Por Assis Ângelo
Em 1825, o francês Louis Braille tinha 16 anos. Com essa idade, ele surpreendeu muita gente ao apresentar pela primeira vez um método que desenvolveu para ajudar as pessoas cegas, na leitura e na escrita.
Pouco antes dos anos 30 do século 19, o jovem foi melhorando o que inventara.
Quer dizer, há 200 anos as pessoas cegas em todo o mundo passariam a ter a esperança de uma vida melhor, até porque essa invenção possibilitaria a alfabetização.
Essa história toda começa em 1812, quando o caçula dentre quatro irmãos sofreu um acidente quando brincava na oficina do pai.
O pai de Louis, Simon-René Braille, era de profissão seleiro. muito benquisto na região onde vivia com mulher e filhos.
Quando sofreu o acidente, o menino brincava com pedaços de couro. De repente, uma fivela atingiu com violência um dos seus olhos. Foi um Deus nos acuda. Tudo o era possível fazer foi feito para que a infecção não alcançasse o outro olho. Até uma benzedeira de fama foi chamada, mas não adiantou. Dois anos depois, o menino Louis estava completamente cego dos olhos.
Todo mundo se envolveu na educação do pequeno Louis, que sempre tirava ótimas notas na escola.
No começo dos anos 40 do século 19, Louis já tinha o seu método bastante conhecido e o seu nome nele agregado. Assim: Braille, método Braille.

Em 1844, um brasileiro de dez anos chegava a Paris para ler na cartilha criada por Louis. Esse brasileiro atendia pelo nome de José Álvares de Azevedo. Era de família pujante e nasceu desprovido de brilho nos olhos.
Seis anos se passaram quando o agora adolescente José voltava à terrinha e aos braços do pai e da mãe.
Bem articulado, versátil e brincalhão, José passou a dar palestras nas casas e noutros lugares onde era chamado.
Um dia, o filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo estacou diante do imperador Pedro II e a este o jovem fez uma bela e detalhada apresentação do método Braille. O objetivo desse encontro era convencer o imperador a instituir uma escola para cegos.
Louis Braille morreu em 1852, de tuberculose.
De tuberculose também morreu José Álvares de Azevedo, com 20 anos de idade.
O encontro de José com D. Pedro rendeu frutos, sob o título Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

José morreu seis meses antes da inauguração da instituição.
Do quadro dos professores desse Imperial Instituto fazia parte Benjamin Constant. Matemática era uma das matérias que lecionava.
Com a morte de Benjamin em 1891, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant. Até hoje.
A cegueira sempre foi um problema para o seu portador ou portadora. Fora isso, as pessoas cegas na Antiguidade e até praticamente nos dias recentes eram consideradas malditas. Havia quem pensasse que a cegueira era um castigo divino. Noutras palavras: o cego era pecador que não merecia perdão.
Na Antiguidade grega, os cegos eram tidos como adivinhos e por aí vai.
Tirésias, filho de um pastor, transita por séculos em histórias lendárias como o cara que virou mulher por obra e graça da deusa Hera, que não gostou de vê-lo enxotando um par de cobras em plena cópula. A ira teve um prazo: sete anos. Passado esse tempo, Tirésias voltou a ser o que era antes: um homem.
Saliente, Tirésias caiu na besteira de flagrar a deusa Atena tomando banho. Aí dançou. Irritada, ela o cegou para sempre. Cego e sábio. Acha-se até nas páginas da Odisséia de Homero. Curiosidade: Tirésias, que perdeu o “s” para o diretor francês Bertrand Bonello, ganhou o telão num enredo envolvendo uma transexual brasileira que vive na periferia da França com o irmão. O filme é de 2003. Mas essa é outra história.
Expressões como “deficiente visual” e “pessoas de baixa visão” foram cunhadas nos primeiros anos do século 20.
A partir do século 21, a sociedade passou a respeitar um pouco mais as pessoas portadoras de quaisquer tipos de deficiência física, auditiva, visual etc.
Não são poucos os personagens cegos que se movimentam na literatura brasileira e estrangeira. E há até autores cegos que deixaram obras monumentais, como os argentinos Jorge Luis Borges (1899-1986) e Ernesto Sabato (1911-2011).
Meu amigo, minha amiga, você sabia que o pai da literatura brasileira Machado de Assis ficou cego por um tempo logo após o Natal de 1878?
Meu amigo, minha amiga, você sabe o que eu acho da cegueira?
A cegueira não é o fim.
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