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(*) Por Lana Pinheiro

A agenda mundial em torno das boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) colocou o agronegócio brasileiro sob os holofotes inquisidores do mercado internacional. Em especial a União Europeia, mas também os Estados Unidos, levantaram o dedo em riste para acusar a produção de commodities agrícolas pelo desmatamento da Amazônia e pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa no País. Sem um plano governamental de defesa, o produtor local busca alternativas para provar aos clientes externos que é um dos mais sustentáveis do mundo. Técnicas de agricultura regenerativa que sequestram carbono, substituição de agroquímicos por biológicos e produção de combustíveis verdes já estão em uso em larga escala para provar a sustentabilidade do negócio aos gringos. Agora, o mercado olha com atenção para a eletrificação de máquinas e equipamentos.

Eletrificar o campo será mandatório em algumas partes do mundo dentro do processo de transição para uma economia de baixo carbono. De acordo com o World Resources Institute (WRI), o consumo de energia – que inclui transporte e queimas de combustível – é de longe a maior fonte de emissões de carbono por seres humanos, 73% do total. Dentre os setores com maior crescimento de emissões, o transporte está em segundo (71%). Se o plano é reduzir o índice e parar o crescimento de novas emissões, a estratégia passará necessariamente pela busca da emissão zero também nos veículos e máquinas que servem ao agro. E esse é um bom negócio. O estudo “Veículos elétricos e robótica na agricultura 2020-2030”, realizado pela IDTechEx, estima em US$ 50 bilhões o mercado de veículos elétricos e robótica na agricultura global. O volume supera o PIB do Paraguai – US$ 38,15 bilhões, em 2019.

Dentro desse contexto, uma análise sobre a adequação dos veículos elétricos no Brasil requer um pouco mais de cuidado. Ao contrário do resto do mundo, a principal fonte emissora de carbono no País não vem do transporte. Vem do uso da terra, florestas e agropecuária (72% do total). Além disso, a produção e uso em larga escala do combustível verde sustenta o mais bem sucedido programa de descarbonização da economia brasileira, o Renovabio. Um eventual esforço para a eletrificação dos veículos esbarraria ainda na falta de infraestrutura nos rincões do Brasil para abastecer as máquinas.

Mesmo com uma realidade diferente da global, o agropecuarista brasileiro tem apetite por inovação. Ele já sabe também que tecnologias diferentes podem coexistir se o ganho for a produtividade. Etanol e elétricos, por que não? O desafio da indústria é provar a eficiência e a adequação dos elétricos ao campo brasileiro. Afinal, dentro do agronegócio e do discurso de sustentabilidade, o xadrez mundial é complexo, pois coloca em cheque quem vai ter mais capacidade de atrair investimentos sustentáveis (estimados atualmente em US$ 31 trilhões por ano no mundo) e quem conseguirá alimentar com mais ecoeficiência uma população que passará das atuais 7,6 bilhões de pessoas para 10 bilhões em 2050.

Fazer uma análise isenta das estratégias ESG aplicadas ao agronegócio, dando transparência aos interesses da indústria sucroenergética, ambientalista ou mesmo da automotiva sobre as melhores aplicações tecnológicas rumo à economia verde é o desafio que se impõe ao jornalista que cobre os setores associados.

(*) Lana Pinheiro é editora da Dinheiro Rural e editora de ESG (Ambiental, Social e Governança) da IstoÉ Dinheiro

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