Por Marcelo Molnar, consultor e sócio-diretor da Boxnet

 

O ditado popular “uma imagem vale mais que mil palavras”, creditado ao pensador e filósofo chinês Confúcio (552 a.C. a 479 a.C.), reverbera a ideia do poder da comunicação através das imagens, figuras e ideogramas.

É fato que expressamos nossos pensamentos por meio de elementos como: gestos, placas, objetos, cores, utilizando apenas simbologias textuais. Especialistas afirmam que as expressões faciais transmitem muito mais informações do que as palavras. Albert Mehrabian, professor emérito de psicologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e pioneiro em pesquisas sobre linguagem corporal, apurou, na metade do século passado, que a mensagem na comunicação interpessoal é transferida na proporção de 55% não verbal, incluindo postura e expressões faciais, 38% vocal (incluindo tom de voz, velocidade, ritmo, volume e entonação) e apenas 7% com o uso da palavra. Apesar de esta regra e proporções não serem unanimidades, sabemos a dificuldade e a complexidade humana na comunicação.

Atualmente há muitos portais que tratam da análise das expressões faciais e suas relações com as emoções. As expressões faciais são reveladoras e o seu estudo está inserido no campo da cinésica. Para ajudar na comunicação, a expressão facial deve ser condizente com o discurso. Paul Ekman, no livro A linguagem das emoções, mostra como o semblante das pessoas reproduz o seu estado interno. Segundo o psicólogo, há diferenças biológicas entre um sorriso verdadeiro e um sorriso “educado”. A emoção da alegria genuína combina necessariamente a contração dos músculos zigótico maior (na região das laterais da boca) e do orbicular (ao redor dos olhos). O neurologista francês Duchenne de Boulogne, que estudou o impacto de cada músculo facial na aparência das pessoas, afirma que o músculo ao redor dos olhos não obedece à nossa vontade, pois só é ativado por um sentimento verdadeiro.

Um dos pontos mais controversos do uso da Inteligência Artificial (IA) atualmente está na evolução do reconhecimento facial, desenvolvido para identificar uma pessoa por meio de imagem ou vídeo. Essa tecnologia existe há décadas, mas seu uso tornou-se mais perceptível e acessível recentemente nos aplicativos pessoais de autenticação para dispositivos móveis. Muitos criticam seu uso pelo potencial de vigilância em massa, de exclusão e/ou repressão. A grande capacidade de processamento e a diminuição dos custos para seu desenvolvimento estão permitindo a proliferação em várias áreas de aplicação. Hoje, empresas e governos armazenam milhões de imagens de faces de pessoas no mundo em seus bancos de dados para os mais variados propósitos.

A aplicação dessa tecnologia na China permitiu a instauração de um sistema de crédito social, que nada mais é do que o uso de tecnologia de vigilância nas mãos de um governo. Todas as pessoas são registradas pelas câmeras de reconhecimento facial, e quando se deslocam no espaço público são avaliadas com notas de acordo com seu comportamento. Estão sujeitas a penalidades ou privilégios. Pagamento de multas, dívidas e infrações civis, até mesmo fumar em local público proibido são incluídos nas avaliações, realizadas por algoritmos cujo código não é conhecido pela população. Em caso de uma pontuação baixa o cidadão pode ser proibido de viajar de avião ou trem, por exemplo.

Mas há casos positivos em que a tecnologia facilita e produz agilidade. Desde 2018, os passageiros que voam de Dubai com a Emirates não precisam mais fazer fila nos controles de passaporte, pois são identificados pelos seus cadastros. O restaurante CaliBurger, na Califórnia, instalou sistemas nos locais de pedido, e o software reconhece as pessoas registradas no seu sistema, ativa suas contas, mostra as refeições favoritas e sugere pedidos; e, no final, os clientes podem pagar com reconhecimento facial em vez de usar o cartão. Aqui no Brasil, a empresa 99 lançou um recurso para a identificação automática do rosto dos motoristas na hora de se conectarem ao aplicativo. O procedimento de verificação acontece em parceria com o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), que cruza a imagem coletada pela 99 com a foto armazenada no banco de dados do órgão, visando maior segurança aos usuários.

Não resta dúvida que o desenvolvimento tecnológico é positivo, e a IA vai revolucionar nossa sociedade. As críticas vão de encontro aos abusos, excessos e usos indevidos que deverão ser regulamentados. Em um mundo onde estamos inundados de fake news, negacionismos e contradições, a tecnologia deve nos ajudar a comunicar a verdade, mesmo que, às vezes, contra a nossa própria vontade.

Para quem quiser saber mais a respeito:

https://www.washingtonpost.com/world/facial-recognition-china-tech-data/2021/07/30/404c2e96-f049-11eb-81b2-9b7061a582d8_story.html;

https://analyticsindiamag.com/how-to-fool-facial-recognition-systems/;

https://igarape.org.br/wp-content/uploads/2020/06/2020-06-09-Regula%C3%A7%C3%A3o-do-reconhecimento-facial-no-setor-p%C3%BAblico.pdf.

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