Douglas Garcia, que, segundo ele, “já tem uma prática de assédio a Vera Magalhães há um bom tempo”.

Vale lembrar que em 2018, Garcia foi um dos organizadores do bloco de carnaval Os Porões do DOPS, criado para homenagear o torturador Carlos Brilhante Ustra e o Departamento de Ordem Política e Social, órgão do governo responsável pelo assassinato de Vladimir Herzog durante a Ditadura Militar. À época, Herzog era diretor de Jornalismo da TV Cultura.

Segundo levantamento publicado em 9 de setembro pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), pelo menos 13 casos de violações à liberdade de imprensa haviam sido registrados no país nas duas semanas anteriores. Eles se somam aos mais de 330 alertas registrados em 2022, segundo o monitoramento de ataques a jornalistas e comunicadores/as feito pela organização em parceria com a rede internacional Voces del Sur.

Coincidentemente, na manhã desta mesma terça-feira, entidades defensoras da liberdade de imprensa manifestaram indignação e preocupação em relação aos ataques a jornalistas e fizeram um apelo para que partidos e presidenciáveis respeitem o trabalho jornalístico durante o período eleitoral.

Assinam o texto ARTIGO 19. Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Intervozes, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Repórteres sem Fronteiras (RSF) e Tornavoz.

SBT estreia seis boletins diários

SBT estreia seis boletins diários

O SBT inseriu na sua programação seis boletins noticiosos diários. A decisão, segundo as fontes, foi tomada pelo próprio Silvio Santos, e divulgada por um comunicado do diretor nacional de Jornalismo José Occhhiuso, como segue:

“Nesta segunda-feira estrearemos o Repórter SBT, com boletins noticiosos ao longo da programação. A cada duas horas, exibiremos um boletim de dois a dez minutos de duração, com o que tivermos de mais quente no horário. Os repórteres que estiverem na cobertura factual devem enviar stand-ups para os boletins.

“A princípio serão seis edições diárias do Repórter SBT, nos seguintes horários: 14h, 16h, 18, 22h, 24h e 2h. Conto com o habitual empenho de todos para que o Repórter SBT seja bem-sucedido e tenha vida longa.”

O memorando foi enviado na noite de sexta-feira (9/9), para todas as sucursais e afiliadas, e estreou logo na segunda-feira, em seis edições por dia, ainda sem patrocinador. Narrado em estilo radiofônico, com a trilha sonora do Repórter Esso (exibido na Tupi de 1952 a 1970), aparentemente repete o molde do Jornal da Record 24h. Tem apresentação de Marcelo Torres e Mário Resende, este também um dos editores do programa.

Conforme apurou o site TV Pop, os jornalistas da redação não gostaram da novidade, nem da forma súbita como foi implantada. Reclamaram que as novas tarefas vão sobrecarregá-los, pois não haverá contratações para produzir os boletins.

Homenagem a Elifas Andreato no Sindicato dos Jornalistas de SP

O SJSP e o Instituto Elifas Andreato prestarão nesta quarta-feira (14/9), às 19h, uma homenagem póstuma ao ilustrador Elifas Andreato.
O SJSP e o Instituto Elifas Andreato prestarão nesta quarta-feira (14/9), às 19h, uma homenagem póstuma ao ilustrador Elifas Andreato.

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e o Instituto Elifas Andreato prestarão nesta quarta-feira (14/9), às 19h, uma homenagem póstuma ao ilustrador Elifas Andreato no auditório Vladimir Herzog, sede do Sindicato (rua Rego Freitas, 530, sobreloja).

Conhecido pelo quadro que fez sobre a tortura e morte de Vladimir Herzog e pelas capas de discos que produziu para artistas como Chico Buarque, Adoniram Barbosa, Vinícius de Moraes e Elis Regina, Andreato faleceu aos 76 anos em março de 2022 por complicações em decorrência de um infarto.

O artista paranaense foi também um crítico à ditadura militar e produziu charges e ilustrações para a imprensa sindical, além de atuar em diversas publicações, tanto na grande imprensa quanto na imprensa alternativa.

A homenagem contará com a participação de Raimundo Pereira; do caricaturista Cassio Loredano; do compositor Carlos Azevedo, do presidente do Sindicato dos Jornalistas Thiago Tanji, e de Rose Nogueira e Adelia Borges. Participam ainda os deputados federais Luiza Erundina (PSOL-SP) e Orlando Silva (PCdoB-SP).

O adeus a Silvio Lancellotti

O adeus a Silvio Lancellotti

Morreu nessa terça-feira (13/9), aos 78 anos, em São Paulo, Silvio Lancellotti. Ele estava internado na UTI do Hospital São Paulo desde 6/9 com grave quadro cardíaco. Desde 2016, tinha problemas de locomoção devido a um acidente automobilístico.

Arquiteto de formação, Lancellotti adotou o jornalismo como profissão e tinha mais de 50 anos de trabalho em tevê, jornais e revistas, além de ser também escritor. Fez parte das equipes que lançaram as revistas Veja e IstoÉ, dirigiu a Vogue e foi cronista de esportes e gastronomia da Folha de S.Paulo e do Estadão. Começou na televisão em 1984 e teve passagens por Gazeta, Manchete, Band, Record e ESPN, além apresentar cerca de 5 mil programas de culinária, outra de suas especialidades.

Como comentarista de futebol, participou de oito edições da Copa do Mundo e seis dos Jogos Olímpicos. Escreveu cinco livros sobre esportes, doze de culinária e quatro romances, entre eles Honra ou Vendetta, que se transformou na novela Poder Paralelo, da Rede Record, nos anos de 2009 e 2010.

Leitor fiel do Jornalistas&Cia desde seu lançamento, Lancellotti foi um dos jornalistas que contribuiu com uma história para o especial sobre o leilão do Edifício Abril, veiculado em maio de 2021. Em sua colaboração, relembrou alguns momentos vividos na editora, como o lançamento da revista Veja.

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