ATUALIZAÇÃO: A vaga foi cancelada na noite desta terça-feira (6/6), dez dias antes da data final prevista.
Um anúncio inusitado tem agitado a comunidade jornalística nas redes sociais. Está ativa desde 18/5, no site 99 Freelas, uma “oportunidade” de trabalho freelance para jornalistas. O problema é que a descrição da vaga mostra que de jornalismo o contratante não tem nada. Confira:
“O projeto consiste em criar um novo titulo e alterar as palavras da noticia, colocando seus sinônimos, além de reorganizar algumas frases, de forma que descaracterize o texto inicial. Não será necessário criar nenhuma noticia. A demanda é de 30 noticias diárias. O pagamento é semanal ou mensal, ficando a critério do jornalista/redator”.
A vaga ganhou inclusive novas nomenclaturas, como “Chupinhador de notícias sênior”, por Rita Lisauskas (Estadão), “Alterador de notícia dos outros”, por Cido Coelho (TV Globo) e “Operador de Control C”, por Ingo Muller (G1).
O triste da história é que até o fechamento desta nota 281 pessoas já haviam se interessado pela vaga. O Portal dos Jornalistas tentou descobrir o nome da empresa que oferece o trabalho, mas não teve resposta ao contato.
Se não for uma dessas pegadinhas, o que já seria lamentável, é pura picaretagem, mesmo!
Engraçado como as pessoas sabem falar mal. Pena que ajudar ninguém quer!
Essa vaga não me interessa, mas eu entendo e respeito quem a ela se candidata. A crise está brava e hoje tem jornalista trabalhando como vendedor de sapatos (que também respeito). Tenho 51 anos de idade e só em 2017 fui descartado em 3 vagas de emprego por causa da minha idade.
A matéria ao invés de criticar os 200 e tantos candidatos podia oferecer vagas a alguns deles, não é?! Ou então criticar apenas a forma como o emprego foi oferecido…. os desempregados merecem mais respeito!
É errado! Como pode defender isso? Uma palavra só: Ética.
É como defender o tráfico porque emprega muita gente.
A Globo já faz isso…faz tempo..que novidade é Essa?
[…] Fonte: Portal dos Jornalistas […]
Cleber, você foi perfeito. É muito mais conveniente o portal falar das duzentas e poucas pessoas que se candidataram do que “mergulhar de cabeça” na crise do jornalismo em todo país. Se a situação está difícil pra você, formado e com passagens em grandes empresas, imagine para quem está saindo da faculdade.
Estou há um ano formado e não aparece uma vaga decente pra quem está saindo da faculdade (na minha modesta opinião, a faculdade poderia auxiliar a pessoa a pelo menos se inserir no mercado depois de pegar o diploma, ou os sindicatos auxiliarem os jornalistas desempregados na recolocação no mercado).
O que me deixa triste é que, quando aparece a vaga, as empresas acabam usando o QI para contratar (inclusive contratando pessoas não formadas em jornalismo para a função).
Enfim, a minha paciência com jornalismo vai até o final do ano. Se eu não conseguir nada daqui pra lá. é melhor buscar uma outra graduação. Melhor do que passar fome.
Forte abraço!
Se você fez jornalismo para pegar o texto de outras pessoas e mudar as palavras para fingir que é seu, você deveria mesmo fazer outra faculdade.
E outra….em que mundo você vive? Faculdade fazer inserção no mercado de trabalho? Não há vagas pra todos, infelizmente. E quanto menos ético você for, menos lugar no mercado você vai conseguir.
“Nada se cria. Tudo se copia”. Estranho tanta revolta e repercussão. Vários veículos de comunicação já fazem isso, e incomodados com a provável concorrência, resolveram expor o anúncio. Sem novidades.
A diferença desse contratante para todos os demais noticiadores é que ele foi, ingenuamente, explícito. Os demais, com mais malícia, o fazem de forma velada. Na prática do jornalismo, a paráfrase descaracterizadora do original é algo sempre acontece. Prestem atenção em quem vai descer o pau nesse meu comentário, pois provavelmente será quem realmente o faz, vai se doer, e como o faz de forma velada sentindo-se seguro de que não seria denunciado, se arma pra criticar um comentário assim, para se proteger.
Bem, para escrever 30 matérias por dia realmente o candidato deveria ser “o jornalista dos jornalistas” ou como bem colocou o Valdeci Junior, fazer o que contratante pede e usar a paráfrase descaracterizada. Mas, também, poderia acabar por se tornar aquela história do “Pegou cola de mim e ainda tirou uma nota mais alta que eu” que se ouvia ocasionalmente pelos ensinos médios da vida.
Se alguém disser aqui que nunca fez isso em nenhum momento da sua existência estaria sendo bem hipócrita, sinceramente. Exclusividade de palavras, ideias e notícias não é mais uma realidade desde que as primeiras pessoas inventaram as primeiras coisas dando início a base de tudo que é usado como referência hoje.
E acho que haveria um jeito simples de se resolver essa “vaga transtorno”: Dar créditos a fonte da informação do “novo” texto. Assim todos ficariam felizes, com suas vagas de emprego e integridade moral garantidas. (O que aliás, pode ter sido o que os 281 candidatos ou alguns deles podem ter sugerido ao contratante ou até pretendiam fazer na prática. Nunca saberemos.)
Afinal, todos nós já vivemos na pele ou já ouvimos de outros profissionais o descontentamento por ter que escrever o que o patrão mandou e deturpar “levemente” a verdade e só ficar no trabalho por precisar muito do emprego, de experiência para o currículo, ter obedecido para não ficar “queimado” no mercado local, etc, etc.
INFELIZMENTE, como diria um personagem da atração infantil Shimmer e Shine: Acontece, acontece muito. Escrachado, como no anúncio da vaga, ou velado.
Há bilhões de copiadores de notícias e compartilhadores de fakenews. Esse talvez tenha talvez faça melhor e com técnica.
Profissão bagunçada e desvalorizada a nossa.
E o que se pode dizer dos pobre repórteres fotográficos. Chega a dar pena.