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quinta-feira, abril 25, 2024

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O Brasil e o Jornalismo perdem Audálio Dantas

* Por Eduardo Ribeiro, diretor de Jornalistas&Cia e deste Portal dos Jornalistas

Companheiro de jornada de milhares de jornalistas de várias gerações, Audálio Dantas partiu na tarde desta quarta-feira, 30 de maio, algumas semanas antes de completar 89 anos. Estava internado no Hospital Premier e já debilitado, nos deixou neste final de maio – caprichosamente, na antevéspera do Dia da Imprensa.

O velório será realizado nesta quinta-feira (31/5), das 12h às 20h, no Espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (rua Rego Freitas, 530 – sobreloja). O maestro Martinho Lutero, junto com o Coro Luther King, apresentará um concerto de despedida às 19h30. Em seguida o corpo seguirá para o crematório da Vila Alpina, onde ocorrerá a cerimônia de despedida às 11h de sexta-feira, 1º/6.

Presto a ele uma singela homenagem, parceiro que foi ao longo desses nossos quase 23 anos de jornada.

Audálio foi o nosso primeiro assinante, em 1995, tão logo recebeu a edição zero do então FaxMOAGEM. Desde ali, mesmo sem que fôssemos amigos pessoais (coisa que depois viríamos a ser, para minha imensa alegria), esteve de um modo ou outro ligado à história deste Jornalistas&Cia, que agora o reverencia por tudo o que fez e foi.

Quando foi convidado a reativar a Representação São Paulo da ABI, em 2006, após anos de descalabro, montou um Conselho Consultivo e me chamou para integrá-lo. Como esquecer a bela festa de posse realizada no Teatro São Pedro, com direito à participação do maestro João Carlos Martins? Deu um gás danado à ABI, naqueles anos, e um presente para a cidade de São Paulo: o I Salão Nacional do Jornalista Escritor, escalando-me para seu adjunto. Levou multidões ao Memorial da América Latina em novembro de 2007 – em meio a um imenso feriado prolongado –, nos debates envolvendo jornalistas e escritores do naipe de Maurício de Sousa, Caco Barcellos, Luis Fernando Veríssimo, Antonio TorresDomingos Meirelles, Juca Kfouri e muitos outros

No ano seguinte, em 2008, novamente juntos, tive a oportunidade de participar da homenagem feita a ele pela Mega Brasil com o Prêmio Personalidade da Comunicação, tanto por sua atuação na ABI quanto por sua inigualável história de vida.

Ironia do destino, ele foi o terceiro personagem da série histórica Protagonistas da Imprensa Brasileira, organizada por este Jornalistas&Cia, a falecer em pouco mais de uma semana. Os outros dois foram Alberto Dines (ver) e J. Hawilla (ver)

Também ironia do destino, Audálio foi nosso convidado especial na entrevista com Hawilla, em janeiro de 2008. Mas naquela entrevista já estávamos de olho nele e, em junho de 2010, foi a vez de ele ser o Protagonista, a partir de uma longa entrevista feita por mim e pelo editor executivo Wilson Baroncelli.

Quando montamos um Conselho Consultivo para nosso Ranking dos Mais Premiados Jornalistas Brasileiros, ele foi o primeiro a ser convidado e, claro, aceitou.

Sempre muito próximos, escolheu-nos para com ele organizar o primeiro e único Encontro de Jornalistas de Tiradentes, em 2015, com participações marcantes de Miriam Leitão, Juca Kfouri, Josemar GimenezDomingos Meirelles, Marcelo Beraba, Luiz Fernando Gomes, Cida DamascoJosé Paulo Kupfer e Luís Nassif, entre outras feras do jornalismo.

Inesquecível a viagem ao seu lado, de Vanira e de Mariana, sua caçula. Foram dias de muita doçura, carinho e amizade. Com direito a uma das mais engraçadas cenas que tive a oportunidade de presenciar e protagonizar e que conto em homenagem a ele, para que fique a imagem alegre de quem tanto fez pelo Brasil, pelo jornalismo, pelos direitos humanos e pela democracia.

No Encontro de Tiradentes, organizado pelo então prefeito Ralph Justino, haveria também a entrega da Medalha Tiradentes aos jornalistas participantes. Audálio não havia levado camisa social e perguntou se eu dispunha de alguma para emprestar. Como eu tinha levado uma camisa social preta a mais e não seria homenageado, disse que emprestaria sem problemas. Passou o tempo e no dia seguinte, ainda sem uma definição sobre o uso da camisa, me liga o Juca Kfouri, perguntando sobre o traje da homenagem, pois também ele receberia a comenda. Eu não tive dúvidas. Falei: “Juca acho que vai ser uma coisa mais informal. O próprio Audálio andou me assuntando sobre isso, mas decidiu ir também esporte para a cerimônia”.

Passaram alguns minutos e lá vem o Audálio me pedindo de novo a tal camisa preta, pois queria ir mais formal à solenidade. Aí já era tarde. Juca já estava a caminho da fazenda onde viveu Tiradentes, palco da tal homenagem. E não foi possível avisá-lo. O que se deu foi hilário: um Juca furioso conosco e totalmente esporte, numa solenidade com quase 50 pessoas em que só ele e mais um outro homenageado não estavam com trajes sociais. Furioso, soltando fogo pelas ventas, enquanto Audálio ria. Juca, por mais que quisesse, não conseguia irritar mestre Audálio e muito menos transformar aquela comédia em tragédia. No final daquele dia, convidado a jantar conosco, limitou-se a dizer: “Não vou jantar com traíras”, e rimos todos a valer. Dias depois, aparece o Audálio com a camisa preta lavada e engomada como nunca na vida. Ganhei uma camisa praticamente nova e uma história para nunca mais esquecer.

Boa viagem Audálio. E a nossa solidariedade com Vanira e toda a família Dantas.

Amigos, jornalistas e familiares se reuniram no último dia 6 de maio, no hospital onde estava internado Audálio Dantas, para um almoço em sua homenagem.

Ricardo Kotscho e José Hamilton Ribeiro foram algumas das ilustres presenças que prestigiaram a homenagem.

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